Os Abássidas foram uma dinastia árabe que governou a maior parte do Império Islâmico (exceto algumas partes orientais) depois de assumir o califado em 750. Posteriormente, seu império se fragmentou, mas, como califas, eles retiveram supremacia espiritual até 1258. Eles assumiram o título de califa depois de expulsarem a Dinastia Omíada, que governava até então. Assim, eles foram a segunda dinastia que serviu como Califado (632-1924, intermitentemente).
No tempo das Cruzadas (1195-1291), eles eram uma mera sombra de seu passado. Em 1258, seu reinado veio ao fim depois dos mongóis destruírem Bagdá. Uma série de “califas sombras” continuaram operando sob a suserania do Sultanato Mameluco do Egito (1250-1517). Em 1517, com a conquista do Sultanato Mameluco pelo sultão Selim I do Sultanato Otomano (1299-1924), o título foi oficialmente transferido para os turcos, embora eles o tivessem reivindicado muito antes. Com os Abássidas, morreu a era da supremacia árabe sobre o Islã.
Prelúdio
A instituição do califado foi concebida em 632. depois da morte do Profeta Islâmico Muhammad (570-632). Aos olhos dos muçulmanos sunitas, as primeiras quatro soberanias eram parte do Califado Rashidun (632-661, legitimamente guiadas pelos califas), mas os muçulmanos xiitas descreditavam os três primeiros como usurpadores do trono de direito do ‘Ahl al-Bayt' - a casa do profeta - e só consideravam a quarta, Ali (r. 656-661, primo e genro do profeta), como líder espiritual deles, ou imame (o primeiro de uma longa série). Após o assassinato de Ali, em 661, houve uma mudança para a monarquia absoluta na história do Islã, incorporada pela Dinastia Omíada (661-750).
Os omíadas eram, em geral, excelentes administradores e mantinham o reino em ordem por meio de uma mistura potente entre a política e o poderio de sua força militar. Entretanto, um problema que eles falharam em conter e que, pelo contrário, ajudaram a fortalecer, foi a alienação de várias facções arábicas e não-arábicas, em especial os Xiitas e os Persas. Além disso, no fim de sua era, o círculo íntimo da família governante sofreu uma perda; sua unidade foi destruída e seu controle sobre o império enfraqueceu. O último soberano Omíada, Maruane II (r. 747-750), enfrentou, então, o ressentimento suprimido e as lamúrias de seu povo manifestados em uma rebelião aberta.
A Revolução Abássida
Abd ibn al-Muttalib (c. 568-653) foi um dos tios mais jovens de Muhammad e essa relação inspirou uma revolução epônima liderada por seus descendentes. Os Abássidas criaram o slogan de dar ao ‘Ahl al-Bayt’ seu direito de nascença - o trono califal. O interessante nisso é que os rebeldes nunca especificaram exatamente o que queriam dizer com ‘Ahl al-Bayt’; os muçulmanos xiitas se referiam à família de Ali por esse nome, enquanto os Abássidas se referiam a si mesmos.
O grande mestre mental deste enredo foi um misterioso homem chamado Abu Muslim (d. 755). Os detalhes sobre este homem nos eludem. O que realmente sabemos é que ele deu o golpe final na supremacia Omíada e construiu as fundações para o governo Abássida por meio de manobras políticas geniosas e de um esquema meticulosamente planejado.
Para defender seu reino, o califa Maruane foi logo retirado da trégua. Mas já era tarde demais. O movimento tinha ganhado força e, por volta de 750, a revolução Abássida estava em seu clímax. Em um estado de desespero, o califa ordenou a captura do líder do clã Abássida, Ibrahim. Ele foi morto à sangue frio. Seu irmão mais novo, Abu Abbas, então assumiu o controle do movimento e jurou a mais cruel retaliação.
O poder das forças abássidas, sob o comando de Abu Abbas, chocou-se com o exército de Maruane perto do rio Grande Zabe (750) e conseguiu obter vitória enquanto o exército do califa fugia do campo de batalha em meio ao pânico. Maruane, que escapou para o Egito para reunir suas forças das regiões orientais, foi encontrado e morto. Abu Abbas as-Saffah - “o sanguinário” - (r. 750-754) foi então declarado califa em Cufa. Os xiitas só perceberam, quando já era tarde demais, que sua emoção e seu amor pelos descendentes de Ali tinham sido, na verdade, usados para servir aos interesses dos Abássidas.
