Nas guerras antigas, batalhas abertas eram o modo preferido de enfrentar o inimigo, mas, às vezes, quando os defensores permaneciam no interior da sua cidade ou acampamento militar bem fortificado, a guerra de cerco tornou-se uma necessidade, não obstante o seu alto custo em dinheiro, tempo e homens. Os romanos tornaram-se adeptos da arte da guerra de cerco empregando todos os tipos de estratégia e maquinário para subjugar o inimigo. Cinco fatores possibilitaram que os romanos fossem notavelmente bem-sucedidos em cercos: sofisticadas armas de artilharia, imensas torres de cerco, experiência na engenharia e na construção de fortificações, superior logística, de modo a assegurar suprimentos em longo prazo, e o domínio dos mares. Como a preparação e a cuidadosa execução de planos bem elaborados eram uma segunda natureza para os romanos na guerra, e, quando eles aplicavam tais habilidades em cercos que duravam meses ou anos, eles eram virtualmente imparáveis.
Artilharia
Os romanos copiaram e aprimoraram as armas de artilharia usadas pelos gregos, mas elas não eram usadas em combate aberto; em vez disso, eram reservadas à guerra de cerco para romper as fortificações das cidades e infligir terror nos defensores. As máquinas romanas usavam tendões de animais, em vez de pelo de cavalo, para aumentar a força e a torção, permitindo-lhes disparar projéteis por várias centenas de metros. As partes de metal (ferro e bronze) substituíram a madeira para aumentar força, estabilidade, poder de fogo e durabilidade, e molas eram cobertas por caixas de metal para diminuir o desgaste dos elementos.
Lançadores de pedra (balistas) tinham um único braço móvel e eram conhecidos pelo jargão onăger (burro selvagem), devido ao violento coice quando eram disparados, e scorpio (escorpião) por causa do seu formato. As pedras eram relativamente circulares e poderiam pesar de 0,5 a 80 quilos, o que lhes permitia arrancar grandes pedaços das muralhas defensivas e derrubar as torres da fortificação. Outro tipo de artilharia, muito mais precisa, era a carrobalista ou catapulta, que disparava pesadas flechas, dardos ou pedras menores e tinha dois braços à maneira de uma besta (e era também chamada de scorpio por alguns escritores romanos). Os dardos tinham pontas de metal, hastes de madeira e rêmiges e eram facilmente capazes de perfurar armaduras. Outro tipo de projétil eram as bolas de fogo. Naturalmente, tais armas poderiam ser e foram usadas para defender cidades, assim como para atacá-las.
As legiões tinham provavelmente uma peça de artilharia por coorte, embora se descreva que algumas legiões tenham tido 55 em alguns períodos, refletindo o fato de que esse equipamento ficava muito sob o poder discricionário de um comandante em particular. Os artilheiros (ballistarii) eram tropas especializadas e isentas de fatigas normais, provavelmente porque precisavam praticar com as suas máquinas e fazer a manutenção delas. Além disso, centenas de carroças e mulas eram requeridas para transportar tais máquinas e a sua munição para onde elas fossem necessárias. Algumas máquinas de artilharia também eram montadas sobre carroças conforme se vê nas cenas sobre a Coluna de Trajano.
Armas de Cerco
Os romanos demoraram um pouco para empregar as armas de cerco ou as torres que os reinos helenísticos haviam aperfeiçoado. O cerco de Útica por Cipião Africano em 204 a.C. foi uma das primeiras vezes em que eles as utilizaram. Eles fizeram adaptações, tornando suas próprias torres menores e muito mais manobráveis, por exemplo. As torres inclusive se tornaram armas mais úteis em si quando os romanos adicionaram aríetes, uma ponte de embarque e plataformas de luta interiores que podiam carregar tanto homens quanto peças de artilharia. As torres possuíam rodas para que pudessem ser construídas a uma distância segura da cidade e ser depois movidas para perto dela quando necessário.
Júlio César empregou com sucesso uma torre de cerco de 10 andares e repleta de unidades de artilharia no cerco de Uxeloduno, na Gália, no século I a.C. Fazer a torre subir num dique previamente preparado possibilitou que César impedisse os sitiados de acessar a fonte de água fresca deles. Às vezes, as torres eram tão imensas, que os defensores preferiam render-se a enfrentá-las. Isso aconteceu a Júlio César quando ele sitiou Aduátuca, novamente na Gália. Aqueles defensores que não se intimidassem se esforçariam para incendiar as armas de cerco à medida que elas se aproximavam das muralhas, mas cobrir as partes de madeira com lodo ou couro embebido em vinagre poderia tornar as máquinas resistentes ao fogo. Partes de ferro e escudos eram usados por essa razão também, mas o peso extra fazia com que as torres ficassem muito menos móveis.
