Eduardo VI da Inglaterra

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Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 29 abril 2020
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Edward VI of England by William Scrots (by William Scrots, Public Domain)
Eduardo VI da Inglaterra por William Scrots
William Scrots (Public Domain)

Eduardo VI da Inglaterra reinou de 1547 a 1553. Ele sucedeu ao seu pai, Henrique VIII da Inglaterra (r. 1509-1547), quando tinha apenas nove anos de idade. O governo ficou a cargo de um conselho de nobres, liderado pelo tio materno de Eduardo, Edward Seymour (l. c. 1500-1552), mais tarde substituído por John Dudley, Conde de Northumberland (1504-1553). Durante seu reinado, as reformas religiosas protestantes continuaram e a Igreja da Inglaterra afastou-se ainda mais das tradições da Igreja Católica comandada pelo Papa. Houve também insurreições populares, já que a economia vacilava e a inflação estava em elevação. O reinado de Eduardo foi curto, pois ele morreu de tuberculose com apenas 15 anos. Foi sucedido por sua prima Lady Jane Grey (1537-1554) até que a maioria da população e a nobreza reconheceram como a legitima herdeira sua meia-irmã, empossada nove dias depois como Maria I da Inglaterra (r. 1553-1558).

Henrique VIII e a Sucessão

Henrique VIII casou-se seis vezes, mas foram seus três primeiros matrimônios que produziram futuros monarcas. Com Catarina de Aragão (1485-1536), Henrique teve uma filha, Maria (n. Fev. 1516). Com Ana Bolena (c. 1501-1536), outra filha, Elizabeth (n. Set. 1533). Sua terceira esposa, Jane Seymour, uma dama de companhia da corte, deu-lhe seu primeiro e último filho legítimo, Eduardo, que nasceu em 12 de Outubro de 1537 no Palácio de Hampton Court. A notícia alvissareira foi saudada por 2.000 tiros de canhão disparados da Torre de Londres; sinos badalaram através da Inglaterra e houve 24 horas de festas e banquetes. Tragicamente, Jane morreu 12 dias após o parto, mais provavelmente de febre puerperal.

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Henrique VIII deixou para seu filho um reino empobrecido e dividido sobre questões religiosas.

Como seu primeiro casamento foi anulado para permitir o segundo e Ana Bolena acabou executada por acusações de adultério, as filhas foram deserdadas e, portanto, Eduardo tornou-se o herdeiro oficial ao trono. À medida que novas esposas iam e vinham sem que houvesse novos filhos, Henrique mudou de ideia em 1544 e declarou que Eduardo poderia ser sucedido por sua meia-irmã, Maria, com Elizabeth como a próxima na linha de sucessão.

A saúde de Henrique VIII declinou rapidamente em seus últimos anos devido ao sobrepeso e uma úlcera crônica numa das pernas. O rei morreu em 28 de Janeiro de 1547 no Palácio Whitehall, em Londres, aos 55 anos e foi sepultado na Capela de São Jorge no Castelo de Windsor, próximo à falecida terceira esposa, Jane Seymour. A coroação de Eduardo VI aconteceu em 20 de Fevereiro de 1547 na Abadia de Westminster. Henrique, após promover a separação da Igreja da Inglaterra de Roma para obter a anulação de seu primeiro matrimônio e embarcar numa orgia de gastos com palácios e guerras, havia deixado ao filho um reino empobrecido e dividido sobre questões religiosas, particularmente sobre o ritmo das reformas eclesiásticas.

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Edward Seymour, Lord Protector
Eduardo Seymour, Lorde Protetor
Unknown Artist (Public Domain)

A Regência e a Reforma da Igreja

Como Eduardo tinha apenas nove anos quando se tornou rei, a Inglaterra foi efetivamente governada por um conselho de nobres, chefiado pelo Lorde Protetor, Edward Seymour, tio do jovem monarca. Henrique VIII tinha estipulado que a regência não deveria ser dominada apenas por um indivíduo, mas isso revelou-se um princípio difícil de manter na prática. O ambicioso Seymour distribuiu títulos e dinheiro entre seus apoiadores, promoveu a si mesmo de Conde de Hertford a Duque de Somerset em 1547 e, para todos os efeitos, atuava como regente único. Ele era um resoluto reformista da Igreja e, com a ajuda de personagens como Thomas Cranmer, o arcebispo de Canterbury (Cantuária), demonstrou suas intenções desde o início do reinado do sobrinho, ao incluir na cerimônia de coroação um juramento segundo o qual o rei iria preservar a Reforma que seu pai havia começado. Em seguida veio o Ato de Traição, de 1547, que removeu velhas restrições e permitiu o livre debate de questões religiosas, bem como a impressão e distribuição de materiais relacionados.

