Colapso da Idade do Bronze

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 20 setembro 2019
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The Great Temple of Hattusa (by Carole Raddato, CC BY-NC-SA)
O Grande Templo de Hattusa
Carole Raddato (CC BY-NC-SA)

O Colapso da Idade do Bronze (também conhecido como Colapso do Final da Idade do Bronze) é um termo moderno que se refere ao declínio e queda das principais civilizações mediterrâneas durante os séculos XIII-XII a.C. A causa precisa do colapso da Idade do Bronze tem sido debatida por estudiosos há mais de um século, bem como a data em que provavelmente começou e quando terminou, sem que houvesse consenso. O que se sabe claramente é que, entre c. 1250 - c. 1150 a.C., grandes cidades foram destruídas, civilizações inteiras desmoronaram, houve interrupção nas relações diplomáticas e comerciais, sistemas de escrita desapareceram e ocorreram devastação e morte generalizadas numa escala desconhecida até então.

As causas inicialmente aventadas para o Colapso da Idade do Bronze são:

  • Catástrofes naturais (terremotos)
  • Mudanças climáticas (que causaram seca e fome)
  • Rebeliões internas (guerras de classes)
  • Invasões (principalmente pelos Povos do Mar)
  • Ruptura das relações comerciais/colapso de sistemas (instabilidade política)

Quando o colapso terminou, a região do Mediterrâneo entrou numa “idade das trevas”, na qual o ferro substituiu o bronze como o metal preferido, as relações diplomáticas e comerciais tornaram-se quase inexistentes e a arte, a arquitetura e a qualidade de vida em geral sofreram em comparação com épocas anteriores.

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O que se seguiu à Idade do Bronze (c. 3300 - c. 1200 a.C.) foi a Idade do Ferro (c. 1200-550 a.C.), uma época de transformação e desenvolvimento e, em geral, não tão "sombria" quanto acreditavam os estudiosos do século XIX e início do século XX. Esta impressão da Idade do Ferro para estes autores parece ter sido derivada pelo contraste com a grandeza e prosperidade da Idade do Bronze mas, mesmo assim, ainda que as civilizações se reconstruíssem e se desenvolvessem, muito do que se perdeu não podia mais ser recuperado. As lições do Colapso da Idade do Bronze para os dias atuais são especialmente pertinentes, no momento em que o mundo com relações globalizadas apresenta várias semelhanças com a intrincada rede de nações que caracterizou aquele período.

Aegean Bronze Age Civilizations, c. 2000 - 1100 BCE
Civilizações Egeias da Idade do Bronze, c. 2000 - 1100 a.C.
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

A Idade do Bronze

A Idade do Bronze deve seu nome à popularidade do uso do bronze na metalurgia e, assim, representa uma designação conveniente para este período. Esta época testemunhou o desenvolvimento da civilização, em todos os seus aspectos, na região do Mediterrâneo. Ficou mais conhecida devido aos avanços culturais e na linguagem, tecnologia, religião, arte, arquitetura, política, guerra e comércio.

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A Idade do Bronze simboliza o que a maioria das pessoa imagina como ouve o termo "história antiga", porque nesta época se construíram as Pirâmides de Gizé (durante o Antigo Império do Egito, c. 2613-2181 a.C.) e o Templo de Karnak (começando no Médio Império, 2040-1782 a.C., e durante do Novo Império, c. 1570 - c. 1069 a.C.). Na Mesopotâmia, o Período Uruk (c. 4100-2900 a.C.) viu a invenção da roda e da escrita, entre outros avanços, e esta era se funde com o chamado Período Dinástico Inicial (c. 2900-2334 a.C.) e depois o Período Acadiano (2334-2218 a.C.), durante o qual a primeira entidade política multicultural do mundo – o Império Acadiano – foi fundada por Sargão da Acádia (r. 2334-2279 a.C.). Babilônia mais tarde se tornaria o grande centro de cultura e aprendizado na Mesopotâmia e o reino de Elam estava criando grandes cidades.

