Arte Asteca

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 06 janeiro 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Coyolxauhqui Head (by Alberto Martinez Subtil, CC BY-NC-ND)
Cabeça de Coyolxauhqui
Alberto Martinez Subtil (CC BY-NC-ND)

A cultura asteca, concentrada na capital, Tenochtitlán, dominou a maior parte da Mesoamérica nos séculos XV e XVI. Por intermédio das conquistas militares e da expansão comercial, a arte também se disseminou, ajudando os astecas a alcançar hegemonia cultural e política sobre os súditos e criando para a posteridade um registro tangível da imaginação artística e grande talento dos artistas desta última grande civilização mesoamericana.

Influências

Elementos comuns marcam a história da cultura mesoamericana, especialmente na arte. As civilizações olmeca, maia, tolteca e zapoteca, entre outras, perpetuaram uma tradição artística caracterizada pelo amor à escultura monumental em pedra, arquitetura imponente, cerâmica ricamente decorada, padrões geométricos na arte têxtil e corporal e trabalho com metal de tirar o fôlego, todos utilizados para representar pessoas, animais, plantas, deuses e exemplos de cerimônias religiosas, especialmente os rituais e divindades relacionados à fertilidade e agricultura.

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Os artistas astecas também foram influenciados por estados contemporâneos vizinhos, em especial Oaxaca (vários artistas de lá residiam permanentemente em Tenochtitlán) e da região huasteca, na Costa do Golfo, onde havia uma forte tradição de escultura tridimensional. Estas influências diversas e os próprios gostos ecléticos e admiração pelas obras antigas fizeram da sua arte a mais variada de todas as culturas antigas que se conhecem. As esculturas de deuses ameaçadores com imagens abstratas saíam das mesmas oficinas que produziam obras naturalísticas, retratando a beleza e a graça das formas animais e humanas.

Características da Arte Asteca

Os astecas destacavam-se em particular pelo trabalho com metal. O grande artista da Renascença Albrecht Dürer, após contemplar alguns dos artefatos levados para a Europa, afirmou: "[...] Nunca em minha vida vi algo que tenha alegrado tanto meu coração quanto estas coisas. Pois vi entre eles objetos artísticos maravilhosos e fiquei admirado com a engenhosidade sutil destes homens de terras distantes". Infelizmente, assim como a maioria dos demais artefatos, estes objetos foram fundidos para a cunhagem de moedas e, assim, subsistiram poucos exemplos da grande habilidade dos astecas no trabalho com ouro e prata. Itens menores foram descobertos, entre os quais botoques (piercing de lábios), pingentes, anéis, brincos e colares de ouro, representando desde águias a cascos de tartarugas a deuses, num testemunho da perícia na microfundição e no trabalho em filigrana dos mais habilidosos artesãos ou tolteca.

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Os astecas também empregavam a arte como ferramenta para reforçar a dominação militar e cultural através da Mesoamérica.

A escultura asteca teve mais obras sobreviventes, e seu tema consiste, com muita frequência, em integrantes da extensa família de deuses que veneravam. Esculpidas em pedra e madeira, estas figuras, algumas vezes de tamanho monumental, não eram ídolos contendo o espírito da divindade, já que na religião asteca acreditava-se que o espírito de um deus particular residia em recipientes sagrados, mantidos dentro de santuários e templos. Porém, também se acreditava necessário "alimentar" estas esculturas com sangue e objetos preciosos, daí as histórias contadas pelos conquistadores espanhóis de enormes estátuas manchadas de sangue e incrustadas com joias e ouro. Outras belas esculturas, em menor tamanho, incluem o magnífico deus sentado Xochipilli e os variados chacmools, figuras reclinadas com uma abertura escavada no peito, que eram usadas como receptáculo dos corações das vítimas de sacrifícios. Estas, como a maioria das esculturas astecas, foram originalmente pintadas com o uso de uma ampla variedade de cores brilhantes.

