A arquitetura grega revela simplicidade, proporção, perspectiva e harmonia em suas construções, e possui alguns dos mais belos e notáveis edifícios já construídos. Exemplos de arquitetura grega incluem templos, teatros e estádios, construções que se tornaram habituais nas cidades do período antigo em diante.
Os arquitetos do período helenístico e do mundo romano foram profundamente influenciados pelos arquitetos gregos, que forneceram a base das ordens arquitetônicas clássicas que vieram a dominar o mundo ocidental do Renascimento até os dias de hoje.
As Ordens Arquitetônicas Clássicas
Existem cinco ordens na arquitetura clássica – Dórica, Jônica, Coríntia, Toscana e Compósita –, todas assim denominadas posteriormente, na época romana. Os arquitetos gregos criaram as três primeiras, e influenciaram imensamente as duas últimas – que eram ordens compostas, mais do que inovações genuínas. Propriamente falando, uma ordem é a combinação de um certo estilo de coluna, com ou sem base, e com um entablamento (isto é, o que a coluna sustenta: a arquitrave, o friso e a cornija). O uso primitivo de pilastras de madeira eventualmente se transformou na coluna dórica de pedra. Esta consistia num fuste de coluna com sulcos verticais, mais fina no topo, sem base, e com um capitel simples sob um ábaco quadrado. O friso do entablamento possuía tríglifos e métopas alternados. A ordem Jônica, originária da Ásia Menor em meados do século VI a.C., acrescentou uma base e uma voluta – ou capitel em forma de espiral – numa coluna mais estreita. O entablamento jônico possui, geralmente, um friso com escultura ricamente talhada. A coluna coríntia, criada em Atenas no século V a.C., é parecida com a jônica, porém encimada por um capitel mais ornamentado com acantos e folhas de samambaia estilizados. Essas ordens se tornaram a gramática básica da arquitetura ocidental, e é difícil caminhar em qualquer cidade moderna sem ver seus exemplos presentes, de uma forma ou de outra.
Que Materiais os Arquitetos Gregos Usavam?
Os gregos certamente tinham preferência pelo mármore, ao menos em seus edifícios públicos. No entanto, a madeira teria sido usada inicialmente, e não apenas em elementos arquitetônicos básicos, como as colunas, mas também nos edifícios como um todo. Os templos do início do século VIII a.C. eram construídos dessa forma, e com telhados de colmo. A partir do final do século VII a.C. os templos, em particular, foram gradativamente se transformando em edifícios mais duradouros, feitos de pedra e, em alguns casos, usando até mesmo a mistura de ambos os materiais. Alguns estudiosos argumentam que certos aspectos decorativos dos capitéis das colunas de pedra e certos elementos do entablamento se desenvolveram a partir das habilidades do carpinteiro, reveladas em elementos arquitetônicos mais antigos feitos de madeira.
As pedras escolhidas eram a pedra calcária, protegida por uma camada de estuque feita com pó de mármore ou, melhor ainda, o mármore branco puro. Além disso, a pedra esculpida era, geralmente, polida com camurça, para criar resistência à água e proporcionar um acabamento mais brilhante. O melhor mármore vinha de Naxos, de Paros e do Monte Pentélico, próximo a Atenas.
Templos, Tesouros e Pórticos
Os gregos antigos são famosos por seus magníficos templos dóricos e jônicos, e o exemplo par excellence é, sem dúvida, o Partenon de Atenas. Construído em meados do século V a.C. para abrigar a gigantesca estátua da deusa Atena e anunciar ao mundo a glória de Atenas, ele ainda sobrevive majestosamente no alto da acrópole da cidade. Outros exemplos famosos são o sólido e dórico Templo de Zeus em Olímpia (concluído c. 460 a.C.); o Templo de Ártemis em Éfeso (concluído c. 430 a.C.), que foi considerado uma das maravilhas do mundo antigo; e o sugestivo Templo de Poseidon em Súnio (444-440 a.C.), construído sobre penhascos, e de onde o mar Egeu poderia ser avistado. Este último é representativo do desejo grego de que tais edifícios públicos não deveriam cumprir apenas a típica função de abrigar a estátua de uma divindade grega; também deveriam ser admirados de perto, do seu interior e à distância. Um grande esforço foi realizado para erigir templos em locais proeminentes, e através do uso de uma geometria sofisticada os arquitetos acrescentavam alguns truques óticos, tais como engrossar as partes inferiores das colunas e as colunas angulares, e fazer colunas levemente inclinadas no interior da construção, de tal forma que, à distância, o edifício parecia perfeitamente reto e harmonioso. Muitos desses truques são invisíveis a olho nu, e ainda hoje apenas sofisticados instrumentos de medição conseguem detectar as diferenças mínimas nos ângulos e nas dimensões. Tais refinamentos no estilo arquitetônico indicam, portanto, que os templos gregos eram não apenas estruturas funcionais, mas que o edifício em si, como um todo, também era simbólico e um importante elemento no conjunto da paisagem civil.
