Escrita Chinesa

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Emily Mark
por , traduzido por Bernardo R. Carvalho
publicado em 07 abril 2016
Disponível noutras línguas: Inglês, Chinês, francês, espanhol
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Stone Stele & 1,000 Characters of Happiness, Great Wall of China (by Emily Mark, CC BY-NC-SA)
Estela de pedra e os Mil Caracteres da Felicidade ao fundo, na entrada da Grande Muralha da China
Emily Mark (CC BY-NC-SA)

A escrita chinesa antiga evoluiu a partir da prática da divinação durante a dinastia Shang (1600-1046 a.C.). Algumas teorias sugerem que as imagens e marcações em fragmentos de cerâmica encontrados na vila de Ban Po são evidências de um sistema de escrita antigo, mas essa afirmação tem sido frequentemente contestada. Ban Po foi ocupada por volta de 4500-3750 a.C., e foi descoberta por trabalhadores que cavavam a fundação de uma fábrica em 1953 d.C. Fragmentos de cerâmica descobertos no local foram classificados em 27 categorias distintas de imagem/sinais, o que sugere a alguns estudiosos uma linguagem primitiva. A visão oposta é a de que estas imagens são simplesmente marcações de propriedade, comparáveis a fazer um X em um documento para assinar o nome de alguém, e não podem ser consideradas realmente uma linguagem escrita. A maioria dos estudos recentes concorda que a escrita evoluiu durante a Dinastia Shang e se desenvolveu a partir de então. A acadêmica Patricia Buckley Ebrey expressa o consenso a respeito:

Não se sabe exatamente quando a escrita foi usada pela primeira vez na China, uma vez que a maior parte da escrita teria sido feita em materiais perecíveis como madeira, bambu ou seda. Os símbolos ou emblemas inscritos em vasos do neolítico tardio podem ser as primeiras formas de grafia chinesa. Alguns dos primeiros bronzes da Dinastia Shang apresentam símbolos semelhantes inscritos. As primeiras evidências de frases completas são encontradas em ossos oraculares do período Shang tardio. A partir dessas inscrições divinatórias, não pode haver dúvida de que os Shang usavam uma língua diretamente ancestral do chinês moderno e, além disso, usavam uma escrita que evoluiu para o sistema de escrita logográfica chinesa padrão, em uso hoje até os dias de hoje (26-27).

Uma vez desenvolvida pelos chineses, a escrita teve um impacto cultural significativo. Ebrey escreve: "Na China, como em qualquer outro lugar, a escrita, uma vez adotada, tem efeitos profundos nos processos sociais e culturais (26)." A burocracia da China passou a contar com registros escritos e, culturalmente, a expressão de pensamentos e sentimentos pessoais foi possível por meio da poesia e da prosa, criando uma das tradições literárias mais ricas do mundo.

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Ossos Oraculares

Ossos oraculares eram as escápulas bovinas ou os plastrões das tartarugas, raspados e limpos, que eram inscritos com marcas para a divinação. Os antigos chineses eram muito interessados em saber o futuro, e procuravam adivinhos para obter orientação sobre a melhor maneira de tomar decisões. O adivinho (alguém que hoje seria chamado de "vidente" ou "médium") entalhava no osso a pergunta da pessoa que o consultava, e aquecia-o com um utensílio de metal quente ou colocava-o perto de uma fogueira. Quando o osso rachasse e quebrasse, as linhas formadas seriam interpretadas para responder à pergunta da pessoa.

Oracle Bone
Osso Oracular
The Trustees of the British Museum (Copyright)

Um exemplo disso pode ser a questão sobre se o rei deve ir caçar em um determinado dia. O adivinho gravaria o nome do rei que fez a pergunta e a data em que foi feita. Eles então esculpiriam o tópico da questão (Caça) e a questão específica (O rei ___ deveria ir caçar amanhã). O osso seria então aquecido, rachado e interpretado. Posteriormente, seria inscrito o prognóstico (sim, o rei deveria ir caçar amanhã) e, depois, a verificação de que a predição estava correta (o rei foi caçar e teve sucesso). Os ossos oraculares eram amplamente consultados no período Shang, da classe mais baixa à mais alta.

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Os ossos oraculares continuaram em uso durante a Dinastia Zhou (1046-226 a.C.), quando foram substituídos por outra forma de divinação conhecida como I-Ching (O Livro das Mutações), que se baseava em um texto escrito em hexagramas para interpretar o significado de um padrão feito pelo questionador jogando dardos sobre uma mesa. Com os ossos oraculares e o I-Ching, pensava-se que os espíritos dos ancestrais do questionador influenciavam a adivinhação e comunicavam-se diretamente com o adivinho.

Evolução das Escrituras

A partir destas origens, evoluíram as escrituras chinesas. Estas escrituras eram:

Jiaguwen - a forma mais antiga de escrita em ossos oraculares usada por volta de 1600 a 1000 a.C. Estas escrituras eram pictográficas, ou seja, a inscrição representava um objeto vinculado a um conceito. Exemplo: para escrever "O rei deve ir caçar amanhã?", alguém iria esculpir uma imagem do rei com seu arco e o nascer do sol.

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Dazhuan - conhecida como escrita do Selo Maior, desenvolvida por volta de 1000 a 700 a.C. Esta também era uma escrita pictográfica, mas tinha muito mais caracteres e era mais refinada. As imagens foram inscritas em bronze e provavelmente em madeira.

Xiaozhuan, conhecida como escrita do Selo Menor, desenvolvida por volta de 700 a.C., está em uso ainda hoje.

