Elizabeth I da Inglaterra

10 dias restantes

Investir no ensino da História

Ao apoiar a nossa instituição de solidariedade World History Foundation, está a investir no futuro do ensino da História. O seu donativo ajuda-nos a capacitar a próxima geração com os conhecimentos e as competências de que necessita para compreender o mundo que a rodeia. Ajude-nos a começar o novo ano prontos a publicar informação histórica mais fiável e gratuita para todos.
$3029 / $10000

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 26 maio 2020
Disponível noutras línguas: Inglês, Árabe, holandês, francês, espanhol
Ouve este artigo
X
Imprimir artigo
Elizabeth I Armada Portrait (by George Gower, Public Domain)
Retrato da Armada de Elizabeth I
George Gower (Public Domain)

Elizabeth I governou como rainha da Inglaterra de 1558 até 1603. Seu reinado 44 anos ficou conhecido como era Elizabetana graças não somente à longa duração, mas também aos importantes eventos deste período, considerado como uma "Era Dourada" da Inglaterra.

Ela sucedeu sua meia-irmã mais velha, Maria I da Inglaterra (r. 1553-1558). Exasperando tanto ministros e pretendentes com seus subterfúgios, a rainha foi uma governante competente e astuta, que sobreviveu às conspirações que ameaçavam sua vida e à invasão da Armada Espanhola, em 1588, que ameaçava seu reino. Glorificada através de uma lenda cuidadosamente cultivada, Elizabeth governou uma Inglaterra que crescia em confiança, testemunhou as peças de William Shakespeare (1564-1616) e assistiu ao início da exploração do Novo Mundo. Morreu aos 69 anos, em Março de 1603 e, como uma Rainha Virgem não deixa herdeiros, foi sucedida pelo seu parente mais próximo, Jaime VI da Escócia (r. 1567-1625), que se tornou Jaime I da Inglaterra (r. 1603-1625).

Remover publicidades
Publicidade

Vida Pregressa

Elizabeth nasceu em 7 de Setembro de 1533, no Palácio Greenwich, filha de Henrique VIII da Inglaterra (r. 1509-1547) e Ana Bolena (c. 1501-1536). Recebeu seu nome da avó, Elizabeth de York (n. 1466), esposa de Henrique VII da Inglaterra (r. 1485-1509). Quando seu pai se desentendeu com Ana (e a prendeu e depois a executou), o casamento foi anulado e a filha declarada ilegítima. O rei então casou-se com sua terceira esposa, Jane Seymour (c. 1509-1537) em Maio de 1536. Jane deu a Henrique um filho legítimo, Eduardo, que sucederia ao pai e se tornaria Eduardo VI da Inglaterra (r. 1547-1553). Elizabeth não teve uma vida familiar feliz até que seu pai se casou com a sexta e última esposa, Catarina Parr (c. 1512-1548) em Julho de 1543. Catarina encarregou-se do bem-estar e da educação de suas crianças adotadas, o que para Elizabeth incluiu aprender francês, italiano, latim e grego, assim como estudar teologia, história, música, filosofia moral e retórica (o que veio bem a calhar, mais tarde, para os discursos que redigiu enquanto ocupava o trono). Quando Catarina se casou novamente, após a morte de Henrique, houve alegações de que o padrasto de Elizabeth, Thomas Seymour (c. 1508-1549) teria se comportado de forma lasciva e imprópria com a Princesa Elizabeth, e com a concordância dela.

A rainha Maria I suspeitou que a meia-irmã estivesse envolvida em traição e a deteve na Torre de Londres em 1554.

Durante o reino de seu irmão Eduardo, Elizabeth manteve um perfil discreto, morando em Hatfield (Hertfordshire). Quando Eduardo morreu sem deixar herdeiros, em Julho de 1553, sua meia-irmã mais velha, Maria, filha de Catarina de Aragão (1485-1536) herdou o trono inglês. Tanto Henrique VIII quanto Eduardo VI trabalharam pela reforma protestante da Igreja da Inglaterra mas Maria, como sua mãe, era uma católica fiel. A nova rainha reverteu a legislação reformista que passara pelo Parlamento desde 1529 e conquistou o duradouro apelido de "Bloody Mary" ("Maria Sangrenta") ao mandar para a fogueira protestantes proeminentes. Ela também se afastou da tradição Tudor, casando-se com o Príncipe Filipe (v. 1527-1598), filho do rei Carlos V da Espanha (r. 1516-1556). Filipe tornou-se o rei da Espanha em 1556 e, portanto, Maria passou a ser sua rainha.

