Hércules

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Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 09 julho 2012
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Hercules & The Cretan Bull (by Mark Cartwright, CC BY-NC-SA)
Hércules e o Touro de Creta
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Hércules (Héracles, em grego) era um herói da mitologia grega famoso por sua grande força e resistência. Celebrado como um mortal extraordinário, seu sucesso em trabalhos aparentemente impossíveis granjeou-lhe um lugar entre os deuses imortais. Como o maior dos heróis, são atribuídas a ele muitas aventuras ao longo dos séculos, que provavelmente estavam conectadas em sua origem a figuras locais e de menor porte.

Início da Vida

O pai mortal de Hércules era Anfitrião (sobrinho de Eléctrion, soberano de Micenas) e sua mãe, Alcmena (ou Alcmene), ambos provenientes de Argos. Porém, após uma violenta briga entre Anfitrião e seu tio, que resultou na morte acidental de Eléctrion, a família fugiu para Tebas, onde Hércules nasceu. Na mitologia, entretanto, foi Zeus quem se deitou com Alcmena para gerar o herói, o que explicava a origem da sua grande força. Compreensivelmente, Hera mostrou-se sempre ciumenta da criança ilegítima do marido e começou a tornar sua vida difícil desde a mais tenra idade. A deusa atrasou seu nascimento para que seu primo Euristeu nascesse primeiro e, assim, se tornasse o governante da Grécia, de acordo com a determinação de Zeus. Ela também enviou duas serpentes para matar o recém-nascido, mas o bebê facilmente as estrangulou. Para compensar, Hércules sempre desfrutou do favor divino dos outros olimpianos - afinal, os ajudou na batalha contra os Gigantes -, principalmente de Atena.

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The Infant Hercules
O Menino Hércules
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

A juventude de Hércules transcorreu nas mãos dos melhores professores da Grécia. O pai mortal o ensinou a conduzir carros e domar cavalos. Seu professor de música era Lino, filho de Apolo, embora o temperamento irritável do aluno tenha sido demonstrado quando matou seu mestre com um golpe de seu banco (ou de seu alaúde/lira). Foi enviado então às montanhas, vivendo com pastores para se fortificar, e lá entrou em contato com o sábio centauro Quíron.

Os Doze Trabalhos de Hércules

Hércules casou-se com Mégara, a filha de Creonte, rei de Tebas, e juntos tiveram cinco filhos. Hera interferiu uma vez mais, levou Hércules à loucura e, num acesso, ele matou sua esposa e filhos. Imerso em profundo remorso, ele buscou o conselho de Apolo através de seu oráculo, em Delfos. A resposta foi que Hércules deveria oferecer seus serviços para seu primo Euristeu, o rei de Micenas, Tirinto e Argos. Novamente Hera influenciou os eventos, persuadindo Euristeu a ordenar a realização de tarefas difíceis e perigosas, tais como lutar contra monstros invencíveis – os famosos Doze Trabalhos de Hércules.

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The Twelve Labours of Herakles
Os Doze Trabalhos de Hércules
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

O maior desafio de Hércules foi descer até o Hades e capturar Cérbero, o feroz cão de três cabeças que guardava os portões do submundo.

1 - O Leão da Nemeia

Um leão com a pele invulnerável a qualquer arma estava aterrorizando a região da Nemeia, em alguns relatos por causa da falta de devoção de seus habitantes. Hércules estrangulou o leão com as mãos nuas e daí por diante passou a vestir sua pele como um manto de proteção.

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2 - A Hidra de Lerna

A Hidra, monstro que cuspia fogo e tinha cabeça de leão e corpo de várias serpentes, apareceu num pântano próximo a Lerna, nas proximidades de Argos, enviada por Hera para atormentar a terra natal do herói. Hércules lutou com a criatura, mas foi atrapalhado por um caranguejo gigante que mordia seu pé, além do fato de que, a cada vez que cortava a cabeça das serpentes, outras duas cresciam em seu lugar. Ajudado por seu fiel companheiro e sobrinho Iolau, que usou o fogo para impedir as cabeças de renascerem, Hércules eventualmente matou a Hidra e mergulhou suas flechas no sangue venenoso do monstro.

