Tonatiuh, o "Senhor da Turquesa", era o quinto e atual sol na concepção asteca do universo e o feroz deus sol de várias outras culturas mesoamericanas pós-clássicas, incluindo os toltecas. Acreditava-se que apenas a oferenda regular de corações de vítimas sacrificiais iria nutrir Tonatiuh, dando-lhe forças suficientes para reinar supremo nos céus e combater a cada noite as forças da escuridão. Para muitos, o deus sol é a figura central da Pedra do Sol, talvez a mais famosa de todas as obras de arte astecas, onde sua língua aparece como uma lâmina sacrificial sedenta de sangue.
Nomes e Associações
Na Mesoamérica, a ideia de um deus sol com qualidades marciais vem desde uma figura do período Maia Clássico, K'inich Ajaw. Para a civilização zapoteca (500 a.C. - 900 d.C.), que floresceu nos planaltos meridionais do México central, no Vale do Oaxaca, Tonatiuh tinha o nome de Copijcha (ou Cocicho). A civilização tolteca, que ocupou o México central entre os séculos X e meados do século XII, associava estreitamente Tonatiuh com Quetzalcoatl, o deus da serpente emplumada, e sua manifestação como o planeta Vênus, em sua aparição como estrela da manhã.
Os astecas do México antigo (c. 1345-1521) também o conheciam como Cuauhtlehuanitl (Águia ascendente) e Cuauhtemoc (Águia descendente). Seu nome no calendário era Nahui ollin, 4 Movimento; atuava como deus patrono do 19° dia, Quiahuitl (chuva) e representava o quarto dos 13 Senhores do Dia astecas, com a codorniz como sinal de pássaro associado. Relacionava-se ao ouro e, para os mistecas, seria feito de turquesa, daí a denominação eventual de Tonatiuh como "Senhor da Turquesa" (de maneira confusa, é a mesma associação de Xiuhtecuhtli, o deus asteca do fogo). Tratava-se de uma divindade feroz e guerreira e é sugestivo que os astecas chamassem o cruel e implacável conquistador Pedro de Alvarado de Tonatiuh.
O Mito de Criação dos Astecas
Os astecas acreditavam que o universo havia passado por quatro estágios, cada um com seu próprio sol e seres vivos. Para eles, a era presente seria a do quinto e último sol, Tonatiuh. O deus nasceu do sacrifício de Nanahuatzin, que se atirou ao fogo em Teotihuacan e, assim, tornou-se o novo sol. Havia um problema imediato, pois Tonatiuh não podia ou não queria se colocar em movimento através do céu sem um sacrifício de sangue. Neste momento surgiu Tlahuizcalpantecuhtli, para os astecas o planeta Vênus em seu aspecto como a ameaçadora estrela da manhã. Furiosamente, ele lançou seu dardo atl-atl em Tonatiuh para colocá-lo em órbita, mas o sol retaliou, atirando o dardo de volta. Tlahuizcalpantecuhtli, atingido na testa, imediatamente transformou-se em pedra e no deus Itztlacoliuhqui, divindade associada com o gelo e o frio. Os demais deuses perceberam que apenas um sacrifício colocaria o sol em movimento e, assim, Quetzalcoatl removeu seus corações com este objetivo. A oferenda funcionou e Tonatiuh seguiu seu caminho pelos céus.
Tlahuizcalpantecuhtli não deixou a cena permanentemente, no entanto, e a cada 584 dias levantava-se do mar oriental para combater Tonatiuh novamente. Por esta razão, o deus sol precisava ser fortalecido com o sacrifício de humanos para se banquetear com seus corações, exatamente como foi nutrido pelos corações dos deuses no momento da criação. Acreditava-se que o sol era engolido a cada noite pela deusa da terra e fertilidade, Tlaltecuhtli, e então regurgitado pelo monstro em forma de tartaruga na manhã seguinte. Os sacrifícios asseguravam seu retorno e a vitória noturna contra Tlaltecuhtli e as forças da escuridão.
Os guerreiros tinham uma estreita associação com Tonatiuh, pois era seu dever providenciar um suprimento contínuo de vítimas sacrificiais para a divindade. Além disso, o deus conduzia os espíritos de guerreiros mortos para a vida além-túmulo. Por fim, dado o papel vital da divindade em garantir o bem-estar do universo e a posição do governante asteca como chefe dos guerreiros, Tonatiuh tinha seu próprio altar de sacrifícios durante as cerimônias de coroação. Em tempos de crise, tais como a fome, secas e guerra, Tonatiuh poderia receber um grande número de sacrifícios sangrentos que se tornariam um dos aspectos mais chocantes e conhecidos da civilização asteca desde então.
Representações na Arte
Na arte, Tonatiuh é mais frequentemente representado como um disco solar simbólico, que era gravado em monumentos e esculturas em larga escala. Um personificador do deus vestiria um disco deste tipo durante cerimônias de sacrifício realizadas em sua honra e, algumas vezes, o próprio deus era retratado em esculturas como um homem abaixado com um grande disco em suas costas. Um exemplo deste último tipo pode ser visto no Museu das Culturas, em Basiléia, na Suíça. No disco está o símbolo dos terremotos (ollin), que os astecas acreditavam ser a forma de destruição do quinto universo.
As representações iniciais de Tonatiuh aparecem na arte da civilização tolteca, no sítio pós-clássico de Ixtapantongo e na cidade maia de Chichén Itzá. Quando aparece colorido, como em códices pós-clássicos, ele é geralmente vermelho, com um adereço de cabeça de pluma de águia e um disco solar raiado. Finalmente, muitos estudiosos veem o rosto central da famosa Pedra do Sol (ou Pedra do Calendário), encontrada na base do Templo Maior, na capital asteca de Tenochtitlán, como sendo de Tonatiuh (para outros é o deus da noite, Yohualtecuhtli, ou então Tlaltecuhtli). Este monumento de basalto, criado por volta de 1427, mede 3,58 metros de diâmetro, tem espessura de 98 centímetros e pesa 25 toneladas. Representa não um calendário, mas um disco solar, retratando os cinco mundos do universo asteca e pode ter sido usada como um altar de sacrifícios. Está em exibição permanente no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.