Enlil

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Joshua J. Mark
por , traduzido por Willian Vieira
publicado em 24 janeiro 2017
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Nippur (by David Stanley, CC BY)
Nippur
David Stanley (CC BY)

Enlil (também conhecido como Ellil e Nunamnir) era o deus sumério do ar no Panteão Mesopotâmico, mas era mais poderoso do que qualquer outra divindade elementar e acabou sendo adorado como o Rei dos Deuses. Ele aparece em vários textos importantes da Mesopotâmia como o maior dos deuses depois de seu pai.

Ele era filho do deus dos céus Anu (também conhecido como An) e, com Anu e Enki (deus da sabedoria), formava uma tríade que governava os céus, a terra e o submundo ou, alternativamente, o universo, o céu e a atmosfera e a terra. Após Anu, Enlil era o mais poderoso dos deuses da Mesopotâmia, guardião das Tábuas do Destino, que continham os destinos dos deuses e da humanidade, e considerado uma força imparável cujas decisões não podiam ser questionadas.

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A cidade de Nippur era a sede central da adoração de Enlil no templo/zigurate conhecido como "a Casa da Montanha" descrito como "reluzente" e magnífico no hino Enlil no E-Kur, mas ele também era homenageado na Babilônia e em outras cidades. Ele era o único deus com acesso direto a Anu, que controlava o universo, e era muito respeitado por essa posição, mas, ao mesmo tempo, suas decisões pareciam ser definitivas sem levar em conta Anu e, por isso, pode parecer incerta a influência de Anu sobre Enlil.

Embora seu nome seja traduzido como "Senhor do Ar", ele era claramente considerado muito mais do que um deus do céu. Ele é chamado de "Pai do Povo de Cabeça Negra" (os sumérios) e "Pai dos Deuses" em algumas inscrições, mas outros textos antigos deixam claro que Enki concebeu a criação dos seres humanos que os deuses nasceram de Anu e Uras (Céu e Terra) ou, conforme o Enuma Elish babilônico, de Apsu e Tiamat (Água Doce e Água Salgada) ou de seus filhos Anshar e Kishar (também Céu e Terra). O acadêmico Stephen Bertman tenta esclarecer a posição de Enlil, escrevendo:

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Se Anu era o presidente celestial do conselho de administração, Enlil era o CEO, ou diretor-executivo, da corporação celestial. Sua sede cósmica estava localizada em Nippur. Seu assistente executivo era seu filho Nuska. Enlil/Ellil era um homem de família, casado com Ninlil (também chamada Sud), e com ela criou, entre outros, o deus-lua Nanna/Sin, o deus-sol Utu-Shamash, o deus do clima Ishkur/Adad e a deusa do amor Inanna/Ishtar. (118)

Embora essa explicação possa esclarecer um pouco, Enlil também é às vezes referido como filho de Enki e Ninki (Senhor e Senhora Terra e não Enki, o deus da sabedoria), enquanto Enki, o deus da sabedoria, é estabelecido como irmão gêmeo de Ishkur/Adad, o que o tornaria obviamente outro filho de Enlil, o que ele não era.

Além disso, embora Inanna seja frequentemente retratada como filha de Enki, ela também é mencionada como filha de Enlil. Todas essas aparentes contradições decorrem da longa história da Mesopotâmia e das diferentes culturas que adotaram os deuses sumérios e os transformaram em seus próprios deuses, com acréscimos e alterações em suas histórias. Às vezes, essas mudanças ampliam ou dão continuidade a histórias mais antigas, mas em várias épocas diferentes, os escribas da antiga Mesopotâmia simplesmente reescreveram os contos para atender a seus propósitos.

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A adoração a Enlil data do Período Dinástico Inicial I ( 2900-2800 a.C.) em Nippur e firmemente desde a época do Império Acádio (2334 - 2218 a.C.) até ele ser absorvido e assimilado ao deus Marduk durante o reinado de Hamurabi da Babilônia (1792-1750 a.C.). Mesmo depois dessa época, no entanto, ele continuou a ser amplamente honrado em toda a Mesopotâmia e, portanto, não é de surpreender que histórias diferentes, de regiões diferentes e de várias épocas, o retratem com características e detalhes diferentes.