O Alvorecer do Governo Abássida
Depois de sua vitória em Zab, As-Saffah imediatamente levou o grosso de seu exército para a Ásia Central de modo a impedir a expansão da Dinastia Tang, da China - o avanço deles foi posto em xeque nas batalhas de Talas (751) quando os muçulmanos decisivamente os derrotaram. Mas relações amigáveis se seguiram logo após esse episódio de violência, levando-os à uma nova era na história Islâmica enquanto os Abássidas decidiram, em vez de expandir, engrandecer e proteger o que já possuíam.
As-Saffah cometeu vingança sobre os Omíadas – não poupando vivos nem mortos. Túmulos omíadas na Síria foram desenterrados e seus restos mortais foram despedaçados e queimados. Os homens vivos membros da família foram todos massacrados. Aqueles que se esconderam para escapar de tal destino horrendo foram atraídos por um convite para um jantar e por promessas de segurança e reconciliação, apenas para serem assassinados em plena vista da família governante, cujos membros continuaram jantando diante dos murmúrios das vítimas moribundas.
Apenas um jovem rapaz chamado Abd al-Rahman I escapou da chacina e percorreu toda extensão do reino abássida até a Espanha, onde fundou o Emirado de Córdoba em 756. Abu Abbas as-Saffah morreu quatro anos depois de assumir o trono. O cetro foi então aceito por seu irmão mais novo Ja'afar, intitulado como al-Mansur (aquele que é vitorioso, r. 754-775). Essa tendência de adotar títulos inspiradores foi continuada por futuros governantes abássidas.
Al-Mansur & Bagdá
Uma coisa que os abássidas ainda precisavam, até aqui, era uma capital própria. O Crescente Fértil fora um lugar valorizado na história humana desde tempos imemoráveis e foi lá que Al-Mansur comissionou a criação de uma nova capital próxima ao rio Tigre - Bagdá, uma metrópole que humilhava todas as cidades europeias da época em todos os padrões.
Al-Mansur, assim como seu irmão, cometeu várias atrocidades. Desta vez, a fúria da casa dos Abbas foi solta sobre os descendentes de Ali. Pensando que eles estavam instigando algo contra si, Al-Mansur levou-os a se revoltarem e então abafou a rebelião (762-763) com crueldade extrema. Abu Muslim (d. 755), o homem responsável por estabelecer a Dinastia Abásssida, também virou um alvo seu, dado seu crescente poder. O corpo mutilado do beneficiário de sua casa foi descartado no rio Tigre sem cerimônias.
Tanto a crueldade de As-Saffah quanto a de Al-Mansur com seus oponentes transpassou barreiras da humanidade - o povo que tinha, até então, achado que os Omíadas eram seres demoníacos que acenderiam as chamas do inferno, agora simpatizavam-se com a família. Al-Mansur era um diplomata forte e, no verdadeiro sentido da palavra, o atual fundador da dinastia, mas sua natureza inumana obscureceu suas conquistas.
Al-Mahdi & Seus Filhos
Altamente magnânimo e profundamente pio, Al-Mahdi (775-785) mostrou-se uma pessoa muito diferente comparada ao seu pai al-Mansur – embora seus inimigos nunca fossem poupados no campo de batalha, sua generosidade para com seu povo não tinha limites. Ele usou tudo o que estava em seu poder para reverter os erros de seu pai contra os Alids. Ele libertou os cativos com dignidade e os cobriu com sua riqueza para compensá-los por suas perdas. Al-Khayzuran (d. 789), o amor de sua vida, era uma garota escrava, a qual ele libertou e elevou ao status de rainha.
No entanto, o califa não podia ser levado na brincadeira. Incursões Bizantinas em territórios muçulmanos eram rechaçadas com uma resposta severa do governante. As relações árabes-bizantinas tomaram um rumo ruim quando um emissário muçulmano, enviado pelo próprio profeta, foi assassinado a sangue frio. Seguindo seu assassinato, hostilidades irromperam. Embora inicialmente infrutíferas, essas guerras trouxeram, no futuro, uma orda de terras e riquezas para o califado Rashidun. Além disso, já que a maioria dos moradores dessas terras recém conquistadas eram coptas, eles preferiam um governo muçulmano e até ajudaram seus novos senhores contra os bizantinos (que costumavam persegui-los). À época dos Abássidas, o status quo era mantido firmemente. A única possessão oriental dos bizantinos foi a Anatólia, mas o tempo e, de novo, governantes diferentes tentaram empurrar suas fronteiras pelo reino Abássida. Os planos deles foram consistentemente repelidos e, como punição, eles tiveram que pagar altos tributos.
