Coliseu

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 29 maio 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, italiano, espanhol, Turco
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The Colosseum or Flavian Amphitheatre (by Dennis Jarvis, CC BY-NC-SA)
O Coliseu ou Anfiteatro de Flávio
Dennis Jarvis (CC BY-NC-SA)

O Coliseu ou Anfiteatro Flaviano é uma grande arena elipsoide construída no século I d.C. pelos imperadores romanos Vespasiano (r. 69-79 d.C.), Tito (r. 79-81 d.C.) e Domiciano (r. 81-96 d.C.). Com capacidade para 50.000 espectadores, sediava entretenimentos públicos espetaculares, como lutas de gladiadores, caçadas de animais selvagens e execuções públicas, no período entre 80 a 404 d.C.

Propósito e Dimensões

A construção do Coliseu começou em 72 d.C., no reinado de Vespasiano, numa área que já abrigara o lago e os jardins da Casa Dourada do imperador Nero. Além da drenagem da área, os construtores fizeram fundações de concreto de seis metros de profundidade, como forma de prevenção contra terremotos. O prédio fazia parte de um amplo programa de construções iniciado por Vespasiano com o propósito de restaurar Roma à sua antiga glória, após o tumulto da recente guerra civil. Como Vespasiano reivindicou em suas moedas com a inscrição Roma resurgens, os novos edifícios - o Templo da Paz, o Santuário de Cláudio e o Coliseu - mostrariam ao mundo que a Roma "ressurgente" ainda era o centro do mundo antigo.

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A inauguração do Anfiteatro Flaviano (ou Amphiteatrum Flavium para os romanos) aconteceu em 80 d.C., no reinado de Tito, filho mais velho de Vespasiano, com cem dias de espetáculos de gladiadores, mas a obra só foi efetivamente concluída no reinado do outro filho, Domiciano. Nada parecido já havia sido vista em Roma e, situada no amplo vale que unia as colinas Esquilina, Palatina e Célia, a arena dominava a cidade. Maior edificação do seu tipo em todo o Império Romano, tinha as seguintes características:

  • quatro andares
  • 45 metros de altura
  • extensão de 189 x 156 metros
  • arena oval medindo 87,5 x 54,8 metros.
  • toldo de lona no telhado
  • capacidade para 50.000 espectadores.

O anfiteatro foi construído principalmente a partir de calcário extraído localmente, com paredes laterais internas de tijolo, concreto e pedra vulcânica (tufo). Nas abóbodas empregavam-se pedras pomes, por serem mais leves. O tamanho do anfiteatro pode ter originado seu nome popular, Colosseo, mas ela também pode ter sido originada pela colossal estátua de bronze dourado de Nero, modelada para que este imperador se parecesse com o deus-sol, e que permaneceu na parte externa da arena até o século IV d.C.

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Colosseum Cross-Section
Seção Transversal do Coliseu
S. R. Koehler (Public Domain)

Arquitetura

Tratava-se de uma edificação espetacular mesmo do lado de fora, com arcadas abertas monumentais, nos três primeiros andares, decoradas com estátuas. O primeiro andar trazia colunas dóricas, o segundo jônicas e o terceiro coríntias. No último andar, havia pilastras coríntias e pequenas janelas retangulares. Existiam nada menos que 80 entradas, setenta e seis delas numeradas e com acesso através da venda de ingressos. Os gladiadores utilizavam duas entradas, uma das quais conhecida como Porta Libitina (a deusa romana da morte), a mesma pela qual se removiam os mortos. O outro acesso, conhecido como Porta Sanivivaria, eram usadas pelos vencedores e por quem conseguia sobreviver às competições. As duas portas restantes destinavam-se a uso exclusivo do imperador.

Na parte interna, o anfiteatro deve ter sido ainda mais impressionante quando os três níveis de assentos eram preenchidos com os vários setores da população. Circundando a arena havia um amplo terraço de mármore (podium), protegido por um muro, no qual se encontravam os assentos mais prestigiados ou os camarotes de onde o imperador e outros dignatários assistiam aos eventos. Além desta área, os assentos de mármore estavam divididos em três níveis: cidadãos privados mais ricos, cidadãos de classe média, escravos e estrangeiros e, finalmente, os assentos de madeira e espaço em pé, na colunata do telhado plano na camada superior, reservados para as mulheres e os pobres. No topo da plataforma do telhado, empregavam-se marinheiros manusear o grande toldo (velarium) que protegia os espectadores da chuva ou proporcionava sombra em dias quentes. Largas escadarias permitiam o acesso aos vários níveis e cada fila e assento tinha numeração própria. A capacidade máxima do Coliseu totalizava aproximadamente 45.000 espectadores sentados e 5.000 em pé. Uma das suas representações mais antigas pode ser vista nas moedas de Tito, que exibem três degraus de assentos, estátuas nos arcos externos superiores e a grande fonte em colunas - a Meta Sudans - que ficava nas proximidades.