Remover publicidades
Publicidade

Como a Espanha era o grande inimigo, muitos ingleses receavam que a riqueza do país fosse usada para financiar as ambições espanholas no estrangeiro. Um crescente nível de descontentamento popular com as escolhas políticas e religiosas de Maria resultou na Rebelião Wyatt, em Janeiro de 1554. Os rebeldes talvez tivessem a esperança de colocar Elizabeth no trono, casando-a a seguir com Edward Courtenay, o neto de Eduardo IV (r. 1461-1470). A rebelião foi suprimida, mas demonstrou que, para muitos, Elizabeth representava o novo senso de nacionalismo inglês. Maria suspeitava que sua irmã estivesse envolvida na rebelião - mesmo que Elizabeth não tivesse feito pronunciamentos públicos sobre a Reforma ou o Casamento Espanhol – e, assim, ela foi detida na Torre de Londres em 17 de Março de 1554. Dois meses depois, Elizabeth foi transferida para Woodstock (Oxfordshire) e mantida em prisão domiciliar. No ano seguinte, as duas irmãs se reconciliaram e Elizabeth ganhou a liberdade de volta.

Sucessão

Quando Maria morreu de câncer estomacal em Novembro de 1558, sem deixar herdeiros, sua meia-irmã Elizabeth tornou-se rainha. Com apenas 25 anos, ela foi coroada no dia 15 de Janeiro de 1559, numa das mais magníficas cerimônias já realizadas na Abadia de Westminster. As três crianças de Henrique VIII haviam assumido o trono em sequência, exatamente como ele desejara em 1544 (se nenhum deles tivesse filhos). Elizabeth herdou um reino frágil, cercado por inimigos. Todos os territórios na França estavam perdidos, o estado encontrava-se quase falido e a política ainda era uma arena dominada por homens, que esperavam um casamento real o quanto antes. Em consequência, Elizabeth agiu de forma cautelosa nos primeiros anos de seu reinado, cercando-se de hábeis conselheiros.

Remover publicidades
Publicidade

Governo

Para aconselhá-la em seu governo, Elizabeth escolheu William Cecil, Lorde Burghley (1520-1598) para atuar como seu secretário particular. Sir Francis Walsingham (c. 1530-1590) ocupou o importante cargo de Secretário de Estado e criou uma valiosa rede de espiões por toda a Europa. Robert Dudley (c. 1532-1588), que iria se tornar o Conde de Leicester, era outro favorito. Estes homens iriam permanecer ao lado da rainha ao longo da maior parte de seu reinado, ainda que o relacionamento com Dudley possa ter ido além dos limites profissionais, segundo os rumores da época. Certamente, era inusitado dar a um plebeu um condado e Dudley dispunha de apartamentos próximos dos da rainha na maior parte das residências reais. Ele era casado e, quando sua esposa foi descoberta ao pé de um lance de escadas com o pescoço quebrado, muitos suspeitaram que a tinha empurrado. O escândalo subsequente afastou qualquer possibilidade de casamento com a rainha mas, de qualquer forma, seu baixo nascimento o tornava inaceitável como um consorte real.

Ao governar, a rainha viu-se num mundo masculino, mas seus ministros descobririam que sua soberana não tinha intenções de ser pressionada. Elizabeth alterou toda a abordagem da política real, como explica o historiador J. Morrill:

… a hesitação, subterfúgios e o comportamento geralmente displicente, que era encarado como o arquétipo da “amante” convencional, forneceu a Elizabeth suas armas de manipulação e manobra políticas. Para conseguir derrotar seus cortesãos em seu próprio jogo, ela mudou as regras e capitalizou o poder assegurado a ela em virtude de seu gênero. (234)

A rainha da Inglaterra era ferozmente independente e seus ministros literalmente tinham de cortejá-la para saber qual seria sua ideia, se é que as tinha. Ela tinha poucas preconcepções da monarquia. Ao contrário de tantos de seus predecessores, não desejava ardentemente territórios na França ou Escócia, era cuidadosa com as despesas reais e não parecia se preocupar em absoluto em garantir a continuidade da dinastia Tudor após sua morte. Os exasperados ministros sequer podiam se voltar ao Parlamento, que se reuniu em apenas 13 ocasiões durante seu reinado.

Remover publicidades
Publicidade
Elizabeth tornou-se conhecida como a Rainha Virgem e, para aqueles ansiosos por uma confirmação divina de suas crenças, era a personificação da Virgem Maria.