Táticas
Cercos tinham vantagens significativas sobre batalhas abertas; segundo afirma o historiador P. Culham,
eles [os cercos] ofereciam oportunidades de matar combatentes, aterrorizar populações, erodir a vontade delas de resistir e adquirir fortalezas, tudo numa única e eficiente operação com forças cuidadosamente reunidas. (Campbell, 251).
Num típico cerco romano, se um ataque inicial não conseguisse trazer uma vitória imediata, forças eram enviadas adiante para cercar o assentamento e impedir que alguém escapasse. Ao mesmo tempo, como as cidades antigas também eram frequentemente portos, elas tinham de ser bloqueadas tanto por mar quanto por terra. Assim, enquanto navios bloqueavam o porto, o exército principal em terra construiria um acampamento fortificado fora do alcance de projéteis vindos da cidade e, preferivelmente, em terreno elevado, que provia uma boa posição estratégica para observar o interior do assentamento e escolher alvos-chave, como o suprimento de água do inimigo ou entradas secretas.
Então o cerco poderia continuar sem nenhuma luta efetiva, na esperança de que os defensores ao cabo se rendessem devido à fome, à falta de água e ao moral destruído. Havia sempre a chance de que um traidor pudesse deixar o inimigo entrar ao abrir os portões da cidade também. Se nada disso funcionasse, então uma estratégia mais agressiva era necessária. Todavia, os sitiantes talvez nem sempre conseguissem manter as coisas do seu jeito, especialmente se eles estivessem atacando uma cidade ou um forte em território sob comando inimigo. Nesse caso, os acampamentos precisariam reforçar-se com paliçadas de madeira e torres de vigia - ambas fazendo face ao inimigo (circunvalação) e na retaguarda do atacante (contravalação). Para que os próprios sitiantes não ficassem sem suprimentos, eles também precisavam manter uma rota de suprimentos bem defendida. A prática de construir acampamentos fortificados então deixavam os romanos em boa posição, já que eles tinham a experiência e as ferramentas para aplicar as suas habilidades de engenharia com o intuito de atacar uma cidade inimiga.
Assim que um ataque se iniciava, as muralhas dos defensores poderiam ser ultrapassadas ao construir-se contra elas uma rampa (agger) usando árvores, terra e rochas. Enquanto isso era feito, os atacantes seriam protegidos por coberturas temporárias como um abrigo de madeira à prova de fogo (vinca), conhecido como tartaruga, ou o escudo de vime convexo, mais móvel, conhecido como um plutĕus. A eles se daria inclusive uma cobertura por meio do fogo das baterias de artilharia e dos arqueiros, de modo que pudessem depois escalar a última parte das muralhas usando escadas (scalae). O fogo de artilharia poderia também chover sobre a cidade vindo das peças montadas sobre os navios estacionados no porto. Os defensores poderiam tentar expandir a altura da seção da muralha ameaçada por uma rampa (conforme aconteceu em Jotapata quando foi atacada por Vespasiano nos anos 70s d.C.), construir uma segunda muralha defensiva atrás da parte sob ataque (como em Massada em 74 d.C.), ou até adicionar torres no jogo de gato e rato de um longo cerco.
A próxima etapa ou estratégia alternativa aos atacantes era romper as muralhas ou os portões com aríetes pesados (ariĕtes). Estes eram suspensos numa estrutura por meio de correntes e protegidos por coberturas de couro ou madeira. Ao mesmo tempo, torres de cerco, que poderiam ter o seu próprio aríete, eram empurradas para que se erguessem sobre o topo das fortificações. Os aríetes dessas máquinas tinham ponta de ferro para maximizar o dano ou até mesmo um gancho (falx) para remover os blocos de pedra das muralhas. Os defensores responderiam colocando sacos para amortecer os impactos na muralha ou tentariam incendiar as torres conforme elas se aproximavam. Se a cidade fosse defendida por fossos, então estes teriam de ser preenchidos antes que as torres pudessem prosseguir. Isso era feito protegendo-se aqueles que preenchiam os fossos (usando feixes de madeira) com coberturas de couro reforçadas ou com a tartaruga.
Para casos muito difíceis, e raramente tentados, uma mina (cunicŭlus) era escavada para fazer as muralhas colapsarem a partir de baixo. Os defensores poderiam responder aprofundando o seu fosso, caso tivessem um, ou cavando até os poços, fazendo-os colapsar ou inundar. Houve casos também de defensores soltando abelhas e ursos nos túneis a fim de causar qualquer estrago que pudessem. Uma forma mais comum e bem-sucedida de escavação era remover uma seção específica da fundação de uma muralha para que ela colapsasse. Os defensores poderiam igualmente tentar solapar as rampas de cerco e as torres cavando eles próprios os túneis.
