K'inich Janaab' Pakal

10 dias restantes

Investir no ensino da História

Ao apoiar a nossa instituição de solidariedade World History Foundation, está a investir no futuro do ensino da História. O seu donativo ajuda-nos a capacitar a próxima geração com os conhecimentos e as competências de que necessita para compreender o mundo que a rodeia. Ajude-nos a começar o novo ano prontos a publicar informação histórica mais fiável e gratuita para todos.
$3086 / $10000

Definição

Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 28 março 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Ouve este artigo
X
Imprimir artigo
Jade Death Mask of Kinich Janaab Pakal (by Gary Todd, Public Domain)
Máscara Mortuária de Jade de K'inich Janaab' Pakal
Gary Todd (Public Domain)

K'inich Janaab' Pakal (23 de Março de 603-31 de Março de 683) era o rei da cidade maia de Palenque, situada no atual estado de Chiapas, no México. Também conhecido como Pacal (o que significa "escudo") e Pacal, o Grande, ele é célebre por elevar Palenque (ou B'aakal para os maias) da relativa obscuridade para uma posição de destaque e poder; pelos projetos de construção realizados no local (especialmente o Tempo das Inscrições) e pela tampa de sarcófago elaboradamente esculpida, que chegou a ser interpretada como um antigo astronauta pilotando um foguete. Pacal assumiu o trono de Palenque com 12 anos, em 615, e teve um longo e bem-sucedido reinado até morrer, aos 80 anos. Era casado com a Senhora Tzakbu Ajaw, com a qual teve três filhos, que o sucederam no governo. As ruínas visíveis de Palenque na atualidade representam somente uma pequena fração da antiga cidade desenvolvida e expandida por Pacal durante seu reinado. O restante da vasta metrópole permanece coberta pela floresta circundante. Palenque era um povoado modesto quando Pacal subiu ao trono, e foi através de seus esforços que se tornou um dos grandes centros urbanos da Mesoamérica, rivalizando com o poder e esplendor de Tikal.

Juventude e Ascensão ao Poder

Pacal era filho da Senhora Sak K'uk, que reinou em Palenque no período entre 612 a 615. Em 611, o rei morreu e o herdeiro legítimo, Pacal, era jovem demais para assumir o trono. Acadêmicos decifraram inscrições que deixam claro que Palenque sofreu uma significativa derrota militar em 611 e então perdeu seu rei, Ajen Yohl Mot; isso prejudicou o equilíbrio da comunidade, que o próximo governante precisava restaurar. Em 612, Janaab Pacal, pai de Suk K'ak, subiu ao trono, mas morreu no mesmo ano. Inscrições indicam que um monarca conhecido como Muwaan Mat assumiu o poder após Janaab Pacal mas, como se trata de uma figura sobrenatural, que simboliza prosperidade, acredita-se que seja uma referência à Senhora Sak K'uk, que restaurou o equilíbrio da cidade após um período de convulsões sociais. Ela governou por três anos até que seu filho alcançou a maturidade que, naquele tempo, ocorria aos 12 anos. A dinastia em Palenque acreditava que o poder descendia de um ancestral conhecido como a Primeira Mãe e portanto as governantes femininas, embora raras, podiam assumir o poder. Entendia-se, porém, que uma monarca deveria renunciar tão logo o herdeiro masculino alcançasse a maturidade.

Remover publicidades
Publicidade
Depois que Pacal assumiu o trono, Palenque tornou-se um dos maiores centros urbanos da Mesoamérica.

A Senhora Sak K'uk parece ter continuado a guiar o filho após sua ascensão ao poder - como indicado por inscrições espalhadas pela cidade -, até morrer, em 640. Logo após subir ao trono, Pacal começou a construir enormes e elaborados monumentos com o objetivo de celebrar tanto o passado da cidade quanto o direito legítimo da família de governar. O acadêmico maianista Gene Stuart assinala:

Pacal buscou traçar sua linhagem com uma origem divina e relacionada a membros da realeza, e outros governantes também acharam conveniente estabelecer ancestrais divinos. Um governante maia era visto como uma manifestação humana dos deuses na terra. Como o intermediário entre humanos e deuses, ele alegava ter poder de controlar as forças sobrenaturais do universo. Nos rituais, ele nutria e glorificava os deuses, buscando manter o sempre precário equilíbrio da natureza numa sociedade agrícola (83).

Uma vez que o pai de Pacal era um senhor, mas não o rei, outras famílias da nobreza de Palenque alegavam ter mais direito de governar do que ele. Em resposta, tanto Pacal como seu primogênito, Kinich Kan B'alaam II, se certificariam de representar as realizações e legitimidade da família em todos os edifícios e monumentos da cidade, incluindo o Palácio, os Templos da Cruz e o Templo das Inscrições.

