A Seda na Antiguidade

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Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 28 julho 2017
Disponível noutras línguas: Inglês, Chinês, francês, espanhol, Turco
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Emperor Taizong (by Hardouin, Public Domain)
Imperador Taizong
Hardouin (Public Domain)

A seda é um produto têxtil que foi primeiramente produzido na China neolítica a partir de filamentos do casulo do bicho-da-seda. Tornando-se uma fonte de renda básica para os pequenos fazendeiros e, com os progressos nas técnicas de tecelagem, a reputação da seda chinesa se espalhou e veio a se tornar um produto altamente desejado nos impérios do mundo antigo. Sendo produto mais importante das exportações chinesas durante grande parte de sua história, o produto deu seu nome a uma grande rede de comércio, a Rota da Seda, que unia a Ásia Oriental à Europa, Índia e África. Utilizada não somente para fazer roupas finas, era aplicada na fabricação de leques, tapetes de parede, bandeiras e, como uma alternativa popular ao papel para escritores e artistas.

Origem e Cultivo

A seda é produzida pelo bicho-da-seda (Bombyx mori) ao formar o casulo, dentro do qual se desenvolvem as larvas. Um só espécime é capaz de produzir um fio de 0,025mm de espessura e com 900 metros (3.000 pés) de comprimento. Diversos destes filamentos são reunidos e torcidos para fazer um fio espesso o suficiente para ser um material usado para tecer. Tecidos eram produzidos utilizando-se teares manuais e versões operadas a pedal, aparecem, por exemplo, em pinturas nas tumbas da dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.). A seda podia ser tingida e pintada utilizando-se minerais e materiais naturais como cinabre, ocre vermelho, prata em pó, conchas de mexilhões em pó, índigo e outras tintas extraídas de materiais vegetais.

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o mais antigo exemplo conhecido de tecido de seda data de c.2700 A.c. e veio do sítio de qianshanyang na china.

A sericicultura – isto é, o cultivo de folhas de amoreira, cuidados com os bichos-da-seda, a reunião dos fios de seus casulos e a tecelagem da seda – fez sua primeira aparição nos registros arqueológicos na antiga China c. 3600 a.C. Escavações em Hemudu na Província de Zhejiang, revelaram ferramentas para tecelagem e gaze de seda. Os exemplos de tecidos mais antigos conhecidos datam de c. 2.700 a.C. e vieram do sítio de Qianshanyang, também em Zhejiang. Recentes evidências arqueológicas sugerem que a civilização do Vale Hindu no norte do subcontinente indiano, também estava produzindo seda contemporaneamente com o Neolítico chinês. Eles faziam uso da mariposa Antheraes para produzir fios de seda para tecer.

No entanto, a produção de seda em larga escala e envolvendo técnicas de tecelagem mais sofisticadas somente apareceram a partir das dinastias chinesas Shang e Zhou no segundo milênio a.C. A seda, então, tornou-se um dos mais importantes bens manufaturados e comercializados na antiga China e o encontro de seda da dinastia Shang (c. 1.600 – 1046 a.C.) em uma tumba egípcia são testemunha de seu apreciado valor e uso no comércio internacional primitivo.

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Evolução

Durante a dinastia Han, a qualidade da seda melhorou ainda mais, tornando-se mais fina, forte e muitas vezes com padrões bordados multicoloridos e desenhos de figuras humanas e animais. Caracteres chineses foram também colocados em tecidos em muitos exemplos sobreviventes. O tecido de algumas peças do período Han, com 220 urdiduras por centímetro, é extremamente fino. O próprio cultivo dos bichos-da-seda veio a se tornar mais sofisticado a partir do século I d.C., com técnicas usadas para acelerar ou retardar seu crescimento ao ajustar a temperatura do meio em que viviam. Passaram a ser usadas diferentes raças, com cruzamentos para criar bichos-da-seda capazes de produzir fios com diferentes qualidades úteis para os tecelões.

Women Checking Silk, Song China.
Mulheres checando uma seda, China, dinastia Song
Unknown Artist (Public Domain)

As mulheres eram em geral as tecelãs e, também, delas a responsabilidade para assegurar que os bichos-da-seda estavam bem alimentados com a dieta favorita de folhas de amoreira picadas e que se encontravam suficientemente aquecidos para enrolarem os fios em seus casulos. A indústria tornou-se uma fonte vital de renda para as famílias que a terra dedicada ao cultivo dos arbustos da amoreira era isenta das reformas, ou seja, a terra de propriedade do camponês e os terrenos de amoreiras eram os únicos em que os fazendeiros podiam ter como propriedade hereditária. Mencius, o filósofo Confúcio, advogava que pequenas partes das propriedades deveriam sempre reservar um pedaço de terra para plantar amoreiras. À medida que a demanda crescia, o estado e as pessoas com suficiente capital implantaram grandes oficinas nas quais trabalhavam homens e mulheres. Grandes casas aristocráticas possuíam equipes privadas para a produção de seda, com centenas de empregados na produção de seda para as necessidades do estado e para revenda. A produção de seda foi o tema de poemas e canções, como este exemplo, um texto filosófico do Mestre Xun do período do Estado Beligerante:

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Quão nua é sua externa forma,

E, no entanto, continuamente, como um espírito, se transforma.

Suas façanhas cobrem o mundo,

Pois criou ornamentos para uma miríade de gerações.

