A Arte da Guerra

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Joana Mota
publicado em 18 julho 2017
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, indonésio
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Chinese Terracotta Warrior (by glancs, CC BY)
Guerreiro Chinês de Terracota
glancs (CC BY)

A Arte da Guerra (Sunzi bingfa) é um tratado militar do século V AEC escrito pelo estrategista chinês Sun-Tzu (também conhecido como Sunzi ou Sun Wu). Abrangendo todos os aspetos da guerra, procura aconselhar os comandante em como preparar, mobilizar, atacar, defender e tratar os derrotados. Um dos textos mais influentes da história, foi usado por estrategistas militares por mais de 2.000 anos e admirado por líderes desde Napoleão a Mao Zedong.

Sun-Tzu

Os detalhes biográficos sobre Sun-Tzu são escassos. Diz-se que ele viveu por volta de 500 AEC, nasceu no estado de Qi, mas atuou como comandante no estado de Wu, no sul. Tradicionalmente, acredita-se que a sua famosa obra, A Arte da Guerra, tenha sido escrita nas fases posteriores do Período dos Reinos Combatentes (481-221 AEC), mas desde a descoberta de uma versão mais antiga do texto escrito em tiras de bambu numa tumba em Yinqueshan, no sul de Shandong, a data da composição remonta ao século V AEC. Parte do conteúdo também coloca o texto neste período, enquanto, ao mesmo tempo, alguns estudiosos diferem em opiniões e apontam a linguagem sofisticada e outras questões de desenvolvimento militar inseridas no texto como evidência de que foi compilado posteriormente. A versão tradicional do texto foi editada pelo ditador militar do século III EC, Cao Cao. As traduções em inglês do texto são frequentemente incluídas numa antologia intitulada os Sete Clássicos Militares, que também inclui obras de outros autores, como as Seis Estratégias Secretas e Wei Liaozi.

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Estrutura & Temas

A Arte da Guerra está dividida em 13 capítulos ou pian que abrangem diferentes aspetos do estado de guerra, desde o planeamento à diplomacia. A obra não é tímida no uso do engano, que lidera muitos dos estratagemas sugeridos. Ainda assim, o livro não é uma glorificação da guerra, e um ponto importante, levantado várias vezes na obra, é que o combate real apenas resulta do fracasso de outras estratégias para derrotar o inimigo e é sempre um desperdício indesejável de homens e recursos.

A ARTE DA GUERRA É MUITAS VEZES CITADA COMO FONTE DE REFERÊNCIA PARA AQUELES QUE SE ENVOLVEM NA GUERRILHA.

Como muitos dos conselhos se relacionam com o envio de tropas, com imaginação e ousadia, baseado num bom conhecimento prévio do terreno e do inimigo, retiradas e contraofensivas e a importância da psicologia, A Arte da Guerra é frequentemente citada como fonte de referência para aqueles que se envolvem na guerrilha. Por esta razão, as ideias de Sun-Tzu continuaram a ser relevantes para a condução da guerra, independentemente do desenvolvimento da tecnologia ou do aumento do poder destrutivo das armas. Onde quer que os soldados fiquem cara a cara com o inimigo, as ideias de Sun-Tzu podem ser aplicadas.

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Um conceito importante no texto e nos tratados que se seguiram é qi (ou shih), que é a 'respiração' ou essência da vida no pensamento chinês. A sua relevância para a guerra é que os comandantes devem energizar o qi das suas próprias tropas e, ao mesmo tempo, drená-lo do inimigo. Assim, a psicologia da guerra é reconhecida como um fator vital para o sucesso geral das campanhas.

The Art of War by Sun-Tzu
A Arte da Guerra por Sun-Tzu
Coelacan (CC BY-SA)

A Arte da Guerra não foi admirada por todos. Seguidores do confucionismo opuseram-se ao uso do engano, que consideraram contrário à conduta cavalheiresca. Outro crítico foi Han Fei Tzu, um filósofo influente e conselheiro do Rei Cheng do estado de Ch'in durante o Período dos Reinos Combatentes. Fei Tzu pensava que a obra negligenciava a disciplina como um elemento importante para o sucesso de um exército e não se convencia com o argumento de que a limitação das consequências destrutivas da guerra devia estar sempre nos pensamentos de um comandante.