Remover publicidades
Publicidade

Temple of the Inscriptions, Palenque
Templo das Inscrições, Palenque
Jan Harenburg (CC BY)

O Templo das Inscrições

Este foco em registrar a história da cidade através da arquitetura é especialmente notável no famoso Templo das Inscrições. A construção começou em 675, com o propósito específico de servir como túmulo de Pacal. O Templo das Inscrições é uma pirâmide com um pequeno edifício no topo, que contém o segundo texto maia mais extenso já descoberto na Mesoamérica (o mais longo é a Escadaria dos Hieróglifos, na cidade de Copán). Por um século depois da descoberta das ruínas de Palenque, a pirâmide foi vista como o centro religioso da cidade (já que as inscrições eram indecifráveis), até que o arqueólogo mexicano Alberto Ruiz constatou que os muros do pequeno templo continuavam por baixo do piso. Ele descobriu que a plataforma tinha perfurações que haviam sido seladas com tampas de pedra, e supôs que os maias tinham instalado o piso no lugar com cordas, talvez para selar a entrada de um túmulo real. Entre 1948 e 1952, Ruiz e sua equipe escavaram o interior do templo e, finalmente, encontraram o túmulo de Pacal, o Grande. Ele iluminou o interior da tumba com sua lanterna, como descreveu mais tarde:

Das sombras da penumbra emergiu uma visão de conto de fadas, uma fantástica, etérea paisagem de outro mundo. Parecia uma enorme gruta escavada no gelo, os muros cintilantes e resplandecentes como cristais de neve. Delicadas grinaldas de estalactites pendiam como franjas de uma cortina e as estalagmites no piso pareciam gotas de uma grande vela. A aparência, na realidade, era de uma capela abandonada. Através dos muros marchavam figuras de estuque em baixo-relevo. Então meus olhos voltaram-se para o piso. Ele estava quase preenchido com uma grande placa de pedra esculpida, em perfeitas condições.

A placa de pedra era o sarcófago de Pacal que, quando removida, revelou o grande rei portando uma máscara de jade, adornado como o deus maia do Milho e vestindo uma saia de contas. A historiadora Clare Gibson comenta que

Remover publicidades
Publicidade

A saia de contas que Pacal veste o conecta com o Deus do Milho, que pode ser retratado com tal vestimenta em cenas nas quais é mostrado dançando para fora de Xibalba (o submundo maia). Este tipo de saia era geralmente usada pelas mulheres maias e, assim, ao adornar o Deus do Milho, representam seus poderes de fertilidade. Pacal deve ter esperado emular o Deus do Milho e ser ressuscitado após sua morte (46).

Pakal the Great & Xibalba
Pacal, o Grande e Xibalba
Marcellina Rodriguez (Copyright)

O túmulo continha uma grande quantidade de brincos, faixas para punho, braceletes e colares, além de um relevo de jade de alta qualidade. Stuart assinala que “Os maias tinham grande estima pelo jade, equivalente às plumas de quetzal (as penas do pássaro Quetzal), em parte porque viam na cor verde de ambos um símbolo da vida. A elite portava muitas joias de jade em colares, ornamentos de orelha, braceletes, tornozeleiras e em cintos” (101). Nenhum dos tesouros, porém, provou-se tão valioso para os maianistas quando a placa do sarcófago em si, que retratava a visão cósmica dos maias.

