Localizada nas colinas ao pé do altiplano do atual estado mexicano de Chiapas, Palenque foi uma importante cidade maia que floresceu aproximadamente entre 600 e 750. O nome Palenque deriva do espanhol e significa "lugar fortificado", mas o nome maia original, sabemos agora, era Lakamha. O povoado transformou-se num centro comercial terrestre devido à posição entre o planalto e as planícies costeiras, o que permitiu o controle de um grande território e a formação de alianças vantajosas com outras cidades poderosas, tais como Tikal, Pomoná e Tortuguero. Palenque é considerada como Patrimônio Mundial pela UNESCO.
A lista de reis de Palenque começa com K'uk' Bahlam I, que reinou de 431 a 435, mas o mais famoso deles foi Kinich Janaab Pacal I (significado Grande Escudo de Girassol), também conhecido como Pakal, o Grande, que reinou de 615 até sua morte em 683, aos 80 anos. Pakal criou uma dinastia que durou quatro gerações e levou a cidade a alcançar seu maior período de prosperidade. Os filhos de Pakal, K'an Bahlam II (r. 684-702 e também conhecido como Chan Bahlum) e K'an Joy Chitam II (r. 702-c. 720) e neto K'inich Ahkal Mo' Nahb III (r. 721-c. 736) levaram adiante o legado de Pakal e transformaram Palenque em uma das mais grandiosas cidades maias. Porém, em meados do século VIII, estouraram as hostilidades com Toniná e Palenque, assim como outras cidades contemporâneas do período Clássico Maia, foi abandonada por volta de 800 a.C..
Traçado e Arquitetura
A cidade pode ser dividida em três diferentes períodos: Clássico Inicial, Médio e Tardio. A maioria dos prédios de grande porte em Palenque data do período médio, enquanto o Clássico Tardio viu a construção de fortificações terraceadas para a defesa contra os povos da Costa do Golfo. Construída em três diferentes níveis, a cidade acompanha os contornos do terreno local. Muitos dos templos em pedra calcária são construídos em colinas naturais. Com mais de 1.000 estruturas diferentes, foi uma das mais densamente povoadas cidades maias. Oito pequenos rios que desciam das montanhas circundantes atravessavam Palenque. O mais importante destes riachos era chamado Otulum, desviado para levar água diretamente ao palácio real e que, em alguns locais, abastecia um aqueduto subterrâneo que suportava plataformas e passadiços.
Em muitos aspectos, a arquitetura local era inovadora. Pela primeira vez na Mesoamérica, apareciam telhados com mísulas, frequentemente em paralelo, o que trazia maior espaço interior e, através do muro central de suporte, melhorava a estabilidade estrutural. No topo da porção superior inclinada de muitos edifícios havia uma crista fasquiada. Outra característica arquitetônica própria era o uso de muros finos e entradas largas. Os edifícios usavam a pedra calcária macia com lintéis em madeira, além de cores brilhantes em vermelho, azul, verde, amarelo e branco, empregadas para decoração externa e em murais internos. Palenque é também famosa pela escultura decorativa em estuque e relevos baixos com entalhes apresentando alguns dos retratos mais naturalistas da arte maia. Dignos de nota também são os muitos palácios com grandes pátios, fontes ornamentais e piscinas artificiais que pontilhavam o entorno da cidade.
O Palácio de Palenque
De modo singular para uma cidade maia, em Palenque o foco central encontrava-se numa residência real, não num templo. O palácio, provavelmente iniciado por Pakal e com grandes acréscimos, tais como a torre erguida por volta de 721, é uma das estruturas arquitetônicas mais complexas de qualquer sítio maia. O edifício, instalado numa alta plataforma de 10 metros de altura, é basicamente composto de salas dispostas em torno de pátios internos e galerias com tetos abobadados, medindo 91 x 73 metros. Talvez a mais impressionante característica seja a torre de quatro andares, única em sítios da Mesoamérica. A estrutura de 25 metros possui uma escadaria em torno das paredes interiores. O edifício como um todo era usado como uma residência real e corte judicial, mas também dispunha de acomodações para nobres, servos e pessoal militar. Outras características dignas de nota são um banho a vapor, composto por dois lavatórios construídos sobre uma corrente subterrânea, contendo vários relevos mostrando prisioneiros. O palácio era também ricamente decorado com estuque pintado em cores vivas retratando cenas de reis e nobres maias.
