O Primeiro Triunvirato da Roma antiga foi uma aliança instável entre os três titãs - Júlio César, Pompeu e Crasso - que, de 60 a.C. até 53 a.C., dominou a política da República Romana. Alianças têm sido sempre uma parte da história. A união de Esparta e Atenas contra os Persas, no 5° século a.C. ou as forças aliadas da Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial mostram que nações e indivíduos - mesmo ex-inimigos - têm buscado assistência mútua por uma razão ou outra a fim de superar um adversário comum. A Roma antiga não era diferente. Uma República instável, à beira da guerra civil, levou trio a colocar de lado suas diferenças e até mesmo o desprezo de um sobre o outro para juntar forças e dominar o governo de Roma, inclusive controlando eleições, por quase uma década. Um deles iria eventualmente elevar-se acima dos demais e se tornar ditador. Seu nome era Caio Júlio César. Contudo, isso estava a vários anos adiante. No momento, ele participava do que os historiadores modernos vieram a chamar de Primeiro Triunvirato.
Caos em Roma
A República enfrentava dificuldades. O caos reinava na ordem política romana. Havia violência nas ruas e distúrbios civis. Para alguns, a cidadania romana estava em declínio, vítima da decadência moral. O estadista, filósofo e poeta Marco Túlio Cícero havia inclusive exposto uma conspiração liderada por um proeminente senador, Lúcio Sérgio Catilina, para derrubar a liderança romana. Muitos acreditavam que era apenas uma questão de tempo antes que a República caísse. Porém, três homens, frequentemente referidos como uma "Gangue de Três", aproveitou a oportunidade de ganho pessoal, formando uma aliança ou triunvirato que iria eventualmente transformar o governo. A despeito de diferenças individuais e pura animosidade, este "monstro de três cabeças" iria permanecer no controle, inclusive através de subornos e ameaças, para dominar tanto o consulado quanto os comandos militares.
Os Membros do Triunvirato
Os três homens que iriam alterar a face da política romana eram Cneu Pompeu Magno (Pompeu), Marco Licínio Crasso e Caio Júlio César. Cada um tinha suas próprias razões para a atuação em conjunto, percebendo que não poderiam atingir seus objetivos sozinhos. Tinham conquistado sucesso pessoal, mas queriam mais gloria e dignitas (glória e dignidade). Portanto, em 60 a.C. o trio uniu seus recursos, colocou de lado suas diferenças (Crasso, ainda que um dos homens mais ricos de Roma, desprezava Pompeu) e se apoderaram do controle do estado; porém, a despeito das boas intenções e realizações pessoais, a união era tênue, para dizer o mínimo.
Embora se considerasse um amigo tanto de César quanto de Pompeu, Cícero, que desgostava dos optimates (senadores romanos), num sentimento mútuo, não foi convidado para se juntar ao grupo, ainda que eles respeitassem suas habilidades oratórias e fizessem uso regular de seus serviços como advogado. Ele ainda acalentava os velhos valores aristocráticos dos patrícios (mesmo que muitos deles não o respeitassem). Infelizmente para o famoso orador, as consequências da descoberta da conspiração de Catilina e a oposição aos conservadores levaram-no ao exílio. Seria preciso recorrer a Pompeu e César para que fosse permitido seu retorno a Roma, em 57 a.C..
Com o tempo, as diferenças entre os membros da aliança e sua própria ganância pessoal iriam conduzir à ruína do triunvirato. No momento, porém, a "gangue" viu uma oportunidade e a aproveitou, mas a iniciativa não surgiu da noite para o dia. Os primórdios da aliança datavam da década anterior.
