
As ruínas da Catedral de Zvartnots estão localizadas na planície do Planalto de Ararat, entre as cidades de Yerevan e Etchmiadzin, na província de Armavir, na Arménia, perto do Aeroporto Internacional de Zvartnots. Construída em meados do século VII, a mando do Católico Nerses III (r. de 641 a 661), é a igreja tetraconcha com naves laterais mais antiga e a maior da Arménia histórica. A arquitectura da Catedral de Zvartnots influenciou fortemente as construções posteriores das outras igrejas na Arménia com salões transversais de cúpula central, deixando uma marca arquitectónica e artística duradoura no que é hoje a Arménia, a Geórgia, o Azerbaijão e o leste da Turquia. No século X, um terramoto destruiu consideravelmente a Catedral de Zvartnots, contudo, entre 1900-07 foi redescoberta e escavada; na década de 1940, com base na pesquisa do historiador de arquitetura armênio Toros Toramanian (1864-1934) as ruínas de Zvartnots foram parcialmente reconstruídas e podem ser visitadas. Em 2000, a UNESCO adicionou as ruínas da Catedral de Zvartnots à sua Lista do Património Mundial como Sítio Arqueológico de Zvartnots.
Antecedentes
A Catedral de Zvartnots foi construída numa época de grande caos no Oriente Próximo. Após décadas de guerra intermitente entre os Sassânidas e os Bizantinos, os invasores árabes, trazendo a fé islâmica, surgem da Península Arábica, conquistam o controlo de Jerusalém e Alexandria aos Bizantinos, e vencem o formidável Império Sassânida, actualmente o Iraque e o Irão. Uma vez que a Arménia se situa no Cáucaso e ser como um baluarte geográfico na fronteira oriental do Império Bizantino, rapidamente se tornou uma região disputada entre os bizantinos e os árabes. A primeira invasão árabe da Arménia ocorreu em 640, e, em 642, os árabes massacraram milhares de arménios na antiga capital de Dvin. De 643 a 656, os árabes lançaram uma invasão em grande escala no Cáucaso, apenas para serem interrompidos temporariamente pelos exércitos do Imperador Bizantino Constante II (r. de 641 a 668). Apesar de gratos pela ajuda bizantina, muitos arménios estavam preocupados com a crescente influência religiosa e interferência de Bizâncio.
No século VII, os arménios estavam divididos entre aqueles que desejavam que a Igreja Apostólica Arménia aceitasse as decisões tomadas no Concílio da Calcedónia em 451, que condenava a crença numa natureza encarnada de Cristo, e aqueles que desejavam manter a separação entre as Igrejas Ortodoxa Oriental e Apostólica Arménia. Em 647, com a presença das tropas bizantinas na Arménia, Constante II (o Barbado) resolve o conflito colocando a Igreja Apostólica Arménia sob a jurisdição do Patriarcado de Constantinopla. Em 640, Nerses III, "o Construtor", é eleito como o Católico da Igreja Apostólica Arménia, justamente aquando da chegada dos exércitos árabes à Arménia. Durante esta era, o Católico Arménio - o chefe da Igreja Apostólica Arménia - detinha poder tanto temporal quanto espiritual sobre o povo arménio, e desta forma, exercia e dominava de forma considerável o poder político.
Em 652, Constante II visitou Nerses III na Arménia de forma a expandir a influência bizantina nos assuntos relacionados com a religião, bem como no desenvolvimento de uma defesa mútua e comum contra os árabes muçulmanos. Nerses III era pró-bizantino tanto nas visões religiosas quanto políticas; era fluente em grego, serviu no exército bizantino e até visitou a corte de Constante II em Constantinopla em 654. Constante II considerou Nerses III um aliado muito útil e necessário devido ao seu receio de novas invasões árabes, bem como de potenciais confrontos entre soldados bizantinos e arménios por causa das diferenças religiosas.
