Marco Antônio (83-30 a.C.), foi um general e estadista romano mais conhecido por seu relacionamento amoroso com Cleópatra VII (c. 69-30 a.C.) do Egito. Amigo e braço direito de Júlio César, ele proferiu o discurso funerário após o assassinato do ditador que virou a maré da opinião pública contra os assassinos.
Como parte do Segundo Triunvirato de Roma (43-33 a.C.), Antônio governou em conflito com Otaviano César (63 a.C.-14 d.C., mais tarde Augusto César (r. 27 a.C.-14 d.C.) e Marco Emílio Lépido (89-12 a.C.), apaixonou-se por Cleópatra VII do Egito e, após sua derrota na Batalha de Áccio (31 a.C.), cometeu suicídio em 30 a.C.. Sem outros adversários, Otaviano tornou-se o primeiro imperador e a República Romana transformou-se no Império Romano.
Juventude e Ascensão ao Poder
Antônio nasceu em 14 de Janeiro de 83 a.C., filho do casal Marco Antônio Crético e Júlia dos Césares (104-c. 39 a.C.), prima de Júlio César. Ele foi instruído em retórica pela mãe e avó, Júlia Menor (irmã de Júlio César) e, segundo se conta, era dedicado à educação e à filosofia, até se tornar amigo do jovem Públio Clódio Pulcro e outro jovem chamado Cúrio. Plutarco relata:
Tornando-se Antônio um belo rapaz, na flor da idade, travou relações com Cúrio; ao que se diz esta amizade e conhecimento foi uma calamidade, pois era ele um homem perdido e viciado em tudo o que há de mais torpe, e para ter Antônio ao seu dispor, levou-o a fazer grandes despesas com mulheres, dando banquetes e festas, de modo que em pouco tempo ele ficou endividado; tão grande era a quantia que dificilmente ele poderia pagá-la, demasiado grande para sua idade, isto é, duzentos e cinquenta talentos. (Vida de Antônio)
Duzentos e cinquenta talentos seriam o equivalente a cinco milhões de dólares atualmente, e era o que devia antes de completar 20 anos. Driblando seus credores, Antônio escapou para a Grécia, onde passou o tempo estudando oratória e em exercícios militares.
Foi persuadido pelo general romano Aulo Gabínio a se juntar numa expedição contra a Síria, na qual provou-se um competente comandante de cavalaria. Permaneceu então a serviço do general para sufocar revoltas contra Ptolomeu XII, no Egito. Neste período é possível que tenha encontrado pela primeira vez aquela que seria sua esposa muitos anos depois, Cleópatra VII, que teria cerca de 14 anos.
Crescendo rapidamente em importância nas fileiras de Gabínio, Antônio foi promovido e convocado por Júlio César para se juntar às forças romanas na Gália, em 54 a.C.. Como no leste, ele mostrou-se um comandante brilhante, mas seu apetite por luxúria, bebida e excessos sexuais o afastavam de César e de outros oficiais. Os soldados, no entanto, receberam Antônio de braços abertos. Plutarco escreve:
O que muitos, porém, julgavam aborrecido e insuportável nele, é que ordinariamente ele se vangloriava e zombava sempre de alguém; não fazia dificuldade em beber diante de todo mundo, de sentar-se junto de soldados, quando eles comiam e de comer e de beber à sua mesa; e é de se crer como isso o fazia amado, desejado e querido deles. Ainda mais; sendo inclinado ao amor, tornava-o desejável, assim levava muitos a querer amá-lo também; pois sentia prazer em ajudar os que estavam enamorados a gozar dos seus amores, e assim não tomava a mal, quando zombassem dos seus: e com isso, sua liberalidade, pois dava tudo, sem nada poupar, aos seus guerreiros e aos amigos, foi-lhe de grande impulso para bem começar e quando se tornou grande, aumentou-lhe ainda e de muito à autoridade e o poder. (Vida de Antônio)
A despeito de seu hedonismo, Antônio continuou prestando uma grande assistência a César na conquista da Gália. Em 50 a.C., ele recebeu o apoio do general para ser eleito como tribuno.