Ele estava entre os deuses mais antigos e era considerado um dos Sete Poderes Divinos: Anu, Enki, Enlil, Inanna, Nanna, Ninhursag, Utu-Shamash. Sua importância como deus supremo por milhares de anos se reflete nos papéis que desempenha nos mitos mesopotâmicos e em seu epíteto Nunamnir, que se acredita significar "Aquele que é respeitado".

Enlil & Ninlil

No mito primitivo conhecido como Enlil e Ninlil, Enlil é visto como um jovem deus que vive na cidade de Nippur antes da criação dos seres humanos. Nessa história, Nippur é um centro urbano dos deuses e é governada pela lei divina. Ninlil (também conhecida como Sud) é uma deusa jovem e bela que se sente atraída por Enlil, assim como ele se sente por ela. A mãe de Ninlil, Nisaba (deusa da escrita e escriba dos deuses), a adverte para não ir se banhar no rio e encoraje os avanços do jovem Enlil, alertando-a contra os perigos de perder a virgindade. No entanto, Ninlil ignora esse conselho, vai ao rio e é seduzida por Enlil. Ela fica grávida e dá à luz o deus da lua Nanna. Enlil precisa então ir até Nisaba e pedir a mão de sua filha em casamento.

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NO MITO DE ANZU, ENLIL ERA VISTO COMO O EPÍTOME DA REALEZA, ATUANDO COMO MEDIADOR ENTRE OS PODERES SUPERIORES E O MUNDO MORTAL.

Depois, quando Enlil está andando pela cidade, ele é preso pelos outros deuses por ser ritualmente impuro e exilado da cidade para o submundo. No entanto, a acusação contra ele parece não ter nada a ver com a sedução de Ninlil. Ninlil também é presa e exilada e o segue para fora dos portões, mas a certa distância atrás dele. Enlil fala com cada um dos guardiões dos portões ou personagens importantes do submundo, instruindo-os a não dizer a Ninlil para onde ele foi, caso ela perguntasse.

Ele então se disfarça de cada um deles e, quando Ninlil se aproxima e pergunta para onde Enlil foi, ele diz que não vai lhe contar. Ninlil lhe oferece sexo em troca de informações, e ele concorda, embora, a cada vez que isso acontece, ele não lhe conte nada. Dessa forma, eles dão à luz as divindades Nergal, Ninazu e Enbilulu, deuses da guerra, da cura e dos canais, respectivamente. Em outros mitos, entretanto, esses três deuses têm pais diferentes e Ninazu, em especial, é mais conhecido como filho de Gula, deusa da cura. O deus-herói Ninurta também é às vezes representado como um de seus filhos, embora, nos mitos mais conhecidos, ele seja filho de Ninhursag e Enlil.

A história termina com um elogio a Enlil por sua virilidade, e acredita-se que o mito celebra a fertilidade da terra. As duas jovens divindades, desafiando as leis que as manteriam separadas, unem-se para produzir vida e, mesmo quando são banidas para o submundo, não podem se separar e continuam o ato criativo. Enlil, como o rebelde que desafia as leis dos deuses para perseguir seus próprios desejos, transforma-se em outros mitos na autoridade que exerce o poder da lei divina e cujos julgamentos não podem ser questionados.

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Enlil e o pássaro Anzu

No Mito Babilônico de Anzu (início do segundo milênio a.C.), Enlil é visto como o deus supremo que possui as Tábuas do Destino, objetos sagrados que legitimam o governo de um deus supremo e guardam os destinos dos deuses e da humanidade. O acadêmico E. A. Wallis Budge relata uma versão do mito:

O pássaro Zu [também conhecido como Anzu], símbolo da tempestade e da tormenta, era um deus do mal que travou uma guerra contra Enlil, o detentor das "Tábuas do Destino", por meio das quais ele governava o céu e a terra. Zu cobiçava essa tábua e decidiu tomá-la e governar em seu lugar. Zu observou sua oportunidade e, em uma manhã, quando Enlil havia tirado sua coroa, colocado-a em um suporte e estava lavando o rosto com água limpa, Zu arrancou-lhe a Tábua e voou com ela para as montanhas. Anu convocou os deuses para enfrentar Zu e tomar-lhe a Tábua, mas todos se recusaram e os assuntos do céu e da terra caíram em desordem. (111)

Nessa versão específica do mito, o herói Lugalbanda recupera as tábuas, enquanto em outras são Ninurta ou Marduk os campeões. Em cada versão, entretanto, Enlil é mostrado como o legítimo rei dos deuses, autorizado a agir pelas Tábuas do Destino e totalmente apoiado pelo deus supremo Anu. Sob essa luz, Enlil era visto como o epítome da realeza, atuando como mediador entre os poderes superiores e o mundo mortal. Mesmo assim, até Enlil podia ter um dia ruim e perder a paciência, conforme registrado no mito do Grande Dilúvio conhecido como Atrahasis.

