Mixcoatl, "Serpente das Nuvens", era um deus mesoamericano identificado com a caça, a Via Láctea, as estrelas e céus em geral. A divindade pode ter se originado de um caçador e líder-guerreiro deificado dos povos tolteca-chichimecas do México Central. Na mitologia, é o pai das constelações meridionais e do grande deus mesoamericano Quetzalcoatl.
Nome e Associações
O nome Mixcoatl pode ser transcrito literalmente como "Serpente das Nuvens", ou seja, como os antigos mesoamericanos imaginavam a Via Láctea no céu noturno. Era filho dos deuses primordiais da criação, Tonacatecuhtli e Tonacacihuatl, em algumas tradições; em outras, descendia da deusa da terra Itzpapalotl ("Borboleta de Obsidiana") e tinha como esposa Coatlicue ("Saia de Serpente"), outra deusa da terra e fertilidade. Considerava-se Mixcoatl o pai dos Centzon Huitznahua, os 400 filhos que representavam as estrelas meridionais. Além disso, ao se transformar num cervo e forçar suas atenções sobre a grande caçadora Chimalman ou a deusa da terra, Cihuacoatl, tornou-se o pai de Quetzalcoatl, o grande deus da serpente emplumada da Mesoamérica.
Mixcoatl era o patrono ou deus principal dos chichimecas (e de muitos outros povos que afirmavam descender deles) e dos otomis do México Central. Como Camaxtl, tornou-se alvo de adoração especial em Huejotzingo e Tlaxcala. Mais tarde, os astecas substituíram Mixcoatl em grande parte pelo seu poderoso deus solar e da guerra, Huitzilopochtli, embora continuasse associado com o Tezcatlipoca Vermelho, um aspecto do onisciente e onipresente deus supremo do panteão asteca, Tezcatlipoca. Em uma tradição, Tezcatlipoca transformou-se em Mixcoatl e então inventou a broca de fricção para dar à humanidade o benefício do fogo. Finalmente, a divindade estava associada com relâmpagos, trovões e com o ponto cardeal Norte.
Festivais e Culto
Mixcoatl estava associado ao 14° mês asteca, Quecholli (um tipo de pássaro), ocasião em que se realizavam banquetes e caçadas em sua homenagem no Monte Zacatepetl. Os caçadores vestiam-se como o deus, faziam flechas e acendiam fogos rituais para celebrar seu presente. Neste festival, as mulheres levavam suas crianças mais novas para dançar com a sacerdotisa de Mixcoatl, que recebia bolos. Ocorriam também sangrentos sacrifícios humanos para a divindade, descritos aqui pelo historiador M. E. Miller:
Um homem e uma mulher eram sacrificados para Mixcoatl em seu templo. A vítima feminina era morta como um animal selvagem; golpeava-se sua cabeça contra uma pedra até que estivesse semi-inconsciente; em seguida, cortava-se sua garganta e a cabeça acabava decapitada. A vítima masculina exibia a cabeça para a multidão reunida antes que ele mesmo fosse sacrificado com a retirada do coração. (116)
Mixcoatl, junto com vários outros deuses da caça e Tezcatlipoca, também recebia homenagens durante o quinto mês, Toxcatl (“Seca”), com um festival no qual se realizavam outras caçadas e uma caça encenada de prisioneiros de guerra vestidos como cervos. Banquetes e o sacrifício de personificadores da divindade homenageados acompanhavam as festividades.
O Mixcoatl Tolteca
Semelhante a Hércules da mitologia grega, Mixcoatl talvez tenha sido um mortal comum que ganhou fama como grande caçador, guerreiro e líder, conquistando o status de divindade. A civilização tolteca floresceu entre os séculos X e XII no México Central e, conforme a tradição, seu lendário chefe Ce Tecpatl Mixcoatl (“Serpente das Nuvens de Pedra”, isto é, a Via Láctea) os liderou a partir dos desertos do noroeste até Culhuacan, no Vale do México. Ao engravidar com uma flecha sua esposa, uma mulher local nahua chamada Chimalman, Mixcoatl teve um filho, Ce Acatl Topiltzin, nascido no dia 1 Junco de 935 ou 947 d.C. Topiltzin assumiu o título honorário de Quetzalcoatl e conquistou grande renome ao consolidar e expandir o Império Tolteca Chichimeca, com sua impressionante capital em Tula.
Representações na Arte
O deus está representado no cabo dourado de um lançador de dardos de madeira de lei asteca (atl-atl) atualmente no Museu Britânico, em Londres. Nele ele usa uma máscara com presas, brincos em forma de cascos de cervo e um adorno de cabeça com penas de águia, enquanto combate uma cascavel. Mixcoatl aparece em códices usando pintura corporal vermelha e branca em listras, uma máscara negra na parte superior da face e penas de águia. Como outras divindades estelares, ele pode ter estrelas no rosto. Tipicamente está carregando um arco e uma aljava de flechas, além de uma rede de caça ou cesto e, algumas vezes, aparece no ato de matar um jaguar, num lembrete de seu papel como patrono dos caçadores.