Tenochtitlán

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 25 setembro 2013
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Sacred Precinct, Tenochtitlan (by Steve Cadman, CC BY-SA)
Distrito Sagrado de Tenochtitlán
Steve Cadman (CC BY-SA)

Situada numa ilha próxima à margem ocidental do Lago Texcoco, Tenochtitlán era a capital e o centro religioso da civilização Asteca. Fundada em 1345, de acordo com a tradição, permaneceu como o polo mais importante dos astecas até sua destruição nas mãos dos conquistadores espanhóis, liderados por Hernán Cortés, o que resultou no colapso do Império Asteca. No coração da cidade havia um grande distrito sagrado, dominado por uma enorme pirâmide, conhecida como Templo Maior, que celebrava os deuses Huitzilopochtli e Tlaloc. Agora ocupada pela Cidade do México, a região vem sendo alvo de estudos arqueológicos, o que trouxe à luz alguns dos maiores tesouros da arte asteca, tais como a famosa Pedra do Sol, bem como objetos de arte que os próprios habitantes recebiam de outras grandes civilizações da Mesoamérica.

Na Mitologia

Na mitologia asteca, os fundadores da cidade migraram da legendária caverna de Aztlán, no deserto a noroeste, numa demorada jornada que eventualmente levou ao Lago Texcoco. Durante a migração, sacerdotes transportavam uma enorme estátua do deus Huitzilopochtli, que sussurrava as direções a serem seguidas, deu aos Mexicas seu nome e prometeu grande riqueza e prosperidade se ele fosse adorado apropriadamente. Ao longo do caminho, os mexicas se instalaram em locais diferentes, nenhum dos quais realmente adequado a seus propósitos. Um evento decisivo para a migração, então, foi a rebelião incitada por Copil, filho da irmã de Huitzilopochtli, Malinalxochitl. Era uma vingança pelo abandono da deusa pelos mexicas, mas, com o auxílio de Huitzilopochtli, Copil foi morto. O grande deus da guerra determinou que o coração do rebelde deveria ser lançado o mais longe possível no Lago Texcoco e, onde caísse, iria indicar o local onde os mexica deveriam construir seu novo lar. O ponto preciso seria indicado por uma águia sentada numa figueira-da- barbária, um tipo de cacto, (nopal) devorando uma serpente. Tudo se passou conforme a profecia e assim se construiu a nova capital, Tenochtitlán, tradicionalmente no ano de 1345.

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O nome da cidade deriva de tetl, que significa rocha; nochtli, a figueira-da-barbária e tlan, o sufixo de local. De origem similar é o termo Tenocha, utilizado em algumas ocasiões pelos mexicas para se referir a si mesmos e também o nome do seu quase-legendário sacerdote-líder, Tenoch.

Tenochtitlán foi uma das maiores cidades da Mesoamérica, com mais de 200.000 habitantes.

A Cidade

Embora a cidade tenha sido destruída e outras construções erguidas no local pelos séculos seguintes, os cronistas do século XVI, felizmente, registraram em grande detalhe os edifícios e obras de arte que fizeram da capital asteca uma das maiores cidades da Mesoamérica e, com mais de 200.000 habitantes, certamente a mais populosa. Graças a estes registros e o extensivo e contínuo trabalho dos arqueólogos no local, sabemos mais sobre Tenochtitlán do que qualquer outra povoação das grandes civilizações da Mesoamérica.

