Coreia Antiga

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Mark Cartwright
por , traduzido por João Pedro Javaroni
publicado em 21 outubro 2016
Disponível noutras línguas: Inglês, Chinês, francês, Persa, espanhol, Turco
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Gilt-bronze Maitreya (by Benjamin Shaw, CC BY-SA)
Maitreia de bronze dourado
Benjamin Shaw (CC BY-SA)

A Coreia, localizada em uma grande península na costa leste do continente asiático, é habitada desde a Era Neolítica. O primeiro estado político reconhecido foi Gojoseon, na segunda metade do primeiro milênio a.C. Do século 1 a.C. até o século 7 d.C, na era dos Três Reinos, a península foi dominada pelos reinos de Baekje, Goguryeo e Silla, assim como pela Confederação Gaya.

Silla, com significante ajuda da China, eventualmente conquistaria todos os outros estados coreanos e formaria o Reino Unificado da Silla, que reinou até 935 d.C. A partir do século 10, a península foi governada pelo reino de Goryeo, até que a independência da Coreia encontrasse seu fim na invasão Mongol do século 13.

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Laços políticos e culturais foram mantidos com a China, muito embora houvesse períodos de conflito entre as duas nações. O Japão também era um parceiro comercial que estava envolvido nas trocas culturais coreanas. A Coreia Antiga proporcionou muitas contribuições únicas para a cultura mundial, incluindo a tipografia de metal, incríveis cerâmicas céladon, as magníficas coroas de ouro de Silla, o observatório astronômico mais antigo da Ásia, belas estatuetas budistas em bronze dourado, pagodes de pedra, hanji, o papel mais valioso do mundo, e o sistema de aquecimento do piso ondol.

Coreia Pré-histórica

A península coreana é habitada desde 10.000 a.C. (ou até mesmo antes) por pessoas que se sustentavam da caça, pesca e da coleta. O assentamento mais antigo que se tem registro foi por volta de 6.000 a.C. Mais de 200.000 estruturas megalíticas do segundo milênio a.C. ainda enfeitam a paisagem da Coreia. Dólmens foram construídos de imensas rochas únicas e eram provavelmente usados como marcadores de tumbas. Outros tipos de ritos funerários eram sepulturas em cista revestidas de pedras com bens preciosos, como joias de amazonita, sendo enterrados juntamente com o cadáver.

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A história da Coreia foi primeiramente registrada em 1145 d.C. no Samguk Sagi (“História dos Três Reinos”).

Moradias deste período eram tipicamente subterrâneas, com o teto sustentado por vigas e contendo uma lareira central. Aldeias geralmente se encontravam em encostas e, algumas vezes, contornadas por cercas de madeira. Descobertas arqueológicas incluem joias feitas de madeira, ossos e conchas; machados de pedra lascada; almofarizes de pedra; arados de pedra, foices e enxadas; e pontas de flecha de obsidiana ou ardósia. Cerâmica antiga, especialmente na forma de tigelas marrons de fundo plano, com decorações incisadas, mostram uma conexão cultural com comunidades na província de Liaoning e na Península de Liaodong. Cerâmicas neolíticas e objetos de obsidiana também indicam rotas comerciais marítimas ancestrais com o Japão Antigo.

A agricultura foi praticada pela primeira vez a partir do segundo milênio a.C., e auxiliada pela introdução do cultivo de arroz pela China por volta de 700 a.C. A Idade do Bronze coreana cobriu o mesmo período de tempo em que a cultura do metal foi trazida da Manchúria. A presença de bens trabalhados de bronze, como espadas, sinos e espelhos em algumas tumbas ao longo do Rio Taedong indicam uma cultura com uma elite tribal. Outros itens comuns em bronze incluem punhais finos, pontas de lanças, fivelas de cintos e machados em forma de leque. A Idade do Ferro coreana começou no século 3 a.C., como evidenciado por descobertas em tumbas deste período em Gyeongju. Foi neste período que o primeiro estado foi formado: Gojoseon.

