A Arquitetura Maia tem como principais características os altivos templos piramidais e palácios ornamentados construídos em todos os centros deste povo através da Mesoamérica, desde El Tajín, ao norte, até Copán, ao sul. A Civilização Maia compunha-se de cidades-estados independentes e, consequentemente, havia variações arquitetônicas regionais, mas quase todas as construções seguiam orientações precisas em relação à posição e projeto e prevalecia um estilo geral.
As características da arquitetura maia incluem plataformas elevadas em vários níveis, pirâmides massivas em degraus, abóbodas em mísula e escadarias monumentais. Os exteriores eram decorados com esculturas e moldes de glifos da escrita maia, padrões geométricos e iconografia religiosa, tais como máscaras de serpentes. De maneira interessante, ao contrário de tantas outras culturas, a arquitetura maia não faz muita distinção entre construções religiosas e não-religiosas.
Influências e Materiais
Os maias certamente tinham conhecimento e admiravam as culturas mesoamericanas que os haviam precedido, especialmente a Civilização Olmeca e a de Teotihuacan e, assim, inspiraram-se nesta herança regional ao desenvolver sua própria arquitetura.
Os arquitetos maias utilizavam materiais locais prontamente disponíveis, tais como calcário em Palenque e Tikal, arenito em Quirigua e tufo vulcânico em Copán. Para cortar os blocos, usavam somente ferramentas de pedra. Empregava-se o cimento de cal para criar uma forma de concreto e, ocasionalmente, como argamassa, assim como a lama. As superfícies exteriores eram rebocadas com estuque e decoradas com altos-relevos ou esculturas tridimensionais. As paredes podem ter finas camadas de lajes de cantaria colocadas sobre um núcleo de entulho, uma caraterística dos edifícios da região de Puuc. Geralmente, as paredes das construções maias são retas e produzem ângulos retos, mas uma idiossincrasia notável pode ser vista na Casa do Governador em Uxmal (século X), na qual as paredes externas inclinam-se para fora à medida que sobem (o chamado talude negativo). Todo o exterior seria então coberto com estuque e pintado com cores brilhantes, especialmente vermelho, amarelo, verde e azul. Em geral, a decoração das paredes interiores trazia representações de batalhas, governantes e cenas religiosas. Os telhados de mansardas eram típicos e imitavam as coberturas inclinadas de colmo das residências mais modestas, feitas com madeira e galhos, que abrigavam a maioria da população.
As mais antigas estruturas monumentais maias estão na região de Petén, tal como a pirâmide do século I d.C., situada em Uaxactun e conhecida como E-VII-sub, composta por pirâmides baixas com degraus dos quatro lados, erguendo-se para uma plataforma elevada. Buracos de postes nas plataformas indicam que superestruturas de material perecível foram instaladas ali. As pirâmides também ostentam decoração escultural, como máscaras, no caso da E-VII-sub. Mesmo nestes estágios iniciais as construções seguiam planos precisos conforme eventos como os solstícios ou equinócios de inverno e verão. Além disso, o contorno das estruturas, quando vistas de cima, deliberadamente formavam ou lembravam glifos maias para, por exemplo, datar a conclusão e época da construção. De fato, construíam-se muitas estruturas para comemorar especificamente o aniversário de períodos temporais importantes do calendário maia, como o katun (20 anos).
Planejamento Urbano
Os sítios maias apresentavam evidências de planejamento urbano deliberado e os monumentos são em geral distribuídos num padrão radial que incorporava grandes praças. A topografia muitas vezes determinava onde os maiores edifícios seriam erguidos – por exemplo, em Palenque, onde foram utilizadas elevações rochosas naturais –, mas também podiam ser conectados através de caminhos elevados e cobertos com estuque (bajos) no interior de um complexo sagrado. Os edifícios em si orientavam-se, por exemplo, ao longo de um eixo norte-sul, posicionados de forma a acompanhar eventos solares e celestiais ou linhas de observação. Algumas construções tiravam partido de panoramas naturais ou até imitavam a vista em si mesmos, como ocorre no campo do jogo de bola de Copán.
Pirâmides
Pirâmides maias erguendo-se acima da selva circundante, a exemplo do Templo IV de Tikal, com 65 metros de altura (século VIII), estão entre as mais famosas imagens das antigas civilizações das Américas. Elas eram usadas não somente como templos e pontos focais para as práticas religiosas dos maias, nas quais se faziam oferendas para os deuses, mas igualmente como gigantescas tumbas para os governantes falecidos, suas esposas, vítimas de sacrifícios e artigos preciosos. As pirâmides também costumavam ser periodicamente aumentadas, de forma que seus interiores, uma vez escavados, revelam algumas vezes uma série de construções menores, em geral mantendo ainda a decoração original em estuque. Em acréscimo, santuários individuais podiam ser unidos com o tempo num único complexo gigante, pois os governantes maias tentavam impressionar seus súditos, deixando uma marca duradoura de seu reinado. Um bom exemplo deste procedimento pode ser visto na Acrópole Norte de Tikal.
