Tibério

Definição

Donald L. Wasson
por , traduzido por Rogério Cardoso
publicado em 19 julho 2012
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Ouve este artigo
X
Imprimir artigo
Tiberius, Vatican Museums (by Mark Cartwright, CC BY-NC-SA)
Tibério, Museus do Vaticano
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Tibério foi o imperador romano de 14 a 37 d.C. Tibério, o filho adotivo do imperador romano César Augusto, nunca desejou seguir os passos de seu padrasto — tal caminho foi escolhido por sua dominadora mãe, Lívia. Em seu reinado de 23 anos como imperador, ele se afastou da sua mãe controladora e se lançou a um autoexílio, distanciando-se dos deveres de governar um império.

Em 42 a.C., Tibério Cláudio Nero e sua esposa Lívia Drusila assistiram ao nascimento de um filho, Tibério Júlio César. Foi um casamento atribulado: a família acabou forçada a viver temporariamente no exílio por causa da oposição do pai de Tibério a Augusto. O historiador Suetônio escreveu nas suas Vidas dos Doze Césares que "Sua infância e adolescência foram acometidas por sofrimento e dificuldades porque Nero (seu pai) e Lívia o levavam aonde quer que fossem para fugir de Augusto." Quando o jovem Tibério tinha quase quatro anos, seus pais se divorciaram (Nero morreria seis anos depois), e sua mãe passou a procurar outro marido para si e um pai para seu filho — para isso, ninguém melhor que o outrora inimigo do seu ex-marido, Augusto.

Remover publicidades
Publicidade

Em 39 a.C., Lívia realizou o seu desejo quando ela e Augusto, enfim, se casaram. O casamento dava a Tibério a oportunidade de estar numa possível linha sucessória ao trono imperial, mas, à época do casamento, ele não era nem o favorito de Augusto, nem o sucessor imediato na linha. Augusto havia preparado seus dois netos, Caio César e Lúcio César, filhos da sua problemática filha Júlia (cuja mãe era a segunda esposa, Escribônia), para o sucederem. Mais tarde, porém, para assegurar a sua possível ascensão ao trono imperial, Tibério foi forçado tanto a se divorciar, por ordens de Augusto, da sua amada e grávida esposa Vipsânia Agripina (a filha do almirante Marco Agripa) quanto a se casar, em 12 a.C., com a recém-enviuvada Júlia.

Tibério detestava a sua nova esposa, mas, para a sua sorte, a reputação dela (entre outras coisas, de adúltera) forçou Augusto a exilá-la; apesar disso, Tibério tentou sem sucesso fazer um apelo a Augusto em nome da esposa, que morreu de fome em 14 d.C. Embora Tibério não tenha lamentado a morte de Júlia, ele se mostrou ainda menos entusiasmado quando os dois filhos dela morreram; Caio em batalha, e Lúcio por enfermidade. Ainda que isso tenha aproximado Tibério (agora já como filho adotivo de Augusto) da linha sucessória, ele jamais havia demonstrado qualquer empolgação para se tornar imperador — tal empolgação era inteiramente de Lívia. Note-se que Tibério já tinha seus quarenta anos quando foi finalmente adotado, uma prática nada incomum em Roma.

Remover publicidades
Publicidade

A mãe de Tibério tinha planos mais grandiosos para o seu filho. O historiador Cássio Dio escreveu:

... no tempo de Augusto, ela [Lívia] possuía a maior das influências e sempre declarou que foi ela que tornou Tibério imperador; consequentemente, ela não estava satisfeita em governar em condições de igualdade com ele, mas desejava ter precedência sobre ele.

Julio-Claudian Dynasty of the Roman Empire
Dinastia Júlio-Claudiana do Império Romano
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

A sua influência controladora não duraria. Depois que Tibério relutantemente se tornou imperador — historiadores discutem se Lívia teve participação ou não na morte de Augusto — Lívia foi inteiramente removida dos assuntos públicos e foi inclusive proibida de fazer um banquete em memória de Augusto. Tibério deixou de fazer qualquer contato futuro com ela. Quando ela morreu em 29 d.C. aos 86 anos de idade,

Remover publicidades
Publicidade

... Tibério não lhe fez quaisquer visitas durante a enfermidade nem cuidou do corpo dela; na verdade, ele não fez quaisquer arranjos em honra dela, excetuando-se o funeral público, as imagens e outras questões sem importância.

O historiador Tácito acrescentou que Tibério se escusou de ir ao funeral "... devido à pressão dos negócios."

Tibério fora um excelente general, servindo com distinção na Germânia e atuando como governador da Gália.