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Table Dolmen, Ganghwa, Korea
Dólmen, Ganghwa, Coreia
Hairwizard91 (CC BY-SA)

Gojoseon

Gojoseon, de acordo com a mitologia coreana como é recontada no Samguk Yusa (“Memórias dos Três Reinos") do século 13, foi fundada em 2333 a.C. por Dangun Wanggeom (também conhecido como Tangun), que era filho do deus Hwanung e de uma ursa, transformada em uma mulher. Evidências arqueológicas sugerem que o estado foi formado pela aliança de pequenos assentamentos fortificados em torno das bacias do Rio Taedong e do Rio Liao, talvez a partir do século 7 a.C., e mais certamente a partir do século 4 a.C.Embora fora mencionado no texto do século 100 a.C. Registros do Historiador, escrito pelo historiador chinês Sima Qian, historiadores modernos seguem debatendo se seria possível considerar Gojoseon um estado propriamente dito, quando realmente existiu, onde fora sua capital e quais territórios estavam sob seu controle.

Gojoseon prosperou devido às melhorias agrícolas (com ferramentas de ferro introduzidas pela China) e muitos recursos naturais, como ouro, prata, cobre, estanho e zinco. Neste ponto, o famoso sistema de aquecimento do piso ondol foi inventado e o primeiro grês coreano produzido. No entanto, Gojoseon foi enfraquecida por ataques do estado vizinho de Yan por volta de 300 a.C., e um longo declínio se iniciou. Gojoseon finalmente colapsou no século 2 a.C., e seu sucessor, Wiman Joseon, também não durou muito, pois em 108 a.C., foi conquistado pela Dinastia Han da China (206 a.C. – 220 d.C.). A Dinastia Han estava interessada em recursos naturais, como sal e ferro, e dividiu o norte da Coreia em quatro comandarias (Jun) diretamente administradas pelo seu governo central.

Three Kingdoms of Korea Map
Mapa dos Três Reinos da Coreia
Ashraf Kamel (CC BY-NC-SA)

Mais tarde, os territórios de Gojoseon se tornaram Goguryeo (Koguryo) enquanto a parte sul da Coreia, nesta época geralmente referida como período Proto-Três Reinos, foi dividida entre as Três Comanderias de Han: Byeonhan, Mahan e Jinhan (sem conexões com a Dinastia Han da China), que mais tarde se tornaram os três estados de Baekje (Paekche), Gaya e Silla, no subsequente período dos Três Reinos. Estes reinos se beneficiaram da cultura sofisticada trazida pelos refugiados de uma Gojoseon colapsada, e derrotaram os estados de Wiman Joseon.

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Período dos Três Reinos

Os quatro estados do período dos Três Reinos (57 a.C. - 668 d.C.) estavam em frequente rivalidade, então, formavam alianças inconstantes uns com os outros e com os dois poderes regionais dominantes da China e do Japão. De acordo com informações baseadas no Samguk Sagi (“História dos Três Reinos”), do século 12, isto ocorreria a partir do século 1 a.C., mas historiadores modernos preferem os séculos 2 ou 3 d.C. (ou até mesmo depois) como uma data mais precisa, quando os estados poderiam ser descritos como tendo governos mais centralizados.

Goguryeo, com sua capital em Pyongyang, se tornou particularmente próspera no século 5 d.C., durante o reinado de Guangaeto, o Grande (391-413 d.C.), que fez jus ao seu outro título de “Grande Expansor de Domínio”, e permitiu que Goguryeo dominasse o norte da Coreia, a maior parte da Manchúria e uma porção da Mongólia Interior. Enquanto isso, Silla, com sua capital em Gyeongju, floresceu sob o reinado de Beopheung (r. 514-540 d.C.), alcançando um nível muito maior de centralização e prosperando na costa leste devido à inovações agrícolas, como arados puxados por bois e sistemas de irrigação. Gaya, apertada entre seus vizinhos mais poderosos no sul da península, nunca se desenvolveu em um reino centralizado. Silla capturou a cidade-estado governante de Gaya, Geumgwan Gaya (Bon-Gaya) em 532 d.C., e o estado colapsaria completamente algumas décadas depois. Baekje se manteve bem no final do século 4 d.C. sob a tutela do rei Geunchogo e firmou sua capital em Hanseong (atual Gwangju). Uma aliança com Silla entre 433 e 553 d.C. trouxe certa estabilidade, mas em 554 d.C., em uma batalha em Gwansanseong (atual Okcheon), Baekje tentou recuperar o território que havia perdido para uma invasão da Silla e acabou tendo seu exército de 30.000 soldados derrotado e o rei de Baekje, Seong, morto.