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Resumo do Texto

Capítulo 1: Estimativas Iniciais

O livro começa com a seguinte declaração: “A guerra é o maior assunto de estado, a base da vida e da morte, o Caminho [Tao] para a sobrevivência ou extinção. Deve ser cuidadosamente ponderado e analisado "(Sawyer, 2007, 157). Seguidamente, somos informados de que um comandante que procura a vitória deve considerar cinco princípios ou áreas: pensamento Tao, yin e yang, terreno, generais sábios e corajosos e as leis da guerra e da disciplina.

Capítulo 2: Travar uma Guerra

A importância das provisões e da logística para um exército são expressas. As armas ficarão lentas, a comida acabará e os soldados ficarão cansados, de modo que "Nenhum país jamais lucrou com a guerra prolongada" (ibid, 159). Se possível, as provisões devem ser adquiridas a partir do inimigo. Os soldados capturados devem ser bem tratados e incentivados a juntar-se ao exército dos seus vencedores.

"A MAIOR REALIZAÇÃO DA GUERRA É ATACAR OS PLANOS DO INIMIGO" (A ARTE DA GUERRA)

Capítulo 3: Planear Ofensivas

Um comandante deve limitar a destruição infligida ao inimigo: "A maior realização da guerra é atacar os planos do inimigo; em seguida, é atacar as suas alianças; em seguida, atacar o seu exército; e a menor é atacar as suas cidades fortificadas" (ibid, 161). A guerra de cerco é cara e demorada e, portanto, deve ser o último recurso. Cinco fatores influenciarão a vitória: saber quando lutar ou recuar, saber como implantar pequenos e grandes exércitos, saber como motivar todos os níveis de tropas, preparação (mesmo para o inesperado) e ter um governante que não interfira com um comandante talentoso. A importância de conhecer o inimigo é enfatizada.

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Capítulo 4: Disposição Militar

O planeamento e a preparação são novamente enfatizados. Os comandantes devem saber quando atacar e quando defender. Eles devem medir, estimar, calcular e pesar sempre a força de seu inimigo, assim a vitória estará assegurada.

Capítulo 5: Poder Militar Estratégico

Aqui Sun-Tzu discute a necessidade de gerir as tropas em todas as situações:

... na batalha, alguém se envolve com o ortodoxo e obtém a vitória através do não ortodoxo... Aquele que emprega poder estratégico [shih] comanda homens em batalha como se estivessem a rolar troncos e pedras... Assim, o poder estratégico [shih] de alguém que se destaca em empregar homens na guerra é comparável a rolar pedras redondas de uma montanha de mil metros abaixo. (ibid, 165)

Capítulo 6: Vazio & Substância

O inimigo deve ser forçado a reagir ou ser provocado a reagir, seguindo sempre a iniciativa do eventual vencedor. Deve-se ocupar o campo de batalha primeiro, familiarizando-se com ele e com as disposições do inimigo. Um comandante não deve deixar claro onde está a atacar, mas sondar e encontrar a fraqueza do inimigo, monitorizando e avaliando a sua capacidade de responder a ataques em vários lugares: “Assim, o auge do desdobramento militar aproxima-se do informe. Se não tem forma, nem mesmo o espião mais profundo pode discerni-lo ou os sábios fazem planos contra ele "(ibid, 168).

Capítulo 7: Combate Militar

Sobre as dificuldades de mover um exército no campo e garantir que as tropas sejam mantidas juntas e não separadas umas das outras ou das suas provisões:

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Assim, o exército é estabelecido por engano, move-se para obter vantagem e muda por meio da segmentação e da reunificação. Assim, a sua velocidade é como o vento, a sua lentidão como a floresta, a sua invasão e pilhagem como um incêndio; imóvel, é como as montanhas. É tão difícil de saber quanto a escuridão; em movimento, é como um trovão. (ibid, 169)

O exército pode tornar-se mais coeso ao garantir que todos estejam motivados para lutar e receberão as suas recompensas. Também pode ser mais bem gerido como uma unidade no campo de batalha pelo uso de tiros, bandeiras e tambores.

Capítulo 8: Nove Mudanças

Sun-Tzu identifica nove pontos de ação que um comandante deve seguir, que incluem usar o terreno a seu favor, sem pressionar o inimigo ou atacar as suas cidades em todas as situações. O comandante deve pesar sempre as vantagens do ganho e os perigos das perdas em cada ação que realiza.

Capítulo 9: Manobrar o Exército

Um comandante deve ocupar terreno elevado quando puder e não deve permanecer próximo de rios, desfiladeiros, florestas ou pântanos. Esses lugares são os principais locais para emboscadas. Depois segue uma lista de pontos sobre como identificar o que o inimigo está a tramar, desde movimentos de tropas até ao seu nível de fome.