Uma das principais preocupações dos conselheiros de Elizabeth era que ela deveria se casar e gerar um herdeiro ou dois tão logo quanto possível. Era dado como certa a necessidade do matrimônio real, mas a rainha tinha outras ideias e parecia determinada a permanecer solteira. Era casada com seu país, conforme dizia, e certamente nenhum monarca anteriormente havia excursionado pelo país tão frequentemente e se mostrado a tantas pessoas quando ela.

A relutância da rainha em se casar pode bem ter sido uma reação às peripécias de seu pai com suas seis esposas e o desastre de relações-públicas do casamento de Maria I com um príncipe espanhol. De fato, Filipe II ofereceu-se para se casar com Elizabeth após sua coroação, mas foi rejeitado em Janeiro de 1559; assim como o rei da Suécia, um príncipe francês e dois arquiduques Habsburgo. Elizabeth transformou-se na Rainha Virgem e, para aqueles ansiosos por uma confirmação divina de suas crenças, era a personificação da Virgem Maria. Esta última concepção prevaleceu à medida que a rainha envelhecia e suas imagens utilizavam símbolos tradicionalmente associados com a Virgem Maria, como a lua crescente e pérolas. Houve muitas relações informais com jovens rapazes arrojados, porém, que talvez tenham ido além da mera amizade. Além de Robert Dudley, primeiro Conde de Leicester, já mencionado, personagens como o explorador Sir Walter Raleigh (c. 1552-1618); o Lorde Chanceler, Sir Christopher Hatton (1540-1591); e o nobre e primo da rainha Robert Devereux, o Conde de Essex (1566-1601), todos cativaram a rainha e vice-versa.

Mary, Queen of Scots by Haillard
Maria, Rainha dos Escoceses, por Haillard
Nicholas Hilliard (Public Domain)

Tolerância Religiosa

Com Elizabeth, a Igreja da Inglaterra retornou ao seu estado reformado, tal como havia sido sob Eduardo VI. Ela restabeleceu o Ato de Supremacia (Abril de 1559) que colocava o monarca inglês como chefe da Igreja (ao contrário do Papa). O Livro de Orações protestante de Thomas Cranmer voltou a ser usado (de acordo com a versão de 1552). Porém, tanto os protestantes quanto católicos linha-dura estavam insatisfeitos com a postura pragmática da rainha, que optou por uma abordagem meio-termo que agradava à largamente indiferente maioria dos súditos. Os extremistas católicos ou quaisquer outros tinham permissão de seguir suas crenças sem interferência, mesmo após o Papa excomungar a rainha por heresia em Fevereiro de 1570. Elizabeth também se mostrou ativa em termos de política externa. Tentou impor o protestantismo na Irlanda católica, mas isso resultou somente em rebeliões constantes (1569-73, 1579-83 e 1595-8), com frequência com apoio material da Espanha. Da mesma forma, a rainha enviou dinheiro e armas para os huguenotes na França e ajuda financeira para os protestantes nos Países Baixos.

Remover publicidades
Publicidade

O espinhoso tema da Reforma voltou à cena na política inglesa quando Maria, Rainha dos Escoceses (r. 1542-1567), neta de Margaret Tudor, a irmã de Henrique VIII, tornou-se a figura de proa de uma trama urdida pelos católicos para destronar Elizabeth. De fato, para muitos católicos, Elizabeth era ilegítima, pois não reconheciam o divórcio de seu pai da primeira esposa, Catarina de Aragão. A católica Maria, após viver muitos anos na França, não era bem-vinda na Escócia protestante e, combatendo maridos e nobres, foi eventualmente obrigada a abdicar em 1567, fugindo do país no ano seguinte.

Maria, Rainha dos Escoceses

Em 1568, Maria foi detida quando chegou à Inglaterra. Mesmo em confinamento, ela representava um risco para Elizabeth, que hesitava sobre o que fazer. No ano seguinte, houve uma rebelião no norte da Inglaterra, deflagrada pelos condes de Northumberland e Westmorland, ambos fiéis católicos. Elizabeth respondeu à altura, enviando um exército comandado pelo Conde de Sussex e enforcando 900 rebeldes. O Duque de Norfolk, que conspirara com a Espanha para organizar uma invasão à Inglaterra e coroar Maria como rainha (no que ficou conhecido como o plano Ridolfi, de 1571), foi executado em 1572. O Parlamento permanecia ansioso em garantir o trono de Elizabeth; por duas vezes, havia solicitado à rainha que se casasse (1559 e 1563). Agora havia uma ameaça adicional à dinastia, personificada por Maria, que poderia assumir o trono caso não houvesse um herdeiro direto da atual monarca. Por causa disso, em 1586 o Parlamento pediu duas vezes que Elizabeth assinasse a autorização para a execução de Maria. O documento foi finalmente assinado em 1° de Fevereiro de 1587, após Walsingham envolver a antiga rainha da Escócia numa conspiração contra sua prima. Maria encorajava Filipe da Espanha, a quem nomeou seu herdeiro, a invadir a Inglaterra, o que colocou nas mãos de Walsingham evidências indiscutíveis de traição.