A sociedade era rigidamente dividida em castas sociais, muito bem exemplificadas pelo sistema de Ranking de Ossos Sagrados da Silla, que era baseado no nascimento.

O sistema de governo dos Três Reinos era muito semelhante com o que permaneceria pelo resto da história da Coreia Antiga. Um monarca reinava com o auxílio de oficiais administrativos tirados de uma aristocracia fundiária. Oficiais designados pelo governo administravam as províncias com a ajuda de líderes tribais locais. A maioria da população era composta por camponeses fundiários, e o estado cobrava impostos de tais camponeses, que normalmente eram pagos em espécie. O estado também poderia obrigar a população a servir ao exército ou trabalhar em projetos governamentais, como a construção de fortificações. Na base da pirâmide social estavam os escravos (normalmente prisioneiros de guerra ou quem estivesse muito endividado) e os criminosos, que eram forçados a trabalhar nas propriedades aristocráticas. A sociedade era rigidamente dividida em castas sociais, muito bem exemplificadas pelo sistema de Ranking de Ossos Sagrados da Silla, que era baseado no nascimento e ditava as possibilidades de trabalho de um indivíduo, obrigações fiscais e até mesmo as roupas que poderia vestir ou os utensílios poderia utilizar.

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Os combates internos entre os estados coreanos foram finalmente resolvidas por intervenção externa da China. Goguryeo repeliu com suces três invasões da Dinastia Sui da China no século 7, e então, a Dinastia Tang (618-907) tentou uma invasão em 644, mas o general Yang Manchum mais uma vez trouxe a vitória para os coreanos. Goguryeo juntou forças com Baekje e ambos invadiram o território da Silla dois anos antes, mas a Dinastia Tang ainda tinha planos para a Coreia, e decidiram que a Silla seria sua aliada temporária para derrotar os outros dois estados coreanos. Em 660, uma exército da Silla de 50.00 soldados, liderados pelo general Kim Yu-sin e uma força naval de 130.000 soldados enviada pelo imperador Gaozong de Tang se provou mais do que suficiente para esmagar Baekje, e seu rei, Uija, foi levado para a China. Então, em 667, Pyongyang caiu, e no ano seguinte, o rei de Goguryeo, Bojang, foi provavelmente levado para a China como prisioneiro, assim como 200.000 de seus súditos. Porém, a Silla não tinha nenhuma intenção de se tornar um estado vassalo da China e derrotou os exércitos restantes de Tang em batalhas em Maesosong (675) e Kibolpo (676). A Silla tomou o controle da Coreia em 668, formando um novo estado: o Reino Unificado da Silla.

Reino Unificado da Silla

O Reino Unificado da Silla (668-953) foi a primeira dinastia a reinar em toda a península coreana. Havia outro estado ao norte nesta época, Balhae, mas a maioria de seu território ficava na Manchúria, então, a maioria dos historiadores não o considera como parte do estado coreano propriamente dito.

