A Batalha de Plateias

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Rogério Cardoso
publicado em 11 maio 2013
Disponível noutras línguas: Inglês, africâner, francês, grego
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Plataea 479 BCE (by MinisterForBadTimes, CC BY-SA)
Plateias, 479 a.C.
MinisterForBadTimes (CC BY-SA)

A Batalha de Plateias foi uma batalha terrestre entre gregos e persas perto da pequena cidade de Plateias, na Beócia, em 479 a.C. Após a sua vitória naval na Batalha de Salamina em setembro de 480 a.C. contra o mesmo inimigo, os gregos novamente derrotaram um exército invasor enviado pelo governante persa Xerxes I (r. 486-465 a.C.), dessa vez graças aos seus guerreiros hoplitas. A vitória assegurou a independência continuada das suas cidades-estados e ensejou o início de um período de empreendimentos artísticos e culturais fabulosamente rico, que assentaria os alicerces culturais de todas as civilizações do Ocidente.

Contexto: As Guerras Persas

Nos primeiros anos do século V a.C., a Pérsia, sob o reinado de Dario I (r. 522-486 a.C.), já estava se expandindo em direção à Europa Continental e já havia subjugado a Trácia e a Macedônia. O próximo objetivo era sufocar, de uma vez por todas, um conjunto de estados rebeldes potencialmente problemáticos na fronteira ocidental do Império Aquemênida. Em 490 a.C., forças gregas lideradas por Atenas enfrentaram os persas na Batalha de Maratona e derrotaram os invasores. A batalha ganharia um status mítico entre os gregos, mas, na realidade, ela foi meramente o prelúdio de uma longa guerra em que várias outras batalhas seriam os atos principais. Em 486 a.C., Xerxes tornou-se rei. Ele invadiu primeiro as Cíclades e depois a Grécia Continental, após a vitória contra uma força grega simbólica na Batalha das Termópilas em agosto de 480 a.C. Concomitantemente às Termópilas, uma inconclusiva batalha naval ocorreu em Artemísio, onde os gregos conseguiram conter os números superiores da frota persa, mas foram obrigados a se reagruparem em Salamina. Em setembro de 480 a.C., com as estratégias ditadas pelo brilhante general Temístocles, a frota grega aliada atraiu a frota persa para os reduzidos confins dos estreitos entre a ilha de Salamina e o continente e conquistou uma vitória retumbante.

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Ficou claro que os persas não obteriam a vitória por meio da diplomacia, e que apenas a guerra resolveria a questão.

Após a derrota da sua armada e o fim da temporada de campanhas, Xerxes retornou para casa, no seu palácio em Susã (ou Susa), e deixou a invasão a cargo do talentoso general Mardônio. A posição persa ainda era forte apesar da derrota no mar, pois eles ainda controlavam boa parte da Grécia, e o seu enorme exército terrestre estava intacto. Xerxes bem pode ter esperado que a frágil aliança grega entre rivais de longa data como Atenas e Esparta se romperia se fossem feitas ofertas diplomáticas apropriadas, mas, após uma série de negociações políticas, ficou claro que os persas não obteriam a vitória por meio da diplomacia, e que apenas a guerra resolveria a questão.

O Exército Persa em Plateias

O vasto Império Persa se estendia do Danúbio ao Egito e da Jônia à Báctria, e Xerxes podia valer-se de uma enorme reserva de recursos para reunir a sua enorme força invasora. O comando geral coube a Mardônio, enteado e sobrinho de Dario e primo de Xerxes. Ao seu lado, estava Artabazo (um primo de Dario), que liderava os contingentes parta e corásmio.

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Os nossos números relativos aos soldados envolvidos na batalha vêm principalmente de Heródoto, que escreveu um relato sobre Plateias nas suas Histórias; contudo, a precisão absoluta das estimativas de Heródoto é debatida entre os estudiosos. De acordo com ele, os persas mobilizaram 350.000 soldados contra os 108.200 das forças gregas. Os números relativos aos persas podem ter sido exagerados com o intuito de transformá-los num oponente mais temível, mas talvez, na realidade, eles tenham mobilizado um número de combatentes similar ao dos gregos. No entanto, mesmo numa estimativa mais conservadora, a batalha envolveu algo em torno de 200.000 homens armados, ou seja, a maior batalha desse tipo que a Grécia já vira, comparável em números às batalhas de Waterloo e Gettysburg.

