Sejong, o Grande

Definição

Ben Griffis
por , traduzido por Letícia Amboni
publicado em 18 janeiro 2021
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, Malaio
Imprimir artigo
King Sejong the Great (by Republic of Korea, CC BY-SA)
Rei Sejong, o Grande
Republic of Korea (CC BY-SA)

Rei Sejong, o Grande (15 de maio de 1397 a 8 de abril de 1450) governou a Coreia de 1418 a 1450, como o quarto rei da Dinastia Joseon (também escrita como Choson). Sejong é um de apenas dois reis coreanos chamados de “o Grande” atualmente, e causou um impacto significante na Coreia e nos coreanos. Sua maior conquista foi a criação do Hangul, o alfabeto coreano, mas todo o seu apoio à ciência, tecnologia, literatura e medicina foi impactante para o país e o povo.

Ascensão ao Trono

Sejong, nascido sob o nome de Yi Do, teve uma jornada inusitada até o trono Joseon. Ele era o terceiro filho do Rei Taejong, o que o tornava o terceiro na linha de sucessão. No entanto, seu pai favorecia a ele, e não aos seus irmãos mais velhos, Yangnyeong e Hyoryeong. Yangnyeong foi removido da linha de sucessão, abdicando voluntariamente de seu título de príncipe ou o tendo retirado por seu pai; os historiadores ainda não sabem o que aconteceu de verdade.

Remover publicidades
Publicidade
Sejong deixou um legado em tudo, desde campanhas militares, avanços científicos e literatura até em medicina, marcação de tempo e cartografia.

O segundo filho de Taejong, Hyoryeong, foi viver em um monastério após a remoção de Yangnyeong como príncipe, deixando Sejong como o herdeiro. Isso se solidificou ainda mais quando um grupo de 15 súditos apresentou uma petição (Gongnon, em coreano) ao Rei Taejong. Eles propuseram que o membro mais virtuoso da família real deveria ser o príncipe herdeiro ao invés da próxima pessoa na linha de sucessão, que seria o primeiro filho de Yangnyeong.

O Rei Taejong aceitou esta petição e deu a Sejong o título de príncipe herdeiro. A ascensão de Sejong ao trono foi concluída quando Taejong se aposentou para permitir que seu filho governasse, em 1418. Porém, Taejong continuou influenciando tanto a corte quanto o novo rei até sua morte, em 1422. Após a morte de seu pai, Sejong deixou um legado em tudo, desde campanhas militares, avanços científicos e literatura até em medicina, marcação de tempo e cartografia. Como um governante, Sejong baseava suas decisões e políticas no pensamento confucionista, suprimindo o budismo coreano e o islamismo no processo.

Remover publicidades
Publicidade

Campanhas Militares

O pai de Sejong, Taejong, e seu avô, Taejo, expandiram as fronteiras da jovem Dinastia Joseon ao repelir os últimos mongóis da península coreana e lutar com os piratas japoneses wako da Ilha de Tsushima. Sejong trabalhou para solidificar as fronteiras recém expandidas e supervisionou a Expedição Oriental Gihae (chamada de Invasão Oei, em fontes japonesas) para reprimir os piratas de Tsushima de uma vez por todas.

Map of Medieval Japanese Trade & Wako Pirates
Mapa do Comércio Japonês Medieval & Piratas Wako
Jan van der Crabben (CC BY-NC-SA)

A Expedição Gihae foi um sucesso, com os governantes de Tsushima, os Sō, se rendendo a Sejong em 1419. Tsushima – conhecida como Daemado, em coreano – se tornou um território da Dinastia Joseon, uma reivindicação feita pela Coreia até 1951. Apesar de os ataques piratas não terem desaparecido completamente, os ataques a navios e terras coreanas foram amplamente suprimidos. Com as maiores ameaças militares à Coreia resolvidas, Sejong passou a se dedicar a empreitadas humanistas.