Silla Gold Crown
Coroa de Ouro de Silla
National Museum of Korea (CC BY)

O estado agora estava dividido em nove províncias (três em cada um dos três antigos reinos) e cinco capitais secundárias. Gyeongju continuou como a capital geral, então chamada de Seorabeol, e se beneficiou de um programa de reconstrução bastante extenso, além da adição de casas de prazer e templos, e, eventualmente, abrigaria uma população de 900.000 indivíduos. Uma série de regiões administrativas, prefeituras e condados foram criados, alguns alcançando o nível de vilas. Para consolidar o reino, pessoas problemáticas e as elites dominantes dos antigos reinos foram forçadamente realocadas e os líderes dos vilarejos eram obrigados a enviar os filhos mais velhos para trabalhar na administração da capital ou no exército. O reino prosperou graças a uma excelente indústria agrícola, que se tornou ainda mais produtiva por extensivos projetos de irrigação e pelo comércio através do Mar da China Oriental. A ausência prolongada de guerras significa que as artes e a ciência floresceram como nunca.

O estado iniciou uma lenta decadência a partir do século 8, em grande parte devido à rigidez de sua estrutura de classes, e classificação rigorosa de direitos e obrigações. Não só a falta de oportunidades para se erguer acima da classe de nascimento criou uma estagnação de ideias e inovações, como a aristocracia também começou a ressentir o poder do rei. Do outro lado da pirâmide social, os plebeus iam se tornando cada vez mais irritados com os incessantes impostos cobrados. Além disso, a aristocracia fundiária local se tornou ainda mais difícil de ser controlada da capital. O estado estava desmoronando de dentro para fora.

Dois indivíduos em específico causaram muitos problemas para os reis de Silla. Um era Gyeon Hwon, um líder camponês, que se aproveitou da agitação política para criar um revival do antigo reino de Baekje no sudoeste. Enquanto isso, um líder aristocrático e monge budista, Gung Ye, declarou um novo estado Goguryeo no norte em 901, conhecido como Hugoguryeo (Taebong). Lá se seguiu outra queda de braço por poder para o controle da península, assim como no período dos Três Reinos. Este período é conhecido como Três Reinos Posterior. Gyeon Hwon atacou Gyeongju em 927, enquanto a impopular tirania fanática de Gung Ye levou à sua morte pelas mãos do próprio povo. Ele foi sucedido por seu primeiro ministro, o habilidoso Wang Geon, em 918, que atacou a Baekje Posterior, agora acometida por brigas internas em sua liderança, e então Silla. O último rei de Silla, Gyeongsun, se rendeu em 935 e deixou Wang Geon para unificar o país uma vez mais, mas sob um novo nome: a Dinastia Goryeo.

Goryeo

Goryeo (Koryŏ) governaria a Coreia de 918 EC até 1392, e o nome de seu reino originou o nome em Inglês da península: Coreia. Wang Geon escolheu a cidade de Songdo (atual Kaesong) como sua nova capital e declarou a si mesmo como rei. Por sua contribuição em criar um novo estado, lhe foi dado o título póstumo de Rei Taejo, ou “Grande Fundador”. O novo reino não era isento de ameaças externas, e as tribos Quintais ao norte atacaram Goryeo duas vezes. Em 1033, elas foram finalmente derrotadas, e uma muralha defensiva foi construída ao longo da fronteira norte da Coreia.

Korean Calligraphy
Caligrafia coreana
Han Ho (Public Domain)

Daí em diante, o reino floresceu e a capital, Songdo, ostentava mais de 1.000 lojas. Pela primeira vez, a Coreia cunhou sua própria moeda (996), e os vasos de prata unbyong, (também conhecidos como hwalgu) foram feitos a partir de 1101, tomando a forma do império de Goryeo e se tornando sua moeda oficial através da gravura do selo legítimo do estado. A tipografia de metal foi inventada e o antigo método da impressão xilográfica aprimorado. O período viu então uma explosão de textos budistas e um interesse em documentar a história do país com o famoso Samguk Sagi (“História dos Três Reinos”), escrito em 1145 por Kim Pu-sik.

