Civilização Tolteca

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Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 27 abril 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, bósnio, francês, Malaio, espanhol, ucraniano
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Toltec Warrior Columns (by Luidger, CC BY-SA)
Colunas com Guerreiros Toltecas
Luidger (CC BY-SA)

A civilização Tolteca floresceu no antigo México central, entre os séculos X e meados do século XII da nossa era. Mantendo a herança mesoamericana deixada por culturas anteriores, os toltecas construíram uma impressionante capital em Tula. Eles transmitiram tal herança a povos como os astecas, que consideravam os toltecas uma grande e próspera civilização da qual alegavam descender.

A maior parte das informações sobre os toltecas provém dos astecas e de textos pós-coloniais, que documentam tradições orais anteriores. Entretanto, tais fontes não são completas em absoluto e suas informações podem estar influenciadas pela particular reverência dos astecas por todas as coisas toltecas e seu deleite em fundir mito com realidade para ajudar a estabelecer uma linhagem com os antigos senhores. Ainda assim, uma comparação cuidadosa com textos maias anteriores e o registro arqueológico existente permite ao menos delinear os principais elementos desta civilização.

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Origens e Expansão

Os toltecas tinham raízes no povo tolteca-chichimeca que, durante o século IX, tinha emigrado dos desertos do noroeste para Culhuacan, no Vale do México. De acordo com os astecas, o primeiro líder tolteca foi Ce Técpatl Mixcoatl (Serpente das Nuvens de Pedra, isto é, a Via Láctea) e seu filho Ce Acatl Topiltzin (Sacrificador de Junco, nascido em 935 ou 947) iria também ganhar fama como um grande governante, adquirindo inclusive o nome do grande deus Quetzalcóatl (Serpente Emplumada) entre seus títulos.

O primeiro povoado dos toltecas foi Culhuacan, mas eles depois estabeleceram sua capital em Tula.

O primeiro povoado dos toltecas foi Culhuacan, mas eles depois estabeleceram sua capital em Tula (que significa "lugar dos juncos"), um termo mesoamericano que se aplica a todas as povoações de grande porte de maneira geral. A cidade cresceu até ocupar uma área de 14 quilômetros quadrados, com uma população entre 30.000 e 40.000 pessoas. O coração da cidade estava desenhado num padrão de grade e é notavelmente similar à cidade maia de Chichen Itzá. O que é mais intrigante é que os maias também tinham uma versão de um herói local conhecido como "Serpente Emplumada", traduzido como Kukulcán e contemporâneo ao Quetzalcóatl tolteca; estes aspectos e as semelhanças arquitetônicas sugerem que havia uma ligação cultural estreita entre as duas civilizações.

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Tula

A Tula da mitologia asteca era renomada por seus palácios suntuosos e edifícios maravilhosos, feitos de ouro, jade, turquesa e plumas de quetzal. Também se acreditava que a cidade tenha sido inundada com a riqueza gerada pelos talentosos artesãos toltecas, altamente especializados em metalurgia e cerâmica - tanto que de seus ceramistas era dito que "ensinavam a argila a mentir" (Coe, 156). Tempos depois, os trabalhadores em metal e joalheiros astecas passaram a ser conhecidos como toltecas. A eles também é creditado a maestria agrícola, produzindo enormes safras de milho e de algodão naturalmente colorido de vermelho, amarelo, verde e azul. Não é surpresa, após séculos de pilhagens, que nenhum artefato tenha sobrevivido para atestar esta riqueza material, com a exceção de indicações de que os toltecas comercializavam grandes quantidades de obsidiana (utilizada em lâminas e pontas de flechas), extraída da região próxima de Pachuca.

Pyramid B, Tollan
Pirâmide B, Tula
HJPD (Public Domain)

O sítio arqueológico de Tula, situado num promontório de pedra calcária, ainda que não tão esplêndido quando as lendas, possui uma impressionante quantidade de monumentos que sobreviveram. Eles incluem duas grandes pirâmides, um passeio entre colunatas, um grande palácio e duas quadras de jogo de bola, tudo circundado por uma densa área de moradias. As casas eram organizadas em grupos de até cinco residências com telhado plano e centralizadas em torno de um pátio com um altar simples e um muro circundante.

