Semíramis

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Joshua J. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 18 agosto 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, Persa, espanhol
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Semiramis (by Mark Carroll Photography, Copyright)
Semíramis
Mark Carroll Photography (Copyright)

Semíramis é a lendária rainha que se acredita estar baseada na histórica Sammu-Ramat (r. 811-806 a.C.), a regente do Império Assírio que reinou em nome de seu filho, Adad-Nirari III, até que ele alcançasse a maturidade. Ficou conhecida também como Shammuramat ou Sammuramat. Vários historiadores antigos, incluindo Heródoto, Diodoro Sículo e Plutarco, a mencionam em suas obras.

Era esposa de Shamshi-Adad V (r. 823-811 a.C.) e, quando ele morreu, Semíramis assumiu o papel de regente até Adad-Nirari III chegar à idade adulta, quando assumiu o trono. De acordo com a acadêmica Gwendolyn Leick, “esta mulher alcançou fama e poder incríveis em sua vida e além. De acordo com os registros contemporâneos, ela tinha influência considerável na corte assíria” (155). Isso explicaria como foi capaz de manter o trono após a morte do marido. O Império Assírio não admitia mulheres em posições de autoridade e uma governante feminina seria impensável, a não ser que esta mulher em particular tivesse poder suficiente para assumir o trono e mantê-lo.

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As mulheres não eram admitidas em posições de autoridade no Império Assírio; Semíramis deve ter tido poder suficiente para assumir o trono e mantê-lo.

Este, porém, é precisamente o problema com o reinado de Sammu-Ramat: há muito pouca informação sobre o que fez e como o conseguiu, motivo pelo qual alguns estudiosos referem-se a ela simplesmente como "uma obscura senhora assíria do século VIII a.C. da qual nada sabemos por certo, exceto que é mencionada numa inscrição como a senhora do palácio" (rbedrosian.com, 2). Parece, no entanto, que foi muito mais do que isso e, ainda que pouco tenha sido deixado para registrar seu reinado, há o suficiente para sugerir que Sammu-Ramat esteve em pé de igualdade em relação aos predecessores e manteve o reino seguro após a morte do marido.

Os Antecedentes de Semíramis

Shamshi-Adad V foi o filho do rei Salmanasar III (ou Shalmanaser, r. 859-824 a.C.) e neto de Assurnasirpal II (r. 884-859 a.C.). Os reinados e campanhas militares bem-sucedidas dos antecessores proporcionariam a Shamshi-Adad V a estabilidade e os recursos para um início favorável de seu domínio, não fosse pela rebelião do irmão mais velho.

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O primogênito de Salmanasar III, Assur-danin-pal, aparentemente cansou-se de esperar pelo trono e lançou uma revolta contra o pai em 826 a.C. Shamshi-Adad V ficou ao lado do pai e esmagou a rebelião, mas isso levou seis anos. Quando se completou a derrota de Assur-danin-pal, a maior parte dos recursos com os quais Shamshi-Adad V poderia ter contado estavam perdidos e o Império Assírio encontrava-se enfraquecido e instável.

O Reinado de Semíramis

É nesta época que Sammu-Ramat aparece no registro histórico. Não se sabe em qual ano ela se casou com o rei mas, quando seu marido morreu e assumiu o trono, a rainha deu à nação a estabilidade de que necessitava. Historiadores especulam que, já que havia tanta incerteza entre o povo da Assíria, o bem-sucedido reinado de uma mulher teria despertado um tipo de admiração maior do que o de um rei, pois tratava-se de algo sem precedentes. Ela foi poderosa o suficiente para ter seu próprio obelisco esculpido e instalado em local de destaque na cidade de Assur. A inscrição diz o seguinte:

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Estela de Sammuramat, rainha de Shamshi-Adad, Rei do Universo, Rei da Assíria, Mãe de Adad Nirari, Rei do Universo, Rei da Assíria, Nora de Salmanasar, Rei dos Quatro Cantos do Mundo.

