Medusa é uma figura da mitologia grega, a única mortal das três Górgonas, que tal como as irmãs imortais, Esteno e Euríale, nasceu do Deus Fórcis (dos perigos das profundezas escondidas marinhas) e da Deusa Ceto (dos perigos e dos monstros marinhos).
De acordo com Hesíodo na obra Teogonia, Medusa e as irmãs Esteno e Euríale eram igualmente irmãs das Greias e “habitam além do Oceano, nos confins da noite, onde se ouvem as Hespérides” (Teogonia, p. 270). As três irmãs são frequentemente mencionadas, contudo é Medusa quem é commumente retratada tanto na arte como na literatura da Grécia Antiga. O nome Górgona advêm da antiga palavra grega γοργός, que significa "sombrio", "feroz" e "terrível", e o nome Medusa deriva do antigo verbo grego μέδω que significa "guardar" ou "proteger", o que é muito apropriado dada a qualidade apotropaica do rosto da Górgona, conhecida como ‘Gorgonião’.
Medusa é mais conhecida pela história da sua decapitação perpetrada pelo herói Perseu com o auxílio dos deuses Hermes e Atena. A versão mais antiga da morte de Medusa é de Hesíodo no livro Teogonia, que detalha a decapitação e descreve como os seus filhos Pégaso, o cavalo alado e o grande Crisaor, surgem do seu pescoço. As menções da cabeça da Górgona nas obras de Homero, Ilíada e Odisseia, que originalmente faziam parte da tradição oral grega antes de serem escritas durante o século VIII a.C., dão mote a uma longa história que é a história da complexa personagem da Górgona Medusa.
Perseu e Medusa
Com o tempo, a história de Medusa sofreu alterações entre os inúmeros escritores e poetas antigos que escreveram sobre ela. Medusa é mais conhecida pela sua cabeleira de cobras e a capacidade de transformar as pessoas em pedra só com o olhar. O poeta Hesíodo, do século VIII a.C., descreve como Poseidon teve relações sexuais com Medusa num prado primaveril, e, cerca de 700 anos depois, o poeta romano Ovídio (43 a.C. a 17 d.C.) relata como Medusa foi violada num templo dedicado a Minerva (equivalente romano de Atena) por Neptuno (equivalente romano de Poseidon) e como, em retaliação pela profanação, Minerva transformou os lindos cabelos de Medusa em cobras. De modo geral, os poetas antigos retratam Medusa como um monstro desde o nascimento, ao lado das suas irmãs imortais, contudo os escritores posteriores decrevem-na como uma bela donzela que foi transformada em monstro por Atena (Minerva).
Medusa é mais conhecida pela sua morte às mãos de Perseu, e Pseudo-Apolodoro relata a história detalhadamente. Segundo ele, Perseu era filho de Zeus, (manifestado na forma de uma chuva de ouro), e de Dánae, aprisionada por seu pai Acrísio, depois que um oráculo lhe dizer que seria morto pelo filho de Dánae. Quando Acrísio soube que Perseu havia nascido e era filho do Rei dos Deuses, fechou ambos num baú e lançou-os no mar. Por fim, o baú chega à ilha de Sérifos, e Perseu foi criado por Dictis, irmão de Polidectes, rei de Sérifos. Polidectes apaixona-se por Dánae, mas Perseu era bastante protetor em relação a sua mãe, e, desta forma, o rei planeou enganar Perseu. Reuniu o povo para um banquete sob o pretexto de arrecadar contribuições para o casamento de Hipodamia, que domesticava cavalos. Quando Perseu chegou sem cavalos como presente, conforme tinha sido solicitado por Polidectes, este pediu-lhe que trouxesse a cabeça de Medusa, a única Górgona mortal, na esperança de que ele não conseguisse.
Ao longo da sua jornada, Perseu foi guiado pelo deus Hermes e pela deusa Atena. Diz-se que Atena ajudou na morte de Medusa porque a rapariga aspirava ter a sua beleza comparada à de Atena. Pelas mãos das Ninfas o herói recebeu umas sandálias aladas, uma bolsa conhecida como kibisis para guardar a cabeça da Górgona e o elmo de invisibilidade de Hades. Além disso, Hermes deu-lhe uma foice de adamantina. Perseu chegou à casa das Górgonas enquanto dormiam e quando ele estava sobre as criaturas adormecidas, dado ele estar a ver tudo pelo reflexo do escudo de bronze para não ser transformado em pedra pelo olhar das Górgonas caso acordassem, Atena guiou-lhe a mão e decapitou Medusa com a foice. Da cabeça decapitada nasceram Pégaso, o cavalo alado, e Crisaor. Perseu colocou a cabeça da Medusa no kibisis, mas quando saía as duas górgonas imortais acordaram e tentaram persegui-lo, contudo, e dado estar a usar o elmo da invisibilidade, não o puderam ver.