Esculturas em pequena escala foram encontradas em vários sítios ao longo do México Central. Em geral, elas assumem a forma das divindades locais, especialmente deuses relacionados à agricultura. O tipo mais comum traz figuras femininas eretas de divindades do milho, tipicamente com impressionantes adornos de cabeça, e o deus do milho, Xipe Totec. Sem a finura da arte patrocinada pelo império, com frequência estas esculturas e as figuras de cerâmica similares representam o lado mais benevolente dos deuses astecas.

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Aztec Ceremonial Knife
Faca Cerimonial Asteca
Trustees of the British Museum (Copyright)

O trabalho em miniatura também era popular, com temas como plantas, insetos e conchas representados em materiais preciosos como carnalita, pérolas, ametista, cristal de rocha, obsidiana, conchas e o mais valorizado de todos, o jade. Também se apreciavam bastante as plumas exóticas, especialmente a plumagem esverdeada do pássaro quetzal (quetçal). Usavam-se penas cortadas em pequenos pedaços para criar pinturas em mosaico, utilizadas como decoração nos escudos dos guerreiros astecas, vestimentas e leques, além de magníficos adornos de cabeça, tal como o dedicado a Motecuhzoma II e que pode ser visto atualmente no Museum für Völkerkunde [Museu de Etnologia] de Viena.

Os artistas astecas favoreciam particularmente a turquesa, e seu uso em mosaicos para cobrir esculturas e máscaras criou algumas das mais incríveis imagens da Mesoamérica. Um exemplo típico é o crânio humano decorado que representa o deus Tezcatlipoca e que pode ser visto atualmente no Museu Britânico, em Londres. Outro excelente exemplo é a máscara de Xiuhtecuhtli, o deus do fogo, com olhos sonolentos de madrepérola e um conjunto perfeito de dentes de conchas brancas. Finalmente, há o magnífico peitoral com a serpente de duas cabeças, também no Museu Britânico. Feito com madeira de cedro esculpida e completamente coberto com pequenos quadrados de turquesa e a boca vermelha e os dentes brancos feitos com spondylus (ostra espinhosa) e outros tipos de conchas, respectivamente, o peitoral provavelmente fazia parte de uma vestimenta cerimonial. A serpente era uma imagem potente na arte asteca, pois a criatura, capaz de mudar sua pele, representava a regeneração e estava particularmente associada com o deus Quetzalcoatl.

A despeito da ausência de tornos de moleiros, os astecas também se mostraram hábeis com a cerâmica, como se pode verificar pelas grandes figuras ocas e várias urnas tampadas belamente esculpidas, descobertas ao lado do Templo Maior, em Tenochtitlán, provavelmente usadas como receptáculos para cinzas fúnebres. Outros exemplos de obras de cerâmica são os incensórios modelados com tripés, de Texcoco, os jarros com bicos e taças com em forma de ampulheta. Estes recipientes, geralmente finos e bem proporcionados, trazem uma tira de cor creme ou vermelha e preta, e apresentam formas geométricas pintadas com maestria, nos exemplos mais antigos, e figuras da flora e da fauna, nas peças mais recentes. As cerâmicas mais altamente valorizadas pelos próprios astecas, usadas pelo próprio Motecuhzoma, eram as peças ultrafinas do povo cholula, do Vale de Puebla. Os recipientes podiam ser feitos de moldes ou esculpidos enquanto a argila estava dura como o couro. Um excelente exemplo destes recipientes antropomórficos é o famoso vaso que representa a cabeça do deus da chuva, Tlaloc, pintado em azul brilhante, com “óculos” sobre os olhos e ameaçadoras garras vermelhas, atualmente no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.

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Tlaloc
Tlaloc
Alex Torres (CC BY-ND)

Os instrumentos musicais também faziam parte do repertório dos artistas astecas. Eles incluíam flautas de cerâmica, teponaztlis e huehuetls de madeira, ou seja, tambores cerimoniais longos e eretos, respectivamente. Ricamente decorados com gravações, um dos mais belos é o tambor de Malinalco, coberto com jaguares e águias dançantes, que representam vítimas de sacrifícios, conforme indicado pelos estandartes e pergaminhos de guerra, além de símbolos de fogo.