3 - A Corça da Cerínia

Sagrada para Ártemis e com chifres dourados, a corça recebeu seu nome do Monte Cerínia, próximo a Argos. Encarregado de capturar o célebre animal, de cascos extremamente rápidos, e apresentá-lo vivo a Euristeu, Hércules conseguiu seu intento somente após uma longa perseguição, que durou talvez um ano inteiro e que finalmente exauriu a corça.

4 - O Javali de Erimanto

A região do Monte Erimanto, na Arcádia, estava sendo devastada por um javali imenso e feroz, que Hércules deveria capturar e levar para Micenas. Instigando o animal a uma longa perseguição, Hércules novamente exauriu sua presa, que acabou capturada, amarrada pelos pés e levada para Micenas nos ombros do herói. Durante este trabalho, uma luta com alguns centauros sobre um barril aberto de vinho resultou na morte acidental de Quíron com uma flecha envenenada.

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5 - Os Estábulos de Augias

Augias, o rei de Élis, possuía um rebanho de animais dado a ele pelo seu pai, Hélios. O excremento produzido por tão vasto rebanho ameaçava a saúde dos habitantes locais. A aparentemente impossível tarefa de Hércules era limpar os estábulos do rebanho num único dia. Para cumprir a missão, Hércules escavou fossos de cada lado dos estábulos, jogou o esterco neles e então desviou o curso dos rios Alfeu e Peneu para levar todo o esterco embora.

6 - As Aves do Lago Estínfalo

Estas aves agressivas (possivelmente até devoradoras de homens) habitavam a floresta próximo ao Lago Esfínfalo, na Arcádia setentrional. Hércules usou castanholas ou matracas de latão (krotala) enviadas por Atena para assustar as aves e fazê-las voar, o que lhe permitiu derrubá-las com suas flechas.

7 - O Touro de Creta

Um touro destrutivo perturbava a vida dos habitantes de Cnossos, na ilha de Creta, e tinha duas origens possíveis: ou era o animal montado por Europa ao chegar à ilha ou o que havia acasalado com Pasífae (a esposa do rei Minos) e criado o Minotauro. Em algumas versões, Hércules não mata o touro, mas o captura e o leva para Micenas.

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8 - As Éguas de Diomedes

Diomedes, filho de Ares e rei da Trácia, mantinha em seus estábulos cavalos que alimentava com carne humana. Hércules precisava capturá-los e levá-los para Euristeu. Em alguns relatos, Hércules pacificou os cavalos alimentando-os com o corpo de próprio Diomedes ou de seu cavalariço.

9 - O Cinturão de Hipólita

Hipólita era a rainha das Amazonas e seu cinturão lhe fora dado por seu pai, Ares. Com alguns fiéis companheiros, Hércules viajou para a terra das Amazonas, na cidade de Temiscira, próximo ao Mar Negro. De início, eles tiveram uma recepção hostil das Amazonas, que haviam sido persuadidas por Hera a atacar os heróis; porém, Hércules conseguiu afinal obter o cinturão para Euristeu.

10 - O Rebanho de Gerião

Este rebanho de gado, na ilha de Erítia, tinha como guardiões um trio formidável: Gerião (ou Gérion), com três corpos unidos na cintura; Ortro, um cão com duas cabeças e uma cauda de serpente; e o pastor Êurito, filho de Ares. Porém, eles não eram páreo para Hércules, que os derrotou com seu porrete de confiança e capturou o rebanho. Nesta jornada para a ilha, no oceano ocidental, ele teria criado as marcas no Estreito de Gibraltar que, a partir de então, ficaram conhecidas como os Pilares de Hércules.