Antônio como Tribuno
No Senado, Antônio foi um incansável apoiador das iniciativas de César. Cúrio, o amigo de longa data de Antônio, havia se distanciado do partido aristocrata e se alinhado com o partido populista de César e usava sua oratória eloquente para convencer outros a fazer o mesmo. Ambos experimentaram frustrações constantes devido à oposição senatorial e, em 49 a.C., fugiram para a Gália, vestidos como criados, para informar a César como o general e seus partidários estavam sendo tratados em Roma. A afronta ao jovem tribuno e ao orador foi o pretexto alegado por César para marchar sobre Roma, em desafio às ordens dos senadores, instigados por Pompeu, o Grande (c. 106-48 a.C.), segundo as quais ele deveria dispersar seu exército e retornar como um mero cidadão.
Após tomar Roma sem luta, César voltou sua atenção para as forças de Pompeu na Espanha e deixou Antônio governando a cidade. Porém, ainda que fosse um eficiente líder militar, o escolhido mostrou escassa habilidade como político. Plutarco declara que "Ele era preguiçoso demais para prestar atenção nas reclamações de pessoas que haviam sido prejudicadas; ele ouvia de forma impaciente as petições; e tinha uma má reputação de familiaridade com as esposas dos outros."
Embora se mostrasse um administrador civil incompetente, Antônio foi, apesar disso, capaz de manter abertas as linhas de suprimentos para as forças de César e enviar reforços de forma contínua. Em 48 a.C., ele se reuniu ao ditador na Grécia, deixando Lépido para tomar conta de Roma e, na Batalha de Farsália, comandou a ala direita de cavalaria, ajudando a derrotar as forças de Pompeu, o Grande.
Em seguida à batalha, César perseguiu o fugitivo Pompeu ao Egito e Antônio retornou a Roma, onde neglicenciou regularmente seus deveres administrativos ao ponto de envergonhar o governo recém-conquistado. Como resultado, César o removeu do cargo quando retornou do leste, transferindo o poder a Lépido. Dois anos depois, no entanto, Antônio era novamente parte do círculo íntimo do ditador.
Antônio e Otaviano
Em 44 a.C., após o assassinato de César, Antônio aproveitou a oportunidade como orador no funeral para virar a maré da opinião pública contra os conspiradores e forçá-los a sair de Roma. Antônio parece não ter tido intenção de perseguir ou punir os assassinos de César até o aparecimento do herdeiro de 19 anos de César, Caio Otávio Turino (Otaviano), que exigia que eles fossem levados à justiça.
A chegada de Otaviano e sua revindicação legal como herdeiro de César eram novidades desagradáveis para Antônio, e os dois homens tornaram-se rivais instantaneamente. Otaviano insistia em que o testamento de César fosse cumprido à risca, incluindo a distribuição de dinheiro ao povo de Roma; Antônio discordava, já que ofendia-se pelo fato de um "garoto" (como frequentemente se referia ao rival) oferecer-lhe conselhos sobre qualquer tema.
Em desvantagem tanto politica quanto intelectualmente em relação a Otaviano, Antônio fugiu com suas legiões para a Gália, onde suas forças foram derrotadas. Seguiu-se uma trégua que levou à criação do Segundo Triunvirato em 43 a.C., composto por Otaviano, Antônio e Lépido, que concordaram em dividir o território de Roma para um governo conjunto. Lépido recebeu a África, Otaviano os territórios a oeste de Roma e Antônio as províncias orientais.