A prosperidade teve seu lado negativo, que resultou em uma decadência cada vez maior entre a elite dominante, corrupção e agitação social. Rebeliões começaram em 1126 e em 1135, mas foram extirpadas. Mas as coisas escalonaram ainda mais no reinado de Uijong, que era muito criticado pela construção de lugares luxuosos e parques aquáticos. O exército, agora sem muitas coisas a fazer e sem um status na casta aristocrática, planejou um golpe em 1170. Uijong foi substituído por seu irmão, Myeongjong, mas este permaneceu no poder apenas como um governante marionete. Décadas de turbulentas brigas internas em todos os níveis da sociedade de Goryeo se seguiram, com mais golpes, assassinatos e rebeliões de escravos. No entanto, o pior ainda estava por vir. Gengis Khan, que havia unificado as tribos Mongóis, varreu a China, e seu filho, Ogedai Khan, virou sua atenção para a Coreia em 1231. Goryeo se viu forçada a mudar sua capital para a Ilha Ganghwa no ano seguinte. Enquanto a elite dominante estava seguramente abrigada na ilha, o resto da população de Goryeo enfrentou seis invasões mongois ao longo das próximas três décadas. Em 1258, a população já tinha tido o suficiente e o líder do exército foi assassinado, o rei reinstaurado com plenos poderes e a paz foi feita com os Mongóis. A Coreia não seria independente novamente até que o general Yi Seong-gye formou o novo estado de Joseon em 1392.

Relações com a China e Japão

As relações entre a China e a Coreia são tão antigas quanto a mitologia, quando o sábio Giza (Jizi para os chineses) e 5.000 seguidores saíram da China e se estabeleceram no reino de Dangun. Quando Dangun resolveu se retirar para meditar no topo de uma montanha, Giza se tornou o rei de Gojoseon em 1122 a.C. Este mito pode representar a chegada da cultura da Idade do Ferro na Coreia.

Goryeo Dynasty Bronze Coin
Moeda de bronze da Dinastia Goryeo
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

O comércio entre as duas áreas continuou ao longo deste período. Ferro, ouro, prata, cobre, ginseng, produtos de cânhamo, pinhões, móveis, papel e cavalos eram exportados para a China, e seda, chá, especiarias, remédios, cerâmicas, livros e materiais de escrita vinham da outra direção. A cultura chinesa foi muito provavelmente trazida para a Coreia por refugiados que escapavam dos conflitos do Período dos Estados Combatentes. Evidências arqueológicas desta influência cultural inicial é, talvez, melhor vista em tumbas de sepultamento na área do Rio Daedong, e a presença frequente de arreios para cavalos. Laços culturais que viriam depois são mais claramente definidos com a Coreia adotando o sistema de escrita chinesa, o título real de wang, cunhagem, literatura e elementos artísticos. Estudantes e acadêmicos frequentemente iam estudar na China.

Similarmente, relações diplomáticas e culturais com o Japão estavam em andamento desde a Idade do Bronze. O Wa (Wae) do Japão tinha laços particularmente fortes com a Confederação Gaya. A Confederação era a mais avançada culturalmente e exportava grandes quantidades de ferro, mas o quanto um estado influenciava ou até mesmo controlava o outro ainda é questão de debate entre acadêmicos. A cultura de Baekje foi exportada para o Japão, especialmente por professores, acadêmicos e artistas, que também disseminaram por lá a cultura chinesa, como os textos clássicos de Confúcio. As relações foram mantidas no sul do Japão pelo Reino Unificado da Silla, especialmente nos períodos Nara e Heian. Goryeo também manteve as relações comerciais e importou bens japoneses, principalmente espadas e leques dobráveis de papel.

Religião Coreana

Os estados coreanos, tradicionalmente praticantes do xamanismo, adotaram primeiro o Confucionismo, então o Taoismo e o Budismo da China, com a Coreia tornando o Budismo sua religião oficial a partir do século 4 d.C. Os princípios confucionistas eram seguidos na administração do estado e eram uma parte essencial nos exames de admissão para posições dentro do sistema. No entanto, o Budismo ainda era a fé mais forte, com templos e monastérios espalhados por todos os cantos. Os templos-monastérios budistas, com suas propriedades rurais, patrocínio real e isenção de impostos, tornaram-se ricos e o aparato religioso rivalizava com o do próprio estado. Muitos destes monastérios tinham até mesmo suas próprias forças armadas recrutadas de monges guerreiros e da população geral. O Budismo era praticado não só pelas famílias de elite, que frequentemente enviavam filhos para estudar em monastérios para se tornarem monges, mas também pelas classes mais baixas.