Primórdios - Crasso
Em 73 a.C., um trácio chamado Espártaco liderou uma revolta numa escola de gladiadores em Cápua, cidade situada ao sul de Roma. Ele e seus seguidores espalharam o tumulto através da Itália. A rebelião durou quase dois anos, desafiando as forças romanas enviadas para enfrentá-los. O Senado Romano então enviou Crasso, em 71 a.C., para dar um fim à insurreição. Espártaco terminou morto e 6.000 de seus seguidores foram crucificados ao longo da Via Ápia - a estrada entre Roma e Cápua - para servir como um aviso a outros escravos. Mesmo que a maior parte dos louvores devesse ser creditado à liderança militar de Crasso, Pompeu, que chegava da Espanha com seu exército, tentou roubar a maior parte do crédito, ainda que tenha se limitado a eliminar os remanescentes do exército de Espártaco. Em seguida, ambos desobedeceram ao Senado e se recusaram a desmobilizar seus soldados. Pompeu, na verdade, desprezava o governo republicano, mas a derrota de Espártaco e seus seguidores garantiu que ambos fossem eleitos co-cônsules em 70 a.C.. Crasso nunca esqueceu a arrogância do colega de consulado e sempre buscou um comando militar no qual ele, sozinho, pudesse alcançar a glória.
Pompeu
Problemas no Oriente - a pirataria, por exemplo - provocaram uma carência de alimentos em Roma. Em 67 a.C., Pompeu foi enviado ao leste para não somente suprimir a presença de piratas, mas também para confrontar o Rei Mitridates do Ponto, que representava uma perigosa ameaça para o poder romano na Ásia Menor ao atacar continuamente as províncias da região. Sua morte levaria um de seus herdeiros ao poder e à paz com Roma. De 66 a 63 a.C., Pompeu e seus homens marcharam do Cáucaso até o Mar Vermelho, redesenhando o mapa político do Mediterrâneo oriental. Ele reorganizou as províncias em estados clientes de Roma, retornando à cidade em 62 a.C. como um herói. Porém, ao chegar, ele entrou na cidade como um cidadão, não um soldado, uma vez que havia desmobilizado seu exército. Tinha uma nova agenda: terra para seus veteranos e a colonização do oriente. Havia certa lógica na proposta: ninguém queria veteranos desempregados na cidade, e instalá-los no leste iria reduzir as tensões na região; no entanto, era uma iniciativa que o Senado jamais iria aprovar. Entre os opositores estava Márcio Pórcio, mais conhecido como Catão, o Jovem, líder dos optimates, o grupo conservador do Senado.
César
No trio, dois tinham razões válidas para se unir: Pompeu queria a recompensa para seus veteranos por sua bravura no leste, enquanto Crasso esperava não somente aumentar sua reputação num comando militar, mas também recuperar o dinheiro que ele e outros investidores haviam perdido durante as crises no suprimento de alimentos no Oriente. O terceiro membro da "gangue", Júlio César, um herói militar por direito, retornou da Espanha em triunfo, que ele tinha esperança de trazer-lhe fama e riqueza adicionais. Apesar de não ser tão próspero quanto os outros (na verdade, estava afundado em dívidas) ele, também, tinha uma meta - ser eleito cônsul e após seu mandato obter um proconsulado e o comando militar na Gália.
Os Três Juntam Forças
Para alcançar metas tão difíceis, o trio percebeu que o apoio mútuo era essencial. Assim, reuniram seus recursos pessoais (principalmente o dinheiro de Crasso), contatos (Cícero) e, principalmente, ambição para colocar seus planos em ação. A primeira prioridade: César conseguiu reconciliar as diferenças entre Pompeu e Crasso. A seguir, sua filha Júlia casou-se com Pompeu, para selar a aliança. Juntos, a "gangue" superou seu primeiro obstáculo quando César foi eleito co-cônsul para o ano de 59 a.C., junto com Marco Calpúrnio Bíbulo, infelizmente um velho amigo de Catão. Em sua obra Os Doze Césares , o historiador romano Suetônio relata que César
… teve sucesso em reconciliar Pompeu e Marco Crasso - cuja rixa permanecia depois do fracasso em concordar nas questões políticas durante seu consulado. Pompeu, César e Crasso agora formavam um pacto triplo, jurando se opor às leis que não fossem do interesse de qualquer um deles. (16)
A despeito de seus melhores esforços, César foi incapaz de levar adiante a agenda de Pompeu ou qualquer outras reformas através do Senado. Por lei, um cônsul tinha o direito de veto às propostas feitas pelo seu colega, e foi exatamente o que Bíbulo fez. Assim, ao invés tentar lutar no Senado, César levou suas propostas à assembleia popular. No momento em que César apresentou suas propostas à assembleia, Bíbulo tentou interferir, mas foi lançado pelas escadas do Tempo de Castor e coberto de dejetos. Ele voltou para casa, onde permaneceu distante da vida pública pelo restante do seu mandado. César iria governar sozinho. Catão finalmente admitiu a derrota e aceitou a lei; os veteranos conseguiram suas terras. O triunvirato estava aparentemente funcionando.
