Xibalba

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Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 21 outubro 2014
Disponível noutras línguas: Inglês, bósnio, francês, espanhol
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Maya Urn with Jaguar Figure & Skulls (by Walters Art Museum, CC BY-SA)
Urna Maia com Figura de Jaguar e Crânios
Walters Art Museum (CC BY-SA)

Xibalba foi o nome que os quiché maia deram ao submundo. Para os maias yucatecas, o submundo era conhecido como Metnal. O nome Xibalba pode ser traduzido como “Lugar do Terror”, o que indica o pavor que inspirava na imaginação dos maias. Não havia, infelizmente, muita chance de escapar dele. Noções tais como a de que levar uma vida correta e evitar o tormento eterno por não fazer coisas ruins não faziam parte do sistema de crenças dos maias, pois somente aqueles que tinham mortes violentas evitavam Xibalba. Este mundo subterrâneo era realmente pavoroso, fortemente associado com água; tinha sua própria paisagem, deuses e predadores sedentos de sangue. Tornou-se também o cenário de muitas aventuras de heróis da mitologia maia, especialmente os Heróis Gêmeos.

A Geografia de Xibalba

Para os maias, Xibalba localizava-se a oeste, o que justifica o grande número de sepultamentos feitos nas ilhas de Campeche, situada na extremidade da costa oeste de Yucatán. Entrava-se no submundo através de uma caverna ou região de água parada em Tlalticpac – a superfície da terra e o primeiro dos nove níveis do mundo subterrâneo. A Via Láctea também era considerada uma entrada para Xibalba, uma estrada por onde as almas caminhavam para encontrar seu destino. A crença nos nove níveis do submundo está representada nas pirâmides de pedra gigantes dos maias, construídas como tumbas para seus reis, e que com frequência possuem nove andares. Isso pode ser observado, por exemplo, no Templo das Inscrições em Palenque, no Templo I de Tikal ou na Pirâmide de Kukulcán, em Chichén Itzá.

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Em Xibalba a carne se desmancha, os olhos pendem das órbitas e as funções corporais ficam descontroladas.

Os maias acreditavam que um grupo de deuses (possivelmente 9 ou 14), conhecidos coletivamente como senhores do submundo, governavam Xibalba. Eles possuem nomes apavorantes, tais como 1 Morte e 7 Morte (os mais importantes), Mestre de Pus, Cetro de Osso, Cetro de Crânio, Mestre da Icterícia, Coletor de Sangue e Garras Sangrentas. Muitos desses senhores ocasionalmente subiam até o mundo dos vivos e espalhavam miséria e doença. Para os maias, cada deus astronômico tinha sua própria manifestação no submundo. Por exemplo, o Deus Solar K'inich Ajaw, quando atravessava o submundo à noite, tornava-se o Deus Jaguar do Submundo. O livro religioso mais importante dos maias, Popol Vuh, descreve alguns detalhes sobre a geografia no interior de Xibalba. O mundo subterrâneo é vasto, com uma paisagem tão variada quanto a do mundo dos vivos. Existem dois grandes rios, talvez mais, que o atravessam. Para alcançar o nono nível de Xibalba, os mortos precisam encarar muitas provas e perigos. Neles se incluem a travessia de águas perigosas e altas montanhas, rios de sangue, ataques de facas e flechas de obsidiana que giram e mesmo o sacrifício do coração. Para ajudar a alma a sobreviver a tamanha provação, os mortos eram sepultados ou cremados com peças úteis de equipamento, tais como armas, ferramentas, kits de costura, artigos preciosos como jade, alimentos substanciais, como chocolate quente, e até mesmo cachorros (reais ou efígies de cerâmica) para atuar como companheiros e guias.

Pakal the Great & Xibalba
Pacal, o Grande e Xibalba
Marcellina Rodriguez (Copyright)

Xibalba no Popol Vuh

Como vimos, os maias esperavam enfrentar várias provas em Xibalba e somente se usassem suas habilidades e inteligência teriam a chance de escapar dos terríveis demônios e dos testes que os aguardavam. Uma das histórias mais famosas envolve o Deus do Milho (Hun Hunahpu ou 1 Ajaw) e seu irmão 7 Hunahpu. Certo dia, um barulhento jogo de bola da dupla irritou os senhores do submundo, que os convocaram para descer a Xibalba. Após sofrerem muitas provas e terrores, os irmãos jogaram outra partida. Desta vez eles perderam e acabaram sacrificados e sepultados embaixo da quadra, enquanto a cabeça do Deus do Milho foi colocada num cabaceiro ou numa árvore de cacau. Mais tarde, a irmã de um dos senhores do submundo, Donzela de Sangue, viu a cabeça e, após uma breve conversa e a cabeça cuspir em sua mão, ela miraculosamente engravidou de gêmeos. Estes irmãos eram Hunahpu (ou Hun Ajaw) e Xbalanque (ou Yax Bahlam), os famosos Heróis Gêmeos da mitologia maia, que ganhariam fama como grandes caçadores, autores de trotes e excelentes jogadores de bola.

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A história se repetiu e os Heróis Gêmeos, como seu pai e tio, foram convocados para Xibalba. Após serem mantidos prisioneiros em terríveis câmaras com Morcegos Mortais, jaguares, frio extremo e fogo, também tiveram de jogar uma partida de bola. A dupla venceu, mas isso de nada lhes serviu, pois acabaram executados de qualquer forma ou, mais exatamente, os senhores do submundo esperavam matá-los, mas os gêmeos foram mais rápidos e pularam num fogaréu. Este resultado não agradou aos deuses do mundo externo, que trouxeram a dupla de volta à vida. Agora disfarçados como dançarinos, os gêmeos espalharam o caos em Xibalba, mataram os senhores do submundo e conseguiram inclusive ressuscitar seu pai, o Deus do Milho. Os três, junto com um grupo animado de donzelas nuas e carregados com tesouros, usaram uma canoa para finalmente escapar de Xibalba e retornar à terra dos vivos. Todo o mito é, provavelmente, uma vívida metáfora do plantio das sementes de milho na terra e seu subsequente crescimento na superfície da terra.

Temple of the Inscriptions, Palenque
Templo das Inscrições, Palenque
Jan Harenburg (CC BY)

Xibalba na Arte e Arquitetura

Os vários deuses e personagens dos mitos referentes a Xibalba estão retratados com frequência na arte maia, por exemplo em decorações de cerâmicas, relevos em pedra, ossos entalhados e pinturas em cavernas – especialmente em Naj Tunich. As almas no submundo são retratadas na maior parte das vezes de forma chocante. A carne se desmancha, os olhos pendem das órbitas e as funções corporais estão descontroladas. Uma das mais impressionantes representações de Xibalba pode ser vista no sarcófago datado de c. 683 do rei de Palenque, Pakal, o Grande, descoberto no interior do Templo das Inscrições. Nele o governante morto é mostrado caindo de costas nas imensas e escancaradas garras de centopeia do submundo. O mundo subterrâneo também aparece na arquitetura maia. As pirâmides que tinham o propósito de abrigar tumbas, como assinalado acima, possuem plataformas para representar os nove níveis do submundo. Pode-se citar também a quadra de jogo de bola de Utatlán, que se acredita representar Xibalba, e o Edifício Sul do complexo do Convento, em Uxmal, com seu nível inferior e nove entradas, o que também seria uma forma de mostrar visualmente o submundo.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2014, outubro 21). Xibalba [Xibalba]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13331/xibalba/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Xibalba." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 21, 2014. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13331/xibalba/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Xibalba." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 21 out 2014. Web. 21 dez 2024.