Buddha Statue, Seokguram Grotto
Estátua de Buda, Gruta de Seokguram
Jinho Jung (CC BY-NC-SA)

Arte Coreana

Grês de alta cozedura foram produzidos em grandes quantidades desde o período dos Três Reinos. Cerâmicas eram decoradas com incisões, com a adição de partes de argila e cortando-a para criar um efeito de treliça. No entanto, as cerâmicas coreanas mais famosas de qualquer período são os céladons verde-claro produzidos no reino de Goryeo. Também conhecidos como cerâmica verde, tais objetos têm um esmalte liso e geralmente apresentam desenhos finos incrustados (sanggam), especialmente em temas budistas, como a flor de lótus, garças e nuvens. Céladons foram primeiramente introduzidos na Coreia pela China durante o século 9, mas os oleiros coreanos se tornaram tão habilidosos em suas artes, que os produtos foram exportados de volta para a China e, até mesmo hoje em dia, os céladons coreanos estão as cerâmicas mais caras do mundo.

Pinturas de túmulos são melhores vistas nas tumbas de Goryeo. Mais de 80 destes túmulos possuem câmaras decoradas com pinturas em cores vivas de cenas da vida cotidiana, retratos de seus ocupantes e criaturas míticas. As pinturas foram feitas aplicando a tinta diretamente na parede de pedra ou sobre uma base de gesso.

Celadon Fish-Dragon Ewer, Goryeo Dynasty
Jarra de peixe-dragão céladon, Dinastia Goryeo
National Museum of Korea (CC BY)

A arte budista era popular ao longo da península, e o bronze dourado era utilizado na produção de estatuetas expressivas de Buda, Maitreia (o próximo Buda) e Bodisatvas. Figuras de faces monumentais eram esculpidas em pedregulhos. O bronze dourado também era usado para a fabricação de incensários ornamentados, relicários e coroas. As coroas coreanas mais famosas são as do Reino da Silla, feitas em folhas de ouro. Estas coroas possuem galhos semelhantes aos chifres de um veado, o que representa uma ligação ao xamanismo. Joias de todos os tipos eram feitas usando técnicas de ourivesaria como como fiação, perfuração, corte e granulação. Jade, comumente esculpido em formato de lua crescente, era uma forma popular de embelezamento para esses adornos brilhantes. Outra habilidade dos metalúrgicos do Reino Unificado da Silla em diante, era a fundição de grandes sinos de bronze (pomjong), que eram usados em templos budistas para anunciar os trabalhos.

Arquitetura Coreana

Os melhores vestígios sobreviventes da arquitetura coreana do período anterior à história documentada são estruturas megalíticas, muralhas de fortificação e tumbas revestidas de pedra. Exemplos notáveis ​​de antigos dólmens são as estruturas do tipo mesa na Ilha Ganghwa que datam de algo em torno de 1.000 EC na Idade do Bronze coreana. Pedras eretas isoladas (menires), não relacionadas a um contexto de sepultamento e talvez usadas como pedras de marcação também são encontradas por toda a Coreia.

Infelizmente, existem poucos edifícios públicos sobreviventes da Coreia Antiga de antes do século 16. A arquitetura da Coreia Antiga é, portanto, melhor vista em pinturas de tumbas e nas estruturas que ainda se mantêm de pé, como o pagode de pedra do Templo de Mirekusa de Baekje em Iksan, que ainda possui seis dos seus nove andares originais. Pagodes de pedra são uma contribuição singular da Coreia para a arquitetura budista, com dois outros muito bons exemplos sendo os pagodes de Dabotap e Seokgatap no templo de Bulguksa do século 8 perto de Gyeongju.