Xiaozhuan - conhecida como escrita do Selo Menor, desenvolvida por volta de 700 a.C., está em uso ainda hoje. Esta escrita era menos pictográfica e mais logográfica, o que significa que os símbolos representavam conceitos em si, não objetos. Exemplo: se alguém agora quisesse escrever "O rei deve ir caçar amanhã?", seria inscrita a imagem para "rei" e os sinais que representavam "caça" e "amanhã".

Lishu - conhecida como Registro Escriturário, foi desenvolvida por volta de 500 a.C., e usada durante a Dinastia Qin (221 - 206 a.C.) e a Dinastia Han (206 a.C. - 220 a.C.) extensivamente. A Lishu surgiu da necessidade de ampla documentação dos assuntos governamentais e, como o nome indica, era usado por funcionários - escriturários - em seu trabalho na burocracia estatal. As frases eram escritas em rolos de bambu amarrados com barbante. Quando se lê sobre o imperador Shi Huangti (259-210 a.C.), da Dinastia Qin, queimando livros, estes são os tipos de livros que ele destruiu. O papel não foi inventado até a Dinastia Han, em 105 d.C.

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Além destas formas de escrita, também foram desenvolvidos os tipos cursivos usados em poesia e caligrafia. São eles: Kaishu (escrita padrão) Xingshu (escrita corrida) e Caoshu (escrita cursiva, ou "escrita da grama"). A Caoshu foi desenvolvida durante a Dinastia Qin, enquanto a Kaishu e a Xing, durante o período Han.

Legado

Conforme observamos, a escrita chinesa desenvolveu-se a partir de imagens de objetos, que representavam conceitos, para signos que passaram a ser eles mesmos conceituais. Esse desenvolvimento mudou profundamente a sociedade e a cultura chinesas, e afetou a maneira como se ela desenvolveria no futuro. Ebrey explica:

É essencialmente acidental que os Shang tenham desenvolvido uma escrita logográfica em vez de fonética, como a maioria das que se tornaram dominantes em outras partes da Eurásia. Esse acidente, no entanto, teve consequências importantes para o modo como a civilização chinesa se desenvolveu. Ele definiu a natureza da elite: a dificuldade em dominar aquelas escrituras tornava os que nelas se especializavam em uma elite possuidora de habilidades raras, mas essenciais (28).

Do lado positivo, isso significava que, à medida que a escrita chinesa se tornava cada vez mais parte do comércio chinês, a cultura se espalhava para as regiões vizinhas. Como observa Ebrey:

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Como a escrita logográfica chinesa não evoluiu no sentido de refletir diferenças de pronúncia, a elite letrada facilmente identificou outros interlocutores cujos escritos eles podiam ler, incluindo predecessores que viveram muitos séculos antes, e contemporâneos cujas línguas faladas eles não podiam compreender. Igualmente crucial foi o modo como essa escrita também afetou os processos de expansão e assimilação cultural. Povos à margem da cultura chinesa, que aprenderam a ler chinês por razões pragmáticas de promoção ou defesa de seus interesses, foram mais efetivamente atraídos para a cultura chinesa do que teriam sido se a China tivesse uma escrita fonética. Ler e escrever, para eles, não podia ser facilmente separado dos valores chineses imbuídos nos textos, o que dificultava o uso da escrita para articular os valores de sua população local, quando definidos em oposição à China (28).

A escrita logográfica marcou muito mais dramaticamente os leitores do que a escrita fonética, porque as pessoas não estavam apenas lendo palavras em uma página, mas absorvendo conceitos diretamente à medida que liam. Do lado negativo, a criação de uma elite alfabetizada significou divisões de classes onde aqueles que sabiam ler e escrever eram considerados membros mais valiosos da sociedade do que aqueles que não sabiam. Essa distinção de classe caracterizou a sociedade e a história chinesas até 1949, quando Mao Zedong estabeleceu a República Popular da China, em grande parte em um esforço para remediar a desigualdade social.

A escrita chinesa foi adotada pelo Japão, Coréia e Vietnã, tornando-se a base para a escrita Khitan (da Mongólia), a Escrita Jurchen (dos Manchus) e a Escrita Yi dos povos tradicionais da província de Yunnan, que difere da escrita tradicional chinesa. Ela influenciou ainda outras nações da região, conforme se observa na escrita Tangut do Tibete. A escrita capacitou os chineses, e depois os povos de outras nações, não apenas a se comunicar e manter registros, mas também a criar algumas das obras mais memoráveis da literatura mundial.

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Sobre o tradutor

Bernardo R. Carvalho
Historiador brasileiro, doutorando e tradutor freelance.

Sobre o autor

Emily Mark
Emily Mark estudou história e filosofia na Universidade de Tianjin, na China, e inglês na SUNY New Paltz, em Nova York. Publicou poesia e artigos de história. Seus relatos de viagens estrearam na Timeless Travels Magazine. É formada pela Universidade do Estado de Nova York em Delhi, em 2018.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, E. (2016, abril 07). Escrita Chinesa [Chinese Writing]. (B. R. Carvalho, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-14610/escrita-chinesa/

Estilo Chicago

Mark, Emily. "Escrita Chinesa." Traduzido por Bernardo R. Carvalho. World History Encyclopedia. Última modificação abril 07, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-14610/escrita-chinesa/.

Estilo MLA

Mark, Emily. "Escrita Chinesa." Traduzido por Bernardo R. Carvalho. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 07 abr 2016. Web. 24 dez 2024.