Em 782, Al-Mahdi enviou seu filho, o futuro Harun al-Rashid, para castigar as forças da Imperatriz Irene (r. 780-790). Enfrentando devastadoras perdas no campo de batalha e estando presos em suas fortalezas, os bizantinos foram forçados a concordar com um acordo de paz. O califa, no entanto, não viveu muito para aproveitar seu sucesso. Ele foi envenenado por uma de suas concubinas e foi sucedido por seu filho mais velho: Al-Hadi (r. 785-786), que seria seguido por Harun, outro filho de Al-Khayzuran.
Al-Hadi, entretanto, não se sentia obrigado pela aliança de seu pai e abertamente expressou seu plano de passar o trono para seus filhos. Ele também ressentia a influência profunda que sua mãe tinha entre os ministros e fez tudo o que podia para prejudicar a autoridade dela (inclusive ao ponto de admitir ter tentado envenená-la). Contudo, como o destino decidiria, o jovem governante morreu no alto de sua juventude. Embora alguns argumentem que ele contraiu uma doença incurável, outros acreditam que a morte dele em um momento tão crítico foi simplesmente muito oportuna para muitas pessoas para ter sido uma coincidência. As circunstâncias envolvendo sua partida de sua morada terrena são motivo de especulação e de um debate incessante.
Época de Ouro
O califa Harun al-Rashid (r. 786-809) foi o governante mais proeminente da Dinastia Abássida. Mesmo despojado de seu status legendário em histórias e fábulas, o verdadeiro homem tinha uma personalidade sem paralelo. Ele foi patrono das artes e do aprendizado e desejava que os muçulmanos liderassem o mundo nesse assunto. A Grande Livraria de Bagdá, a Bayt al Hikma (Casa da Sabedoria) foi estabelecida para servir a esse propósito. Nela, as obras clássicas dos gregos foram traduzidas para o árabe e, com o tempo, essas obras realmente serviram para alimentar as maiores mentes da Europa e dar ao mundo o maior renascer de todos: o Renascimento.
Seu reinado marca o começo da idade de ouro do aprendizado. Embora Harun não tivesse interesse em administrar o estado, ele garantiu que essa tarefa tão delicada fosse dada ao homem mais talentoso e honesto de todos. Seu governo não só realizou grandes mudanças na administração como ele também mostrou grande competência em batalha. Assim como na época de seu pai, os bizantinos violaram, de novo, o acordo de paz e invadiram o reino muçulmano em 806. Ao ler uma carta insultante do Imperador Bizantino Nikephoros I (r. 802-811), Harun encheu-se de fúria e respondeu da seguinte maneira:
“De Harun, comandante dos fiéis, a Nicephorus, o cachorro de um romano. Verdadeiramente, eu li vossa carta; a resposta vós deveis receber, não ouvir, (mas ver, em vez disso)!" (Ali, 247).
O califa fez preparações imediatas, foi ao campo de batalha e infligiu uma derrota tão terrível aos seus inimigos que eles foram forçados a aceitarem termos de paz ainda mais humilhantes.
Foi também durante o reinado de Harun que uma grande mudança nas dinâmicas de poder aconteceu; os califas possuíam, até então, supremacia total sobre todo o reino islâmico. Mas a província ocidental da Ifríquia era uma terra cara para se manter. Os moradores locais eram rebeldes e frequentemente ignoravam a autoridade do califa. Foi nessa época que um proeminente político, Ibrahim ibn Aghlab, deu uma solução ao califa. Ele pediu para que a região fosse concedida como um principado a ele e a sua família e, em troca, prometeu não só jurar lealdade ao califa como seu suserano, mas também a pagar tributos anuais fixos. Assim, os aglábidas (800-909) de Ifríquia apareceram nos anais da história. Sem ele saber, o império de Harun adentrou um longo curso de desintegração.
O verdadeiro desafio para Harun veio de sua família. Ele precisava formular um plano de sucessão. Dois de seus mais proeminentes filhos eram Al-Amin e Al-Ma'mun. Harun desejava passar o trono para Al-Amin (r. 809-813 d.C.), mas o reino deveria ser dividido entre os irmãos. Al-Ma'mun governaria seus territórios como súdito do califa e seu herdeiro. Esse plano, no entanto, estava fadado ao fracasso.