A Arte Como Propaganda

Os astecas, assim como seus predecessores culturais, empregavam a arte como ferramenta para reforçar o domínio militar e cultural. Prédios imponentes, afrescos, escultura e até manuscritos, especialmente em locais chave, como Tenochtitlán, não somente representavam e até reproduziam os elementos fundamentais da religião asteca, mas também lembravam aos súditos a riqueza e o poder que permitiam sua construção e fabricação.

O exemplo supremo deste tipo de uso da arte como um transmissor de mensagens políticas e religiosas é o Templo Maior, em Tenochtitlán, muito mais do que uma enorme e imponente pirâmide. Projetou-se cuidadosamente o monumento representar a montanha sagrada da serpente da terra Coatepec, tão importante na religião e mitologia astecas. Nesta montanha, Coatlicue (a terra) deu à luz Huitzilopochtli (o sol), que derrotou os outros deuses (as estrelas) liderados por sua irmã Coyolxauhqui (a lua). Um templo para Huitzilopochtli erguia-se no topo da pirâmide, junto a outro em homenagem ao deus da chuva, Tlaloc. Associações adicionais com o mito são as esculturas de serpentes alinhadas na base e a Grande Pedra de Coyolxauhqui, esculpida por volta de 1473, também encontrada na base da pirâmide e que representa, em relevo, o corpo desmembrado da deusa derrotada. A pedra, junto com outras esculturas semelhantes, como a Pedra de Tizoc, relacionam este imaginário cósmico à derrota contemporânea de inimigos locais. A Pedra de Coyolxauhqui, por exemplo, refere-se à derrota da cidade vizinha de Tlatelolco. Finalmente, o Templo Maior era em si mesmo um repositório de arte pois, quando seu interior foi explorado, descobriu-se um vasto tesouro de objetos artísticos e esculturas sepultados com os restos dos mortos. Estas peças, em muitos casos, pertenciam a culturas muito mais antigas e haviam sido reunidas pelos próprios astecas.

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Tizoc Stone
Pedra de Tizoc
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

Templos exaltando a visão asteca do mundo também eram construídos em territórios conquistados. Eles usualmente mantinham as estruturas político-administrativas existentes, mas impunham seus próprios deuses, de forma hierárquica, acima das divindades locais. Isso ocorria principalmente através da arquitetura e arte, além de cerimônias de sacrifícios nestes novos locais de adoração, tipicamente construídos em sítios considerados sagrados pelos povos subjugados e, com frequência, em panoramas espetaculares, como cimos de montanhas.

A Pedra do Sol, esculpida por volta de 1427, traz um disco solar que apresenta os cinco mundos consecutivos do sol, segundo a mitologia asteca.

As imagens astecas que se disseminaram através do império incluem muitas divindades menos conhecidas do que Huitzilopochtli e há um surpreendente número de exemplos de deuses da natureza e agrícolas. Talvez as mais famosas são os relevos da deusa da água, Chalchiuhtlicue, na Colina Malinche, próximo à antiga Tula. Estes e outras obras de arte astecas eram elaboradas, em geral, por artistas locais e podem ter sido encomendadas pelas autoridades que representavam o estado ou por colonizadores particulares da região asteca. Arte arquitetônica, gravações na rocha de deuses, animais e escudos e outros objetos foram encontrados ao longo da área do império, desde Puebla até Veracruz e especialmente em torno de cidades, colinas, fontes e cavernas. Além disso, estas obras são geralmente únicas, sugerindo a ausência de quaisquer oficinas organizadas.

Obras-primas

A grande e circular Pedra de Tizoc (esculpida em basalto por volta de 1485) apresenta uma mistura magistral de mitologia cósmica e política do mundo real. Era originalmente usada como base para sacrifícios humanos e, como estas vítimas geralmente consistiam em guerreiros derrotados, tornava-se inteiramente apropriado que os relevos em torno da beira da pedra retratassem o governante asteca Tizoc atacando guerreiros de Matlatzinca, uma região conquistada por ele no final do século XV. Os derrotados aparecem retratados como chichimecas, isto é, bárbaros sem terra, enquanto o vitorioso veste o nobre manto dos reverenciados e antigos toltecas. A face superior da pedra, com 2,67 metros de diâmetro, traz um disco solar com oito pontas. A Pedra de Tizoc pode ser vista atualmente no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.