11 - Os Pomos das Hespérides

As Hespérides viviam num distante jardim nos confins do mundo conhecido, no qual cresciam árvores cujos frutos eram pomos dourados. Estas frutas sagradas tinham a proteção de Hera, que havia colocado Ládon, um apavorante dragão com cem cabeças, como guardião. Inicialmente, Hércules buscou o conselho de Nereu, o Velho Homem do Mar, para saber a localização exata do jardim. Em seu caminho para lá, o herói topou com Prometeu, que estava preso a uma rocha. Como punição por haver roubado o fogo da oficina de Hefesto para doá-lo à humanidade, Zeus enviava todos os dias uma águia para devorar seu fígado. Hércules abateu a águia com uma de suas flechas e libertou o condenado; em troca, Prometeu contou-lhe que seu irmão Atlas (e, em alguns relatos, pai das Hespérides) poderia mostrar-lhe como chegar ao jardim sagrado. Atlas estava sustentando os céus em seus ombros (outra punição de Zeus, esta por apoiar os Titãs na luta contra os deuses olimpianos), mas se ele ofereceu para apanhar os pomos por conta própria, se Hércules pudesse amparar os céus em sua ausência. O herói concordou e recebeu a ajuda de Atena para suportar o tremendo peso. Ao trazer de volta os pomos, Atlas ficou (compreensivelmente) relutante em retornar ao seu suplício. Porém, Hércules, com o pretexto de apanhar algumas almofadas para seus ombros, enganou Atlas, que voltou a sustentar os céus. Quando ficou livre, o herói apossou-se dos pomos e voltou a Micenas. Numa versão alternativa, Hércules subjugou Ládon, dando-lhe uma erva intoxicante, e então pegou os pomos por conta própria.

12 - Cérbero, o Cão do Hades

Euristeu estava ficando cada vez mais frustrado com o sucesso de Hércules e, assim, a última tarefa precisava ser impossível de realizar. O herói tinha de descer ao Hades e capturar do feroz cão de três cabeças, Cérbero, o guardião dos portões do submundo. Em sua jornada, ele encontrou muitas almas e persuadiu o deus Hades de que poderia levar o cão desde que o subjugasse sem armas, o que conseguiu graças à pele do Leão da Nemeia. Quando Hércules chegou a Micenas com Cérbero, assustou Euristeu a tal ponto que o rei se escondeu dentro de um enorme vaso de bronze.

Hercules Captures Cerberus
Hércules captura Cérbero
James Blake Wiener (CC BY-NC-SA)

Outras Aventuras de Hércules

Enquanto realizava seus trabalhos, Hércules se envolveu em muitas proezas secundárias, tais como lutar com Hades para resgatar Alceste do submundo, matar Cicno, um ladrão que emboscava peregrinos que se dirigiam a Delfos e reunir-se à expedição de Jasão e os Argonautas em busca do Tosão de Ouro.

Hércules também foi a Troia para salvar Hesione, filha do rei Laomedonte. O rei havia desagradado aos deuses Poseidon e Apolo, recusando-se a prestar homenagens para ambos, apesar de seus muitos benefícios à cidade. Eles então enviaram, respectivamente, um monstro marinho e uma praga para devastar Troia. O oráculo de Delfos declarou que somente o sacrifício de Hesione evitaria um desastre maior. Laomedonte concordou, mas ofereceu seus famosos cavalos imortais (presente de Zeus ao pai de Laomedonte, Troas) como recompensa para qualquer um que pudesse salvar sua filha. Hércules aceitou o desafio, matou o monstro marinho e resgatou Hesione. No entanto, Laomedonte renegou sua recompensa prometida e, anos depois, Hércules retornou com um exército, saqueou Troia, matou o rei (desta forma elevando o filho deste, Príamo, ao trono) e deu Hesione a seu amigo Telamon.

Djanira

Com a conclusão bem-sucedida de seus doze trabalhos, Hércules começou uma nova vida. Durante suas proezas no Hades, ele tinha encontrado Meleagro, que lhe disse para se casar com sua irmã, Djanira, filha de Oineu, rei de Calidon. Ao chegar a Calidon, no entanto, Hércules descobriu que Djanira estava prometida, contra sua vontade, a Aqueloo, o deus do rio do mesmo nome. Conquistando a afeição de Djanira, Hércules lutou até subjugar Aqueloo e casou-se com a princesa. Decidindo se instalar em Tirinto ou Tráquis, o casal precisava cruzar o rio Êueno. Ali eles encontraram o centauro Nesso, que transportava as pessoas através do rio. Porém, no meio da travessia ele imprudentemente molestou Djanira e Hércules acertou um tiro fatal no centauro com uma flecha envenenada. Infelizmente para Hércules, no entanto, antes de morrer Nesso mentiu para Djanira, dizendo-lhe que seu sangue tinha propriedades afrodisíacas e que ela devia coletar um pouco dele.

