Lucius Annaeus Seneca (Seneca o Jovem, 4 AEC - 65 EC) foi um autor romano, dramaturgo, orador e, sobretudo, tutor e conselheiro do imperador Nero (54-68 EC). Influenciado pela filosofia estóica, ele escreveu diversos tratados filosóficos e 124 cartas em questões morais, a Epistulae Morales (Epístolas Morais). Como tutor de Nero, ele tentou transmitir sua filosofia de uma vida virtuosa, e com a ajuda do prefeito da Guarda Pretoriana, Burrus, ele tentou manter as indulgências de Nero sobre controle. Apesar de seus esforços, e sendo falsamente acusado de ter feito parte de uma conspiração para assassinar o imperador, ele foi condenado a cometer suicídio pelo paranóico Nero.
Juventude & Exílio
Nascido em Cordoba, Hispania (Espanha) em 4 AEC, Seneca nasceu de uma rica familia de origem italiana, o que naturalmente fez dele um cidadão romano. Ele tinha dois irmãos, uma mãe, Helvia, e um famoso pai, Seneca, o Velho, um autor e professor de retórica. Seneca passou seus anos de formação estudando gramática e retórica em Roma e lá ele desenvolveu o longo interesse em filosofia, participando de palestras sobre o Estoicismo, uma filosofia grega condizente com sua personalidade e evidente em todos os seus tratados. De acordo com um dos seus proponentes, Epicteto, uma pessoa deve viver uma vida de tranquilidade, serenidade e compostura, e a paz de espiríto poderia ser alcançada por meio do autocontrole.
Sempre bastante doente, Seneca viajou para o Egito para viver com sua tia, retornando a Roma em 31 EC. Foi após o seu retorno à cidade que ele ganhou reputação como orador, eventualmente tornando-se um questor. Infelizmente, ele entrou em conflito com os imperadores Calígula (que reinou de 37 até 41 EC) e Claúdio (reinou de 41 até 54 EC). Ele estava supostamente implicado em um adultério com Julia Luvilla, a irmã mais nova de Calígula, e foi banido para a Córsega em 41 EC. Entretanto, enquanto estava em exílio não ficou inerte: continou seus estudos em filosofia e escreveu uma série de tratados.
Em 49 EC, ele foi chamado de volta a Roma por meio da influência de Agrippina, a Jovem, irmã de Calígula e mãe do futuro imperador Nero. No seu livro "Anais", Tácito escreveu sobre esse retorno:
Então ela assegurou o retorno de Lucius Annaeus Seneca do exílio e a sua convocação para o pretorado. Ela julgou que, devido a sua eminência literária, isso seria popular. Ela também tinha planos com ele como um renomado tutor para seu jovem filho Lucius Domitius Ahenobarbus (Nero). Os conselhos de Seneca poderiam servir para o plano deles para a supremacia... (255)
Tácito acrescentou que ela acreditava que ele seria devoto a ela - devido ao seu retorno - e hostil ao seu marido, Claúdio, que havia o havia exilado. Seguro em sua posição como tutor e conselheiro para o futuro imperador, Seneca casou-se com Pompeia Paulina. Também foi durante esse período que ele ficou íntimo com o prefeito da Guarda Pretoriana, Sextus Afranius Burrus. Foi uma amizade que eventualmente beneficiaria ambos. Tácito os considerou como "parceiros no poder".
Tutor de Nero & Conselheiro
Quando o jovem Nero fez 12 anos, Seneca assumiu suas tarefas como tutor de Nero, e com Burrus como seu aliado, eles se tornaram conselheiros do jovem imperador, tentando controlar suas indulgências e ensinar a ele como governar sabiamente. Ambos exerceram extrema influência no jovem que seria imperador, mas utilizaram métodos totalmente diferentes. Tácito escreveu que a força de Burrus estava na sua "seriedade de caráter" e eficiência, enquanto Seneca era um homem de altos princípios.