The Late Bronze Age Collapse c. 1200 - 1150 BCE
O Colapso do Final da Idade do Bronze, c. 1200-1500 a.C.
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

Os Hititas se estabeleceram na Anatólia (c. 2700-2400 a.C.) e construíram a grande cidade de Hattusa (c. 2500 a.C.). O Império Hitita (1400-1200 a.C.) floresceu e o Reino de Mitani estendia-se do norte do Iraque até a Turquia. A cultura cipriota desenvolveu-se na ilha de Chipre, assim como a cidade fenícia de Ugarit no Levante, entre outras, e a Civilização Micênica da Grécia (1600 - c. 1100 a.C.) estava no auge.

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A Assíria, Babilônia, Egito, o Império Hitita e o Reino de Mitani encontravam-se estreitamente unidos numa rede comercial e diplomática denominada por estudiosos modernos como o "Clube das Grandes Potências".

À medida que cada entidade política se tornava mais estável e centralizada, o comércio floresceu até que, por volta de 1350 a.C., a Assíria, Babilônia, Egito, O Império Hitita e o Reino de Mitani encontravam-se estreitamente unidos numa rede comercial e diplomática denominada por estudiosos modernos como o "Clube das Grandes Potências" (van de Mieroop, Ancient Egypt, 188). Tratava-se de uma teia bastante estreita de relacionamentos internacionais entre os monarcas mais poderosos da época e sua existência está bem estabelecida através das tabuinhas conhecidas como as Cartas de Amarna, datadas do século XIV a.C., que trazem a correspondência entre os reis egípcios e de outras nações.

Estas relações cordiais traziam prosperidade para as populações das regiões envolvidas. O comércio floresceu, como podemos constatar através dos grandes projetos de construção do Novo Império do Egito, entre outras evidências, e as nações progrediram por intermédio destes laços comerciais e diplomáticos. Este estilo de vida seria drasticamente alterado para pior a partir de meados do século XIII a.C., o que configura o chamado Colapso da Idade do Bronze. Quando este período turbulento acabou, das nações que faziam parte do Clube das Grandes Potências, somente o Egito permaneceria intacto, ainda que bastante reduzido.

Causas do Colapso

Desde a época do egiptólogo francês Gaston Maspero (v. 1846-1916), o primeiro a cunhar o termo "Povos do Mar" com referência às forças invasoras dos séculos XIII e XII a.C., em 1881, as causas do Colapso da Idade do Bronze tem sido apresentadas por acadêmicos como lineares, acontecendo conforme uma sequência: terremotos levaram à destruição de cidades e as colheitas ruins (mudança climática) levou à fome, o que por sua vez conduziu à instabilidade política e social e a rebeliões internas enquanto que, ao mesmo tempo, grandes populações, desalojadas de suas terras por dificuldades semelhantes, migraram para o Mediterrâneo e, em sua busca por um novo lar, investiram contras as populações existentes. Todas estas pressões finalmente resultaram na perda das relações diplomáticas e comerciais e a queda generalizada da civilização no Mediterrâneo.

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The Sphinx Gate, Alacahöyük (Hittite settlement)
O Portal da Esfinge, Alacahöyük (Povoado Hitita)
Carole Raddato (CC BY-SA)

O problema com este conceito linear de causas não reside somente no fato de ser simples demais - todas estas civilizações haviam sobrevivido a invasões, terremotos e instabilidade anteriormente -, mas porque sempre assume uma data específica para quando o colapso começou e terminou e, então, encontra eventos históricos que apoiam a narrativa e esta datação. É bem mais provável, conforme preconizado por acadêmicos como Eric H. Cline, A. Bernard Knapp, Stuart W. Manning e Brandon L. Drake, entre outros, que todas estas pressões ocorreram sobre a civilização do Mediterrâneo numa rápida sucessão, talvez quase simultaneamente, de forma que, antes que as populações se recuperassem de uma catástrofe, outra se desencadeava sobre eles. Cline refere-se a esse fenômeno como "uma tempestade perfeita de calamidades", explicando:

Talvez os habitantes pudessem ter sobrevivido a um destes desastres, como um terremoto ou uma seca, mas não conseguiram resistir aos efeitos combinados de terremotos, secas e invasores ocorrendo em rápida sucessão. Um "efeito dominó" sucedeu-se então, no qual a desintegração de uma civilização levou à queda de outras. (165)