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Os imperadores Tito e Cláudio ficaram conhecidos por gritar com os gladiadores durante as lutas.

O cenário central da ação - a arena com piso de areia - também atraía a atenção. Com frequência, pedras e árvores eram instaladas para lembrar locais exóticos, durante a encenação de caçadas de animais selvagens (venatiories). Havia também engenhosos elevadores subterrâneos que permitiam a súbita aparição de animais selvagens durante os espetáculos. Em algumas ocasiões, notavelmente nos espetáculos de abertura, inundava-se a arena para a realização de batalhas navais simuladas. Sob o piso da arena (visível para os visitantes modernos) havia um labirinto de pequenas salas compartimentadas, corredores e jaulas para animais.

Jogos e Espetáculos

Embora historicamente ligados aos jogos etruscos de outrora, que faziam parte de ritos funerários, os espetáculos nas arenas romanas eram projetados com finalidades principais de entretenimento; porém, também demonstravam a riqueza e a generosidade do imperador e proporcionavam à população uma oportunidade de ver seu governante em pessoa. Os imperadores geralmente compareciam aos jogos, mesmo quando não tinham muito apreço por tais espetáculos, como acontecia com Marco Aurélio (r. 161-180 d.C.). Cláudio (r. 41-54 d.C.) e Tito, este no próprio Coliseu, ficaram conhecidos por gritar com os gladiadores durante as lutas e Cômodo (r. 180-192 d.C.) apresentou-se centenas de vezes na arena. Um vestígio da tradição etrusca permaneceu, no entanto, com a presença de um atendente cujo trabalho era executar os gladiadores caídos com um golpe na testa. Este executor usava os trajes míticos de Caronte (o mensageiro etrusco do Destino) ou Hermes, o deus mensageiro que acompanhava os mortos até o submundo. A presença das Virgens Vestais, do Pontifex Maximus e do divino Imperador também acrescentava um certo elemento pseudorreligioso aos procedimentos, pelo menos em Roma.

Dionysos, Roman Mosaic
Dionísio, Mosaico Romano
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Porém, esportes sangrentos e morte eram o verdadeiro propósito dos espetáculos e várias atividades profissionais surgiram para atender aos requisitos de entretenimento maciço da população - por exemplo, sob Cláudio, havia 93 jogos por ano. As lutas geralmente duravam do amanhecer até o anoitecer e os gladiadores costumavam iniciar cada performance com uma procissão de carros a cavalo, acompanhada de trombetas e até mesmo um órgão hidráulico. A seguir, desmontavam e percorriam a arena, cada um saudando o imperador com a famosa frase: Ave, imperator, morituri te salutant! [Salve, Imperador, aqueles que estão prestes a morrer o saúdam!].

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Geralmente os eventos começavam com duelos cômicos ou de fantasia com a participação de mulheres, anões ou deficientes físicos, usando armas de madeira. Os esportes sangrentos que vinham a seguir incluíam várias classes de gladiadores, que portavam armas como espadas, lanças, tridentes e redes e, inclusive, gladiadoras. A programação continuava com as caçadas dos bestiarii - caçadores profissionais de animais selvagens. Os animais não tinham chance alguma nessas disputas e, geralmente, acabavam mortos à distância, com lanças ou flechas. Havia animais perigosos, como leões, tigres, ursos, elefantes, leopardos, hipopótamos e touros, mas também outros mais inofensivos, como cervos, avestruzes, girafas e até baleias. Centenas, algumas vezes até milhares deles podiam ser mortos num único dia de eventos e, em geral, com brutalidade deliberada, com o propósito de alcançar crudeliter - o montante adequado de crueldade.

Sob Domiciano, também havia representação de dramas no Coliseu, mas com um realismo sanguinário, incluindo o uso de condenados à morte. Assim, um Hércules personificado queimava na pira funerária e, no papel de Laureolo [protagonista da peça que retratava um notório criminoso preso e executado], um prisioneiro era crucificado. As execuções ocorriam no Coliseu, em geral durante a calmaria da hora do almoço (quando a maioria dos espectadores ia almoçar), particularmente a morte de mártires cristãos. Considerados como um desafio inaceitável à autoridade da Roma pagã e à divindade do imperador, os cristãos eram jogados aos leões, abatidos com flechas, assados vivos e mortos de uma miríade de maneiras cruelmente inventivas.