Persian Archers
Arqueiros Persas
mshamma (CC BY)

A força persa era dividida em unidades de várias nacionalidades, mas, infelizmente, Heródoto não especifica o poder de cada uma. Contudo, as estimativas aproximadas são:

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  • Persas (as melhores tropas): 40.000
  • Medos: 20.000
  • Báctrios, indianos e sacas: 20.000
  • Gregos pró-persas: 50.000
  • Total: 130.000

Todos esses grupos forneceram cavalaria, criando assim uma força combinada de até 5.000 cavaleiros.

O Exército Grego em Plateias

O exército grego era liderado por Pausânias, o sobrinho do rei Leônidas, que morreu nas Termópilas, e por Plistarco, regente do jovem rei e filho de Leônidas. Dentre os comandantes secundários, incluíam-se os dois generais atenienses Aristides e Xantipo, o pai de Péricles.

De acordo com Heródoto, as forças de hoplitas gregos estavam divididas da seguinte maneira:

  • Atenienses: 8.000
  • Coríntios: 5.000
  • Lacedemônios: 5.000
  • Espartanos: 5.000
  • Megarenses: 3.000
  • Siciônios: 3.000
  • Tegeeus: 1.500
  • Fliásios: 1.000
  • Trezênios: 1.000
  • Anactorianos/leucádios: 800
  • Epidáurios: 800
  • Orcômeno: 600
  • Plateenses: 600
  • Eginetanos: 500
  • Ambraciotas: 500
  • Erétrios/estírios: 600
  • Calcídicos: 400
  • Micênios/tiríntios: 400
  • Hermionianos: 300
  • Potideianos: 300
  • Lepreonianos: 200
  • Paleianos: 200
  • Téspios: (não especificado)
  • Total: 38.700

Os gregos não tinham cavalaria em Plateias, e apenas os atenienses tinham um contingente de arqueiros. Heródoto também contabiliza as forças não hoplitas, que são numérica (e convenientemente) iguais à quantidade de hoplitas que cada cidade havia provido. A exceção é Esparta, que proveu algo em torno de 35.000 hilotas, além dos seus 5.000 hoplitas.

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Greek Hoplites Fighting
Hoplitas Gregos Lutando
Jan van der Crabben (CC BY-NC-SA)

Armas e Estratégias

Os persas estavam, sem dúvida, confiantes no sucesso. Eles tinham um enorme exército, os gregos estavam potencialmente divididos, e o único senão na longa cadeia de vitórias em terra que eles obtiveram nos últimos 50 anos foi o revés em Maratona.

Os dois exércitos adversários eram essencialmente representativos de duas abordagens da guerra clássica - os persas favoreciam o combate a distância usando arqueiros, seguidos por um ataque de cavalaria, enquanto os gregos favoreciam hoplitas fortemente blindados, dispostos numa formação densamente compactada (com pelo menos oito homens de profundidade) chamada falange, em que cada homem carregava um pesado escudo redondo de bronze e lutava a curta distância usando lanças e espadas. A infantaria persa carregava um escudo mais leve e mais fraco e era armada com uma longa adaga ou machado, uma lança curta e um arco composto. As forças persas também incluíam os Imortais - uma força de elite que era provavelmente mais bem protegida com armadura e armada com lanças -, um contingente de marinheiros egípcios bem armados e vários milhares de hoplitas oriundos dos estados gregos aliados, notavelmente os tebanos. A cavalaria persa, assim como os soldados a pé, era armada com um arco e dois dardos adicionais para lançar e empurrar. A cavalaria, geralmente operando nos flancos da batalha principal, era usada para varrer a infantaria adversária posta em desordem depois de ter sido submetida a repetidas saraivadas dos arqueiros. Embora os persas tenham obtido vantagem em disputas anteriores com os gregos durante a recente revolta jônia, as Termópilas haviam mostrado que os organizados hoplitas gregos poderiam ser uma noz difícil de quebrar.