A Morte de Crasso
Após o final de seu mandato como cônsul, César atravessou os Alpes para a Gália com seu exército. Ele passaria os próximos dez anos na região, retornando à Itália em triunfo em 50 a.C.. Pompeu, já sentindo uma pontada de ciúme pelo sucesso de César, ganhou o apoio do Senado e recebeu o controle do fornecimento de grãos para a cidade em 57 a.C., após uma série de tumultos. Em seguida, Pompeu e Crasso novamente foram eleitos cônsules em 55 a.C. Após seu mandato, Pompeu foi escolhido como governador da Espanha, ainda que tivesse permanecido em Roma e governasse a província através de uma série de representantes. Já Crasso conseguiu seu desejo e foi premiado com o comando de um exército, esperando obter fama pessoal no Oriente. Infelizmente, nunca conseguiria realizar seu objetivo. Em 53 a.C., na Batalha de Carras (Carrhae), foi derrotado, morto e decapitado pelos antigos inimigos de Roma, os Partos. Como um insulto adicional, sua cabeça seria usada como um objeto de cena pelo rei numa apresentação de uma peça de Eurípedes, As Bacantes. Sua morte foi um presságio da ruína do triunvirato. A aliança tinha sido renovada em 56 a.C., em Luca (César viajou da Gália para comparecer), mas Crasso era a cola que os mantinha unidos. A divisão entre César e Pompeu aprofundou-se com a morte de Júlia, esposa de Pompeu e filha de César, que faleceu no parto em 54 a.C..
Guerra Civil - César como Ditador
Com 40.000 soldados, César atravessou o Rubicão e retornou a Roma. Mais rico e poderoso, ele desejava um retorno à política, mas encontrou a oposição de Pompeu e dos conservadores para um novo mandato como cônsul. No momento, Pompeu era o favorito do Senado. Tinha inclusive sido nomeado cônsul único em 52 a.C., com total apoio de Catão. Posteriormente, foi agraciado com o comando das forças romanas na Itália. O ódio adormecido por anos entre os dois, além do ciúme de Pompeu pelas conquistas de César, levaram à guerra civil.
Cícero, que se considerava amigo de ambos, preocupava-se com o clima de hostilidade entre os dois líderes. Ele escreveu a César em março de 49 a.C.:
… se está disposto a proteger nosso amigo Pompeu e se reconciliar com ele e o estado, certamente não encontrará ninguém melhor para alcançar este objetivo do que eu. … Tenho sido sempre um advogado da paz. … No momento estou profundamente preocupado com a legítima posição de Pompeu. (Grant, 81-2)
Ele acrescentou que considerava a ambos como seus amigos e esperava “…conseguir uma conciliação entre você e Pompeu e a paz para o povo de Roma.” César respondeu que tinha confiança de que Cícero não iria interferir na questão. “Embora eu esteja convencido de que você não iria agir de forma precipitada ou impensada... Em nome de nossa amizade, não deve tomar nenhuma atitude, agora que a situação me é favorável".
Pompeu deixou Roma, com seu exército, em direção à Grécia e foi seguido por César. Em 48 a.C., eles se encontraram na Batalha de Farsália. César venceu. Pompeu fugiu para o Egito, onde foi assassinado e decapitado na praia onde desembarcou por ordens de Ptolomeu XIII. Sua cabeça foi presenteada a César, que desembarcou no Egito logo após o assassinato. Após controlar a situação na Ásia Menor e norte da África, César retornou a Roma, onde atuou como ditador até ser assassinado nos Idos de Março de 44 a.C..