Os templos gregos, pelo menos no continente, seguiam um projeto bastante semelhante, e quase todos eram retangulares e perípteros, ou seja, seus lados externos e fachadas consistiam em fileiras de colunas. Exceções notáveis incluíam o magnificamente original Erecteion de Atenas com suas inovadoras colunas Cariátides, e os templos das Cíclades, que embora ainda fossem dóricos, possuíam colunas apenas na fachada frontal (prostilo), geralmente mais larga do que o comprimento do edifício. Da mesma forma, os templos da Jônia tendiam a diferir do padrão, e normalmente possuíam colunata dupla (díptero). No entanto, retornando ao desenho padrão do templo grego, o peristilo retangular das colunas (8 x 17 no caso do Partenon e 6 x 13 no templo de Zeus em Olímpia) cercava uma câmara ou porão interior, com o conjunto assentado sobre uma plataforma escalonada ou estilóbata, e o interior pavimentado com placas retangulares. O telhado era, geralmente, erigido ao longo de uma cumeeira central com declive de aproximadamente 15 graus, e construído com vigas e caibros de madeira, cobertos com telhas de terracota ou mármore dispostas umas sobre as outras. Acrotérios decorados com folhas de palmeira ou estátuas frequentemente situavam-se em cada ponto do frontão. Finalmente, as portas dos templos eram feitas de madeira (olmo ou cipreste) e geralmente ornamentadas com medalhões de bronze e relevos.
Muitos templos também possuíam esculturas arquitetônicas dispostas de forma a contar uma história. Todos os frontões, frisos e métopas continham uma escultura, que recontava estórias da mitologia grega ou grandes episódios da história daquela cidade em particular. Tal escultura ficava, geralmente, num círculo ou alto relevo, e era sempre ricamente decorada com o acréscimo de pinturas e bronzes.
Os templos também indicam que os arquitetos gregos (architektones) tinham plena consciência dos problemas relativos à execução de fundações estáveis o suficiente para suportar o peso de grandes edifícios. A drenagem correta da água e o uso de bases contínuas sobre as fundações, que por sua vez eram fixadas sobre várias camadas de material de preenchimento (formado por pedras macias aglomeradas, terra, lascas de mármore, carvão e até mesmo pele de carneiro) permitiram que, a despeito do terreno, grandes edifícios gregos fossem construídos nas melhores posições, sobrevivendo aos rigores do clima e da ação de terremotos ao longo do séculos. De fato, a estabilidade absoluta era essencial, pois um assentamento descuidado ou o afundamento em alguma parte do edifício tornariam inúteis os truques óticos mencionados anteriormente. É extraordinário notar que a degradação da grande maioria dos edifícios gregos foi possível graças, unicamente, à intervenção humana, que ao remover blocos ou fixações metálicas para reutilizar em outro local acabou por enfraquecer toda a estrutura das construções. E as estruturas que não sofreram intervenções, tais como o Templo de Hefesto na ágora de Atenas, são testemunhos da impressionante durabilidade das edificações gregas.
Outros prédios construídos nas proximidades dos templos eram os monumentais portões de entrada (como o Propileu da acrópole de Atenas) e os pequenos edifícios para guardar oferendas, geralmente relativas a cidades-estados específicas. Com muita frequência essas construções tomavam emprestado elementos arquitetônicos do templo, tais como as fachadas com colunas e os frisos. Um excelente exemplo é o Tesouro dos Atenienses em Delfos (490 a.C.).
O pórtico era outro prédio comum a muitos complexos de templos a partir do século VII a.C. Consistia numa longa e estreita fileira de colunas, com uma parede lisa ao fundo e coberto por um telhado. Geralmente colocados em ângulo reto para criar um espaço aberto cercado, os pórticos serviam para vários propósitos, tais como locais de reunião e armazém. A ágora – ou local do mercado em muitas cidades gregas antigas – consistia numa grande praça aberta cercada por um pórtico. Um pórtico incomum é o da colônia siciliana de Selinus, construído entre 580 e 570 a.C. em formato trapezoidal. O mais interessante é que todas as lojas próximas apresentam a mesma fachada, a despeito de serem edifícios de tipos diferentes. Isso comprova a existência de certo tipo de planejamento centralizado e controlado por uma autoridade, o que assegurava a harmonia da arquitetura em importantes locais públicos. Durante o século V a.C. é certo que havia projetistas urbanos profissionais, dos quais o mais famoso era Hipodamo, a quem geralmente é atribuído o planejamento do Pireu e de Rhodes. É interessante notar que, com muita frequência, existe uma conexão entre mudanças arquitetônicas nas cidades e mudanças no regime político. Uma última função do pórtico na época helenística estava nos complexos do gymnasium e palaistra, em especial nos grandes santuários de Olímpia, Delfos e Nemeia. Esses pórticos eram usados para criar um espaço cercado para a prática de exercícios físicos e oferecer uma área para a prática de competições de campo, como as lanças e os discos.