Greek Phalanx
Falange Grega
CA (Copyright)

Outro importante fator foi que, embora a tática persa de disparar rapidamente uma vasta quantidade de flechas sobre o inimigo deva ter sido uma vista incrível, a leveza das flechas indicava que elas eram largamente inefetivas contra os hoplitas trajados com armaduras de bronze - a não ser quando disparadas de perto e em partes do corpo desprotegidas. À curta distância, as lanças mais longas, as espadas mais pesadas, a melhor armadura e a rígida disciplina na formação da falange indicavam que os hoplitas gregos teriam todas as vantagens em terreno acidentado. Os persas teriam de atrair o inimigo para um terreno bom e plano para otimizar a vantagem da sua cavalaria e o maior grau de mobilidade oferecido por suas tropas com armaduras mais leves.

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A Batalha - Fase 1

Na primavera de 479 a.C., a frota persa se reagrupou em Samos, enquanto, em junho, Mardônio partiu do seu quartel de inverno na Tessália e outra vez invadiu a Ática antes de recuar para defender uma posição na Beócia, ao norte do rio Asopo, onde ele construiu um grande campo fortificado.

A frota grega, enquanto isso, se reagrupou em Egina e depois navegou até Delos, onde ficou estacionada, enquanto o exército em terra se mobilizava. Em julho, o exército espartano se dirigiu até Plateias e se encontrou com os demais contingentes gregos em Elêusis antes de todos se colocarem em posição, formando uma longa frente de 7 quilômetros a apenas 3 ou 4 quilômetros de distância dos persas, sob as colinas do Monte Citerão.

Mardônio ordenou que os persas defendessem o flanco direito. No centro, estavam os medos, além dos grupos báctrios, indianos e sacas. No flanco esquerdo, estavam os gregos pró-persas. As forças de cavalaria estavam um pouco mais atrás, com um grupo em cada flanco. Ao longo da frente grega, os espartanos, os tegeeus e os téspios defendiam o flanco direito, enquanto os atenienses, os megarenses e os plateenses defendiam o flanco esquerdo, com todos os demais no centro. Ao entrarem em posição, todos aguardaram. Após dois dias de impasses, quando cada lado tentava se apegar ao terreno mais apropriado para as suas táticas de combate - os persas na planície e os gregos no terreno acidentado próximo às colinas -, Mardônio finalmente mandou a sua cavalaria, que atacou particularmente os megarenses e os atenienses. Na escaramuça, só a presença de arqueiros atenienses parece ter permitido aos gregos defender as suas linhas, de sorte que o comandante persa Masístio fosse morto, elevando muito o moral dos gregos.

Spartan Warriors
Guerreiros Espartanos
The Creative Assembly (Copyright)

Fase 2

Os gregos depois avançaram para o noroeste, logo ao sul do rio no cume do Pirgos, para obterem um melhor suprimento de água, mas tal movimento não teve uma resposta por parte de Mardônio. Ambos os lados guardaram sua posição por uma semana mais ou menos, outra vez relutantes em abandonar seus vantajosos terrenos. Isso também é um possível indício de que as duas forças eram equiparáveis em tamanho, de modo que nenhum comandante quisesse arriscar-se numa batalha direta. Mardônio enviou a sua cavalaria numa missão ao redor do flanco direito das forças gregas, e ela encontrou ali uma grande coluna de suprimentos. Os persas massacraram os mal armados gregos e queimaram os seus suprimentos - um sério abalo na logística inimiga. Assim como muitos homens no campo de batalha, eles estavam sofrendo para prover quantidades suficientes de comida e água, especialmente quando os arqueiros persas deixaram o rio fora do alcance dos gregos.

Mais dois dias se passaram antes que Mardônio finalmente lançasse a sua cavalaria num pleno ataque frontal contra as linhas gregas. Gerando caos entre os inimigos, os invasores conseguiram inclusive deteriorar e bloquear a nascente de Gargáfia, que era a principal fonte de água dos gregos. É bem provável que a cavalaria persa também estivesse saqueando ao mesmo tempo a retaguarda inimiga, cortando as suas linhas de suprimento.