O Templo das Inscrições
Instalado numa vertente e completado c. 682, a pirâmide possui nove níveis diferentes, correspondendo, sem dúvida, aos nove níveis do Mundo Subterrâneo Maia. Ao conduzir uma pesquisa arqueológica no topo da pirâmide em 1952, o arqueólogo mexicano Alberto Ruz ficou célebre ao descobrir que uma única placa perfurada no piso de uma câmara podia ser removida e debaixo havia um lance de escadas para acesso ao interior do edifício. Na base da escadaria circular, com 65 degraus, após Ruz retirar o entulho depositado ali deliberadamente e novamente nas profundezas do interior da pirâmide, havia uma câmara com telhado em mísula, e, do lado de fora, cinco ou seis esqueletos humanos, quase certamente vítimas sacrificiais. Claramente alguém importante havia sido sepultado ali. Dentro da cripta ricamente decorada havia nove estátuas de estuque nos muros inclinados e mais dois em jade, em pé diante do artefato mais extraordinário do aposento. Era um sarcófago encimado com uma longa placa de 3,8 metros, entalhada de forma magnífica e retratando um governante maia caindo nas garras do mundo subterrâneo maia, Xibalba. Quando finalmente abriu o sarcófago, Ruz descobriu os restos mortais cobertos de jade e cinabre do maior de todos os governantes de Palenque, o Rei Pakal, o Grande. Uma máscara mortuária elaborada num vívido mosaico de jade e uma grande quantidade de joias de estilo semelhante acompanhavam o rei em sua próxima vida. Foi uma das maiores descobertas da arqueologia da Mesoamérica, finalmente comprovando que as grandes pirâmides maias não haviam sido construídas simplesmente como templos, mas também como tumbas para seus grandes líderes, exatamente como no antigo Egito.
Outras descobertas interessantes da tumba incluem inscrições nos muros, que relatam episódios do reino de Pakal (que originaram a denominação atual do templo), uma saída de ar estreita (psicoduto), que corre através da pirâmide para conectar a tumba ao mundo externo, e exatamente 13 seções de telhado em mísula conectando a tumba à câmara superior, correspondendo aos 13 níveis dos céus para os maias. Portanto, exatamente como retratado na placa do sarcófago, a pirâmide inteira era uma metáfora da descida de Pakal através dos nove níveis do submundo e subsequente ascensão para a Árvore do Mundo e os 13 níveis dos céus para finalmente atingir o status divino. Em termos arquitetônicos, uma característica singular da tumba são as traves mestras de pedra, sem dúvida porque o arquiteto sentiu que as traves de madeira não seriam fortes o suficiente para suportar a grande massa de alvenaria acima. Finalmente, o templo também é notável como o único exemplo conhecido de uma pirâmide maia construída antes da morte de seu ocupante.
O Grupo da Cruz
Este é o conjunto de três templos - o Templo do Sol, da Cruz e da Cruz Foliada - construídos no final do século VII e dispostos em três lados de uma praça. Cada um deles encontra-se sobre uma plataforma elevada, acessada por uma série de degraus monumentais, e contém galerias paralelas com uma passagem em mísula em ângulos retos, criando uma grande câmara. Todos os três possuem enormes cristas nos telhados. As inscrições no interior dos santuários de cada uma das estruturas revelam que foram erguidas em honra a três deuses de Palenque (conhecidos somente como GI, GII e GIII) pelo rei K'an Bahlam (Jaguar Cobra) e inaugurados em 692. A coroação do rei é registrada em tabletes em todos os três templos, e ele próprio aparece aos seis anos e, novamente, quando subiu ao trono, aos 49 anos.
Os edifícios são ricos em imagens e simbolismo maias. O santuário interior do Templo do Sol possui uma máscara do sol em seu aspecto noturno, o Deus Jaguar do Submundo. Os santuários dos outros dois edifícios contêm uma Árvore do Mundo encimada por um pássaro quetzal. Os maias chamavam estas estruturas de banhos de suor ou pibnal, locais de importância cerimonial, especialmente antes ou após o parto. Talvez, então, sejam símbolos do nascimento dos deuses e, em grupo, seu objetivo pode ter sido o de representar o mito de Criação dos maias. As esculturas e relevos, em geral, enfatizam o papel do rei como um guardião da fertilidade, milho e chuva, e também apresentam uma clara ligação ancestral entre a dinastia Pakal e os deuses.