Detalhes arquectónicos e elementos artísticos
De acordo com a "História do Império Heraclio", amplamente atribuída ao bispo arménio Sebeos (floresceu no século VII), a construção da Catedral de Zvartnots começou por volta de 645 e continuou com interrupções ocasionais devido aos ataques árabes na década de 650. Lendas arménias afirmam que Constante II esteve presente na consagração de Zvartnots, mas não há evidências históricas deste facto. Sebeos atesta que a Catedral de Zvartnots foi construída "para a glória de Deus". "Zvartnots" significa "hoste celestial" em arménio, o que, por sua vez, pode ser um trocadilho derivado do grego "egregoros", que se traduz como "os poderes dos anjos" ou "hoste celestial". Alguns estudiosos argumentam que a raiz Arménia "Zawr" está relaciona com o exército e que "Zvartnots" poderia até ser traduzido como "milícia celestial". A igreja foi projetada para o culto congregacional, mas há um consenso entre os historiadores de que Nerses III pretendia que a Catedral de Zvartnots fosse um monumento aos laços arménio-bizantinos, além de funcionar como uma projeção do seu próprio poder como intermediário entre Bizâncio e a Arménia. (De notar que Nerses III também foi responsável pela construção da Capela de São Gevorg no Mosteiro de Khor Virap - a 47 km (29 milhas) a sudeste da Catedral de Zvartnots - erigida na mesma época).
Nerses III construiu a igreja no local onde se acreditava, segundo a tradição local, que São Gregório "o Iluminador" (c. 257 – c. 331) converteu ao cristianismo o Rei Tirídates III da Arménia (r. de 287–330). A igreja com uma arquitectura tetraconcha de naves laterais lembra estruturas semelhantes em todo o Mediterrâneo Romano no que hoje é Itália (San Lorenzo em Milão), Egito (Abu Mena) e Síria (Bosra, Rusafah e Apameia). Destas, a Catedral de Zvartnots assemelha-se mais às estruturas da Síria, que datam da segunda metade do século V.
Zvartnots foi construída maioritariamente com basalto extraído nas proximidades, bem como com tufo, pedra-pomes e obsidiana. A catedral continha quatro pilares em forma de W de forma a suportar a grande cúpula, que divide os espaços interiores e exteriores da catedral. A cúpula de Zvartnots atingia uma altura de cerca de 45 m (148 pés), e toda a estrutura da catedral assenta numa plataforma de pedra com 5 m (16 pés) de altura. O núcleo da catedral era dominado por uma charola e uma grande câmara, a qual se desconhece a sua função. Outrora existiu um púlpito a sudeste da abside da catedral. A catedral era suntuosamente ornamentada com mosaicos e bem mobiliada. Das ruínas, os estudiosos deduziram que o exterior da catedral era ricamente decorado com altos relevos de romãs, videiras; bem como ornamentos figurais e adornado com arcadas cegas. Nerses III construiu um pequeno palácio para si diretamente adjacente a Zvartnots, com elegantes balaustradas.
Ao contrário das igrejas ou estruturas religiosas arménias anteriores, Zvartnots contém colunas com capitéis jônicos, incomum na arquitetura arménia do século VII. Exedras colunares colocadas entre os pilares da catedral continham monogramas pessoais de Nerses III em grego, em vez de arménio. Capitéis com monogramas ou dispositivos pessoais eram praticamente desconhecidos na antiga Arménia, mas eram comuns em ambos Impérios Romano e Bizantino, com os melhores exemplos sendo os do Imperador Justiniano (r. de 527 a 565) e da Imperatriz Teodora (c. 500-548) na Hagia Sophia (Santa Sofia) em Constantinopla. Quatro capitéis de colunas decorados com águias ficavam defronte aos quatro pilares principais da catedral, em frente à charola. A águia com asas estendidas era um símbolo forte do poder imperial bizantino. Um singular relógio de sol com uma inscrição em arménio encontrado por arqueólogos, estaria, provavelmente, na fachada sul da catedral; além disso, uma estela urartiana encontrada dentro das dependências da catedral, terá provavelmente sido reutilizada para decoração ou para algum propósito estrutural.
Legado Artístico e Redescoberta
A Catedral de Zvartnots forneceu o projeto arquitetónico para muitas belas igrejas em todo o Cáucaso e Anatólia Oriental, incluindo uma igreja em ruínas em Bana, na Turquia; uma igreja arménia em ruínas em Lekit, no Azerbaijão; e a Igreja de São Gregório em Ani, na Turquia. A moderna Igreja da Santíssima Trindade em Yerevan, na Arménia, foi igualmente construída ao estilo da Catedral de Zvartnots. Os historiadores acreditam que a Catedral de Zvartnots desabou após um terremoto no século X, e permaneceu completamente esquecida até ser escavada em 1900-1901.
This article was made possible with generous support from the National Association for Armenian Studies and Research and the Knights of Vartan Fund for Armenian Studies.