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Bernal Diáz del Castillo, um dos homens de Cortés, escreveu após avistar a cidade pela primeira vez:

Ela era como os encantamentos no livro de Amadis, por causa das altas torres, ruas [pirâmides] e outros edifícios, todos de alvenaria, que se elevavam da água. Alguns dos soldados se perguntaram se o que viam não era um sonho. (Miller, 239)

Tenochtitlán estendia-se, em seu auge, por cerca de 12-14 quilômetros quadrados e estava conectada à margem ocidental do lago e áreas adjacentes por três caminhos elevados (nas direções norte, leste e oeste) que incluíam intervalos cobertos por pontes removíveis para permitir a passagem de barcos e que podiam ser retiradas em caso de um ataque à cidade (algo que nunca havia ocorrido até que a chegada dos espanhóis). Havia também um aqueduto de pedra que trazia água potável das fontes próximas à colina de Chapultepec. O lago fornecia uma importante fonte de alimentos, já que havia escassez de terra para agricultura, fato que levou a aterramentos e, eventualmente, a conquista pela força de áreas dos estados vizinhos. As chinampa ou "jardins flutuantes" circundantes (balsas com lama presas com galhos de salgueiro) dos seus vizinhos foram, portanto, tomadas e desenvolvidas para as necessidades da crescente população da cidade.

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O desenho da cidade tinha um padrão de grade, com vários canais. Além das quatro vias principais que dividiam a cidade conforme os pontos cardeais, a maioria das ruas e canais era estreita, principalmente porque não existiam veículos com rodas ou bestas de carga e tudo era transportado por carregadores ou pequenos botes e canoas. Os canais, junto com os numerosos salgueiros, jardins floridos e monumentos revestidos de branco brilhando à luz do sol, devem ter composto um cenário pitoresco. Como um poema nahuatl descreve:

A cidade se espalha em círculos de jade, irradiando clarões luminosos como plumas de quetzal, junto a ela os senhores nascem em barcos: sobre eles estende-se uma névoa florida.

(Coe, 192)

No coração da cidade situava-se o distrito cerimonial murado, com três entradas, templos impressionantes e pirâmides, a partir do qual a cidade se distribuía em quatro quarteirões residenciais principais. Neles havia vastos palácios, tais como a antiga residência de Motecuhzoma I e o palácio de Axayacatl; residências menores, construídas em pedra e com telhados chatos, para os nobres e funcionários; enormes áreas de mercado (nas quais bens de luxo podiam ser adquiridos, tais como jade, chocolate e baunilha); câmaras judiciais; casas de tesouro; armazéns; estruturas como a Casa da Dança e o Aviário; áreas densamente povoadas com oficinas (que trabalhavam principalmente com metal e obsidiana mas também produziam cestaria, utilizando o junco local); e pequenas casas de tijolos de adobe ou junco, onde as classes mais baixas viviam, ainda que estas pudessem ser intercaladas com pequenos jardins.

Tenochtitlan
Tenochtitlán
HJPD (CC BY-SA)

O Distrito Sagrado

O distrito sagrado no coração de Tenochtitlán continha, conforme uma testemunha ocular, um total de 78 estruturas. Entre as mais importantes estavam o Templo Maior de Tlaloc e Huitzilopochtli, que tinha a seu lado a Casa da Águia (que recebeu este nome por causa de sua decoração em pedra) e, do outro, a pirâmide de Tezcatlipoca. Na frente do Templo Maior encontrava-se a pedra do gladiador (na qual as vítimas de sacrifícios eram amarradas e atacadas por "cavaleiros"), uma pedra tzompantli (muro de crânios) e um estádio em forma de L para o jogo de bola. No canto sudoeste localizava-se o Templo do Sol de Tonatiuh e um templo para Quetzalcoatl.

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Havia também um templo para a deusa da terra, Tonantzin e o edifício intitulado Coateocalli, que abrigava, e num certo sentido capturava espiritualmente, as estátuas de deuses e várias obras de arte dos inimigos conquistados. Finalmente, no lado Tlaloc do Templo Maior, escavações revelaram uma montanha feita pelo homem, composta por oferendas e depósitos, criada para imitar a montanha sagrada de Tlaloc.