Eles colaboraram em controlar a perigosa adolescência do imperador; a política deles era direcionar os desvios de virtude em indulgências autorizadas. A violência de Agrippina, inflamada por todas as paixões de tirania ilícita, encontraram a oposição deles. (285)
Além de escrever os discursos de Nero, Seneca ensinaria o seu jovem protegido filosofia e literatura, com a esperança de que esses assuntos o guiariam a praticar um bom governo. O famoso orador também iria despertar nele o amor à música e ao teatro; um feito que faria seus pares se lamentarem um dia. Um curioso comentário na definição de Seneca sobre bom governo: o imperador teria que tolerar a animosidade daqueles que o cercam. Uma pessoa deve saber a diferença entre um bom imperador e um tirano.
A história mostrou que Nero não escutou os conselhos do seu professor. Finalmente, com a morte do imperador Cláudio em 54 EC, Nero tomou o trono na tenra idade de 17. Lamentavelmente, pelo menos para o imperador, seu poder não seria exercido sozinho, uma vez que sua mãe acreditava que a influência dela deveria continuar. Ela em breve aprenderia que não seria assim. A morte dela iria mudar tudo não apenas para Nero, mas também para Seneca e Burrus. Nero estava agora livre para ser quem ele quisesse e para executar seus desejos íntimos.
Após a morte da mãe dele, Nero enviou uma carta para o Senado a condenando, acusando Agrippina, entre outras coisas, de conspirar para matá-lo. De acordo com a carta, a morte dela era "providencial".
O Senado, claramente, não aceitou as acusações do imperador, e de acordo com Tácito, a "condenação caiu não sobre Nero, cuja monstruosa conduta tornou as críticas inevitáveis, mas em Seneca, que havia escrito o discurso auto-incriminador" (318). Infelizmente, o incidente manchou a reputação do orador, e as coisas só iriam piorar. Em 62 d.C. Burrus morreu, supostamente, de acordo com o historiador romano Suetonius, por veneno, fazendo Seneca questionar seu próprio destino. Ele logo percebeu que sua influência em Nero estava desaparecendo. Gradualmente, ele se afastou da vida pública, dedicando-se a escrever tratados sobre a filosofia estóica. Implicado na conspiração de Pisão para assassinar o imperador, Seneca foi ordenado para cometer suicídio. No seu Vida dos Doze Césares, Suetonius escreveu:
Quando o seu professor Seneca repetidamente pediu para se retirar para se aposentar e havia entregado todas as suas propriedades, Nero jurou que ele não tinha nenhum motivo para suspeitar do velho homem, a quem ele preferiria morrer do que ferir; mas ele o fez cometer suicídio, não obstante. (229)
Morte
Devido às suas fortes convicções estóicas, Seneca morreu com dignidade em 65 EC. Seneca havia aprendido por meio dos ensinamentos do filósofo grego Epicuro que ninguém deveria ter medo da morte. Quando o dia chegou, ele se despediu dos seus amigos e abraçou sua esposa. Ela havia planejado morrer com ele, mas Nero deu ordens para pará-la. A morte dele não viria facilmente. Ele cortou as artérias dos seus braços mas, devido a sua dieta frugal e frágil estrutura, ele não morreria. Ele tomou veneno - como havia feito o famoso filósofo grego Sócrates - e então foi colocado em banho quente, onde ele foi sufocado pelo vapor.
O corpo dele foi enterrado sem ritos funerários. De acordo com Tácito:
...O corpo velho de Seneca, magro pela vida austera, derramava o sangue muito lentamente. Então ele também cortou as veias dos seus tornozelos e atrás dos seus joelhos. Exausto pela dor severa, ele estava com medo de enfraquecer a resistência da sua mulher traindo sua agonia —- ou de perder o seu autocontrole... (376)
Trabalhos & Filosofia
Embora alguns foram perdidos, seus escritos perduraram pelos tempos e influenciaram incontáveis filósofos e autores de prosa e poesia. A maioria se esquece de que ele também era um dramaturgo assim como era um filósofo. Suas nove peças - frequentemente referidas como tragédias "fechadas" - lidavam com heróis da mitologia grega, como Heracles (Hércules na mitologia romana), Édipo e Medeia.
