A Cultura Villanova

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Mark Cartwright
por , traduzido por Filipa Oliveira
publicado em 06 fevereiro 2017
Disponível noutras línguas: Inglês, italiano, espanhol
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Bronze Villanovan Harness Piece (by LACMA, Public Domain)
Peça de arreio de bronze - Cultura Villanova
LACMA (Public Domain)

A Cultura Villanova floresceu na Itália central durante a Idade do Ferro, de cerca de 1000 a 750 antes de Cristo. É precursora da civilização etrusca, e apesar de serem o mesmo, o termo Villanova não se refere a um povo separado, muito pelo contrário, a cultura Villanova é um rótulo de conveniência usado por historiadores e arqueólogos para descrever o povo etrusco durante a Idade do Ferro.

Origens e Evolução

O termo Villanova advém do nome da propriedade de Giovanni Gozzadini, localizada perto de Bolonha, onde em 1853 foram feitas as primeiras escavações. Com o tempo, foram descobertos os vestígios da cultura Villanova da Idade do Ferro numa ampla área da Itália central ocidental e parte do norte, principalmente as necrópoles.

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Entre cerca de 1100 e 900 a.C., o período conhecido como Proto-Villanova, prosperaram com base na agricultura (cereais e leguminosas), caça e pecuária (ovino, caprino, bovino e suíno), e a Itália Central possuía, igualmente, uma abundância dos minérios cobre e ferro. Estes benefícios resultaram num aumento da população, urbanização e estratificação social, advindo a cultura Villanova propriamente dita. Os assentamentos situaram-se e desenvolveram-se em planaltos facilmente defendíveis: Cerveteri, Tarquinia, Veii e Vulci, ou em colinas: Populónia e Chiusi; prefazendo as mais importantes acrópoles etruscas.

AS HABITAÇÕES ERAM FEITAS DE TAIPA OU TIJOLO DE BARRO SECO AO SOL, COM POSTES DE MADEIRA PARA SUPORTE E TELHADOS DE PALHA. MUITAS VEZES DECORADAS COM ADIÇÕES DE TERRACOTA.

A Habitação na Cultura Villanova

As habitações - retangulares, ovais e circulares - eram feitas de taipa ou tijolo de barro seco ao sol, com postes de madeira para suporte de telhados de palha e beirais. Em muitos casos, os buracos para sustento dos postes e os regos escavados na rocha da fundação para sustentar as paredes permanecem in situ. As habitações variam do tamanho menor, que teria abrigado uma família, até ao tipo retangular maior, medindo até 13 por 7 metros e suficientemente grande para 10 pessoas. Algumas habitações tinham grandes ânforas de cerâmica enterrados no chão para armazenar alimentos, e também há canais de drenagem escavados na rocha em volta dos edifícios para escoar a água da chuva que era conduzida e guardada em reservatórios comunitários.

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Faziam modelos das casas para colocar as cinzas dos falecidos e, talvez imitando a arquitetura real, algumas têm decoração nas paredes externas com padrões geométricos, uma abertura acima da porta para liberar o fumo e decorações no telhado, provavelmente imitando as adições de terracota tão típicas da arquitetura etrusca posterior, igualmente esculpidas em madeira.

Villanovan House Funerary Urn
Urna funerária em forma de casa - Cultura Villanova
Walters Art Museum (Public Domain)

A Metalurgia, a Migração e o Comércio

Para estes povos o cavalo era especialmente importante, como se verifica nos muitos vestígios de equipamento equestre e a frequente representação na arte. A qualidade do trabalho em bronze e cerâmica sugere a existência de uma classe de artesãos dedicados à sua produção. O início de uma elite social é indicado pela existência de bens funerários de melhor qualidade nalgumas necrópoles. A crença numa vida após a morte é sugerida pela presença de artigos e ferramentas do quotidiano em miniatura - geralmente facas, armas e armaduras para homens, e parafernália de tecelagem para mulheres, embora, em alguns casos, aconteça o inverso, sugerindo um papel mais ativo das mulheres na sociedade Villanova e a possibilidade de ter havido tecelões. À medida que as cidades prosperaram, as populações aumentaram, como prova a expansão das necrópoles, gerando uma maior competição por recursos e terras entre as acrópoles, resultando na criação de novas colónias a norte, sul e oeste da Itália central.

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A descoberta em cidades contemporâneas de produtos manufaturados específicos de cada área prova a existência de troca comércial. Na metade do século VIII a.C., houve um contacto cultural com o Mediterrâneo com a chegada dos colonos gregos (especialmente os eubeus), os quais desejavam explorar a região rica em minerais, a qual se tornaria a Etrúria; e os trabalhos em bronze indicam contacto com a Sardenha, Europa Central e os Balcãs. Estes vínculos trouxeram progressos na metalurgia, e a presença dos gregos é claramente visível nos muitos achados de cerâmica grega, bem como na cerâmica local feita imitando a grega.