O Templo Maior

O Grande Templo ou Templo Maior (chamado Hueteocalli pelos astecas) ocupa o espaço central do distrito sagrado. No topo da pirâmide de 60 metros havia uma plataforma com dois templos gêmeos, que podiam ser alcançados por dois lances separados de degraus. O santuário do lado norte era dedicado a Tlaloc, o deus da chuva, e o outro, ao sul, a Huitzilopochtli, o deus da guerra. O templo de Tlaloc marcava o solstício do verão (símbolo da estação das chuvas), enquanto o de Huitzilopochtli o solstício de inverno (estação seca e temporada de guerra). Os degraus monumentais que levavam ao santuário de Tlaloc eram pintadas de azul e branco, a primeira cor representando a água, um elemento fortemente associado ao deus. Em contraste, os degraus conduzindo ao templo vizinho eram pintados de vermelho vivo, simbolizando o sangue e a guerra.

Temple Mayor, Tenochtitlan
Templo Maior de Tenochtitlán
Wolfgang Sauber (CC BY-SA)

Sacrifícios, incluindo humanos, eram realizados em ambos os templos para alimentar e honrar os deuses. Um típico sacrifício envolvia a retirada do coração das vítimas, que também podiam ser esfoladas, decapitadas e desmembradas. Em seguida os corpos eram atirados pelos degraus até a base, onde uma enorme pedra redonda retratava Coyolxauhqui, a deusa que foi tratada da mesma forma por Huitzilopochtli na mitologia.

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Destruição

Quando os espanhóis chegaram a Tenochtitlán, seu comandante, Cortés, dispunha de somente 500 homens e menos do que 20 cavalos. Porém, recrutando aliados tais como os Tlaxcaltecas, ele foi capaz de sitiar a cidade, que acabou por cair em 13 de Agosto de 1521. Os grandes monumentos foram destruídos e saqueados, obras de arte e objetos preciosos foram derretidos e a civilização asteca desmoronou. O que restou da cidade formou a capital da Nova Espanha, denominação dada pelos conquistadores à sua nova colônia.

Arqueologia

Escavações nos templos e edifícios de Tenochtitlán começaram no século XX, revelando a maior complexidade da história do local. Há evidência, por exemplo, de que o distrito sagrado foi construído sobre estruturas anteriores, que os templos foram reconstruídos e aumentados muitas vezes e que no seu interior foram enterradas oferendas, como os corais, conchas e animais marinhos encontrados nas entranhas do Templo Maior.

Aztec Empire Map
Mapa do Império Asteca
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)


A cidade foi despojada de qualquer coisa de valor após o colapso mas, ainda assim, várias obras de arte maravilhosas têm sido, quase milagrosamente, recuperadas de Tenochtitlán. Elas incluem a icônica Pedra do Sol (ou Pedra do Calendário), a grande escultura em pedra de Coatlicue; a Pedra Tizoc, a enorme pedra redonda retratando Coyolxauhqui, que ficava aos pés do Tempo Maior; a Pedra do Templo - um trono de pedra provavelmente usado por Motecuhzoma II e decorado com deuses e um disco solar; e, finalmente, um vaso de cerâmica azul, com forma humana, retratando Tlaloc.

Além destas magníficas obras de arte asteca, a escavação nos templos revelou também esconderijos com peças de civilizações mais antigas da Mesoamérica, como os Olmecas, demonstrando que os astecas também eram colecionadores que apreciavam e reverenciavam a arte. Muitos vasos ricamente decorados e produzidos com esmero também têm encontrados, o que indica que os artistas astecas eram talvez ainda mais hábeis do que inicialmente se acreditava. A grande maioria destas descobertas integra a emocionante coleção do Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México, que, é claro, ergue-se sobre a antiga Tenochtitlán.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2013, setembro 25). Tenochtitlán [Tenochtitlan]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12114/tenochtitlan/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Tenochtitlán." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação setembro 25, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12114/tenochtitlan/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Tenochtitlán." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 25 set 2013. Web. 19 nov 2024.