Hercules Fighting the Centaur Nessos
Hércules Lutando contra o Centauro Nesso
Mary Harrsch (Photographed at the Loggia dei Lanzi, Florence) (CC BY-NC-SA)

Após alguns anos de casamento pacífico, durante o qual o casal teve um filho, Hilo, Hércules decidiu entrar numa competição de arco e flecha na qual o prêmio era Iole, filha de Êurito, rei de Ecália. Naturalmente, Hércules venceu a competição, mas não recebeu o prêmio porque já era casado. Espicaçado, Hércules roubou os cavalos de Êurito e os levou de volta para Tirinto. Ífito visitou Tirinto para exigir a devolução dos cavalos do pai, mas acabou morto por Hércules.

Atena desceu em seu carro e tirou Hércules das chamas de sua pira funerária, levando-o para o Monte Olimpo.

Forçado a fugir de sua terra natal, Hércules novamente buscou expiação junto ao oráculo de Delfos. No entanto, como estava maculado com o assassinato, o oráculo recusou-se a aconselhá-lo; em consequência, Hércules roubou a trípode sagrada de Apolo, numa tentativa de instalar seu próprio oráculo em Feneu. Apolo e Hércules tornaram-se inimigos e somente o relâmpago de Zeus foi capaz de separá-los.

Uma Morte Terrível e a Divindade

Hércules então fugiu para Tráquis, de onde foi servir a Ônfale, rainha da Lídia, por ordens de Zeus. Ele também destruiu Ecália e tornou Iole sua serva. Suspeitando de motivos amorosos e buscando conquistar de volta as afeições do marido, Djanira decidiu usar o sangue de Nesso, aspergiu um manto com ele e encarregou um mensageiro de levá-lo a Hércules. O herói o vestiu, mas o manto envenenado fez com que sua pele queimasse terrivelmente. Djanira tirou a própria vida em remorso e Hércules, vendo-se sem nenhum futuro, instruiu seu filho Hilo a levá-lo ao Monte Oita e fez uma enorme pira funerária para si mesmo. Na ocasião, Hilo foi incapaz de iniciar o fogo e coube a Filoctetes (em troca do arco e flecha de Hércules) selar a sorte do herói. A imortalidade estava assegurada, no entanto, quando Atena desceu em seu carro e tirou-o das chamas. Levado para o Monte Olimpo, Hércules se casou com a deusa Hebe, recebeu o presente da eterna juventude e teve a permissão de morar com os deuses por toda a eternidade.

Statue of Hercules
Estátua de Hércules
Carole Raddato (CC BY-SA)

Representações na Arte

Na cerâmica arcaica e clássica da antiga Grécia, Hércules é com frequência representado carregando um porrete nodoso, uma aljava repleta de flechas e uma pele de leão como vestimenta, às vezes com a cabeça do leão como elmo. Geralmente é barbudo (até o final do século V e no século IV a.C., durante o qual passou a ser retratado sem barba) e com olhos muito grandes. A representação mais antiga dos doze trabalhos de Hércules em esculturas antigas encontra-se nas métopas do Templo de Zeus, na cidade de Olímpia antiga (completado em 457 a.C.). Nas peças teatrais cômicas da Grécia Clássica, ele é em geral parodiado como uma espécie de festeiro. Em moedas gregas (notavelmente as tebanas do século V a.C.) costumava aparecer regularmente o bebê estrangulando duas serpentes. Hércules era particularmente estimado em Atenas, como pode ser demonstrado pela frequente aparição na cerâmica com figuras pretas e vermelhas em muitas cenas mitológicas, mas a sua presença na cerâmica produzida em toda a Grécia comprova a ampla popularidade deste herói grego por excelência.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2012, julho 09). Hércules [Hercules]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10115/hercules/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Hércules." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação julho 09, 2012. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10115/hercules/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Hércules." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 09 jul 2012. Web. 20 dez 2024.