Desconhecemos o que Sammu-Ramat fez exatamente durante seu reinado, mas parece que iniciou vários projetos de construção e pode ter liderado pessoalmente campanhas militares. O acadêmico Stephen Bertman resume a maior parte, senão tudo, que é conhecido de seu reinado num simples parágrafo:

Semíramis (Sammuramat) era esposa de Shamshi-Adad V e mãe de seu sucessor, Adad-Nirari III. Ela deu o passo extraordinário de acompanhar seu marido em pelo menos uma campanha militar, e é mencionada de forma proeminente em inscrições reais. Graças aos floreios incluídos em sua biografia por historiadores gregos posteriores, tornou-se a mais famosa rainha da Assíria, lendária por sua beleza, crueldade e apetite sexual. (102)

Os "floreios" dos historiadores posteriores obscureceram tanto a figura histórica que é difícil, com exceção dos exemplos mais extremos, de separar a lenda dos fatos. Parece que, após a morte do marido, Semíramis continuou a liderar campanhas militares, embora esta alegação, como a maioria das referências ao seu reinado, tenha sido contestada.

Sejam quais forem suas realizações, Semíramis trouxe estabilidade ao império após a guerra civil e transmitiu ao filho uma nação segura e de tamanho considerável. Sabe-se que a rainha derrotou os medos e anexou seu território, possivelmente tenha conquistado os armênios e, de acordo com Heródoto, construiu os diques no Rio Eufrates, na Babilônia, que ainda eram famosos na sua época. O que mais realizou, porém, fundiu-se com o mito nos anos seguintes ao seu reinado. A historiadora Susan Wise Bauer comenta a respeito:

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A princesa babilônica Sammu-Ramat assumiu uma posição de poder. Uma mulher no trono assírio: nunca havia acontecido antes, e Sammu-Ramat sabia disso. A estela que construiu para si mesma vai a extremos para ligá-la a todos os reis assírios disponíveis. Ela é chamada não somente de rainha de Shamshi-Adad e mãe de Adad-Nirari, mas também “nora de Salmanasar, rei dos quatro cantos”. A manutenção de Sammu-Ramat no poder era tão impressionante que ecoou na distante memória de um povo que chegava à cena histórica. Os gregos lembraram-se dela, dando-lhe o nome grego de Semíramis. O historiador grego Ctésias diz que ela era filha de uma deusa-peixe, criada por pombos, que se casou com o rei da Assíria e deu à luz um filho chamado Nínias. Quando seu marido morreu, Semíramis traiçoeiramente reivindicou o trono. A história antiga preserva um eco do nome de Adad-Nirari em Nínias, o filho da lendária rainha; e não é a única a sugerir que Sammu-Ramat tomou o poder numa maneira não exatamente correta. Outro historiador grego, Diodoro, conta que Semíramis convenceu o marido a lhe dar o poder apenas por cinco dias, para verificar como se sairia. Quando ele concordou, ela mandou executá-lo e tomou a coroa dali por diante. (349)

Estas lendas referentes a Semíramis e seu casamento com Nínias (também conhecido como Ninus) inspiraram novas histórias sobre seu reinado. De acordo com o Gesta Treverorum (século XII d.C.), um relato da tribo alemã dos Tréveros (ou Treviros), Semíramis exerceu influência até sobre a antiga Germânia. Conforme a história, Nínias teve um filho de um casamento anterior, chamado Trebeta. Semíramis odiava o enteado e o via como uma ameaça. Após a morte de Nínias, ela o exilou ou ele, temendo por sua vida, deixou a Assíria com um grupo de seguidores e eventualmente fundou Tréveris, que se tornou uma das maiores cidades do Império Romano.

Outros relatos antigos, tais como os de Diodoro Sículo, também parecem ter combinado histórias mais antigas do reinado de Sammu-Ramat com mitos e lendas relacionadas à deusa Astarte e Ishtar/Inanna de forma que, com o tempo, a rainha histórica tornou-se a semidivina e mítica Semíramis. Esta teoria é contestada, porém, e há aqueles historiadores que alegam que Sammu-Ramat nada tem a ver com a figura posterior de Semíramis e até os que sustentam que ela nunca reinou como regente.