Villanovan Bronze Helmet
Capacete de bronze - Cultura Villanova
Sailko (CC BY-SA)

Vestígios Arqueológicos

Mesmo às portas das localidades, nas colinas ou nas ravinas, as necrópoles revelam os vestígios remanescentes nas urnas cinerárias bicónicas (duas urnas, uma menor como tampa da outra) com decoração incisa simples de padrões geométricos, vórtices e suásticas, ou até mesmo simples figuras humanas de 'palito' (figuras longilíneas). Algumas urnas possuem tiras metálicas de chumbo ou estanho como decoração. O tipo de urna mais rara têm um capacete de bronze no topo com uma impressionante crista angular e decoração em relevo, ao invés da tampa de cerâmica. As urnas eram colocadas em covas rasas e acompanhadas por bens, como supra mencionado.

Posteriormente passaram ao túmulos com câmara, às vezes com o corpo colocado num sarcófago de madeira ou pedra. Na necrópole de Populónia alguns destes caixões continham casais, e o mesmo local apresenta a primeira evidência de tumbas de câmara. Construídas no final do século IX a.C. usando lajes de calcário, são precursoras das mais ambiciosas tumbas etruscas do século seguinte. Tais práticas funebres luxuosas para apenas alguns membros da comunidade indicam uma sociedade mais complexa e uma classe elitista separada. Nos assentamentos à norte, como perto de Bolonha, as estelas funerárias eram de pedra e esculpidas com relevos, normalmente com base retangular e parte superior circular, estão decoradas com motivos de fauna, esfinges e padrões geométricos. A representação neste, e noutros artefatos da Cultura Villanova, de uma "Senhora dos Animais" (Potnia Theron) - que segura um quadrúpede em cada mão - sugere que a deusa da natureza era o foco de prática religiosa.

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Villanovan Biconical Funerary Urn
Urna cinerária bicónica - Cultura Villanova
Sailko (CC BY-NC-SA)

A cerâmica era feita à mão, sem recurso à roda de oleiro, usando argila não purificada, cozida a baixa temperatura, produzindo as peças primitivas conhecidas como impasto. Os objetos de bronze incluem cintos, fivelas (algumas com contas de vidro incrustadas), alfinetes, agulhas de costura, fusos, pesos de tear, pulseiras, brincos, urnas, navalhas, couraças, escudos, capacetes e pontas de flecha (muitas vezes miniaturizadas). Além das peças de bronze, encontraram-se joias que incluem espirais de cabelo em ouro; brincos e fíbulas de âmbar do Mar Báltico; e colares com contas de osso, faiança e pasta de vidro listrada de azul e branco.

Análises aos restos humanos enterrados e/ou cremados das necrópoles revelaram que a expectativa de vida não passava dos 50 anos de idade e a dieta era geralmente pobre em proteína; comiam mais vegetais do que carne, mas a variedade de alimentos consumidos incluía fruta, frutos secos, peixe, ervilha, fava, cevada, e espelta que era torrada, moída e fervida numa papa que se tornou o prato principal da região.

Maturidade para a Cultura Etrusca

A Cultura Villanova, como vimos, passou por uma “orientalização”, em que a arte e a cultura foram influenciadas pelo contato com a Grécia, a Fenícia e o Oriente Próximo. Pelo que, o povo da Itália Central amadureceu na própria Cultura Etrusca; primeiro no sul e depois no norte, e das áreas costeiras para os assentamentos do interior. Ao longo desta época, na região não se encontram vestígios de migração de povos ou guerras, portanto a denominação, bastante infeliz, de Cultura Villanova, talvez, fosse melhor denominada como de Proto-Etrusca. Esse processo de evolução cultural, datável pelos bens funerários, estava completo no sul da Etrúria no início do século VII a.C.. Por estarem mais isoladas do Mediterrâneo, algumas regiões do norte da Itália (em redor do Vale do Pó) a Cultura Villanova persistiria até ao século VI a.C. Os Etruscos prosperariam até o século II a.C., aquando da conquista romana e da assimilação cultural.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Filipa Oliveira
Tradutora e autora, o gosto pelas letras é infindável – da sua concepção ao jogo de palavras, da sonoridade às inumeráveis possibilidades de expressão.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2017, fevereiro 06). A Cultura Villanova [Villanovan Culture]. (F. Oliveira, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-15685/a-cultura-villanova/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "A Cultura Villanova." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. Última modificação fevereiro 06, 2017. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-15685/a-cultura-villanova/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "A Cultura Villanova." Traduzido por Filipa Oliveira. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 06 fev 2017. Web. 21 dez 2024.