Bronze Sestertius with Colosseum
Sestércio de Bronze com Coliseu
Peter Roan (CC BY-NC-SA)

O que aconteceu com o Coliseu?

Em 404 d.C., com novos tempos e gostos, o imperador Honório (r. 393-423 d.C.) encerrou os jogos na arena, embora criminosos condenados ainda fossem obrigados a lutar contra animais selvagens por mais um século. O edifício em si enfrentaria um futuro conturbado, embora se saísse melhor do que muitos outras construções durante o declínio do Império. Danificado por um terremoto em 422 d.C., passou por obras de reparos ordenadas pelos imperadores Teodósio II (r. 416-450 d.C.) e Valentiniano III (r. 425-455 d.C.). Outros reparos também ocorreram em 467, 472 e 508 d.C. O local continuou a ser usado para lutas e caçadas de animais até o século VI, mas a edificação começou a mostrar sinais de negligência e a grama cresceu na arena. No século XII, tornou-se uma fortaleza das famílias Frangipani e Annibaldi. O grande terremoto de 1231 causou o colapso da fachada sudoeste e o Coliseu transformou-se numa vasta fonte de material de construção - removiam-se as pedras e colunas, os grampos de ferro que prendiam blocos foram roubados e as estátuas derretidas para a produção de cal. De fato, o Papa Alexandre VI alugou o Coliseu como uma pedreira. A despeito deste progressivo desmantelamento, o espaço costumava ser empregado ocasionalmente para procissões religiosas e representação de peças durante o século XV.

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A partir do período da Renascença, artistas e arquitetos como Michelangelo e, posteriormente, turistas que realizavam o Grand Tour (excursões pela Europa feitas geralmente por jovens abastados a partir do século XVII) renovaram o interesse na arquitetura e ruínas romanas. Como consequência, em 1744, o Papa Bento XIV proibiu qualquer remoção adicional de alvenaria do Coliseu e o consagrou em memória dos mártires cristãos que haviam perdido suas vidas na arena. Isso, no entanto, não impediu os moradores de continuarem utilizando a edificação como estábulo e a negligência se reflete numa curiosa obra de Richard Deakin que, em 1844, catalogou mais de 420 variedades de plantas que floresciam nas ruínas, algumas raras e até endêmicas - talvez resultado da alimentação dada aos animas exóticos durante tantos séculos. No século XIX, porém, houve uma mudança na sorte do grande anfiteatro do mundo antigo. As autoridades papais buscaram restaurar partes da edificação, principalmente as extremidades leste e oeste, com a última sustentada por um enorme contraforte. Finalmente, em 1871, o arqueólogo italiano Pietro Rosa removeu todas os acréscimos pós-romanos, revelando, a despeito de toda a degradação, um monumento ainda magnífico, testemunho pungente e duradouro tanto dos dons quanto dos vícios do mundo romano.

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Perguntas e respostas

Pelo que o Coliseu ficou famoso?

O Coliseu ficou famoso por ser o maior anfiteatro romano e por sediar lutas de gladiadores, batalhas navais simuladas, caçadas de animais selvagens e execuções públicas. Com frequência, os imperadores compareciam pessoalmente.

Cite cinco fatos sobre o Coliseu.

Cinco fatos sobre o Coliseu: Foi construído num antigo lago. Sua inauguração aconteceu em 80 d.C. Podia abrigar 50.000 espectadores. Tinha 80 entradas. Os espetáculos geralmente duravam o dia inteiro, do amanhecer ao pôr do sol.

Por que o anfiteatro passou a ser chamado de Coliseu?

O nome popular do Coliseu (que se origina da palavra Colosseo) veio do seu enorme tamanho ou por causa da imensa estátua dourada de bronze do imperador Nero, que podia ser vista do lado de fora do anfiteatro até o século IV d.C.

Por que o Coliseu parou de ser utilizado?

O Coliseu parou de ser utilizado porque os jogos violentos foram banidos a partir de 404 d.C. Ele continuou a ser empregado para esportes menos violentos, como luta livre, mas ficou seriamente danificado por terremotos e, em ruínas, foi abandonado com o colapso do Império Romano.

Bibliografia

A World History Encyclopedia é um associado da Amazon e recebe uma comissão sobre as compras de livros elegíveis.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2018, maio 29). Coliseu [Colosseum]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10001/coliseu/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Coliseu." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação maio 29, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10001/coliseu/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Coliseu." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 29 mai 2018. Web. 18 jan 2025.