
Wakō (aka wokou e waegu) é um termo usado para se referir aos piratas japoneses (e também chineses, coreanos e portugueses) que atormentavam os mares da Ásia Oriental, desde a Coreia até a Indonésia, especialmente entre os séculos XIII e XVII. Além de perturbar o comércio, devastar comunidades costeiras e vender milhares de inocentes como escravos, os piratas causaram muita tensão nas relações diplomáticas entre a China, a Coreia e o Japão durante esse período. Na verdade, os piratas danificaram seriamente a reputação do Japão aos olhos de seus vizinhos da Ásia Oriental no período medieval. Foi apenas depois do senhor de guerra Toyotomi Hideyoshi (1582-1598) unificar o centro do Japão que o governo finalmente teve força o suficiente para lidar de forma efetiva com os piratas e colocar um fim ao seu reinado de terror.
Pirataria em Alto Mar
Wakō significa “piratas anões” e, apesar de muitos serem japoneses, o termo era usado indiscriminadamente para se referir a quaisquer marinheiros que causassem perturbação em alto mar, por isso incluía os piratas que da região costeira da Coreia, de Taiwan e da China, assim como os aventureiros portugueses, para citar alguns. Existe até mesmo evidência de que alguns piratas se disfarçavam de japoneses para evitar que detectassem de onde vinham. Os chineses chamavam esses piratas de wokou, e os coreanos de waegu. Piratas saquearam navios por toda a Ásia Oriental desde pelo menos o século VIII, mas foram os wakō do século XIII em diante que atingiram novos patamares de roubo, amparados pela interrupção do comércio marítimo legítimo após as invasões mongóis da Coreia entre 1231 e 1259.
A base pirata mais conhecida era a ilha japonesa Tsushima (que também tinha portos legítimos), onde havia várias enseadas fáceis de defender. A ilha era montanhosa e rochosa, por isso os residentes tinham dificuldade em conseguir comida, enquanto os senhores feudais de lá, os So, lucravam um monte apoiando os saqueadores que roubavam mercadorias em alto mar. Outras bases piratas importantes do Japão eram a Ilha Iki e Matsura.
Em seu auge, no século XIV, centenas de navios piratas assolavam o estreito entre a Coreia e o sul do Japão e faziam quatro ou cinco grandes ataques ao sul da península coreana por ano. Muitos piratas até mesmo saqueavam navios e portos costeiros no lado oeste da península coreana, bem ao norte da ilha de Kanghwa. Nos séculos XV e XVI, a área costeira da China se tornou mais um alvo. Os piratas roubavam qualquer coisa de valor (como metais preciosos, espadas, armaduras e laca), especialmente mercadorias em grande volume, como tecidos, grãos e arroz que eram enviados como tributo para o imperador da China.
Os piratas atacavam portos e povoados costeiros com frotas de até 400 navios carregando mais de 3.000 homens. Apesar de estarem apenas levemente armados — normalmente com espadas — eles formavam exércitos disciplinados e enfrentavam pouca oposição organizada. Como os wakō costumavam capturar inocentes para vender como escravos para senhores feudais ou comerciantes de escravos portugueses, muitas comunidades de fazendeiros recuaram para o interior, mesmo que isso significasse abandonar as melhores terras para cultivo. Os riscos que os wakō corriam, além da defesa vigorosa dos donos das terras, incluíam execução, caso fossem pegos pelas autoridades chinesas, coreanas ou japonesas.
Identificação
Uma das dificuldades das autoridades medievais (e dos historiadores modernos) era identificar quem exatamente era wakō. Os piratas às vezes se envolviam com o comércio legítimo e, é lógico, alguns comerciantes cediam à pirataria. Piratas experientes também roubaram documentos oficiais, como registros, ou kango, da Dinastia Ming (1368-1644), que eram feitos para mostrar que o navio era um comerciante legítimo ou transportador de tributos. Além disso, parte do problema era que os piratas se beneficiavam sempre que as relações de comércio legítimo entre a China, Coreia e Japão entravam em declínio, o que acontecia com frequência do século XII em diante, dependendo dos acontecimentos internos de cada país. Nesse caso, alguns senhores feudais dos três países se contentavam em apoiar os piratas como forma de aumentar o faturamento. Também era um fato que muitos wakō, talvez até a maioria no século XVI, eram chineses, e vários deles eram ex-comerciantes descontentes com as restrições domésticas e impostos sobre o comércio do governo Ming. Houve ainda um tanto de piratas coreanos e um grupo famoso de comerciantes portugueses que frequentemente colaborava com piratas para conseguir inserir seus produtos no mercado chinês clandestinamente.