A Cabeça de Medusa
Depois de decapitar Medusa, Perseu usa a cabeça por diversas vezes. Algumas versões da história sobre a morte da princesa Ariadne, há Teseu e Dionísio que dizem que Ariadne foi morta por Ártemis, e outros dizem que ela foi acidentalmente transformada em pedra por Perseu quando Dionísio entrou em guerra com Perseu. Perseu usou a cabeça de Medusa para salvar Andrómeda, que tinha sido amarrada a uma rocha como oferenda ao monstro marinho Ceto. A mãe de Andrómeda tinha afirmado ser mais bonita que as Nereidas, que furiosas ao ouvir tal conseguiram o apoio de Poseidon, o deus do mar. A única maneira de deter as inundações do deus do mar e do monstro marinho era entregar Andrómeda. Perseu apaixonou-se por ela no momento em que a viu; mata o monstro marinho e liberta-a. O único problema era que Andrómeda já estava noiva do seu tio Fineus, a quem Perseu petrificou. Quando Perseu regressou à Ilha de Sérifos, petrificou o Rei Polidecto e o seu povo com a cabeça da Górgona e corou Díctis como Rei. A seguir dá a cabeça de Medusa a Atena, que a colocou no centro do seu escudo, conhecido como égide, para aterrorizar os seus inimigos.
A Transformação de Medusa na Literatura e na Arte
Medusa e as Górgonas foram descritas de forma diferente de acordo com a região de quem escrevia. Hesíodo na obra Teogonia não descreve quaisquer características físicas das Górgonas, já Homero na obra Odisséia menciona "a cabeça de monstro, a Górgona" (11.636), e na obra Ilíada descreve o Gorgonião sob a égide de Atenas como "a cabeça da górgona gigantesca e sombria, uma coisa de medo e horror" (5.741-742). O dramaturgo Ésquilo, século VI/V a.C., descreve-as na sua tragédia grega Prometeu Agrilhoado como as "três irmãs aladas, odiadas inimigas da humanidade, as Górgonas com cabelos de cobra, que nenhum homem pode ver e viver" (798-799). O poeta Píndaro nas Odes Píticas menciona o "feroz canto fúnebre da Górgona", as "cabeças serpentinas das donzelas" e a cabeça da "Medusa de belas bochechas" (12.7-16). Píndaro conta também como Atena inventou o aulo de forma a recriar "com o instrumento o lamento ecoante que foi emitido das mandíbulas rangentes de Euríale" (12.20-21) enquanto as irmãs imortais da Medusa perseguiam o assassino.
Mais tarde, no período romano, o escritor grego Pseudo-Apolodoro, descreveu-as com "cabeças com serpentes escamadas enrolados em torno delas, e grandes presas como as de porco, e mãos de bronze, e asas de ouro que lhes davam o poder de voar; e transformarem em pedra todos os que as contemplavam" (11.4). De acordo com Ovídio na obra Metamorfoses, a principal fonte de narrativa da bela donzela que se torna monstro, era apenas a Medusa das três Górgonas que tinha cobras em vez de cabelo, e conta como Medusa, que tinha uma cabeleira invejável, foi perseguida por muitos pretendentes até ser violada por Neptuno dentro do templo a Minerva, que punindo-a transformando os lindos cabelos em cobras. À medida que Perseu prosseguia o caminho até à casa das Górgonas, passou por muitas estátuas – homens e animais transformados em pedra por Medusa – antes de lhe cortar a cabeça enquanto dormia.
Assim como Medusa foi descrita de forma diferente na literatura - de fera horrível a bela donzela - foi, igualmente, retratada de forma diferente na arte da Grécia Antiga: a cabeça ou rosto de Medusa era um elemento usual na cerâmica, arte e arquitetura grega, e conhecida como Gorgonião. O que havia de tão único na sua representação, é que geralmente era retratada de frente, algo bastante incomum quando comparada com a maioria da arte da Grécia Antiga, onde os rostos eram retratados de perfil. No Período Arcaico, do século VIII a.C. até ao início do século V a.C., o gorgonião era usado nos frontões e antefixos dos templos, na estatuária e na cerâmica, retratada com um grande rosto redondo, barba, caninos ou presas, asas e, muitas vezes, com a boca aberta e a língua de fora.
Medusa continuou a ser retratada com a cara de frente e os cabelos rebeldes em vasos e cerâmicas, até mesmo em escudos e couraças, contudo com o tempo as suas feições tornaram-se mais femininas e humanas. A retratação de Medusa pode ser encontrada em toda a Arte da Grécia Antiga, Helénica e Romana, e apesar de começar a ser retratada de forma mais humana, continuava a ser desenhada com o corpo alado, principalmente na cerâmica da Grécia Antiga. A imagem do seu rosto e, em particular, da sua morte tornou-se não apenas uma imagem popular, como também a imagem de 'gorgonião', um amuleto apotropaico, dado que se acreditava que a imagem era capaz de afastar o mal.