Muryangsujeon, Buseoksa, Korea
Muryangsujeon, Buseoksa, Coreia
ko:Excretion (CC BY-SA)

Grandes túmulos em formatos de monte são típicos do Período dos Três Reinos. São montes cobertos com terra com câmaras internas revestidas de pedra ou tijolos para o cadáver, normalmente com uma passagem de entrada horizontal (exceto as tumbas de Silla, que não possuem ponto de acesso). Uma das maiores destas tumbas está situada na antiga capital de Goguryeo, Gungnae (atual Tonghua), e acredita-se que pertença ao rei Guangaeto, o Grande (r. 391–412 d.C.). Possui 75 metros de comprimento e blocos medindo 3 x 5 metros.

Uma das estruturas de pedra mais notáveis do período do Reino Unificado da Silla é o templo budista da Gruta de Seokguram, a leste de Gyeongju. Construído entre 751-774, contém uma câmara interna circular abobadada, dentro da qual há um enorme Buda sentado. Outra interessante estrutura de Silla é o observatório de Cheomseongdae, da metade do século 7. Com 9 metros de altura, ele age como um relógio solar, mas também possui uma janela voltada para o sul, que captura os raios do sol em seu interior em cada equinócio. É o observatório sobrevivente mais antigo do Leste Asiático.

Temos uma boa ideia do estilo arquitetônico coreano para casas maiores e palácios no Salão da Vida Eterna de Goryeo (Muryangsujeon), do século 13, que fica no Templo Pusok em Yongju. É uma das estruturas de madeira mais antigas que sobreviveram ao tempo em toda a Coreia. Os telhados das construções coreanas, como visto no Salão da Vida Eterna, são tipicamente altos para facilitar a drenagem de água da chuva e fortes o bastante para resistir ao peso da neve no inverno. A altura do edifício também permite o fluxo de ar em meses mais quentes. Os telhados antigos eram feitos de vigas de madeira e então cobertos (giwa) com uma camada de terra para fornecer isolamento extra. O formato côncavo é para propósitos estéticos, e as beiradas também se curvam levemente para cima (cheoma). Esta curvatura permite que a luz solar entre no edifício e ao mesmo tempo faz sombra durante o verão.

Hanok Interior
Interior de um Hanok
Neothinker (Public Domain)

As paredes internas dos edifícios tradicionais coreanos (hanok) eram feitas de madeira e papel, comumente usadas também como portas corrediças (changhoji). O chão dos cômodos poderia ser tanto de madeira e levemente elevados (por conta do sistema maru) para manter o ambiente fresco nos meses de calor ou para o uso do ondol, necessário nos meses de inverno. Este último modelo, feito de pedra com revestimento de papel encerado, possui um sistema de condutores por onde flui o ar quente proveniente da lareira principal da casa. Portas externas e janelas eram feitas usando grades de madeira interligadas (changsal), normalmente esculpidas em treliças decorativas (kkotsal). A casa era dividida em ambientes específicos e frequentemente incluía um pátio ou área de jardim.

Finalmente, a topografia imediata das construções eram considerações importantes para que os arquitetos se esforçassem para misturar harmoniosamente os projetos com o ambiente natural (pungsu), e tirassem vantagem das paisagens cênicas (andae). A melhor localidade possível era um ambiente com uma montanha ao fundo que bloqueassem o vento, e que na frente, se abrisse para uma planície com um rio corrente, proporcionando energia positiva, ou gi.

This content was made possible with generous support from the British Korean Society.

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Sobre o tradutor

João Pedro Javaroni
Tradutor com paixão por história e descobrir coisas novas. Sempre disposto a ir além para assegurar uma boa qualidade do trabalho.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2016, outubro 21). Coreia Antiga [Ancient Korea]. (J. P. Javaroni, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11087/coreia-antiga/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Coreia Antiga." Traduzido por João Pedro Javaroni. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 21, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11087/coreia-antiga/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Coreia Antiga." Traduzido por João Pedro Javaroni. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 21 out 2016. Web. 20 dez 2024.