Os templos, tesouros e pórticos, com sua variedade de ordens, disposições de colunas e esculturas arquitetônicas, constituem, portanto, o legado mais concreto do mundo grego. E talvez seja irônico que, no mundo moderno, a arquitetura dos edifícios religiosos gregos seja amplamente adotada em construções seculares, tais como as cortes judiciais e os edifícios governamentais.
O Teatro Grego
O anfiteatro foi outra contribuição notável da arquitetura grega para a cultura mundial. A mais antiga e exata prova arqueológica da existência dos teatros data de final do século VI a.C., mas podemos supor que muito antes dessa data os gregos já se reuniam em locais públicos específicos. De fato, locais da Idade do Bronze Minoica, como Festo, possuíam grandes pátios escalonados, que parecem ter sido usados em espetáculos como procissões religiosas e esporte de acrobacias sobre touros. Do final do século VI a.C. em diante temos a estrutura de um teatro no formato retangular em Thoricus, na Ática, e que possuía um templo dedicado a Dionísio numa de suas extremidades. Isso poderia sugerir que foi usado durante os festivais Dionisíacos, nos quais dramas eram apresentados com frequência. No entanto, foi a partir do século V a.C. que o anfiteatro grego assumiu sua forma mais reconhecível e influente. Era ao ar livre, contava com fileiras escalonadas de assentos (theotron) dispostas de forma semicircular, e oferecia excelente acústica. O palco ou orchestra também era semicircular, com um biombo ou skene ao fundo, que nos séculos posteriores se tornou cada vez mais grandioso. E arcos monumentais geralmente demarcavam as entradas (paradoi) em ambos os lados do palco.
Em todo o mundo grego os exemplos são numerosos, e muitos teatros tem sobrevivido consideravelmente bem. Um dos mais célebres é o teatro de Dionísio Eleutério, na encosta sul da acrópole de Atenas, onde as grandes peças de Sófocles, Eurípedes, Ésquilo e Aristófanes foram encenadas pela primeira vez. O teatro de Argos, com capacidade para 20.000 espectadores, é um dos maiores. E um dos mais bem preservados é o teatro de Epidauro, onde a cada verão os principais dramas são encenados. Os teatros eram usados não apenas para apresentação de peças, mas também para recitais de poesia e competições musicais.
O Estádio Grego
Outra duradoura contribuição grega para a cultura mundial foi o estádio. Seu nome derivava da distância (600 pés antigos ou cerca de 180 metros) da corrida de pedestre – stade ou stadion – que ele geralmente hospedava. Inicialmente construídos próximo a aterros naturais, os estádios se transformaram em estruturas mais sofisticadas, com arquibancadas de pedra ou até mesmo de mármore, e com divisões para facilitar o acesso. Ao redor da pista havia canais para drenar o excesso de água da chuva, e durante a época helenística corredores com abóbadas proporcionavam uma entrada emocionante para atletas e árbitros. Exemplos de estádios famosos incluem os de Nemeia e Olímpia, que possuíam capacidade para 30.000 e 45.000 espectadores sentados, respectivamente.
A Arquitetura Doméstica Grega
No que diz respeito a construções mais simples, a partir do século VI a.C. muitas cidades gregas eram providas de fontes, onde os habitantes podiam pegar água com facilidade e, talvez, socializar, como sugerem as imagens exibidas nas cerâmicas de figuras negras. Com relação às residências particulares, geralmente eram construídas com tijolos de lama, possuíam chão de terra batida e nenhum design em particular. Casas com um ou dois pavimentos eram a norma. Mais tarde, a partir do século V a.C., as melhores casas eram construídas em pedra, frequentemente com o exterior em argamassa e as paredes internas em afresco. Na maioria das vezes não havia nenhum esforço de planejamento urbano, o que geralmente resultava num emaranhado de ruas estreitas e caóticas, mesmo em grandes cidades como Atenas. Colônias da Magna Grécia, como visto em Selinus, foram uma exceção, e de modo geral possuíam planos de ruas mais regulares, o que sem dúvida foi a vantagem de construir uma cidade a partir do zero.
Concluindo, podemos dizer que a arquitetura grega antiga forneceu não apenas muitas das principais características da moderna arquitetura ocidental, mas também ofereceu ao mundo edifícios realmente magníficos, que sobrevivem ao tempo e continuam a inspirar admiração e respeito. E muitas dessas construções – como o Partenon, a varanda das Cariátides no Erecteion e a voluta de um capitel jônico, para mencionar apenas três – se tornaram os símbolos instantaneamente reconhecíveis e icônicos da Grécia antiga.