Europa é um personagem da mitologia grega que, posteriormente, deu seu nome ao continente europeu. Em uma popular versão de sua história, Europa era uma princesa fenícia que foi raptada por Zeus e rapidamente levada à Creta; o rei Minos, aquele famoso pelo labirinto do Minotauro, seria um descendente da violação de Zeus. A lenda de Europa, e particularmente a procura dela por seus três irmãos, talvez seja reflexo da colonização fenícia no Mediterrâneo, de 1200 a 800 a.C.
Rapto de Europa por Zeus
De acordo com Hesíodo, em sua Teogonia, Europa é a filha de Oceano com a titânide Tétis (p. 357), enquanto que na Ilíada, de Homero, ela era filha de Fênix, filho de Agenor. Em outra versão da narrativa, Europa é uma princesa fenícia, filha de Agenor, rei fenício da cidade de Tiro, sendo Fênix o seu irmão. Esta última versão dos eventos foi apresentada pelo historiador Heródoto (1.2.1), no século 5º a.C.
Um dia, enquanto Europa estava se divertindo com amigos na praia, Zeus a viu e imediatamente se apaixonou por ela. Em uma estratégia de galanteio um tanto bizarra, Zeus se transformou em um touro branco, ou enviou um belíssimo touro branco cortejar a princesa. Europa ficou, de fato, encantada com o animal dócil e o adornou com flores. Então, pensando que poderia montar uma fera tão gentil, ela subiu em suas costas, foi quando o touro a carregou para o mar, subiu aos céus e levou Europa para longe da Fenícia. Touros voadores talvez não sejam os melhores animais para transporte aéreo, desse modo, não foi nenhuma surpresa quando o touro caiu rapidamente no mar. Então, os dois nadaram até Creta. Uma vez na ilha, Zeus forçou relações com a princesa, e o casal teve três filhos: Minos, o futuro rei de Cnossos; o sábio Radamanto, que acabaria se tornando um dos juízes do submundo; e, em uma tradição um pouco tardia, o grande guerreio e aliado de Troia, Sarpedão. Zeus era um deus muito volúvel em seus relacionamentos amorosos, assim, na sua despedida, deixou à Europa alguns presentes: um cão que sempre pegava sua presa; um guarda-costas, Talos, o autômato de bronze; e, uma lança de arremesso que sempre acertava o seu alvo.
Enquanto isto, quando Agenor descobriu o desaparecimento de sua filha, ele enviou seus três filhos a fim de encontrá-la. Eles eram Fênix, Cilix e Cadmo, e apesar de nunca terem encontrado a irmã, estes jovens fundaram (ao menos na mitologia) novos assentamentos na Fenícia, Cilícia e Tebas – respectivamente – e se tornaram os patriarcas destes povos.
A história termina quando, posteriormente, Europa encontrou consolo nos braços de Astério, o rei de Creta, quem a desposou e adotou os filhos dela com Zeus. Por fim, o touro que Zeus criou se transformou na constelação de Taurus. O mito pode ter base em eventos históricos, talvez representando a atual Idade do Bronze quando grupos de invasores da Creta Minoica ou Micênica atacaram Tiro e levaram tesouros de volta para a ilha, ou, alternativamente, representa um primeiro ataque helênico a Creta. A busca pela Europa e consequente fundação de assentamentos também reflete a realidade histórica da colonização fenícia ao longo do Mediterrâneo entre os séculos 12 e 7° a.C., o que hoje é atestado por evidências arqueológicas.
Nome & Continente
O nome Europa significa “cara achatada” e provavelmente se refere à lua cheia. De modo alternativo, se a palavra for dividida como eu-rope, passa a significar “bem irrigada”. Os antigos gregos aplicavam, primeiramente, a palavra Europa para a área geográfica do centro da Grécia e, depois, para toda a Grécia. Em 500 a.C., Europa significava o continente europeu por inteiro (apesar de os gregos serem realmente familiares apenas com as áreas ao redor do Mediterrâneo), sendo a Grécia o seu limite oriental. O rio Dom, norte do Mar Negro, era tradicionalmente considerado a fronteira com a Ásia. Heródoto (4.45) menciona que o continente é conhecido como Europa, mas admite que os limites exatos eram desconhecidos e que ele não conseguiu descobrir porque Europa foi o nome escolhido. Heródoto destacou o curioso fato de que os Gregos utilizaram o nome de três mulheres para as três grandes massas de terra que eles conheciam: Europa, Ásia e Líbia.
Representação na Arte
Europa cavalgando o touro de Zeus foi um tema popular na arte grega do século 6° a.C., apesar de haver representações mais antigas, um descanso de ânfora, que datam do século anterior. Métopas da tesouraria de Sicião em Delfos (c. 560 a.C. e em fragmentos) e em Selinunte (completa, século 6° a.C.), uma porção do friso do Templo de Atenas no Monte Atos e uma laje de alívio de Pérgamo também mostram o mito. Cerâmicas de figuras negras e gemas eram outros meios pelo qual o mito Zeus-Europa foram; um excelente exemplo disto é a ânfora do Pintor de Edinburgo, agora parte do acervo do Museu de Belas-Artes de Boston. Subsiste ainda uma escultura em pé, trata-se de uma cópia de um original do século 5° a.C. e faz parte do acervo do museu Nacional de Berlim. Europa está envolta em um himation e há uma estatueta menos com “Europa” gravada, identificando a figura maior na mesma composição. O tema de Europa e do touro foi também popular em cerâmicas de figura vermelha durante o século 4° a.C., especialmente na Ática e no sul da Itália. Os romanos continuaram a apreciar e perpetuar este mito, e, ainda hoje, o tema permanece como um dos favoritos e está representado no reverso da moderna moeda grega de dois euros.