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Os toltecas eram um povo guerreiro, sem dúvida dedicados a conquistar tribos e impor tributos sem preocupações de integração.

As esculturas sobreviventes nas pirâmides incluem grandes colunas, cada uma das quais compostas de quatro cilindros, esculpidos como guerreiros sobre os cinco andares da Pirâmide B, de 10 metros de altura. Os guerreiros podem ter sustentado uma estrutura de telhado que desapareceu. Eles estão trajados para a batalha, com um cocar cilíndrico e um peitoral decorado com borboletas. Cada um segura ao lado um atlatl, ou atirador de lanças. Também sobreviveram colunas com serpentes emplumadas na entrada original. As colunas com guerreiros são quase idênticas e sugerem oficinas sofisticadas, capazes de produção em massa.

Existem frisos ao redor das pirâmides e um muro em forma de L, de 40 metros de comprimento (conhecido como coatepantli, uma inovação tolteca). Eles mostram cenas com animais, tais como o jaguar, lobo e coiote (símbolos associados a povos guerreiros, como os toltecas) e também de sacrifícios (especialmente cascavéis e esqueletos entrelaçados) Há também imagens de criaturas emplumadas (talvez jaguares) e águias com corações em seus bicos.

Tula também proporciona os primeiros exemplos de chacmools, os guerreiros de pedra reclinados empunhando um vaso em seu estômago para receber oferendas sacrificiais aos deuses. Eles se tornariam uma característica comum em templos da Mesoamérica. Em Tula, eles estão posicionados próximos aos tronos em forma de bancos no topo do templo da pirâmide.

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Tollan (Tula)
Tula
Gengiskanhg (CC BY-SA)

Declínio

O que encerrou a dominância regional da civilização tolteca é desconhecido. Como um povo guerreiro, que sem dúvida conquistou tribos vizinhas e impôs tributos sem levar em conta a integração com a sua cultura política e religiosa, os toltecas podem ter visto seu império desintegrar devido à pressão de fenômenos naturais, tais como uma longa seca. Disputas internas podem ter resultado numa ruptura da estrutura de poder, o que é sugerido nas batalhas lendárias entre os deuses Quetzalcóatl e Tezcatlipoca, entrelaçadas com figuras históricas. O que é mais certo é que, em meados do século XII, Tula mostra sinais de destruição violenta; muitas colunas arquitetônicas e estátuas foram incendiadas e propositalmente enterradas. O local foi sistematicamente pilhado pelos astecas. Liderados pelo último líder, Huemac, os remanescentes do povo tolteca se reinstalaram em Chapultepec, na margem ocidental do Lago Texcoco, um evento tradicionalmente datado em 1156 ou 1168.

Legado

O nome tolteca carregava um certo prestígio e eles eram altamente considerados pelos maias e astecas em particular, que parecem ter copiado muitos aspectos das práticas religiosas e arte daquele povo. O período de domínio tolteca passou a ser visto como uma era dourada, quando maravilhas como a escrita, medicina e metalurgia teriam sido inventadas. É mais provável que estas inovações tenham sido desenvolvidas antes e por outros povos, mas o que realmente está comprovado é a influência tolteca na arquitetura e escultura. Entre as imagens de divindades de Tula que iriam aparecer mais tarde no panteão asteca incluem-se Centeotl, Xochiquetzal, Tlahuizcalpantecuhtli e a serpente emplumada identificada como Quetzalcóatl. Entalhes em pedra dos vasos cuauhxicalli e chacmools utilizados em sacrifícios e também o tzompantli (prateleira de crânios), tudo atesta a influência que os toltecas exerceriam sobre seus sucessores mais famosos. Seja qual for o real legado do povo de Tula, no que se refere aos astecas, foi deste povo, e não de outro, que eles afirmaram descender. A magnitude da sua reverência e respeito é evidenciada pela expressão asteca Toltecayotl ou "ter um coração tolteca", o que significava ser digno e fazer tudo com excelência.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2018, abril 27). Civilização Tolteca [Toltec Civilization]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12131/civilizacao-tolteca/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Civilização Tolteca." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação abril 27, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12131/civilizacao-tolteca/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Civilização Tolteca." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 27 abr 2018. Web. 21 dez 2024.