A iconografia, murais e vitrais foram removidos das igrejas e os serviços passaram a ser ministrados em inglês e não mais em latim.

Seymour tinha inimigos entre os católicos descontentes com a reforma da Igreja, entre os quais se incluíam seu próprio irmão, Thomas Seymour, Lorde do Almirantado. O regente mantinha sua posição de favorecimento junto ao jovem rei e suas duas meias-irmãs e, quando o irmão tentou mostrar força na corte real, mandou executá-lo em Março de 1549.

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As reformas continuaram a todo vapor e o termo Protestante começou a ser utilizado de forma disseminada pela primeira vez. A iconografia, murais e vitrais foram removidos das igrejas e os serviços passaram a ser ministrados em inglês e não mais em latim. Os altares católicos foram substituídos por mesas de comunhão. Permitiu-se o casamento dos padres. Um novo Book of Common Prayer (livro de rituais e orações) foi publicado em inglês em 1549 e tornou-se compulsório pelo Ato de Uniformidade do mesmo ano. A atualização do livro de orações veio com um afastamento ainda mais radical do catolicismo romano em 1552, ao rejeitar a ideia de transubstanciação (ou seja, que os elementos da Eucaristia do pão e do vinho se tornassem o corpo e o sangue de Jesus Cristo). As guildas religiosas foram suprimidas, aboliram-se as doações para missas pelas almas dos mortos e as propriedades da igreja acabaram confiscadas. A riqueza proveniente acabou nos bolsos da nobreza, ainda que o regente tenha usado parte dos recursos para fundar algumas escolas de gramática.

Edward VI of England as the Prince of Wales
Eduardo VI da Inglaterra como Príncipe de Gales
William Scrots (Public Domain)

Muitos tradicionalistas radicais resistiram a estas mudanças, embora houvesse também uma apatia surpreendente da maioria da população. Quando a religião se misturou à política, porém, houve consequências mais sérias, tais como várias insurreições populares. Estas desordens e tumultos foram ainda mais incentivados pelo cercamento de terras (o uso da terra pública para criar propriedades privadas de caça ou pastagem), inflação (causada pelos elevados custos da guerra e depreciação da moeda) e novos impostos sobre os tecidos de lã e criação de ovelhas. No topo dos problemas estava o crescimento da população da Inglaterra, de 2,3 milhões em 1530 para 3 milhões de habitantes em 1550, o que aumentava a pressão sobre os preços pela elevação da demanda e tornava mais difícil encontrar trabalho. As insurreições incluíram motins em Cornwall e a rebelião de Mousehold Heath, em Norfolk, liderada por Robert Kett, que audaciosamente anunciou sua própria commonwealth (comunidade) em 1549. Estes problemas foram por fim resolvidos, alguns de forma implacável, como o massacre de Dussindale, em Norfolk (26 de Agosto), mas não foi suficiente para impedir a remoção de Seymour do cargo e sua substituição por John Dudley, o Conde de Warwick, em Outubro de 1549.

Um Rei Manipulado?

Eduardo nunca havia exibido uma constituição particularmente forte quando criança, a despeito dos cuidadosos esforços para preservar a saúde do que o rei chamava de "sua joia mais preciosa". O príncipe e depois rei prosseguiu em sua educação em Latim, Grego, Teologia e Filosofia, além dos clássicos. Também praticava muitos esportes, tais como equitação, esgrima, tiro de arco e tênis. As artes não eram negligenciadas, com aulas de dança e música, especialmente o alaúde. Enquanto o inexperiente rei era assim mantido ocupado, as águias políticas rondavam sua corte para tomar tudo o que pudessem. Conforme observado pelo historiador da era Tudor G. R. Elton:

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Eduardo era naturalmente soberbo e arrogante, como todos os Tudors; e, assim também como toda a sua família, possuía uma elevada habilidade intelectual... O rei era frio e esnobe, um fato que sequer sua patética e triste morte poderia esconder. Hipócrita, inclinado à crueldade e – quem imaginaria? - facilmente influenciado por homens astuciosos, ele tinha tão pouca influência que parecia estar possuído por péssimas políticas e políticos desastrosos. (202)

Política Externa

Os inimigos mais comuns da Inglaterra eram a França e a Escócia, a "Aliança Auld". Houve um plano em 1543 para que Eduardo, o Príncipe de Gales, desposasse Maria, a Rainha dos Escoceses (1542-1567) mas nenhuma das nações estava disposta a abrir mão de sua independência. Os ingleses insistiram com o chamado "Cortejo Brutal" de 1544-5, quando as terras baixas da Escócia foram devastadas mas, sem nenhuma surpresa, esta política serviu apenas para fortalecer a resolução dos escoceses.