A maioria dos seus tratados foram escritos como diálogos éticos, frequentemente para seu amigo Lucilius. Seus trabalhos mais importantes incluem:
- Epistulae Morales (Epístolas Morais) - a mais longa dos seus trabalhos de prosa, escritas por volta de 65 EC, que incluem 124 breves sermões em 20 livros, abarcando uma variedade de tópicos que vão do vegetarianismo até o tratamento humanitário dos escravos
- De Vita Beata - sobre como viver uma vida feliz
- De Beneficiis - um tratado sobre o código social de Roma
- De Tranquillitate Animi - sobre a tranquilidade da mente
- De Brevitate Vitae - sobre a brevidade da vida
- De Consolatione ad Polybium - escrito para o antigo escravo de Claúdio com a esperança de usar sua influência para retornar do exílio
- De Consolatione ad Helviam - escrito para sua mãe Helvia durante seu tempo no exílio
- De Clementia - sobre a misericórdia, escrito para Nero, aconselhando-o a praticar a virtude
- De Ira - sobre a raiva
- De Consolatione ad Marciam - ensinamentos estóicos para uma mulher que perdeu seu filho
- De Providentia - sobre a providência
- De Constantia Sapienti - ensaio adotando a força interior do homem sábio
- De Otio - sobre o ócio
A morte foi um tema proeminente em vários dos seus escritos, e durante todas as suas cartas ele promoveu suas convicções estóicas. Para Seneca, a morte era libertadora, parte do ciclo natural da vida: "É tolice morrer de medo da morte." (Romm, 77) Nas suas Epístolas Morais, ele escreve para Lucilius:
Aqueles que aprenderam como morrer desaprenderam a ser escravos. É o poder acima e além de todos os outros poderes... Só há uma cadeia que nos mantém em cativeiro: o amor à vida. (2-3)
Seneca sofreu de uma condição respiratória durante toda a sua vida e contemplou até mesmo o suicídio. Para ele, se uma pessoa acreditava que havia pouca esperança, o suicídio era uma resposta possível. "... se o corpo de uma pessoa se torna inútil para executar suas funções, não é apropriado manter a mente lutadora fora disso?" (72)
Entretanto, ele não acabaria com sua própria vida por causa de uma doença se houvesse uma cura, mas ele consideraria isso se ele tivesse perdido sua mente e só pudesse respirar. Ele acrescentou, "Você acha que existe algo mais cruel de perder na vida do que o direito de terminá-la?" (73)
Em uma carta endereçada à Márcia (De Consolatione ad Marciam), ele escreveu:
A morte é o término de todos os nossos pesares, um fim para além do qual os nossos males não podem ir; isso nos retorna com aquela paz em que nós repousamos antes de nascermos. (13)
Se uma pessoa se compadece com os mortos então essa pessoa precisa também compadecer com aqueles que não nasceram. Uma pessoa deve saber como morrer bem. Ninguém parte alegremente exceto aqueles que se prepararam. Ele escreveu para Lucillius falando sobre sua própria preparação:
Por minha parte, eu não recusaria alguns anos a mais. Mas eu direi que não sinto falta de nada que me renderia uma vida feliz... Eu considero cada dia como se fosse meu último. (49)
Seneca viveu e morreu aderindo aos seus fortes princípios estóicos. Morrendo com dignidade, ele não temeu a morte. Foi uma parte do ciclo natural da vida.
Legado
Os tratados de Seneca repousam em seus pensamentos sobre como uma pessoa deveria ser, vivendo uma vida de tranquilidade, serenidade e compostura. Como tutor e conselheiro do jovem imperador Nero, ele tentou transmitir sua filosofia de uma vida virtuosa; seja um bom líder, não um tirano. Infelizmente, seu ensinamento caiu em ouvidos surdos. Após a morte de Agrippina, Nero ficou livre para fazer o que quisesse e se tornou o déspota que Seneca tentou prevenir. Embora não tenha feito parte da conspiração de Pisão para assassinar Nero, os dias de Seneca estavam contados. O imperador paranóico que via conspirações em todo canto estava limpando o terreno, e seu velho tutor se tornou uma vítima. Felizmente, as cartas de Seneca sobreviveram. Elas influenciaram incontáveis gerações de escritores.