Cerimônias rituais e apresentações musicais completam-se por ela;

O nobre e o humilde se distinguem com ela;

Jovem e velho confiam nela;

Pois somente com ela se pode sobreviver.

(in Lewis, 114-115)

Finalmente, os chineses não conseguiram mais manter o segredo lucrativo da produção de seda para eles mesmos e, então, começou ela ser manufaturada na Coreia e no Japão, onde iria se tornar uma indústria controlada pelo estado. Outros estados e culturas adquiriram as habilidades da sericicultura, como a Índia por volta de 300 d.C. daí se espalhando para Bizâncio, Arábia, o Levante e Itália.

Comércio: a Rota da Seda

A fama da manufatura chinesa da seda espalhou-se por toda a famosa rota de comércio que viria a assumir seu nome – a Rota da Seda – tal era a importância do produto para a economia chinesa. A Rota da Seda ou Sichou Zhi Lu era na verdade uma rede terrestre inteira de rotas de caravanas de camelos ligando a China ao Oriente Médio, passando a ser chamada como Rotas da Seda pelos historiadores. A seda – na forma de fios, tecidos para roupas e produtos acabados – foi assim exportada via intermediários (nem um único comerciante viajou toda extensão da rota) não somente para os estados vizinhos como os reinos coreanos e o Japão, mas também para os grandes impérios da Índia, Pérsia, Egito, Grécia e Roma. Nesta última, diz-se que o consequente colapso financeiro do estado foi, em parte, devido à constante drenagem de prata para o leste aonde ia para comprar a seda que os romanos não podiam viver sem. Os romanos até chamavam os chineses de seres, devido à palavra para seda naquela língua.

The Silk Road
A Rota da Seda
Shizhao (GNU FDL)

Além das rotas terrestres e passagens através do interior do Mar do Japão, a partir do século XI, os juncos chineses passaram a navegar e comercializar através do Oceano Índico, passando a seda, ser e permanecer o produto de exportação número um da China por séculos, rivalizada pela porcelana e o chá a partir do século XV. Já no século XX, seria o Japão que substituiria a China como o maior produtor de seda do mundo.

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Usos

Na China, e mais tarde em outros locais, a seda era usada para fazer roupas (especialmente longas túnicas, vestidos e jaquetas), leques, acessórios, tapeçarias de parede, telas, cenas decorativas para e de livros famosos e poemas, bandeiras militares, bandeiras funerárias, mandalas budistas e para a escrita, ao invés de bambu e papel. Brilhantemente coloridas e roupões de seda primorosamente bordados, tornaram-se um símbolo de status e auxiliava a distinguir funcionários e cortesãos do algodão – ou seda comum – das classes inferiores. Em outras culturas, como na Coreia, existiam leis proibindo vestir seda por pessoas abaixo de uma certa classe social. Seda bordada tornou-se tão variada e refinada que se desenvolveu toda uma classe de conhecedores em volta do material, semelhante àquela em volta dos vasos da fina porcelana chinesa. Sacerdotes taoísta constituíam outro grupo que era distinguido por seus roupões de seda, muitas vezes bordados com cenas cerimoniais.

Como uma mercadoria de valor, rolos de seda eram usados como uma forma de moeda corrente, especialmente no pagamento de tributos como os da Canção do Norte (960-1127) e da Canção do Sul (1127-1276) aos imperadores Liao e Jin, respectivamente. A seda também era apreciada como presente. Oferecida a um estado tributário em apreço por sua lealdade, constituía um impressionante símbolo da grande opulência e generosidade do imperador chinês. Por exemplo, em 25 a.C., somente o Han deu como presente incríveis 20.000 rolos de panos de seda. Os comerciantes a utilizavam como pagamento, as pessoas pagavam seus impostos com ela e mesmo os exércitos era pagos algumas vezes com seda.

Silk & Textile Shoe from China
Sapato de Seda e Tecido da China
The Trustees of the British Museum (Copyright)

Na arte, a seda tornou-se uma superfície popular na qual pintavam-se paisagens e retratos. Os artistas da dinastia Tang (618-907) foram particularmente famosos por suas habilidades em tingimento, impressão e pintura sobre seda, com muitos exemplos do trabalho deles sobrevivendo no Japão para onde foram enviados como presentes. Os livros de seda foram feitos com cópias de famosas pinturas e, assim, tornaram-se álbuns de referência para os conhecedores de arte.

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Reoercussões Culturais

O comércio da seda e outras mercadorias ao longo da Rota da Seda, trouxe com ele ideias e práticas culturais em ambas as direções. A linguagem e escrita foram elementos especialmente importantes transmitidos ao longo das rotas pelos comerciantes, diplomatas, monges e viajantes. O budismo foi da Índia para a China e, daí, passou à Coreia e Japão. Exploradores, como Marco Polo, utilizaram a rota e o mesmo com os missionários cristãos, a partir do Oeste para entrarem na China pela primeira vez. Novos alimentos foram introduzidos na China e, então, cultivados ali, como nozes, romãs, gergelim e coentro. A seda, símbolo da China por muito tempo, havia aberto as portas para novas terras e novas ideias e, finalmente, conectou os grandes impérios do mundo antigo.

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2017, julho 28). A Seda na Antiguidade [Silk in Antiquity]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-14550/a-seda-na-antiguidade/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "A Seda na Antiguidade." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação julho 28, 2017. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-14550/a-seda-na-antiguidade/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "A Seda na Antiguidade." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 28 jul 2017. Web. 21 dez 2024.