Oitava Cruzada

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Mark Cartwright
por , traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto
publicado em 13 setembro 2018
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Death of Louis IX at Tunis, 1270 CE (by Jean Fouquet, Public Domain)
A Morte de Louis IX em Túnis, 1270
Jean Fouquet (Public Domain)

No comando da Oitava Cruzada de 1270, como no da Sétima (1248-1254), encontrava-se o Rei francês Louis IX (rein. 1226-1270) e, como anteriormente, a ideia era atacar e derrotar os muçulmanos, fundamentalmente no Egito e, em seguida, reconquistar ou negociar o controle dos locais estratégicos cristãos no Levante, incluindo Jerusalém. Decidiu-se, também, que o primeiro objetivo seria tomar Túnis, o que facilitaria a conquista do objetivo maior, o Egito. O plano teve de lidar com o golpe fatal da morte de Louis IX por doença em agosto de 1270 e a campanha foi abandonada antes de mesmo de ter começado.

Louis IX e o Levante

Lider da Sétima Cruzada, Louis enfrentou o desastre na Batalha de Mansourah (abril de 1250) onde acabou sendo feito prisioneiro, libertado mais tarde após pagamento de resgate e acessão de Damietta, no Rio Nilo, aos muçulmanos. O Rei francês permaneceu no Levante por mais quatro anos, período aproveitado na reparação e reforço das fortalezas latinas essenciais como Acre. Dezesseis anos mais tarde, Louis mais uma vez voltou sua atenção para o Oriente Médio, em sua segunda presença no ambiente das Cruzadas.

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Louis enviava fundos, anualmente, aos Estados Latinos nos anos intermediários após o fracasso de sua primeira Cruzada, mas o restante da Europa estava preocupado com outros assuntos. Na Inglaterra, uma Guerra Civil (1258-1265) devastava o país e os Papas encontravam-se em constante batalha com o Sacro Império Romano a respeito do controle da Sicília e partes da Itália. Ao que parece, ninguém se preocupava muito com a sorte dos Lugares Santos no Oriente Médio.

vieram cavaleiros de outros países como Inglaterra, espanha, frisia e os países baixos, porém a oitava cruzada foi, uma vez mais, dominada pelos franceses

Já no Oriente Médio, no entanto, a situação para a cidades cristãs era sombria. O Império Mongol, aparentemente determinado à conquista total por todos os lados, movimentava-se cada vez mais próximo da costa do Mediterrâneo. Em 1258, Bagdá, a sede do Califado abássida, foi tomada, em seguida caiu Aleppo, controlada pelos aiubidas, em janeiro de 1260 e, finalmente, Damasco, em março do mesmo ano. A impressão que se tinha era que os Estados Cruzados seriam os próximos da fila, quando os mongóis realizaram incursões em Ascalon, Jerusalém e no norte do Egito. Quando uma guarnição mongol se fixou em Gaza, seguiu-se rapidamente um ataque a Sidon em agosto de 1260. Sem ajuda externa, Bohemond VI de Antioquia-Trípoli foi obrigado a aceitar subserviência aos mongóis e permitir que uma guarnição permanente ficasse em Antioquia.

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Baibars e os Mamelucos

Os muçulmanos, ao contrário, montaram um tipo de retaliação contra os invasores mongóis, quando os mamelucos, com base no Egito, liderados pelo talentoso Baibars (Baybars), saiu-se vitorioso na Batalha de Ain Jalut contra os mongóis, em 3 de setembro de 1260. Baibars, então, assassinou o Sultão mameluco Qurrtuz e assumiu seu lugar, reinando até 1277.Os mamelucos continuaram com a expansão nos anos seguintes, expulsando os mongóis de volta para o Rio Eufrates. As cidades cristãs também sofreram, com Baibars capturando Caesarea e Arsuf e até mesmo o castelo dos Cavaleiros Hospitalários, o Castelo des Chevaliers e Antioquia seria tomada em 1268. O secto muçulmano dos Assassinos também foi marcado e seus castelos na Síria foram capturados durante os anos 1260. Baibars tornou-se o mestre do Levante e declarou-se a si mesmo instrumento de Deus e protetor de Meca, Medina e Jerusalém.

The Levant, 1263 CE
O Levante, 1263
Gabr-el (Public Domain)

Na complexa política de alianças volúveis da política regional, os cristãos de Antioquia uniram forças com os mongóis para tomarem Aleppo. Na outra ponta, os cristãos do Acre decidiram permanecer neutros, nem ao lado dos muçulmanos, nem dos mongóis. Independente da macropolítica, a ampla realidade geográfica na metade dos anos 1260 exibe os Estados Latinos às margens do desaparecimento. Foi neste complicado quadro político e, em menor grau, religioso, que Louis IX e a Oitava Cruzada estavam prestes a entrar cegamente.

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Recrutamento e Liderança

De volta à Europa, Louis assumiu novamente a Cruz (se realmente ele a tivesse abandonado) em março de 1267. O Rei francês tinha o apoio do Papa Clemente IV (pont. 1265-1268) e fez-se a uma convocação geral para nobres e cavaleiros em toda Europa, para que novamente viessem em auxílio dos cristãos no Oriente Médio. Como nas campanhas anteriores, pregadores viajaram com a mensagem da Cruzada, uma grande quantidade de dinheiro foi arrecadada utilizando-se todos os meios que o Estado podia dispor e navios foram alugados em Marselha e Gênova. Como antes, vieram cruzados de outros países como Inglaterra, Espanha, Frísia e os Países Baixos, mas foi, uma vez mais, uma expedição dominada pelos franceses. Importantes nomes da nobreza que se alistaram incluía Alphonse de Poitiers (irmão de Louis), futuro Rei Edward I da Inglaterra (rein. 1272-1307), Rei Jaime I de Aragão (rein. 1213-1276) e Charles de Anjou, Rei da Sicília (rein. 1266-1285, também irmão de Louis). Reuniu-se um exército entre 10.000 a 15.000 homens, semelhante em tamanho ao da primeira Cruzada de Louis.