A Resposta Coreana
No século XIV, os coreanos reuniram uma frota de navios armados com canhões para enfrentar os piratas e conquistaram uma vitória notável contra uma grande frota pirata na foz do Rio Geum em 1380, creditada a Choe Muson (m. 1395). Na batalha, Choe Muson conseguiu utilizar canhões graças a seus esforços para desenvolver a pólvora. No entanto, mesmo com as muitas vitórias da marinha coreana ao longo dos anos, incluindo ataques diretos à Ilha de Tsushima em 1389 e 1419, nos quais 700 suspeitos de pirataria foram executados, eles não conseguiram erradicar os saqueadores por completo. O governo coreano impôs punições severas, tal como execução, para quem fosse pego cooperando com piratas, mas eles precisavam de uma colaboração maior por parte do governo japonês, e por esse motivo enviaram muitos embaixadores para a corte japonesa.
A Resposta Chinesa
Devido a todos os problemas causados pelos piratas, os chineses enviaram três missões diplomáticas distintas à corte japonesa para verem o que podia ser feito. Porém, assim como nas missões coreanas, o problema era que os japoneses tinham pouco poder sobre as bases piratas, mesmo com os chineses insistindo que os acordos comerciais entre eles e o Japão dependeriam dos esforços do governo japonês para manter os piratas sob controle. Então, conforme observado, o número de piratas chineses aumentou, tornando o problema de deixar o mar seguro para as embarcações de comércio legítimo ainda maior. Vários grupos de piratas venceram as batalhas contra os exércitos Ming que eram enviados para os deter. O imperador Yongle (r. 1403-1424) da Dinastia Ming expressou a frustração de todos ao declarar:
Navios não conseguiam alcançá-los rapidamente, assim como lanças e flechas não conseguiam tocá-los com facilidade. Não conseguíamos comovê-los concedendo-lhes benefícios, nem intimidá-los pressionando-os com nossa força.
(Huffman, 50-1)
Ao notar como era difícil patrulhar constantemente grandes regiões do mar e tirar os piratas de suas bases bem protegidas, os chineses preferiram investir em uma defesa robusta. Devido a isso, fortes foram construídos nas áreas costeiras mais vulneráveis e todo o comércio marítimo foi proibido. Basicamente, qualquer embarcação não-oficial poderia então ser identificada como um navio pirata. Em meados do século XVI, uma ação ainda mais firme foi tomada contra os piratas. Os chineses reestruturaram o sistema tributário e, no lugar do serviço militar, o pagamento poderia ser feito em prata. A partir dessa receita, foi criada uma força naval defensiva para patrulhar a costa e afundar qualquer navio pirata que encontrassem. Consequentemente, os piratas sofreram várias derrotas graves pelas forças lideradas por dois grandes generais Ming, Hu Tsung-hsien (m. 1565) e Chi Chi-kuang (m. 1587), e o líder pirata mais procurado, Wang Chih, foi capturado em 1557.
A Resposta Japonesa
No século XIV, a fragilidade do governo central, que ainda não controlava todas as ilhas do Japão, indicava que as autoridades não podiam fazer muito para controlar a pirataria, mesmo que as embaixadas dos países vizinhos pedissem, a começar pela Coreia em 1367.
Em 1443, os governos do Japão e da Coreia finalmente se uniram e assinaram o Tratado de Kyehae, que buscava legitimar o comércio entre os dois países, especialmente entre a Ilha de Tsushima e os portos coreanos de Tonnae, Ungchon e Ulsan, assim acabando com parte da renda dos piratas. Infelizmente, o tratado foi rompido em 1510 devido a tumultos causados pelos comerciantes japoneses em todos os três portos coreanos. Um novo acordo de escopo muito mais limitado foi feito dois anos depois. O acordo mais contido funcionou por um tempo, mas os piratas voltaram a atacar os portos coreanos em 1544, em uma grande ofensiva.
No fim do século XVI, os wakō que ficavam no Japão estavam prestes a receber seu castigo merecido. Toyotomi Hideyoshi, o líder militar do Japão de 1582-1598, estava determinado a acabar com a pirataria. Graças à unificação do Japão central, ele agora tinha forças para atacar os wakō. Sempre pragmático, Hideyoshi também tirou vantagem dos piratas, permitindo que seus navios fizessem negócios legitimamente a partir de 1592, desde que carregassem o selo vermelho, por isso o nome shuin-sen ou “navios de selo vermelho”. A mesma política foi adotada por seu sucessor, Tokugawa Ieyasu (r. 1603-1605). Enfim os mares da Ásia Oriental estavam (quase) livres dos piratas, mas o dano já tinha sido causado à reputação internacional do Japão, e o próprio Hideyoshi só a piorou ao atacar a Coreia entre 1592 e 1598, uma invasão que incluiu antigos wakō e seus navios.
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