Fase 3

Pausânias, com o intuito de proteger os seus flancos e a sua retaguarda, num esforço para chegar a um suprimento de água, agora sob a cobertura da escuridão, moveu o centro grego para trás até a base do Monte Citerão, bem em frente a Plateias. Após algum atraso, causado pela confusão ou pela discordância quanto à decisão de recuar, o flanco direito grego o seguiu, enquanto o flanco esquerdo guardou posição e, por isso, ficou isolado. Quando o flanco esquerdo também recuou, ele foi atacado por todos os lados pelos hoplitas pró-persas, e depois o flanco esquerdo persa atravessou o rio perseguindo-o. Nesse momento, a cavalaria havia recuado, provavelmente para rearmar-se com novas flechas.

As armas e as armaduras superiores dos hoplitas gregos, no fim, provaram ser decisivas.

Tão logo parecia que os persas estavam obtendo a vantagem, todavia, o flanco direito grego de espartanos e tegeeus contra-atacou. Quando o flanco esquerdo grego se juntou a eles, as forças persas, encaixotadas pelo seu próprio centro que vinha por detrás, carecendo de uma formação disciplinada e, por fim, defendendo-se inadequadamente atrás de uma barricada de escudos mais fracos, foram postas em fuga. Algo ainda mais significativo ocorreu quando Mardônio foi derrubado por uma pedra lançada pelo espartano Arimnesto e acabou morto. As armas e as armaduras superiores dos hoplitas, no fim, provaram ser decisivas. Os persas remanescentes foram forçados a recuar através do rio numa certa desordem. A retirada deles só não se tornou um desastre por causa da cobertura oferecida pela cavalaria tebana, que lhes permitiu reocupar o seu campo fortificado. Os hoplitas gregos pró-persas no flanco direito também foram forçados a recuar sob pressão dos atenienses e tomaram posição atrás das muralhas de Tebas, perto dali.

O centro grego, sem dúvida inspirado pelo sucesso espartano, também entrou na peleja, mas o fez sem uma estrita disciplina na sua formação e acabou flanqueado pela cavalaria pró-persa, sofrendo pesadas perdas. Enquanto isso, os atenienses, os espartanos e os tegeeus estavam agora no acampamento persa, que eles depois invadiram, causando mais perdas pesadas entre os invasores. Os gregos, então, volveram a sua atenção a Tebas, que foi atacada e saqueada. Enfim, a vitória havia sido conquistada, e os planos de invasão persas estavam agora em frangalhos.

O Rescaldo

Seguindo-se os costumeiros rituais após as batalhas - enterros, tomada de espólios de guerra e preparação de troféus -, os gregos estavam longe de estarem acabados. Na quase concomitante Batalha de Mícale, na Jônia, a frota grega liderada por Leotíquides desembarcou um exército que varreu a guarnição persa e matou o comandante Tigranes. Os estados jônios foram reintegrados à Aliança Helênica, e a Liga de Delos foi estabelecida. Mais adiante, Quersoneso, que controlava o Mar Negro, e Bizâncio, que controlava o Bósforo, foram ambas retomadas. Os gregos haviam enviado uma mensagem alto e bom som a Xerxes de que a Grécia não se permitiria ser subjugada por um governo estrangeiro. De modo talvez inevitável, as guerras continuaram nas décadas seguintes, e os estados gregos se envolveriam na longa e danosa Guerra do Peloponeso, mas as vitórias em Maratona, em Salamina e dessa vez em Plateias haviam assegurado a sobrevivência da Grécia e dado a oportunidade para que a cultura grega e a excelência artística florescessem e se tornassem o alicerce sobre o qual todas as culturas ocidentais se baseariam por milênios.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Rogério Cardoso
Rogério Cardoso nasceu em Manaus, Brasil, onde inicialmente obteve um grau em Letras Portuguesas, e mais tarde se mudou para São Paulo, onde obteve um grau de mestre em Filologia Portuguesa. Ele é um entusiasta da História.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2013, maio 11). A Batalha de Plateias [Battle of Plataea]. (R. Cardoso, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11465/a-batalha-de-plateias/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "A Batalha de Plateias." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. Última modificação maio 11, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-11465/a-batalha-de-plateias/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "A Batalha de Plateias." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 11 mai 2013. Web. 20 nov 2024.