Após a morte de Harun, uma guerra civil irrompeu entre seus filhos e expandiu de tal modo que mergulhou o reino em um estado de turbilhão. Esse período é apropriadamente chamado como a Quarta Fitna ou a grande guerra civil abássida (811-819; turbilhão provincial persistiu até 830). Tendo a vantagem, Al-Amin logo começou a sofrer grandes perdas no campo de batalha e a cidade de Bagdá era o único bastião de seu governo. Após um prolongado cerco das forças de Al-Ma'mun, o califa decidiu se render. Enquanto cativo, Al-Amin foi morto por alguns soldados persas desonestos. Alguns dizem que Al-Ma'mun ficou genuinamente abalado com o assassinato de seu irmão e, para compensar sua perda, adotou os filhos dele e empenhou-se em punir os perpetradores.
O califa Al-Ma'mun (r. 813-833) então assumiu o controle e, embora a época de ouro do Islã estivesse em seu clímax, isso logo acabaria. A guerra com seu irmão estava acabada, mas demoraria mais de uma década para a poeira abaixar e o reino ser pacificado. O amor de Al-Ma'mun pelas artes e pelo aprendizado surpassou até mesmo o de seu pai, mas sua decisão de racionalizar a sociedade, em oposição às crenças da população muçulmana (como debater que o Quran podia ser reescrito/alterado) o afastou das graças de muitos historiadores islâmicos.
Perda de Autoridade
Depois da morte de Al-Ma'mun, os abássidas adentraram um longo período de declínio moral e temporal. Os sucessores imediatos de Ma'mun falharam em fazer justiça à grande responsabilidade incutida a eles. Al-Mu'tasim (r. 833-842) e Al-Wathik (r. 842-847) deixaram seus guardas pessoais turcos estenderem sua influência sobre a corte. O golpe final no domínio dos abássidas foi dado quando Al-Mutawakkil (r. 847-861) foi assassinado como parte de um golpe da corte instigado pelos turcos. Apesar de Al-Mutawakkil ter sido uma pessoa notória e ser chamado como “o Nero dos árabes”, seu assassinato deu aos turcos um controle sem precedentes sobre o filho dele, al-Muntasir (r. 861-862), que tinha sido colocado no trono como fantoche. Fatalmente, o jovem governante morreu pouco depois.
Em 909, uma Shia rival radicalizada e anti-califado surgiu no grupo dos Fatímidas, os descendentes de Fátima, a filha do profeta. Eles acabaram com os Aghlabids que tinham jurado lealdade a Bagdá e começaram a estender seu domínio. Eventualmente, os fatímidas estenderam seu controle sobre o Egito e até mesmo sobre a região de Hejaz, que incluía as cidades de Meca e Medina. Seus sermões eram recitados nos lugares islâmicos mais sagrados. Em 929, o Emirado Omíada de Córdoba também se declarou califado.
Mas a maior humilhação para a casa Abbas, que eram sunitas, viria na forma de outra facção xiita: os buáiidas. Ali ibn Buya (l. c. 891-949) foi o fundador desta dinastia xiita epônima com base no Irã que, em 945, capturou a capital abássida de Bagdá. Para os abássidas, a única mudança foi quem dava as cartas e, mais do que isso, seu reino estava se desintegrando enquanto diferentes governantes locais, em um fenômeno de cascata, declaravam independência.
Em uma repetição clássica de clichés históricos, invasores das estepes da Ásia central vieram para devastar os buáiidas. Os turcos seljúcidas, que tinham recentemente aceitado a versão sunita do islã (embora mantivessem muitos aspectos pré-islâmicos) percorreram vastas extensões de terra, desde a Ásia central até a Anatólia e, em 1055, Tughril Beg - um filho de um sultão seljúcida - tomou Bagdá. Os buáiidas foram expulsos da capital, mas os califados foram simplesmente passados de um fantoche para o outro.
As Cruzadas
Enquanto o século XI progredia, os seljúcidas surgiram para serem um rolo compressor imparável, mas quando isso se aproximou do fim, eles não eram mais a força forte e formidável de outrora. Quando nobres europeus chegaram na Terra Santa pela primeira vez, em 1096, os seljúdicas estavam fragmentados e sem condições de resistir. Os abássidas, embora nominalmente os líderes da ummah (comunidade) muçulmana, foram espectadores impotentes e os seljúcidas simplesmente deixaram a guerra de lado.