O fato de que Tibério jamais quisera ser imperador era evidente, pois ele sempre sobressaiu fora da arena política. Ele fora um excelente general, servindo com distinção na Germânia e atuando como governador da Gália. Entretanto, em 6 a.C., ele abruptamente se lançou a um autoexílio na ilha de Rodes (possivelmente para escapar de Júlia), não retornando a Roma até 2 d.C. — ele teve inclusive de solicitar a permissão de Augusto para retornar. De fato, ele era amiúde chamado de "o exilado". Em 14 d.C., Augusto morreu, permitindo que Tibério se tornasse o novo imperador do Império Romano. Assim como muitos que o sucederam, os seus primeiros anos como imperador correram bem. Ele evitou boa parte da pompa que se seguiu à sua ascensão, respeitando a autoridade do Senado. Cássio Dio escreveu: "Tibério era um patrício de boa educação (ele falava grego fluentemente), mas tinha uma índole das mais peculiares. Ele jamais deixava transparecer seus desejos numa conversa, e aquilo que ele dizia desejar ele geralmente não desejava de jeito nenhum". Considerado avarento por uns e modesto por outros, ele iniciou, mas não concluiu, muitos projetos de obras públicas, em sua maioria concluídos depois por Calígula. Na sua cabeça, ele supunha que o trono imperial estava ameaçado por outro homem: Germânico Júlio César Claudiano, o filho adotivo de Tibério (a pedido de Augusto) e a verdadeira preferência de muitos dos generais. Germânico, no entanto, silenciou aqueles oponentes mais explícitos de Tibério e manifestou seu apoio ao novo imperador.

Tiberius Statue, Vatican Museums
Estátua de Tibério, Museus do Vaticano
Carole Raddato (CC BY-SA)

Quando Germânico repentinamente morreu após uma breve enfermidade em 18 d.C., sua viúva, Agripina, a Velha, retornou a Roma, crendo que Tibério havia ordenado a Cneu Pisão, ex-governador da Síria, que matasse Germânico. O jovem general fora responsável pela destituição de Pisão do cargo de governador. Logo, este foi chamado a Roma para responder às acusações contra si; contudo, não obstante um apelo ao imperador, ele foi forçado a cometer suicídio. Agripina também cria que seus filhos — Nero César, Druso César e Caio Júlio César (Calígula) — deveriam ser postos na linha sucessória ao trono; porém, isso nunca aconteceria. Apenas Calígula sobreviveria e se tornaria imperador. Druso foi submetido à morte pela fome, e Nero foi assassinado (a própria Agripina foi exilada e depois submetida à morte pela fome também). Calígula e suas irmãs, que eram muito jovens e inócuos, viviam com Tibério em Capri.

Remover publicidades
Publicidade

A morte de Germânico causou mudanças na personalidade de Tibério. Segundo Cássio Dio, ele se tornou cada vez mais cruel, pois "... para com aqueles que fossem suspeitos de conspirarem contra ele, o imperador era inexorável... escravos eram torturados para fazê-los testemunhar contra seus próprios mestres...". Tibério frequentemente fingiria sentir pena daquelas pobres almas que ele havia punido, enquanto mantinha um rancor contra aqueles a que havia perdoado. Suetônio faz um relato concorde a respeito dessa mudança de comportamento: "Tibério perpetrou muitos outros atos perversos com o pretexto de reformar a moral pública, mas, na realidade, era para satisfazer ao seu desejo de ver pessoas sofrendo.".

Os rigores de governar um império, somados à interferência de Lívia, eram demais para Tibério, que se mudou para a ilha de Capri em 26 d.C., deixando as atividades rotineiras para o seu conselheiro e prefeito da Guarda Pretoriana, Lúcio Élio Sejano. Conforme o tempo passava, Tibério começou a ficar cada vez mais dependente dos conselhos de Sejano. Visto amiúde por muitos como cruel e ambicioso, Sejano começou inclusive a ver a si próprio como o verdadeiro imperador, até cometer um erro fatal: o filho de Tibério com Vipsânia (Júlio César Druso) era casado com uma mulher de nome Lívila (cujo nome, na verdade, vem de Lívia). Sejano, que via Druso como um rival, começou a ter um relacionamento com a esposa deste. Mais tarde, isso ocasionou a morte de Druso em 23 d.C. por envenenamento. Devido à insistência de Lívila, Sejano divorciou-se da sua esposa e abandonou os seus filhos; o casal fez um apelo a Tibério em 25 d.C. pedindo permissão para se casarem, mas Tibério recusou o pedido. Por essa época, Sejano havia transformado a Guarda Pretoriana numa considerável força de 12.000 homens. Depois, ele embarcou numa série de julgamentos por traição para eliminar qualquer possível oposição; muitos romanos viviam com medo.