O Atrahasis

No Atrahasis (século XVII a.C.), os deuses mais velhos levam uma vida de lazer enquanto forçam os deuses mais jovens a fazer todo o trabalho de manutenção do universo. Os deuses mais jovens não têm tempo para si e, por isso, Enki propõe que eles criem criaturas menores que trabalharão para eles. Quando eles não encontram material adequado para criar esses novos seres, o deus We-llu (também conhecido como llawela) se voluntaria para ser sacrificado e é morto. A deusa-mãe Ninhursag então amassa sua carne, sangue e inteligência em argila para criar 14 seres humanos: sete homens e sete mulheres.

Essas novas criaturas são colocadas na terra e, a princípio, funcionam exatamente como os deuses esperavam; elas fazem todo o trabalho de manutenção da terra e oferecem adoração e sacrifício aos deuses em agradecimento por suas vidas. No entanto, as criaturas se revelam excepcionalmente férteis e logo há centenas e milhares delas, que continuam a se multiplicar e começam a ficar cada vez mais barulhentas e a causar mais e mais problemas entre si.

The Atrahasis III Tablet
A Tabuinha de Atrahasis III
The Trustees of the British Museum (Copyright)

Enlil finalmente não consegue mais tolerar o barulho e decide diminuir a população. Ele envia uma seca, uma peste e uma fome para o povo, mas a cada vez eles pedem ajuda ao seu criador Enki, que secretamente os informa sobre o que fazer para se salvarem e devolverem o equilíbrio à Terra. Enlil não consegue entender o que está acontecendo, pois, de alguma forma, tudo o que ele envia contra as criaturas parece simplesmente ajudá-las a se multiplicar mais abundantemente e, por isso, ele decide destruir todas elas em um grande dilúvio.

Ele convence os outros deuses da necessidade de seu plano e o coloca em ação. Enki discorda, mas não pode fazer nada para mudar o decreto de Enlil, uma vez que ele tenha sido feito. Enki viaja para a Terra para sussurrar ao sábio Atrahasis sobre o que está por vir e lhe diz para construir uma arca e colocar nela dois de cada tipo de animal para salvá-los e a si. Atrahasis faz o que lhe foi dito, o dilúvio chega e a vida na Terra é destruída.

Enlil se arrepende quase que instantaneamente de sua decisão, e os deuses lamentam a morte de suas criaturas, mas nenhum deles pode fazer nada a respeito da situação. Enki então diz a Atrahasis para abrir a arca e fazer um sacrifício aos deuses, e ele o faz. O cheiro doce do sacrifício chega aos céus e Enlil, apesar de estar apenas chateado com o dilúvio, fica furioso com o fato de um humano ter sobrevivido. Ele se volta para Enki, que se explica e convida os deuses a se juntarem a ele para aceitar o sacrifício.

Enquanto comem, Enki propõe um novo plano pelo qual eles criarão novas criaturas que serão menos férteis e terão vida mais curta, e Enlil concorda. Os seres humanos são criados para experimentar a infertilidade, a mortalidade e as ameaças diárias à sua existência. Embora Enki seja considerado o criador, como a humanidade foi ideia dele, nada poderia ir adiante sem o consentimento de Enlil, e por isso ele era considerado o grande pai dos homens e das mulheres.

Adoração e assimilação com Marduk

Enlil continuou a ser adorado até o reinado de Hamurabi, quando o deus babilônico Marduk, filho de Enki, tornou-se supremo. Marduk, herói do Enuma Elish, foi representado derrotando as forças do caos, criando os seres humanos e a terra em que viviam e estabelecendo a lei e a agricultura. As qualidades mais importantes de Enlil (e algumas de Enki) foram absorvidas por Marduk, que então se tornou o rei dos deuses não apenas para os babilônios, mas, como filho de Assur, para os assírios.