Esta sugestão é mais provável, levando-se em conta, conforme já observado, que as civilizações mediterrâneas haviam resistido anteriormente a tais desafios e sobrevivido. Cline evita a armadilha de tentar datar o ano preciso do colapso, observando que sua data de 1177 a.C. representa apenas uma espécie de "taquigrafia acadêmica" para o seu início e não deve ser entendida como definitiva:

Pode-se argumentar que 1177 a.C. representa, para o final da Idade do Bronze Tardia, o mesmo que 476 d.C. para a queda de Roma e do Império Romano do Ocidente. Ou seja, tratam-se de datas que servem para os estudiosos indicarem o fim de um período histórico. A Itália foi invadida e Roma saqueada várias vezes durante o século V d.C., incluindo o saque de 410 d.C. por Alarico e os visigodos e, em 455 d.C., por Genserico e os vândalos. Havia também muitas outras razões para a queda de Roma, em acréscimo a esses ataques, e a história é bem mais complexa, como qualquer historiador especializado nos romanos pode atestar prontamente. Porém, é conveniente, e considerado aceitável pela comunidade acadêmica como uma forma de abreviação, relacionar a invasão de Odoacro e os ostrogodos ao fim dos dias de glória de Roma. (172).

Com isso em mente, as causas do Colapso da Idade do Bronze devem ser consideradas como sugestões de probabilidades no que diz respeito às datas, mas costuma-se aceitar um período de tempo específico (aproximadamente c. 1250 - c. 1150 a.C.) e certos aspectos do colapso nesse intervalo, tais como as mudanças climáticas, mostram-se mais expressivos porque não há registro destes eventos, ao menos em graus tão extremos, antes desta época.

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Amarna Letter Tablet from Tushratta
Tabuinha com Carta de Amarna de Tusserata
Priscila Scoville (CC BY-NC-SA)

Catástrofes naturais: Knapp e Manning ressaltam que a ocorrência de terremotos no Mediterrâneo era comum e isso não teria sido diferente nos séculos XIII-XII a.C. Eles citam o acadêmico Robert Drews que, em seu estudo, "apresentou uma lista de 47 sítios destruídos na região num período de mais de 50 anos [do colapso]", mas sustentam que é difícil afirmar que foram destruídos por terremotos, invasões ou rebeliões internas (113). Knapp e Manning também indicam a possibilidade de "tempestades sísmicas" – uma série de terremotos em rápida sucessão – que podem explicar a destruição generalizada.

As mudanças climáticas podem ter desempenhado um papel significativo no colapso.

Mudanças climáticas: o arqueólogo David Kaniewski menciona as mudanças climáticas como um fator primordial para o colapso, afirmando que "as mudanças climáticas abruptas no final da Idade do Bronze Tardia causaram a perda disseminada de colheitas, levando a crises socioeconômicas e falta de sustentabilidade" (Knapp e Manning, 102). Esta crise, segundo Kaniewski, teria causado as invasões/migrações em massa registradas pelas populações de Chipre, Anatólia e Egito. O problema com esta alegação é a cronologia do Colapso da Idade do Bronze. Não há, conforme já observado, datas específicas para quando começou, terminou ou mesmo sobre sua duração. As datas para o início do colapso variam de 1250 a 1186 até 1177 a.C., entre outras e, assim, não é possível assinalar as mudanças climáticas como uma causa específica. Knapp e Manning destacam que "não dispomos de quaisquer dados climáticos definidos do Mediterrâneo oriental" para este período, ainda que reconheçam o papel significativo das mudanças climáticas neste processo (117).

O estudioso Brandon L. Drake, no entanto, observa que "a caverna de Soreq, em Israel, contém um registro de 150.000 anos de precipitação para o norte do Levante" [através dos espeleotemas, que se formam através da sedimentação e cristalização de minerais dissolvidos na água], que mostra um declínio sem precedentes e constante nas chuvas em curso até 1150 a.C., época em que foi significativo o suficiente para causar seca prolongada. Citando o trabalho de Kaniewski e Harvey Weiss, Drake observa que uma chamada megasseca (termo de Weiss) atingiu a região entre c. 1200-850 a.C., conforme evidências provenientes do exame de registros aluviais e de pólen, bem como a correspondência entre monarcas na época (Drake, 1863). Drake conclui:

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Um declínio nas temperaturas da superfície do Mar Mediterrâneo, no período anterior a 1190 a.C., reduziu o fluxo anual de água doce, baixando as taxas de evaporação. Os ventos do oeste absorveram menos vapor de água, resultando em queda na precipitação. (1868)

O declínio da precipitação levou à seca prolongada, que afetou as colheitas e resultou em fome generalizada. A falta de alimentos pode ter conduzido à migração/invasão.