O Templo das Inscrições de Palenque, construído por volta de 700, é um modelo perfeito da estrutura dos templos maias. Uma escadaria íngreme sobe vários andares até uma plataforma elevada, encimada por uma estrutura com várias câmaras. A pirâmide é rica em significados simbólicos, com nove níveis exteriores representando os nove níveis de Xibalba, o submundo maia, e uma passagem secreta com 13 níveis que desce até ao túmulo do rei K'inich Janaab' Pakal (também conhecido como Pakal, o Grande), no interior, representando os 13 níveis dos céus maias. Em contraste com esta abordagem padrão, a Pirâmide do Mágico, em Uxmal (após 600) distingue-se por seus cantos arredondados, que a fazem quase oval em formato quando vista de cima, tornando-a única na arquitetura maia. Outras duas características comuns das pirâmides maias são são o chanfro ou ranhura horizontal profunda à volta de cada plataforma e os cantos arredondados. O efeito geral destes enormes monumentos é representar uma montanha, pois os maias as consideravam sagradas.
Palácios
As maiores construções maias usadas como palácios ou centros administrativos, como os templos, com frequência têm seções com telhados em mísula - ou seja, pedras chatas empilhadas uma sobre a outra, ligeiramente sobrepostas para que formassem um intervalo estreito o suficiente para ser coberto com uma única pedra. O suporte adicional a estas abóbodas instáveis era dado pelo acréscimo de traves de madeira transversais. Esta técnica se tornou mais refinada em Palenque, onde a parede central das passagens em mísula podiam suportar estruturas em crista no telhado exterior, que apresentavam um efeito de treliça em pedra. O uso de tetos em mísula também pode ser visto nas câmaras fúnebres internas de algumas pirâmides, principalmente no túmulo de Pakal, o Grande, nas profundezes do Templo das Inscrições, em Palenque. Uma inovação adicional para aumentar a integridade estrutural do telhado é encontrado em Uxmal, especialmente no Quadrângulo do Convento (antes de 1000), que conta com pedras em formato de botas em suas abóbodas.
O Quadrângulo do Convento de Uxmal traz um bom exemplo de como as residências reais maias também tinham funções religiosas e seu projeto, assim como nos templos piramidais, representava a visão do universo desta civilização. O prédio norte do Convento possui 13 entradas - os níveis dos céus; o prédio sul tem 9 - os níveis de Xibalba; e o situado a oeste conta com 7 - o número místico maia da terra.
As construções de maior porte podiam ter colunatas (ou, com mais frequência, pilares) e torres. O melhor exemplo existente é o palácio em Palenque com sua torre em três andares, única em seu gênero. Em geral os prédios trazem múltiplas entradas e com ombreiras e linteis de madeira (usualmente sapotizeiro) ou pedra. Também podem apresentar altos-relevos de governantes; excelentes exemplos podem ser vistos em Yaxchilán. Alternativamente, as entradas são esculpidas para representar, por exemplo, a boca de um monstro feroz, como na Estrutura 22 em Copán e na Pirâmide do Mágico, em Uxmal. Estas entradas representam os acessos de cavernas sagradas, tradicionalmente consideradas como portais para outro mundo. Finalmente, além dos muros, alojamentos, cozinhas e oficinas, alguns palácios, como em Palenque, também exibem aspectos luxuosos, tais como lavatórios e saunas.
Campos de Jogo de Bola
Usado para as partidas do jogo de bola, que envolvia duas equipes tentando atirar uma bola de borracha através de um anel suspenso sem o uso de mãos ou pés, o mais esplêndido campo do Período Clássico Maia encontra-se em Copán. Construído por volta de 800, sua inclinação elegante emoldura perfeitamente a visão das colinas distantes. O campo de Uxmal é incomum, pois seus lados são verticais e, em Tikal, há um exemplo único de um campo triplo. O jogo de bola da Mesoamérica podia ter um significado religioso, com os perdedores sendo sacrificados aos deuses, e a orientação do campo, desta forma, tipicamente é feita no sentido norte-sul – respectivamente, os mundos celeste e subterrâneo – como parte integral do complexo sagrado da cidade.
Legado
Os maias passariam o bastão arquitetônico das culturas mais mesoamericanas mais antigas para as subsequentes, tais como as dos toltecas e astecas, especialmente nos centros de Xochicalco, Mitla e Tenochtitlán. A influência maia estendeu-se até o século XX, quando arquitetos renomados, como Frank Lloyd Wright e Robert Stacy-Judd incorporaram elementos da arquitetura desta civilização em seus projetos.