O historiador Wolfram von Soden, para citar somente um exemplo, escreve que “que Sammu-Ramat, a Semíramis da literatura grega, tenha sido temporariamente regente após 810 a.C., no entanto, não pode ser comprovado” (67). Von Soden não está sozinho nesta opinião, mas outros historiadores, tais como Bauer, são igualmente firmes em suas afirmações de que Sammu-Ramat não somente reinou no Império Assírio, mas foi a inspiração para os mitos e lendas a respeito de Semíramis.

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Queen Semiramis with Servants
Rainha Semíramis com Servos
Unknown (Public Domain)

Semíramis na Literatura

Ela permanece, portanto, como uma das figuras mais controversas da história antiga, principalmente a partir de meados do século XIX, quando o pastor cristão Alexander Hislop publicou seu livro As Duas Babilônias (originalmente em 1853 e numa edição mais popular em 1858), relacionando Semíramis com a Prostituta da Babilônia do capítulo 17 do Livro do Apocalipse bíblico. Ainda que As Duas Babilônias seja claramente propaganda anticatólica e não tenha precisão histórica ou bíblica, continua a ser citado em certas obras protestantes como autoridade sobre o tema e, assim, acaba contribuindo para a controvérsia em torno de Semíramis.

O livro afirma, para citar apenas dois exemplos de falta de exatidão bíblica, que Semíramis era esposa de Nimrod, ainda que o capítulo 10 do Gênesis nada diga a respeito e, na sua alegação mais famosa, insiste que Semíramis é a Prostituta da Babilônia, mesmo que seu nome não seja mencionado em nenhum trecho da Bíblia. As imprecisões históricas da obra são numerosas demais para serem citadas. Ainda assim, o livro continua a exercer influência poderosa sobre certos leitores e sua compreensão da história antiga em geral e especificamente sobre Semíramis.

A possibilidade de que Sammu-Ramat seja o modelo para Semíramis continua a ser debatida por historiadores modernos, que com frequência citam as mesmas inscrições antigas para defender argumentos conflitantes. Ao que parece, este debate não será resolvido tão cedo. Baseando-se simplesmente na evidência de que Sammu-Ramat conseguiu erguer sua própria estela na prestigiosa cidade de Assur, no entanto, pode-se concluir que ela era uma rainha assíria bastante impressionante e poderosa, que ficou conhecida para as gerações posteriores como Semíramis.

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Perguntas e respostas

Quem é Semíramis?

Semíramis é uma lendária rainha assíria cujo reinado tornou-se famoso por obra de autores gregos posteriores. Acredita-se que a lenda é baseada na histórica rainha regente Sammu-Ramat (r. 811-806 a.C.).

Por que Semíramis é famosa?

Semíramis é famosa como a maior rainha da Antiguidade, nascida dos deuses e criada por pombas, que teria construído as cidades mais poderosas e as fortalezas e monumentos mais impressionantes. É uma grande figura mítica.

Semíramis realmente existiu?

Acredita-se que o reinado fabuloso de Semíramis é baseado no reinado histórico da rainha assíria Sammu-Ramat (811-806 a.C.).

Semíramis é mencionada na Bíblia?

Semíramis não é mencionada literalmente na Bíblia, mas alguns autores protestantes imaginaram que isso ocorreu, e a igualaram à Prostituta da Babilônia do Livro do Apocalipse.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Joshua J. Mark
Joshua J. Mark é cofundador e diretor de conteúdos da World History Encyclopedia. Anteriormente, foi professor no Marist College (NY), onde lecionou história, filosofia, literatura e redação. Ele viajou bastante e morou na Grécia e na Alemanha.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, J. J. (2014, agosto 18). Semíramis [Semiramis]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13169/semiramis/

Estilo Chicago

Mark, Joshua J.. "Semíramis." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação agosto 18, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13169/semiramis/.

Estilo MLA

Mark, Joshua J.. "Semíramis." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 18 ago 2014. Web. 24 dez 2024.