Remover publicidades
Publicidade

Avanços Científicos e Tecnológicos

Sejong logo percebeu a necessidade de ter cientistas residentes em sua corte e, dois anos depois de se tornar rei, em 1420, ele criou o Salão dos Dignos (Jiphyeonjeon). O Salão dos Dignos atuava tanto como conselheiro do rei quanto como um mecanismo de pesquisa acadêmica. Muitas das invenções e artigos científicos do reinado de Sejong vieram dos cientistas que ele nomeou para o Salão dos Dignos.

O rei Sejong herdou os avanços de seu pai na impressão de tipos móveis e expandiu sua capacidade para se tornar a nação líder em impressão do Leste Asiático na época. Enquanto os chineses ignoravam essa nova tecnologia, os coreanos da dinastia Joseon a adotaram e aumentaram a velocidade de impressão em 20 vezes quando finalizaram o projeto em 1434. A maior capacidade de impressão ajudou Sejong a publicar e fazer circular seus outros avanços científicos e médicos durante seu reinado.

Outros avanços tecnológicos patrocinados por Sejong incluíam dispositivos para analisar eventos meteorológicos. Sejong supervisionou a invenção de pluviômetros e hidrômetros como uma forma de analisar e registrar objetivamente a precipitação em diferentes partes do reino. A invenção de um dispositivo para medir a velocidade e a direção do vento com um tecido cilíndrico acrescentou uma camada extra de dados para os cientistas da era de Sejong.

Remover publicidades
Publicidade

Sejong-era Water Clock Replica
Réplica de um Relógio de Água da Era de Sejong
InSapphoWeTrust (CC BY-SA)

Para aprofundar o conhecimento astronômico, Sejong ordenou a construção de uma plataforma de observação no Palácio Gyeongbok, onde instrumentos de última geração estavam disponíveis para uso dos cientistas. Outras invenções da época incluíam um relógio de sol portátil com uma bússola integrada e um relógio de água preciso. O relógio de água foi inventado por Jang Yeong-Sil, que nasceu como plebeu, mas Sejong percebeu suas habilidades científicas e criatividade e ofereceu levá-lo para a corte e pagá-lo para trabalhar em invenções.

Outra ciência que Sejong apoiou foi a cartografia. Com a inclusão das terras tomadas dos japoneses e mongóis por seu avô, seu pai e a Expedição Gihae, os mapas coreanos precisavam ser atualizados. Os cartógrafos de Sejong usaram observações astronômicas calculadas com as novas invenções para criar mapas que até hoje são excepcionalmente precisos. Os cientistas também mudaram o meridiano principal em seus mapas para Seul, a capital, em vez de Pequim ou Nanjing, as capitais chinesas da época. Isso fez com que os mapas coreanos fossem muito mais precisos do que antes.

Por último, outra grande área de avanço durante o governo de Sejong foi a agricultura. Sejong instruiu seus cientistas a compilar um livro sobre agricultura, o Nongsa Jikseol. Esse livro incluía descrições de materiais e práticas recomendadas de todas as regiões da Coreia. Sejong queria ajudar os agricultores coreanos a aprender as melhores maneiras de aumentar o rendimento das colheitas. Além disso, Sejong reformulou os impostos para os agricultores, de modo que, em anos de safra ruim, os agricultores pagariam menos impostos. Isso permitiu que eles se concentrassem no cultivo dos alimentos para o reino.

Remover publicidades
Publicidade

Avanços Sociais

Sejong governou e escreveu leis de acordo com os ideais confucionistas.

Além de reformar os impostos para os agricultores (chamados de Gongbeop), Sejong enviou assessores e ministros por toda a Coreia para avaliar as opiniões de seu povo sobre o novo sistema antes da implementação – um processo de 17 anos de pesquisas com o público e debates com ministros. Depois que a população e os ministros concordaram que o novo sistema tributário progressivo era melhor do que o sistema Jo-Yong-Jo original implementado cerca de 400 anos antes pela dinastia Goryeo, Sejong finalmente implementou a reforma tributária. Esse vai-e-vem de pesquisas e debates antes de implementar um novo sistema de tributação mostra a benevolência de Sejong para com seus súditos e seu desejo por uma Coreia melhor.