Soreq Cave
Caverna de Soreq
Dany Sternfeld (CC BY-NC-ND)

Rebeliões internas: As guerras de classes – definidas como as classes mais baixas se revoltando contra os privilégios da elite – são citadas como outra causa. Durante o reinado de Ramsés III (1186-1155 a.C.), a primeira greve de trabalhadores da história é registrada, devido à falta de pagamento aos construtores de túmulos em Deir-el-Medina. O roubo de túmulos no antigo Egito também se tornou desenfreado nesta época e o estudioso William H. Stiebing observa: "É interessante que o item que os ladrões mais frequentemente compravam com seu saque era comida" (227). Cline cita a destruição da cidade cananeia de Hazor como "causada por uma rebelião interna dos habitantes da cidade", possivelmente pela falta de suprimentos alimentares adequados (148). As evidências arqueológicas e literárias sugerem de forma óbvia que a escassez de alimentos encorajou as classes mais baixas a se revoltarem contra aqueles que estariam controlando esses recursos.

Invasões: O Colapso da Idade do Bronze já foi atribuído unicamente à invasão dos chamados Povos do Mar, no período aproximado entre 1276 e 1178 a.C. Ainda há debates sobre a identidade dessa coalizão nos dias atuais, mas, quem quer que fossem e de onde quer que viessem, provocaram uma devastação nas civilizações do Mediterrâneo. Os nomes das tribos mencionadas são Sardana, Secele, Luca, Teres, Acauasa (ou Acaiuasa) e Pelesete, entre outras. As inscrições egípcias do Novo Império deixam claro que foram expulsos por Ramsés II (Ramsés, o Grande, r. 1279-1213 a.C.), seu filho – e sucessor – Merenptah (r. 1213-1203 a.C.) e Ramsés III, que os derrotou em 1178 a.C. Invasões em outros locais, por outros povos, também costumam ser citadas como uma das principais causas. Stiebing destaca a teoria de Drew sobre as invasões, especialmente dos Povos do Mar:

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Robert Drews propôs uma variação interessante sobre a invasões como uma explicação para o colapso, ressaltando as mudanças na arte da guerra como a razão para o fim da Idade do Bronze. De acordo com esta concepção, os bárbaros, como os Povos do Mar, haviam sido empregados há muito tempo como mercenários pelas Grandes Potências e, abruptamente, viraram-se contra seus senhores (229).

Trata-se de uma teoria insustentável, no entanto, pois ignora os registros bem estabelecidos dos monarcas egípcios – especialmente Ramsés III – que mostram os Povos do Mar chegando com suas esposas e filhos em carroças; indicando claramente uma onda migratória que acompanhava as forças invasoras.

Ramesses III
Ramsés III
Unknown Artist (Public Domain)

Rompimento das relações comerciais/Colapso dos sistemas: O rompimento dos laços comerciais e diplomáticos, que costuma ser citado entre as causas do colapso, não pode ser considerado um motivo primário, pois não havia razão para que as Grandes Potências decidissem, de repente, encerrar as relações e permitir que suas culturas retrocedessem ou que suas civilizações decaíssem completamente. A interrupção do comércio deve ter sido, portanto, a culminação de pressões anteriores. A natureza global (ressaltando que o termo "global" refere-se aos povos do antigo Mediterrâneo) do comércio na época levara a relações tão próximas que, se uma caísse, as demais se seguiriam. Stiebing comenta:

[Estudiosos] argumentaram que as civilizações da Idade do Bronze experimentaram um colapso sistêmico. Suas economias estavam relacionadas de maneira muito estreita e as redes comerciais dependiam de situações relativamente pacíficas. Também haveria problemas sociais significativos (tais como escravidão por dívidas, alienação de terras, abuso dos camponeses pela aristocracia) que levaram ao descontentamento interno. Então, ao final do século XIII a.C., a pirataria e os conflitos militares interromperam o comércio. O declínio substancial no comércio, por sua vez, levou ao colapso econômico, revoltas e à falência dos sistemas econômicos, políticos e sociais. (230)