O Sarcófago de Pacal e a Controvérsia sobre sua Identidade

A tampa do sarcófago mede 3,6x2 metros e mostra um homem inclinado na base de uma árvore, com um pássaro no topo, caindo ou saindo do que parece ser uma grande urna. Glifos e símbolos estendem-se ao redor de toda a beira da tampa, todos trazendo importantes componentes da cosmologia maia. O sarcófago se tornou mais conhecido no século XX porque teóricos dos antigos alienígenas, acompanhando a interpretação de Erich von Daniken em sua obra Chariots of the Gods, alegam que a tampa mostra um homem pilotando um foguete, com a fumaça saindo de um cano de exaustão atrás dele e os glifos representando o espaço sideral. Na realidade, o relevo mostra a Árvore do Mundo - que os maias acreditavam ter suas raízes no submundo, o tronco no plano terrestre e os galhos no paraíso - e a relação do falecido Pacal com ela. O rei é retratado seja no momento de sua morte, caindo do plano terrestre em Xibalba ou no momento de sua ressurreição do submundo, subindo pela Árvore do Mundo em direção ao paraíso. Os enfeites ao longo da borda representam o céu, há glifos do sol e da lua e, entre outros, de governantes passados de Palenque e o lugar de Pacal entre eles. O pássaro no topo da árvore é a Ave do Paraíso (também conhecida como A Ave Celestial ou Deus-Pássaro Principal), que representa o reino dos deuses nesta cena, e a "urna" embaixo de Pacal é a entrada de Xibalba. Uma vez que alguém se familiariza com os conceitos cosmológicos maias, não há nada de misterioso sobre a tampa do sarcófago de Pacal mas, em 1952, os estudiosos conheciam muito menos do que sabem nos dias de hoje, e portanto o relevo estava mais aberto a interpretações na época em que Von Daniken escreveu seu livro (1968) do que atualmente. Nenhum estudioso reputado aceita hoje em dia que a tampa mostre coisa alguma relativa a um foguete ou um astronauta, mas alguns autores ainda persistem em debater o significado da peça.

Também houve controvérsias sobre a identidade dos restos mortais achados no túmulo. Descobriu-se que os dentes do esqueleto estavam em excelentes condições e indicariam um homem falecido com cerca de 40 anos. Desde que os arqueólogos sabiam que Pacal morreu com 80 anos, uma vez que dataram os monumentos e edifícios construídos durante seu reinado, houve questionamento sobre as conclusões dos epigrafistas que identificaram o esqueleto como sendo do rei. David Kelly e Floyd Lounsbury foram os primeiros epigrafistas a identificar a tumba como pertencendo ao Senhor Pacal de Palenque e seu trabalho prosseguiu com Peter Matthews e Linda Schele. Os antropólogos físicos, em sua maior parte, sustentavam que o túmulo tinha de pertencer a um homem mais jovem e, portanto, que os epigrafistas estavam incorretos. Os antropólogos culturais confirmaram a identificação e a veracidade do seu trabalho. A polêmica foi finalmente resolvida em 1996, quando se concordou que, como um membro da nobreza por toda a sua vida, Pacal teria desfrutado de uma alimentação melhor do que seus súditos e, com isso, seus dentes estariam em melhores condições do que os de outros. Além disso, ninguém sabe no que consistia a dieta de Pacal - ele pode ter comido alimentos mais macios, que causavam pouco desgaste dentário. O fato que viveu até os 80 anos, mantendo uma dentadura completa, leva à conclusão de que tinha um estilo de vida saudável e atenção à higiene pessoal. Hoje é geralmente reconhecido que a tumba pertence a Pacal e que os restos descobertos por Ruiz em 1952 são os do grande rei de Palenque.

Remover publicidades
Publicidade

Lord Pacal
O Senhor Pacal
Graeme Churchard (CC BY)

O Declínio de Palenque

A cidade continuou a prosperar sob a liderança dos filhos de Pacal e seus herdeiros, mas acabou invadida e saqueada pelas forças da cidade de Tonina, em 711. As evidências arqueológicas deste período não mostram novas construções e as inscrições revelam que o rei foi capturado e talvez executado. Parece ter havido um monarca na cidade por algum tempo depois disso, mas os registros mostram que as hostilidades entre Tonina e Palenque irromperam novamente por volta de 750. A causa da guerra é desconhecida. Como outros grandes centros urbanos maias, Palenque foi abandonada aproximadamente em 800 e a floresta tomou conta da metrópole. Já estava em ruínas quando a Conquista Espanhola começou, no século XVI, e continuou coberta de vegetação, a despeito das expedições ao sítio no século XVIII, até que o trabalho de John Lloyd Stephens e Frederic Caterwood trouxeram a cidade à atenção mundial e escavações preliminares começaram no final do século XIX. Atualmente a cidade de Pacal, o Grande, é o mais extensivamente estudado de todos os sítios maias, até mesmo do que Chichén Itzá, por causa do esplendor de sua arquitetura e a precisão de suas inscrições, que contam a história do seu rei mais venerado e da esplêndida cidade que ele elevou à grandeza.

Remover publicidades
Publicidade

Bibliografia

A World History Encyclopedia é um associado da Amazon e recebe uma comissão sobre as compras de livros elegíveis.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2014, março 28). K'inich Janaab' Pakal [K'inich Janaab' Pakal]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12539/kinich-janaab-pakal/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "K'inich Janaab' Pakal." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação março 28, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12539/kinich-janaab-pakal/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "K'inich Janaab' Pakal." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 28 mar 2014. Web. 21 dez 2024.