Coatlicue
Coatlicue
Luidger (CC BY-NC-SA)

A imensa estátua de basalto de Coatlicue (esculpida no período final de meio século de domínio asteca) é amplamente considerada um dos melhores exemplos da escultura asteca. A deusa é representada numa forma temível, com duas cabeças de serpentes, pés e mãos em forma de garras, um colar de mãos e corações desmembrados com um pingente de crânio, e vestindo uma saia de serpentes contorcidas. Possivelmente integrante de um grupo de quatro peças semelhantes e representando a revelação do poder e terror femininos, a estátua de 3,5 metros inclina-se ligeiramente para a frente, num efeito dramático tão efetivo que se compreende por que a estátua foi, na verdade, sepultada várias vezes em seguida à descoberta original, em 1790. A estátua de Coatlicue repousa atualmente no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.

A Pedra do Sol, também conhecida como a Pedra do Calendário Asteca (a despeito do fato de que não se trata de um calendário funcional), deve ser a obra de arte mais conhecida produzida pelas grandes civilizações da Mesoamérica. Descoberta no século XVIII, próximo à catedral da Cidade do México, o monumento foi esculpido por volta de 1427 e mostra um disco solar que representa os cinco mundos consecutivos do sol, segundo a mitologia asteca. A pedra de basalto tem 3,78 metros de diâmetro, quase um metro de espessura e fez parte do complexo do Templo Maior, em Tenochtitlán. No centro da pedra encontra-se uma representação do deus do sol, Tonatiuh (o Sol diurno) ou Yohualtonatiuh (o Sol Noturno), ou um monstro primordial da terra, Tlaltecuhtli, e, neste último caso, representa a destruição final do mundo, quando o quinto sol despencar na terra. Em torno da face central, em quatro pontos, existem outros quatro sóis, que se sucederam à medida que os deuses Quetzalcoatl e Tezcatlipoca lutavam pelo controle do universo, até que se chegou ao quinto sol. Em cada lado do rosto central há duas cabeças ou garras de jaguar, cada qual agarrando um coração, representando o reino terrestre. As duas cabeças na parte de baixo, ao centro, representam serpentes de fogo e seus corpos percorrem todo o perímetro da pedra, terminando numa cauda. Os pontos cardeais e intermediários estão indicados com pontos maiores e menores, respectivamente.

Aztec Sun Stone
Pedra do Sol Asteca
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

Um outro ótimo exemplo da riqueza da arte asteca, que sobreviveu aos melhores esforços destrutivos de seus conquistadores, é o guerreiro asteca em tamanho real de Tenochtitlán. A figura de terracota, aparentemente prestes a levantar voo, compõe-se de quatro partes diferentes. Este Guerreiro da Águia porta um capacete representando uma ave de rapina, tem asas e até pés com garras. Remanescentes de estuque sugerem que a figura estava coberta em plumas reais para um efeito ainda mais realista. Originalmente, estaria instalada, com um parceiro, de cada lado de um pórtico.

Conclusão

Em consequência da queda do Império Asteca, a produção de arte indígena caiu em declínio. Porém, alguns temas da cultura asteca sobreviveram através do trabalho de artistas locais, empregados pelos frades augustinianos para decorar suas novas igrejas durante o século XVI. Manuscritos e pintura em plumas continuaram a ser produzidos, mas apenas ao final do século XVIII que o interesse na arte e história Pré-Colombiana levaria a uma investigação mais sistemática do que jazia sob as fundações das cidades mexicanas modernas. Lentamente, um crescente número de artefatos astecas revelaram, no caso de ter havido alguma dúvida, a evidência positiva de que os astecas estavam entre os mais ambiciosos, criativos e ecléticos artistas que a Mesoamérica produziu.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2014, janeiro 06). Arte Asteca [Aztec Art]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12195/arte-asteca/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Arte Asteca." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 06, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12195/arte-asteca/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Arte Asteca." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 06 jan 2014. Web. 20 nov 2024.