Antônio e Cleópatra
Após derrotar os exércitos de Bruto (23-42 a.C.) e Cássio (c. 85-42 a.C.) na Batalha de Filippi, em 42 a.C., Otaviano retornou a Roma e Antônio foi para o Oriente onde, em Tarso (41 a.C.), ele convocou a rainha egípcia Cleópatra VII para uma audiência. Ele planejava acusar Cleópatra de sedição contra Roma (por ajudar e financiar Cássio e Bruto), com objetivo de estabelecer uma multa de valor substancial que lhe permitisse financiar suas tropas. A rainha, entretanto, manipulou sua aparição em Tarso de tal modo que lançou um feitiço imediato contra Antônio, que nunca mais foi capaz de quebrá-lo. Como Plutarco descreve:
Por isso, embora fosse intimada por várias cartas de Antônio e de seus amigos, ela pouco se incomodou e zombou ainda dele, pois apresentou-se navegando pelo rio Cidno em um barco, cuja popa era de ouro, as velas, de púrpura, os remos de prata, sendo manejados ao som e à cadência de uma música de flautas, de oboés, de cítaras e violas e outros instrumentos que se tocavam com arte e maestria dentro dele. Ela, porém, estava deitada, sob uma tenda de tecido de ouro, vestida e adornada como se costuma representar Vênus, tendo aos lados umas crianças lindas, trajadas também como os pintores costumam representar os Amores, com leques nas mãos, que eles agitavam lentamente. Suas damas e companheiras, do mesmo modo, as mais belas, estavam vestidas como Ninfas Nereidas, que são as fadas das águas, e como as graças, umas apoiadas no leme, outras nas cordas e cabos da barca. [...] Ela desceu em terra e Antônio convidou-a a cear em sua casa; ela, porém, mandou-lhe dizer que seria muito melhor se ele fosse à casa dela. Quis então mostrar-se deferente, à sua chegada, ele acedeu e foi; lá encontrou tal luxo e fausto que não é possível imaginar nem exprimir: entre outras coisas, porém, o que mais admiração lhe causou foi o número de lanternas e tochas suspensas no ar e alumiando todos os aposentos, tão engenhosamente dispostos e arrumados, uns redondos, outros quadrados, o que constituía uma das coisas mais belas e mais singulares para se ver, e que os olhos jamais poderiam ter escolhido como deleite, de que se faz menção nos livros. (Vida de Antônio)
Antônio e Cleópatra imediatamente começaram seu famoso caso de amor (ainda que na época estivesse casado com Fúlvia) e ele a considerava como sua esposa mesmo antes de desposá-la legalmente. Em 40 a.C., Fúlvia morreu e, num esforço para consolidar o já deteriorado relacionamento entre os dois governantes, Otaviano e Antônio acertaram o casamento deste com a irmã do herdeiro de César, Otávia (ainda que, no meso ano, Cleópatra tenha dado à luz aos filhos de Antônio, os gêmeos Alexandre Hélios e Cleópatra Selene).
No entanto, o relacionamento continuou a se deteriorar à medida que os anos se passavam e Antônio mantinha sua relação com a rainha egípcia, mesmo casado com Otávia. Antônio a enviou de volta a Roma em 37 a.C. e, dois anos depois, quando Otávia voltou a Atenas com tropas, suprimentos e dinheiro, ele se recusou a recebê-la e a mandou novamente de volta para casa.
Deixando Atenas, Antônio anexou a Armênia numa campanha bem-sucedida. Ao invés de retornar a Roma para seu triunfo, contudo, ele promoveu sua parada e celebração em Alexandria, com Cleópatra ao seu lado. Além disso, cedeu territórios à rainha egípcia e suas crianças e proclamou Cesarion (filho de Cleópatra com Júlio César) como verdadeiro e legítimo herdeiro do ditador, desta forma desafiando publicamente tanto a reivindicação de Otaviano quanto seu direito de governar.
A Batalha de Áccio e a Morte de Antônio
Agindo rapidamente, como de costume, Otaviano apresentou um documento ao Senado que supostamente seria o testamento de Antônio, o qual, argumentou, comprovava que o oponente estava se preparando para tomar posse de Roma, além de distribuir recursos preciosos dos romanos para Cleópatra e seus filhos. Sabiamente decidindo evitar uma declaração de guerra contra Antônio (o que poderia ter despertado a oposição de alguns membros do senado e da população), Otaviano manipulou os senadores para declarar guerra contra Cleópatra.
As forças de Antônio e Cleópatra enfrentaram as de Otaviano, estas sob a liderança do general Agrippa, na Batalha de Áccio, em 31 a.C.. Foram derrotadas pelas táticas superiores de Agrippa e pela inépcia no comando de forças navais. Até o ano seguinte, Antônio teve uma série de pequenas e fúteis batalhas contra Otaviano até que, após ouvir que Cleópatra estava morta, matou-se com a própria espada.
O boato era falso, no entanto, e, agonizante, Antônio foi levado a Cleópatra para morrer em seus braços. Ela se matou logo em seguida, com o uso de veneno. O filho de César com Cleópatra, Cesarion, foi estrangulado até a morte por ordem de Otaviano. Levados para Roma, os filhos de Antônio e Cleópatra desfilaram no triunfo de Otaviano atrás da efígie da mãe e foram entregues a Otávia. Foram criados junto com as crianças que Otávia teve com Antônio, uma das quais, Antônia Maior, seria a avó do imperador Nero. Otaviano era agora o único poder em Roma e, em 27 a.C., recebeu o título de Augusto ("Ilustre"), tornando-se o primeiro imperador do Império Romano.