Nenhuma destas causas, por si só, podem explicar o Colapso da Idade do Bronze. A maioria dos estudiosos concorda com a conclusão sucintamente articulada por Marc van de Mieroop: “nenhuma causa específica pode explicar o que aconteceu em todas as regiões e estados” (Near East, 190). Cenários que podem se encaixar em determinadas regiões não funcionam em outras e a explicação linear de uma causa que leva a outra ignora que, em épocas anteriores da história, houve desafios semelhantes, mas sem colapso.

A Idade das Trevas

O Império Hitita caiu, Ugarit foi destruída, a Civilização Micênica desapareceu, as cidades do Levante seguiram um padrão semelhante de declínio e os cipriotas também sofreram. A era de ouro do Clube das Grandes Potências e a prosperidade resultante tornaram-se apenas uma memória, mais tarde registrada em mito, principalmente na Grécia no século VIII a.C. por Homero e Hesíodo, que traziam à lembrança das pessoas um grande período do passado, já distante e muito superior ao presente.

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Clina encerra seu livro - 1177 a.C.: o Ano que a civilização entrou em colapso - com uma nota otimista, observando que, das cinzas do Colapso da Idade do Bronze, vieram as sementes das civilizações que produziriam o mundo moderno. Ele sugere que "algumas vezes se requer um grande incêndio florestal para ajudar a renovar o ecossistema de uma floresta antiga e permitir que floresça renovada" (176). Não há dúvida de que isso seja verdade mas, como ele também ressalta, pode-se imaginar o que seria o mundo atual se não houvesse acontecido o Colapso da Idade do Bronze.

Houve enormes ganhos culturais, obviamente, em épocas posteriores e a "idade das trevas" que se seguiu ao colapso não foi nem de longe tão sombria quando os acadêmicos postulavam. Para citar apenas um exemplo, o Terceiro Período Intermediário do Egito (c. 1069-525 a.C.) ficou bem conhecido por seu artesanato em metalurgia, que trabalhava "em ouro e prata, mas a maior parte em bronze" (Shaw, 361). O trabalho em bronze sobreviveu ao colapso, assim como muitos outros aspectos da civilização da Idade do Bronze.

Head of an Ibex
Cabeça de um Ibex (Cabra Selvagem)
Osama Shukir Muhammed Amin (Copyright)

Enquanto alguns sistemas de escrita desapareciam - principalmente o micênico e minoico - o alfabeto fenício entrou em cena. Gradualmente, os povos mediterrânicos sobreviventes adaptaram-se à nova realidade e reconstruíram suas vidas. Tais vidas mostraram-se bem diferentes do que teriam sido caso não houvesse o colapso mas, como assinalou o filósofo grego pré-socrático Heráclito de Éfeso, a essência da vida é a mudança e todas as coisas, em todas as épocas, enfrentam a transformação - voluntária ou involuntariamente - e, assim, isso ocorreu com as civilizações da Idade do Bronze.

Mesmo assim, o paralelo entre o período do colapso e os dias modernos parece bastante impressionante na medida em que atualmente, como naquela época, o mundo está estreitamente relacionado através do comércio e diplomacia globais e a queda de uma nação certamente afetará o destino das demais. Como Cline observa, “num sistema complexo como o nosso mundo atual, [um ponto de inflexão] é tudo o que pode ser necessário para que o sistema geral se desestabilize, levando ao colapso” (176). Esse ponto de inflexão, conforme estabelece a ciência moderna e a observação empírica, são as mudanças climáticas; o único fator, entre as causas do Colapso da Idade do Bronze, que arqueólogos e estudiosos respeitados consideram sem precedentes naquela época.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2019, setembro 20). Colapso da Idade do Bronze [Bronze Age Collapse]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10433/colapso-da-idade-do-bronze/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Colapso da Idade do Bronze." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação setembro 20, 2019. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-10433/colapso-da-idade-do-bronze/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Colapso da Idade do Bronze." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 20 set 2019. Web. 15 abr 2025.