Tiberius & Livia
Tibério & Lívia
Carole Raddato (CC BY-SA)

Em 31 d.C., sem permissão, o casal anunciou o seu noivado. A mãe de Lívila, Antônia Menor, escreveu ao imperador e o informou da intenção do casal de assassinar a ele e ao jovem Calígula. Tibério se dirigiu apressadamente a Roma e apareceu perante o Senado, para onde Sejano foi atraído sob falsos pretextos e forçado a responder às acusações. Com pouco debate, ele foi considerado culpado e acabou condenado à morte; ele foi estrangulado e esquartejado, membro a membro, por uma multidão ali reunida, e os seus restos foram jogados aos cães. Seus filhos e seguidores também foram executados, enquanto Lívila foi submetida à morte pela fome sob a cuidadosa supervisão de sua própria mãe.

Remover publicidades
Publicidade

Nos últimos anos de seu reinado, Tibério ficou cada vez mais paranoico e impôs um número crescente de julgamentos por traição. Ele ficou mais recluso, permanecendo em Capri, onde morreu em 37 d.C. aos 77 anos (supostamente, pelas mãos do prefeito da Guarda Pretoriana, Névio Sutório Macro, com a ajuda do sucessor de Tibério, Calígula). Ao saber da sua morte, o povo, segundo Suetônio, gritava "Ao Tibre com Tibério!". Cássio Dio disse: "Então, Tibério, que possuía grandes virtudes e grandes vícios e fazia cada coisa por vez como se a outra não existisse, faleceu dessa maneira no vigésimo sexto dia de março.".

Remover publicidades
Publicidade

Perguntas e respostas

Pelo que Tibério ficou mais conhecido?

O imperador romano Tibério ficou conhecido por ser o sucessor de Augusto e por se tornar recluso quando o seu herdeiro, Germânico, morreu.

Quem eram a mãe e o padrasto de Tibério?

A mãe de Tibério se chamava Lívia Drusila, enquanto o seu padrasto era o imperador Augusto. O seu pai verdadeiro era Tibério Cláudio Nero.

Como Tibério se tornou imperador?

Tibério tornou-se imperador após a morte do imperador Augusto em 14 d.C. Augusto havia preparado dois netos, Caio César e Lúcio César, filhos da sua filha Júlia, para o sucederem. Tibério foi forçado a se divorciar da sua amada esposa Vipsânia, por ordem de Augusto, e a se casar com Júlia. Quando os dois filhos de Júlia morreram, Tibério tornou-se o próximo na linha sucessória.

O que causou a mudança na personalidade de Tibério?

A morte de Germânico, que estava ameaçando o trono do imperador, causou uma mudança na personalidade de Tibério, a ponto de ele se tornar cada vez mais cruel para com aqueles que fossem suspeitos de conspirarem contra ele.

O que aconteceu com Tibério nos últimos anos de seu reinado?

Nos últimos anos de seu reinado, Tibério se mudou para a ilha de Capri em 26 d.C., já que os rigores de governar um império eram demais para ele, deixando suas atividades rotineiras ao prefeito da Guarda Pretoriana Lúcio Élio Sejano. Ele ficou cada vez mais paranoico e impôs mais julgamentos por traição, enquanto permanecia em Capri, onde morreu em 37 d.C.

Bibliografia

  • Blond, A. The Private Lives of the Roman Emperors. Running Press, 2008
  • Boak, A & Sinnigen, W. A History of Rome to AD 565. MacMillan Co, 1965
  • Cassio Dio. Roman History.
  • Dennison, M. Livia: Empress of Rome. St. Martin's Press, 2010
  • Kerrigan, M. A Dark History: The Roman Emperors. Metro Books, 2011
  • Tacitus. Annals Book IV - V.

Sobre o tradutor

Rogério Cardoso
Rogério Cardoso nasceu em Manaus, Brasil, onde inicialmente obteve um grau em Letras Portuguesas, e mais tarde se mudou para São Paulo, onde obteve um grau de mestre em Filologia Portuguesa. Ele é um entusiasta da História.

Sobre o autor

Donald L. Wasson
Donald ensina História Antiga, Medieval e dos Estados Unidos no Lincoln College (Normal, Illinois) e sempre foi e sempre será um estudante de História, dedicando-se, desde então, a se aprofundar no conhecimento sobre Alexandre, o Grande. É uma pessoa ávida a transmitir conhecimentos aos seus estudantes.

Citar este trabalho

Estilo APA

Wasson, D. L. (2012, julho 19). Tibério [Tiberius]. (R. Cardoso, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10428/tiberio/

Estilo Chicago

Wasson, Donald L.. "Tibério." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. Última modificação julho 19, 2012. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10428/tiberio/.

Estilo MLA

Wasson, Donald L.. "Tibério." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 19 jul 2012. Web. 20 nov 2024.