Tikal, localizada ao norte de região de Petén, na Guatemala, foi uma grande cidade maia que floresceu entre 300 e 850. Conhecida pelos habitantes como Mutul, é uma das maiores da Mesoamérica. Uma das primeiras cidades maias a ganhar proeminência no período Clássico Inicial (250-600), Tikal construiu sua riqueza pela exploração de recursos naturais e da sua localização geográfica, tornando-se uma potência regional, condição que desfrutou principalmente no século VII, quando foram erguidos alguns dos seus monumentos mais impressionantes. A UNESCO incluiu Tikal como Patrimônio Mundial.
Síntese Histórica
Os assentamentos em Tikal começaram a partir de c. 300 a.C., a princípio com a abertura de clareiras na floresta. A arquitetura monumental teve início a partir de 100 a.C.. A prosperidade da cidade baseava-se na exploração de recursos naturais como a madeira de cedro, corante de pau-brasil, copal [tipo de resina], sílex e do cultivo de milho nas clareiras abertas na floresta tropical e em áreas pantanosas férteis. Em 378, Tikal foi invadida pelas forças da longínqua Teotihuacan (ou pelo menos contatos comerciais tiveram início), influenciando as práticas culturais dos seus habitantes, desde o estilo de vestimenta à arte e arquitetura. No final do século IV, houve uma expansão da esfera de influência, com a conquista de rivais de longa data como Uaxactún e Rio Azul, além da formação de alianças úteis com outras cidades, como por exemplo Kaminaljuyú. Em seu auge, a população de Tikal, incluindo os assentamentos urbanos espalhados ao redor do núcleo urbano, superava os 50.000 habitantes, ocupando cerca de 200 quilômetros quadrados do território circundante.
No século VI, o poder de Teotihuacan declinou e outros centros maias, com destaque para Caracol, partiram para a expansão militar, derrotando Tikal em 562. Porém, por volta do século VIII, Tikal recuperou sua posição de importância entre os maias, assim como outras cidades como Palenque, Copán e sua maior rival, Calakmul. O governante mais importante nesta época foi Jasaw Chan K'awiil (r. 682-734), que derrotou Calakmul em 695 e supervisionou um significativo programa de reconstruções na cidade. Entre os novos edifícios, os mais impressionantes são as enormes pirâmides conhecidas simplesmente como Templo I e II. Jasaw Chan K'awiil foi sepultado no Templo I na conclusão da obra, por volta de 727. Outros pares de pirâmides foram construídos mais tarde, mas a maioria permanece intocada. Assim como outras cidades maias, Tikal entrou em declínio a partir do século VIII e, por volta de 900, foi abandonada. Toda a região, incluindo seus templos altaneiros, acabou reclamada pela floresta e seria redescoberta somente em meados do século XIX.
Traçado e Arquitetura
Tikal consiste em nove praças e palácios conectados por estradas elevadas e rampas, com mais de 3.000 estruturas ao todo. Os edifícios estão espalhados por cerca de 15 quilômetros quadrados, resultando numa baixa densidade populacional. Em alguma época antes de 250, a Grande Praça e a Acrópole Norte foram construídas seguindo o eixo norte-sul. Construções posteriores aderiram a este plano até o século VIII, quando os construtores dos Templos I e II adotam a orientação leste-oeste. Os edifícios utilizavam blocos de pedra calcária em torno de núcleos de entulho, com lintéis e traves mestras em madeira (o sapotizeiro era a escolha preferida), frequentemente com entalhes elaborados retratando vários tipos de cenas. Além dos seus templos imponentes, a cidade também possuía palácios, um complexo comercial, dez reservatórios, duas estradas elevadas sagradas e um exclusivo tríplice campo de jogo de bola. Outra característica típica Maia são as estelas de pedra esculpida que retratam governantes e registram suas maiores realizações. Tais estelas eram instaladas em fileiras ao longo das praças. O mais antigo exemplo na Mesoamérica data de 292 e foi descoberto na própria Tikal. Mostra um governante segurando em sua mão esquerda o Deus Jaguar do Mundo Subterrâneo, provavelmente uma divindade cultuada na cidade.
As estruturas mais antigas, tais como as da Acrópole Norte, são tipicamente baixas com anteparos nos cantos. Estes e a arquitetura posterior no local apresentam características maias usuais, como pirâmides com vários andares, plataformas elevadas, câmaras com abóbodas em mísulas, grandes máscaras de deuses em estuque que flanqueiam escadarias e uma orientação deliberada com os céus, pontos cardeais e, com frequência, com o tempo, conforme demonstrado pelos pares de pirâmides do século VIII que marcam o ciclo de 20 anos do katun. As pirâmides maiores também possuem cristas nos telhados que as fazem parecer ainda mais altas e que podem ter representado as cavernas sagradas utilizadas pelos povos mesoamericanos como locais de veneração por milênios. Muitas tumbas no interior de edifícios contam com murais, o mais antigo datando de c. 50 a.C., tipicamente retratando governantes ou deuses, sem dúvida para enfatizar os ancestrais divinos do ocupante do túmulo.
Destaques Arquitetônicos
Acrópole Norte
A Acrópole Norte, inicialmente construída c. em 250 a.C. e alterada várias vezes ao longo dos séculos, inclui as mais antigas estruturas de Tikal. Estes templos foram construídos em duas plataformas retangulares, a mais antiga e larga medindo 100x80 metros, e utilizados como mausoléus para os primeiros reis da cidade. A tumba mais opulenta era a de Yax Nuun Ayiin, também conhecido como “Nariz Curvado”, que morreu em 420 e foi sepultado com todas as suas joias, nove vítimas sacrificiais e vários potes refinados com cacau (chocolate) e papa de milho. Outros governantes com nomes vistosos sepultados nos doze templos incluem Pássaro Lua Zero (entronizado c. 320), Grande Pata de Jaguar, Céu Tempestuoso e Sapo Fumegante.
Acrópole Central
Diante da Grande Praça encontra-se o palácio real de Tikal, com cinco andares. Semelhante ao melhor preservado palácio em Palenque, a estrutura possui extensas galerias, bancadas instaladas ao longo de muros, pátios murados e representações de cativos em estuque. A existência de quatro enormes lareiras sugerem que refeições eram preparadas para um grande número de escribas residentes e administradores. Acredita-se que os pátios possam ter sido usados para cerimônias importantes, incluindo sangrias rituais e sacrifícios.
Complexo do Mundo Perdido
Uma enorme pirâmide domina o complexo do Mundo Perdido e ao longo de um dos lados há uma fila de pequenos templos, cujo propósito específico é desconhecido. A área conta com três plataformas no lado oriental e uma única plataforma a oeste. As do leste são alinhadas com o nascer do sol nos equinócios.
Templos I, II e IV
Construídos no século VIII num eixo oeste-leste na Grande Praça, a pirâmide do Templo I tem os típicos nove níveis que imitam o mundo subterrâneo maia de Xibalba. O Templo I tem 50 metros de altura e conta com uma escadaria íngreme de 70 degraus, com degraus são estreitos que só é possível subir com os pés de lado. Nas profundezas do Templo I foi sepultado um dos reis de Tikal, Jasaw Chan K'awiil, cuja esposa é a melhor candidata para a até agora desconhecida ocupante do Templo II, com 42 metros de altura. A tumba do rei, além das usuais joias de jade e conchas, também contém um grande número de ossos entalhados que relatam eventos da história da cidade. Finalmente, não se pode esquecer o Templo IV que, com 70 metros de altura, é a estrutura mais alta de Tikal e serviu como a tumba do rei Yax Kin (734-746).