Desde o início do período dinástico (2900-2334 a.C.) até o reinado de Hamurabi, Enlil era adorado em seu templo em Nippur, o local religioso mais importante no sul da Mesopotâmia, além de Eridu (associado a Enki). Conforme o estudioso Jeremy Black, Enlil era tão poderoso e inspirador que "os outros deuses não podiam nem mesmo olhar para o seu esplendor" (76). O hino conhecido como Enlil no E-kur (também Enlil A) descreve seu templo em Nippur como deslumbrante. De Nippur, sua adoração se espalhou para o norte, para Akkad e por toda a Suméria, com templos em Kish, Lagash, Babilônia e outras cidades. A adoração a Enlil, assim como a outros deuses da Mesopotâmia, concentrava-se no templo-zigurate e no complexo de templos, que serviam a vários propósitos para a comunidade.

Não havia cultos no templo, como se entende hoje, mas o templo ainda era um aspecto integral de cada cidade. As pessoas adoravam Enlil trazendo oferendas com súplicas ou em agradecimento por presentes dados, e a estátua do deus e o santuário interno eram cuidados pelo sumo sacerdote. Como era costume em toda a Mesopotâmia e no Egito, ninguém além do sumo sacerdote podia entrar na presença do deus ou comungar com ele no templo, e a interação da maioria das pessoas com suas divindades se dava por meio de rituais privados em casa ou em festivais públicos.

Diorite Mortar
Diorite Mortar
Osama Shukir Muhammed Amin (Copyright)

Depois que Enlil foi absorvido por Marduk, sua adoração diminuiu, mas ele ainda era homenageado em santuários em muitas cidades e, mesmo na Babilônia, entendia-se que Enlil e Anu haviam voluntariamente conferido seu poder e suas bênçãos a Marduk. Os templos de Enlil ainda estavam ativos durante a época do Império Neo-Assírio (912-612 a.C.), quando os deuses Assur, Marduk e Nabu eram considerados as divindades supremas. Conforme o acadêmico Adam Stone, "o poder de Enlil era claramente lembrado, pois até mesmo [esses deuses] eram chamados de 'Enlil assírio' ou 'Enlil dos deuses'" (2).

Após a queda do império assírio em 612 a.C., Enlil sofreu o destino de muitos deuses mesopotâmicos associados ao domínio assírio: suas estátuas foram destruídas e seus templos saqueados. Deuses que haviam conseguido transcender sua associação com a Assíria na mente do povo, como Marduk, continuaram vivos e, ao transferir as qualidades de Enlil para o deus mais jovem, Enlil sobreviveu com esse nome até cerca de 141 a.C., época em que a veneração a Marduk havia diminuído e Enlil foi esquecido.

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Perguntas e respostas

Quem era Enlil?

Enlil era o deus do céu sumério, senhor do ar e rei dos deuses que possuía as Tábuas do Destino, decretando o destino de deuses e humanos.

Por que Enlil é famoso?

Enlil é mais conhecido como o Rei dos Deuses que, enfurecido pela humanidade, envia o Grande Dilúvio para destruí-la no poema Atrahasis. Ele também aparece em vários outros mitos populares da Mesopotâmia.

O que significa o epíteto de Enlil, Nunamnir?

Acredita-se que Nunamnir signifique "Aquele que é respeitado", embora essa tradução não seja universalmente aceita.

Por quanto tempo Enlil foi adorado?

Enlil foi adorado desde pelo menos 2900 a.C. até cerca de 141 a.C.

Sobre o tradutor

Willian Vieira
Meu nome é Willian Vieira, mas sou conhecido como William Pesquisador devido à minha paixão por desvendar os mistérios das civilizações antigas. Minha jornada acadêmica me levou a um aprofundamento notável na Suméria, a primeira civilização da humanidade.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2017, janeiro 24). Enlil [Enlil]. (W. Vieira, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13054/enlil/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Enlil." Traduzido por Willian Vieira. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 24, 2017. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13054/enlil/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Enlil." Traduzido por Willian Vieira. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 24 jan 2017. Web. 20 dez 2024.