Como ilustrado pela reforma tributária, Sejong governou e escreveu leis de acordo com os ideais confucionistas. Ele acreditava que as leis precisavam se adequar à vontade e à crença do povo, que precisavam ser seguidas tanto pelo rei quanto pelo povo e que não podiam ser alteradas ou abolidas sem o devido debate.

Avanços Médicos

Sejong, inicialmente usando a lista de problemas de seu pai sobre o sistema médico da Coreia, avançou tanto no estudo da medicina quanto na distribuição de serviços de saúde para a população. A primeira mudança feita por Sejong foi a reorganização do sistema de saúde da Coreia. Ele introduziu diferentes postos que se concentravam em apenas uma classe, em oposição ao sistema anterior, que era responsável por todos os cuidados para todas as classes. Um posto prestava assistência médica à família real; outro posto prestava assistência a funcionários de alto escalão e outro prestava assistência a outros funcionários. A população em geral recebia seus cuidados em postos mais localizados.

Remover publicidades
Publicidade

Esse sistema de saúde reformulado representava o sistema burocrático do período Joseon, com o rei e a família real no topo, seguidos pelos conselheiros e ministros e, depois, pelos funcionários. Sejong também enfatizou o fornecimento de medicamentos para a população em geral mais do que os reis anteriores e tornou a assistência médica mais acessível ao instruir os programas médicos estaduais a obter ingredientes locais e reduzir o custo dos medicamentos.

Sejong também reformou a pesquisa e o treinamento médico. Ele criou um grupo de acadêmicos dedicados a estudar textos médicos da China, escolhidos a dedo entre os aprovados no exame de admissão ao serviço público (o Gwageo). Em 1433, Sejong e o Salão dos Dignos publicaram o Hyangyak Jipseongbang, um texto que compilava todo o conhecimento médico da Coreia com ênfase nos ingredientes locais e no conhecimento das limitações desses ingredientes. Esse foi um movimento em direção à medicina coreana nativa, em vez de importar a medicina tradicional chinesa como antes. Em 1445, foi publicada mais uma enciclopédia de conhecimentos e receitas médicas, a Uibang Yuchwi.

Hangul – O Alfabeto Coreano

Mesmo com muitos outros avanços, o maior legado de Sejong foi a criação e a introdução do alfabeto nativo da língua coreana, o Hangul (chamado de Chosongul na Coreia do Norte, que significa “Escrita Joseon”). Os historiadores não têm certeza de quando exatamente Sejong começou a desenvolver o alfabeto, mas ele o finalizou em 1443 e o publicou em 1446 como Hunmin Jeongeum.

Remover publicidades
Publicidade
O maior legado de Sejong foi a criação e introdução do Hangul, o alfabeto coreano.

Antes da introdução do Hangul, o idioma coreano era escrito com caracteres chineses clássicos, simplificados com notas para levar em conta as diferenças entre os idiomas. (O coreano e o chinês, apesar de serem ambos idiomas do leste asiático, não estão relacionados). Isso significava que somente aqueles que tinham condições de pagar pela educação - as classes dominantes e altas - podiam ler e escrever. Sejong queria mudar isso para que até mesmo os camponeses pudessem aprender a ler e escrever em poucos dias – para grande oposição das classes de elite.

O Hangul é um alfabeto em que cada uma das 28 letras (atualmente 24) representa uma consoante ou uma vogal. Sejong projetou as consoantes para imitar aproximadamente a posição da boca e da língua ao dizer cada letra, facilitando para os coreanos aprenderem a ler e escrever usando o Hangul. Para formar palavras, as letras são arranjadas em blocos silábicos, para que cada sílaba de uma palavra seja um bloco de duas a quatro letras.