Os primeiros soldados a romperem as defesas inimigas eram ricamente recompensados, se eles conseguissem superar as adversidades e sobreviver. Se um rombo se abrisse, logo a infantaria poderia acompanhar, protegendo-se uns aos outros usando os seus escudos na famosa formação de tartaruga (testudo). É claro: os defensores lançavam tudo quanto podiam sobre os atacantes, como óleo fervente, pedaços de madeira em chamas, pedras e jarros de insetos que picam.
Uma vez no lado de dentro, então uma sangrenta luta corpo a corpo se seguiria nas ruas, estando os defensores seguros e cônscios de que, uma vez conquistados, apenas mulheres e crianças poderiam ter a esperança de sobreviver, vendidos como escravos. Um exemplo tinha de ser dado acerca da futilidade de uma resistência prolongada, e, portanto, o tratamento reservado aos derrotados era frequentemente severo e impiedoso. Pela mesma razão, era muito incomum o exército romano suspender o cerco, uma vez iniciado. As raras falhas foram o bloqueio de Júlio César contra a bem fortificada Gergóvia, capital dos arvernos, e Marco Antônio em Praaspa, depois de ser forçado a desistir devido à falta de suprimentos. Afora isso, a guerra de cerco, quando conduzida, era mantida pelo tempo necessário até ocasionar a queda da cidade e a vitória romana.
Cercos Famosos
Um dos mais longos cercos romanos foi o ataque contra Cartago na Terceira Guerra Púnica, entre 149 e 146 a.C. A massivamente fortificada cidade resistiu até Cipião Africano Menor construir uma extensa muralha de cerco e atacar sistematicamente as muralhas do porto, mais fracas, com armas de cerco. Cartago finalmente caiu e foi completamente destruída. Em 133 a.C., Cipião, desta vez, armou um cerco em Numância, na Espanha, construindo um fosso e uma muralha de pedra entrecortada por torres ao redor da cidade inteira.
Um notável cerco romano foi levado a cabo por Júlio César em Alésia, em 52 a.C., ou, mais estritamente falando, um bloqueio no qual ele construiu uma circunvalação dupla medindo 35 km. A muralha foi construída usando barreiras cobertas por paliçadas de madeira, entrecortadas por torres e protegidas por uma vala de 6,5 metros de largura, um fosso de 3,2 metros de largura e 1,5 metro de profundidade, dois fossos preenchidos com varas afiadas (cippi), cinco fileiras de troncos com pontas de ferro, armadilhas com estacas (lilia) e 23 fortes. Incapaz de romper esse estrangulamento, Vercingetórix ao cabo foi forçado a render-se.
César também tentou uma rara tática de escavação no cerco de Massília (Marselha), em 49 a.C., mas teve de abandonar a tentativa. Em 70 d.C., Tito sitiou Jerusalém, construindo uma impressionante muralha de cerco de sete quilômetros em meros três dias. Massada foi sitiada, de novo por Tito, em 74 d.C., quando os romanos construíram uma enorme e elevada rampa de 225 metros de comprimento e 75 metros de altura que atingia o topo das muralhas da cidade, cujos restos ainda podem ser vistos hoje. A rampa permitiu que uma máquina de cerco protegida por metal se aproximasse o bastante para abrir um buraco na aparentemente inexpugnável fortaleza . Hatra, na Mesopotâmia, foi um caso raro porque ela foi sitiada por Trajano (116 d.C.) e Septímio Severo (195-8 d.C.), mas, em ambas as vezes, o cerco foi abandonado devido ao poder da cidade e aos vastos recursos necessários para rompê-la.
Outros cercos foram levados a cabo na Sicília, na Grécia e em muitos fortes na Bretanha antiga. Por outro lado, os romanos em si eram raramente sitiados. Dois casos raros foram o cerco do acampamento de Sabino perto de Jerusalém, em 4 a.C., e o de Filópolis, em 250 d.C., pelo rei godo Cniva. Os sassânidas aprenderam rapidamente as estratégias de cerco dos romanos quando conseguiram capturar os equipamentos destes e treinar a si próprios usando prisioneiros romanos. Em 256-7 d.C., eles conhecidamente sitiaram os romanos em Dura Europo, na Síria. Na maioria dos casos, todavia, aos inimigos de Roma faltavam recursos e equipamentos para conduzir uma guerra de cerco. Embora o Império tenha mais tarde desmoronado, o último legado da guerra de cerco romana foi que muitas das suas inovações em máquinas e fortificações defensivas seriam revividas com grande sucesso no período medieval.