Túnis

Na Oitava Cruzada permanecia viva a ideia de que, para reconquistar a Terra Santa e derrotar os muçulmanos, a melhor estratégia seria executar um ataque a partir da África, mas o primeiro alvo não mais seria Damietta no Egito, como na última Cruzada, mas Túnis, muito mais a leste, sobre a costa africana. Os cruzados precisavam de um local de reunião depois que as várias frotas navegavam pelo Mediterrâneo e o Emir de Túnis, al Mustansir, era um aliado de Jaime I de Aragão. Se a região pudesse ser controlada, ela forneceria uma sólida base para desencadear um ataque ao Nilo em 1271. Em linhas gerais, este era o plano.

diz a lenda (porém não seu confessor, que se encontrava com ele quando morreu) que as últimas palavras de louis IX foram 'Jerusalém! Jerusalém!'

O exército da Oitava Cruzada partiu para o Oriente Médio em grupos, o primeiro liderado por Jaime I de Aragão em junho de 1269, mas, infelizmente, enfrentou o desastre quando foi pego por um violento temporal. Charles de Anjou partiu em julho de 1270, enquanto Edward I partiu ainda mais tarde, em agosto de 1270. Enquanto os cruzados se encontravam hesitantes, a situação para os Estados Latinos piorava dia a dia. Como mencionado acima, Antioquia foi tomada por Baibars em maio de 1268, após um sangrento sítio.

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Durante todo o mês de julho de 1270, o grosso da frota cruzada aportou em Túnis e o exército moveu-se para Cartago para implantar um acampamento semipermanente, na espera dos retardatários. Como era típico nas guerras medievais, os dois maiores inimigos dos exércitos eram a falta de provisões e doenças nesta alta concentração de humanos no ápice do verão: o acampamento cruzado foi tomado pelos dois, complicado ainda mais pela falta de água limpa. Doenças atacaram indiscriminadamente, morrendo o filho do Rei, Jean Tristan, com quadro de grave disenteria. Dizia-se que o Rei tinha sobrevivido, mas após um mês de tormento, Louis IX morreu em 25 de agosto de 1270. Diz a lenda (porém não seu confessor, que se encontrava à sua cabeceira quando morreu) que as últimas palavras do Rei foram “Jerusalém! Jerusalém!”.

King Louis IX Carrying the Crown of Thorns
O Rei Louis IX Carregando a Coroa de Espinhos
The Metropolitan Museum of Art (Copyright)

Charles de Anjou, que há pouco havia chegado, assumiu o comando da Cruzada após a morte de Louis. A decisão tomada foi a de uma retirada após um acordo negociado com o Emir de Túnis para libertar os prisioneiros cristãos, garantir liberdade de culto na cidade e doar (literalmente) 210.000 onças de ouro (aprox. 6.000 kg - NT) como confirmação do acordo. Foi neste ponto que Edward I da Inglaterra finalmente chegou à África, porém a situação já tinha sido resolvida. A frota inglesa retornou à Sicília para se reagrupar em novembro, porém qualquer plano para usar força militar para realizar algum bem foi aniquilado junto com a maioria dos navios e 1.000 homens em uma violeta tormenta. Somente Edward desejava continuar para a Terra Santa, todos os demais abandonaram a Cruzada, o mais desapontador e esmagador fracasso de uma longa linha de catástrofes em Cruzadas.

Consequências

Apesar do fracasso, o Papado não abandonou a ideia da Cruzada. Edward I e sua pequena força de 1.000 homens, suplementada por um punhado de cavaleiros franceses, chegou ao Acre em setembro de 1271 no que é algumas vezes referida (grandiosamente) como a Nona Cruzada. Previsivelmente, pouco poderiam fazer para impedir os planos expansionistas de Baibar, porém Edward conseguiu, pelo menos, ganhar o benefício de ser louvado pelos poetas e cancioneiros pelos seus esforços como o único monarca europeu a sair-se bem para a Terra Santa da Oitava Cruzada. Louis IX conseguiu algo ainda mais espetacular, post-mortem, ao elevar imagem de um Rei se tornar um santo, em 1297, por seus serviços para a Cruz. Em 1291, com a queda do Acre, o Oriente Latino, implantado durante a Primeira Cruzada (1095-1102), efetivamente chegou ao fim.

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Sobre o tradutor

Jose Monteiro Queiroz-Neto
Monteiro é um pediatra aposentado interessado na história do Império Romano e da Idade Média. Tem como objetivo ampliar o conhecimento dos artigos da WH para o público de língua portuguesa. Atualmente reside em Santos, Brasil.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2018, setembro 13). Oitava Cruzada [Eighth Crusade]. (J. M. Queiroz-Neto, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-17140/oitava-cruzada/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Oitava Cruzada." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. Última modificação setembro 13, 2018. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-17140/oitava-cruzada/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Oitava Cruzada." Traduzido por Jose Monteiro Queiroz-Neto. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 13 set 2018. Web. 20 nov 2024.