Por exemplo, o nome de Sejong tem duas sílabas: “se” e “jong”. As letras de seu nome, em ordem, são: ㅅ (s), ㅔ (e), ㅈ (j), ㅗ (o), ㅇ (ng, uma letra em coreano). Portanto, a primeira sílaba de seu nome é 세 e a segunda sílaba é 종. Juntas, o nome em Hangul fica 세종 (Se-jong).

Hunmin Jeongeum
Hunmin Jeongeum
Jeremy Thompson (CC BY)

A facilidade com que o Hangul podia ser aprendido por qualquer pessoa assustava os ministros e conselheiros de Sejong. A capacidade dos camponeses de ler e escrever ameaçava a posição de suas famílias na corte, pois aumentava o número de funcionários públicos em potencial. Após a morte de Sejong, a elite restringiu seu uso. No entanto, o Hangul continuou vivo por meio de escritos de ficção e do uso que as mulheres faziam dele para se comunicar com os membros da família em casa enquanto estavam na corte.

Remover publicidades
Publicidade

Depois de ser proibido sob a ocupação japonesa no início do século XX, grande parte da população coreana adotou o alfabeto como símbolo de independência e nacionalismo. Após a independência do Japão em 1946, o país adotou o Hangul como a escrita oficial do idioma coreano, 500 anos após sua publicação inicial.

Legado

Sejong morreu em 1450, após governar por 32 anos. Seu reinado testemunhou um avanço científico e tecnológico sem igual na Coreia e trouxe um período de estabilidade política. Embora a Dinastia Joseon tenha governado a Coreia de 1392 a 1897, Sejong é lembrado como um dos mais importantes governantes do período. Sua maior conquista foi a criação do Hangul, o alfabeto coreano, mas todo o seu apoio à ciência, tecnologia, literatura e medicina foi impactante para o país e o povo. Tanto é que o novo centro administrativo da Coreia do Sul, a Cidade de Sejong, recebeu seu nome.

Remover publicidades
Publicidade

Perguntas e respostas

Pelo que Sejong, o Grande era conhecido?

A maior conquista de Sejong foi a criação do Hangul, o alfabeto coreano, mas todo seu apoio à ciência, tecnologia, literatura e medicina teve um grande impacto na Coreia e nos coreanos.

Quando Sejong, o Grande criou o Hangul?

Os historiadores não têm certeza de quando exatamente Sejong começou a desenvolver o alfabeto, mas ele o finalizou em 1443 EC e o publicou em 1446 EC, como Hunmin Jeongeum.

O que era o Salão dos Dignos?

O Salão dos Dignos, também conhecido como Jiphyeonjeon, foi uma instituição fundada na Coreia por Sejong, o Grande, em 1420 EC. Os membros do Salão dos Dignos atuavam como conselheiros e realizavam pesquisas acadêmicas.

Bibliografia

A Enciclopédia da História Mundial é uma Associada da Amazon e recebe uma contribuição na venda de livros elígiveis

Sobre o tradutor

Letícia Amboni
Letícia Amboni é tradutora e designer, formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Design Gráfico. Atualmente, cursa pós-graduação em Tradução Profissional pela PUCPR.

Sobre o autor

Ben Griffis
Ben is a writer and statistician with many varied interests. His main history expertise is Korean history, with other regional interests including African, Ancient Mediterranean, and general Asian history.

Citar este trabalho

Estilo APA

Griffis, B. (2021, janeiro 18). Sejong, o Grande [Sejong the Great]. (L. Amboni, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-16389/sejong-o-grande/

Estilo Chicago

Griffis, Ben. "Sejong, o Grande." Traduzido por Letícia Amboni. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 18, 2021. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-16389/sejong-o-grande/.

Estilo MLA

Griffis, Ben. "Sejong, o Grande." Traduzido por Letícia Amboni. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 18 jan 2021. Web. 21 fev 2025.