O sublime estado do Egito (Fatímidas) e a Terra Santa (Cruzadas) seria logo revertida por um homem, Saladino, e uma bandeira, a jihad. Saladino (1137-1193) foi um líder sunita revivalista. Ele ganhou proeminência no Egito em 1169, aboliu o domínio fatímida em 1171 e recuperou as antigas terras fatímidas para a suserania abássida. Ele reviveu a causa muçulmana na Terra Santa e dedicou toda sua vida para a guerra santa islâmica contra os cruzados e seus aliados. Em 1187, ele obteve uma enorme vitória na Batalha de Hattin, onde o grosso das forças latinas foi exterminada. Mesmo depois de sua morte, os cruzados nunca recuperaram sua força original e, eventualmente, foram forçados a fugir de Acre, o último reduto deles na Terra Santa. Em 1291, eles foram suplantados por uma nova força Egípcia muçulmana, o Sultanato Mameluco (1250-1517).
No pano de fundo das cruzadas, os abássidas estavam recuperando sua autoridade militar e temporal. Quem assumiu o controle dessa contenda foi o califa al-Mustarshid (r. 1092-1135) que começou a reunir um exército califal pessoal. Mas ele também acabou morto pelos seljúcidas no processo e essa tarefa foi completada por Al-Muktafi (r. 1136-1160), que então declarou total autonomia para sua casa. Os seljúcidas, enfurecidos por esse ato, cercaram Bagdá em 1157, mas a cidade suportou e depois de vários esforços infrutíferos, os turcos foram forçados a recuar. Al-Nasir (d. 1225) também merece ser mencionado por sua excelência administrativa e por ter ajudado os abássidas a recuperarem seu prestígio ao estender seu domínio para além de sua capital, alcançando a Mesopotâmia e partes da Pérsia. Historiadores o consideram como o último governante abássida efetivo.
A queda de Bagdá & Consequências
Essa independência foi ameaçada por uma nova força, ironicamente vinda da Ásia Central de novo: os mongóis, os quais tinham sido transformados, por Genghis Khan, em 1206, em uma força a ser reconhecida. O último califa de fato, Al-Must'asim (r. 1242-1258), cometeu um grande erro ao dispersar a maioria de seu exército e depois aceitar o desafio de Hulegu Khan. O motivo exato para um movimento tão tolo é debatido. Evidente é que o califa esperava auxílio militar de todos os cantos do Islã - o que ele não considerou foi que todos os estados muçulmanos estavam ocupados com problemas próprios.
As forças mongóis cercaram Bagdá em 1258 e em um típico modo de guerra mongol, toda a cidade, incluindo edifícios poderosos como a famosa Bayt al-Hikma, foi nivelada e toda sua população massacrada. O califa foi enrolado em um tapete e pisoteado por cavalos. A maioria da família real foi morta, exceto por um menino que foi mandado para a Mongólia e uma princesa que se tornou escrava no harém de Hulegu. A ofensiva mongol sobre o coração do islã foi esmagada pelo Sultanato Mameluco na batalha de Ain Jalut (1260). Os mamelucos criaram então uma linhagem de abássidas como califas sombras no Cairo, mas essas pessoas eram apenas figurantes. Em 1517, o sultão Selim I do Sultanato Otomano (1299-1924) conquistou as terras mamelucas e passou o título de califa para sua linhagem.
Conclusão
A propaganda abássida contra os Omíadas teve muito sucesso, mas os abássidas adotaram a mesma política administrativa pela qual tinham ganhado apoio contra os Omíadas. Depois de destronarem quem estava no poder, os abássidas assumiram o controle de um estado menor do que o de seus predecessores, enquanto a Espanha tinha sido perdida de vez. A fragmentação do império islâmico começou com a ascensão dos abássidas e não posteriormente como muitos acreditam. Os abássidas não tinham nenhum interesse em se expandir. Eles até tentaram se unir com poderes europeus contra um inimigo em comum: o Emirado de Córdoba.
Muitos governantes abássidas não eram políticos por natureza. Eles começaram a se apoiar em pessoas para controlar os assuntos do estado. Rachaduras que tinham começado a aparecer no panorama de domínio árabe durante o tempo de Al-Ma'mun, um pró-persa (já que sua mãe era persa), tornaram-se fissuras após sua morte, enquanto a dinastia mergulhou em um estado de servitude a outros. Os esforços de futuros califas de reviver a força dos abássidas são, sem dúvida, dignos de elogios, mas tudo e todos ao seu redor estavam contra eles. O saque de Bagdá foi um fim inevitável de um império outrora grande. O legado deles sobrevive até hoje na forma da sharia (lei islâmica) e no mundo moderno como vemos hoje devido aos seus conhecimentos, à sua patronagem a todas as formas de artes e especialmente ao questionamento científico de fenômenos naturais.