Chariot, Terracotta Army
Carruagem, Exército de Terracota
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

Capítulo 10: Configurações do Terreno

Sun-Tzu identifica as formas mais comuns de terreno: acessível (permitindo a liberdade de movimento das tropas), suspenso (onde a retirada é difícil), paralisado (onde o movimento de ambos os lados não traz nenhuma vantagem particular), restrito (as tropas devem ocupar todo o terreno para defendê-lo), precipitado (o terreno elevado deve ser ocupado para o sucesso) e expansivo (onde o combate não é desejável para nenhum dos lados). As fraquezas dos exércitos são identificadas, como oficiais militarmente pobres, generais que não aplicam disciplina e oficiais subalternos insubordinados.

Um comandante deve conhecer muito bem o seu exército e as suas capacidades. Adicionalmente,

Quando o general considera as suas tropas como crianças, elas avançam para os vales mais profundos com ele. Quando ele considera as tropas como os seus filhos amados, eles estarão dispostos a morrer com ele. (ibid, 177)

Capítulo 11: Nove Terrenos

São identificados outros nove tipos de terreno que irão determinar as ações de um general: dispersivo (quando os senhores feudais estão no seu próprio terreno), leve (quando um comandante entra apenas um pouco no território inimigo), contencioso (onde qualquer um dos lados pode obter vantagem), atravessável (ambos os lados podem facilmente manobrar), focal (terreno delimitado por potenciais aliados), pesado (onde se pode atacar profundamente em território inimigo), aprisionamento (terreno com dificuldades como pântanos e ravinas), cercado (terreno com pontos de acesso limitado) e fatal (onde pode ocorrer uma vitória ou perda decisiva).

Capítulo 12: Ataques Incendiários

Sun-Tzu identifica os diferentes alvos para ataques incendiários: homens, provisões, comboios de abastecimento, arsenais e formações. Novamente, a preparação, o tempo e as condições climáticas devem ser considerados para maximizar a eficácia do ataque.

Capítulo 13: Empregar Espiões

Os efeitos negativos da guerra na população local são considerados. A importância de conhecer o inimigo é repetida, e isto pode ser adquirido por meio de espiões. Existem vários tipos de espiões que podem ser utilizados de forma útil: locais, dispensáveis, aqueles com uma posição alta no governo inimigo, agentes duplos e aqueles que voltam após cumprir o seu dever. Os espiões devem ser recompensados generosamente, deve-se estar atento e preparado para ser ele mesmo espiado, e um bom comandante pode usar espiões para desinformar o inimigo.

Em geral, quanto aos exércitos que desejas atacar, as cidades que desejas atacar e os homens que desejas assassinar, primeiro tu deves saber os nomes do comandante defensivo, dos seus assistentes, do pessoal, dos guardas de porta e dos criados. Tu deves ter os nossos espiões a procurar e a aprender todos eles. (ibid, 186)

Legado

A Arte da Guerra não só influenciou outros trabalhos chineses semelhantes sobre estratégia militar durante o Período dos Estados Combatentes, quando esses manuais se tornaram comuns e os oficiais podiam recitar passagens de cor, mas também escritores e comandantes posteriores. Foi consultado por comandantes japoneses medievais, Napoleão disse ter empregue muitos princípios expostos no livro, e o líder chinês Mao Zedong era um grande fã do trabalho e citou-o como um fator que contribuiu para sua vitória sobre Chiang Kai-shek na civil guerra em meados do século XX EC. Ho Chi Minh também empregou muitos dos princípios de Sun-Tzu durante a Guerra do Vietname no final do mesmo século. Sendo o tratado militar mais famoso da história asiática, a obra continua a ser tão popular como sempre e é frequentemente incluída como leitura essencial em currículos de cursos de história e ciências políticas mundialmente.

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Sobre o tradutor

Joana Mota
Sou portuguesa e, atualmente, vivo no meu país. Sou farmacêutica, biomédica e tradutora freelance. Adoro viajar, conhecer pessoas novas e melhorar o meu conhecimento sobre diferentes culturas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2017, julho 18). A Arte da Guerra [The Art of War]. (J. Mota, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-16193/a-arte-da-guerra/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "A Arte da Guerra." Traduzido por Joana Mota. World History Encyclopedia. Última modificação julho 18, 2017. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-16193/a-arte-da-guerra/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "A Arte da Guerra." Traduzido por Joana Mota. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 18 jul 2017. Web. 21 nov 2024.