Uma campanha realizada por Edward Seymour na Escócia em 1547 teve sucesso moderado, especialmente a vitória na Batalha de Pinkie (próximo a Musselburgh) em 10 de Setembro, mas não houve uma vantagem duradoura e as guarnições inglesas recém-estabelecidas caíram após repetidos ataques dos escoceses. Também havia conflito com os franceses, que sitiavam Bolonha, e o engajamento de tropas na França e Escócia pode explicar sua incapacidade em lidar com as revoltas populares na Inglaterra. Guerras em dois países estavam, de qualquer forma, além da capacidade financeira da Inglaterra e, em consequência, em 1550 tratados de paz foram firmados entre os três países, o chamado Tratado de Bolonha (assim chamado porque a região retornou à coroa francesa).

Dudley, Conde de Warwick

O Conde de Warwick, John Dudley, ganhou a confiança de Eduardo e nomeou-se Conde de Northumberland em 1551. Ele não perdeu tempo em remover seus rivais e até o desacreditado Edward Seymour acabou executado em 22 de Janeiro de 1552. Eduardo mantinha um diário e suas descrições são, surpreendentemente, despidas de emoção, mesmo quando mencionavam a morte de seu tio: "O Duque de Somerset teve sua cabeça cortada em Tower Hill entre oito e nove horas desta manhã" (Jones, 227).

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Dudley pressionou pela continuidade da Reforma em ritmo acelerado, talvez mais motivado pela ganância pelas riquezas da igreja do que por verdadeiras convicções religiosas. O livro de orações mais radical mencionado acima foi adotado e restrições adicionais feitas às práticas "papistas", como a adoção de vestuário mais discreto para os clérigos e a abolição das preces para os mortos. A economia registrou melhores, graças à legislação restringindo o cercamento de terras e ao final da prática de misturar cobre às moedas de prata, o que reduziu a inflação. O rei e o novo regente (em tudo, menos no nome) trabalhavam juntos e o conde, em segredo, fornecia-lhe os discursos que ele faria, com toda a desenvoltura, no Conselho do Rei no dia seguinte. Mas, então, veio o desastre. Eduardo contraiu tanto sarampo quanto catapora no verão de 1552. No ano seguinte, após um inverno particularmente severo, ele revelou sinais de tuberculose e, portanto, seus dias estavam contados.

Silver Shilling of Edward VI of England
Shilling de prata de Eduardo VI da Inglaterra
Numismantica (CC BY-SA)

Morte e Sucessoras

O sucessor do jovem rei havia sido indicado por seu pai caso Eduardo não tivesse filhos: Maria, sua meia-irmã mais velha, uma católica fanática que provavelmente reverteria a Reforma quando se tornasse rainha (e também encerraria a carreira de Dudley). Portanto, o conde persuadiu Eduardo, ele próprio um entusiasmado reformista, a nomear sua prima, Lady Jane Grey. O rei morreu de tuberculose pulmonar em 6 de Julho de 1553, no Palácio Greenwich, com apenas 15 anos de idade. Dudley manteve a morte em segredo por alguns dias, enquanto se movimentava para instalar como rainha Lady Jane Grey, uma adolescente de 16 anos de idade.

Lady Jane Grey era a neta de Henrique VII da Inglaterra (r. 1485-1509), neta de Maria Tudor (1496-1533), a irmã de Henrique VIII e, de forma mais significativa, nora de John Dudley. O conselho do rei e o Parlamento aceitaram a nomeação de Eduardo. Infelizmente para os planos cuidadosos de Dudley, Maria não estava disposta a deixar a oportunidade passar e possuía muitos apoiadores que podia convocar de imediato. A escolha entre uma nobre com relações apenas distantes com a coroa e uma filha de Henrique VIII era fácil para o público, independente de convicções religiosas. Um exército marchou em nome de Maria para Londres e tanto a nobreza quanto a população em geral concordaram que os desejos de Henrique deveriam ser respeitados. Maria foi saudada por multidões entusiasmadas em Londres, no dia 3 de Agosto de 1553. Dudley foi devidamente expulso e Lady Jane Grey, que tinha sido uma participante bastante relutante de todo o plano de nove dias, foi confinada na Torre de Londres até sua execução, em 12 de fevereiro de 1554. Já Dudley foi executado em 22 de Agosto de 1553. Maria foi coroada na Abadia de Westminster, tornando-se Maria I da Inglaterra em 1° de Outubro de 1553. Ela reinou até 1558 e foi sucedida por sua meia-irmã Elizabeth I (r. 1558-1603), que viu a chegada da Era de Ouro da Inglaterra.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2020, abril 29). Eduardo VI da Inglaterra [Edward VI of England]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18786/eduardo-vi-da-inglaterra/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Eduardo VI da Inglaterra." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação abril 29, 2020. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18786/eduardo-vi-da-inglaterra/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Eduardo VI da Inglaterra." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 29 abr 2020. Web. 26 dez 2024.