A Armada Espanhola

Quando Maria, Rainha dos Escoceses, foi executada em 8 de Fevereiro de 1587, Filipe da Espanha teve mais uma razão para atacar a Inglaterra. Ele estava furioso com as rebeliões nos Países Baixos, que prejudicavam o comércio, e que contavam com o apoio de Elizabeth, que enviou tropas para apoiar os protestantes da região em 1585. Outros objetos de discórdia eram a rejeição inglesa ao catolicismo e ao Papa, além da ação dos corsários, lobos-do-mar como Francis Drake (c. 1540-1596) que pilhavam navios espanhóis carregados com ouro e prata trazidos do Novo Mundo. A própria Elizabeth financiou algumas dessas furtivas expedições. A Espanha estava longe de ser completamente inocente, pois confiscara navios ingleses em portos espanhóis e se recusava a permitir o acesso de mercadores da Inglaterra ao Novo Mundo. Quando Drake atacou Cádiz em 1587, Filipe preparou-se para a guerra.

Em 1588, o rei da Espanha reuniu uma enorme frota, uma "armada" de 132 navios, que navegou de Lisboa para os Países Baixos, onde embarcaria o exército liderado pelo Duque de Parma, encarregado de invadir a ilha, a chamada "Operação Inglaterra". Felizmente, Henrique VIII e Maria I haviam investido na Marinha Real e o país agora colhia sua recompensa. Os grandes galeões espanhóis - planejados para transporte, não para guerra naval - eram muito menos ágeis do que a frota de cerca e 130 navios ingleses, a maioria de menor porte, capazes de se infiltrar rapidamente entre os espanhóis e escapar, provocando o caos. Além disso, os 20 galeões reais ingleses estavam melhor equipados do que seus equivalentes espanhóis e podiam fazer disparos de artilharia a distâncias maiores. Comandantes experientes como Drake, chamado pelos espanhóis de "El Draque" ("O Dragão") também fizeram diferença.

Houve três engajamentos principais, à medida que os navios combatiam uns aos outros e também enfrentavam tempestades. Enquanto isso, Elizabeth visitou o exército em terra pessoalmente. Os soldados estavam reunidos em Tilbury para defender Londres caso a armada conseguisse desembarcar. A rainha, vestindo uma armadura e cavalgando um capão cinza, incentivou suas tropas com o seguinte discurso:

Embora eu tenha o corpo de uma mulher fraca e debilitada, tenho o coração e o estômago de um rei, e também de um rei da Inglaterra – e tomo com total desprezo [a ideia de] que [o duque de] Parma ou Espanha ou qualquer outro príncipe da Europa ouse invadir as fronteiras de meu reino.

(Phillips, 122)

Image Gallery

Gallery of Elizabeth I Portraits

Elizabeth I of England (r. 1558-1603) carefully controlled her image, whether it be through costume, processions, literature, coinage, or the annual...

Navios em chamas foram enviados quando os espanhóis ancoraram seus navios e o mau tempo encarregou-se do restante da frota. Os remanescentes foram forçados a navegar rumo à Escócia e à Irlanda e somente metade da frota conseguiu retornar à Espanha. A Inglaterra estava salva. Entre 11-15.000 espanhóis morreram, em comparação com cerca de 100 ingleses. Filipe não desistiu e tentou por mais duas vezes invadir a ilha (1596 e 1597), mas em cada ocasião a frota foi repelida por tempestades. A derrota da Armada Espanhola aumentou a confiança da Inglaterra e mostrou a importância do poder naval. Os Tudors haviam construído e testado as fundações da Marinha Real, que iria mudar a história mundial, do Taiti a Trafalgar.

A Cultura Elizabetana

As artes, como ocorre tão frequentemente quando a paz é estabelecida, floresceram de forma significativa na era Elizabetana. Em 1576, Londres recebeu sua primeira casa de espetáculos, fundada por James Burbage e simplesmente conhecida como The Theatre. Por volta de 1593, William Shakespeare escreveu sua peça Romeu e Julieta. As grandes peças históricas do bardo, tais como Ricardo III pretendiam massagear o ego real dos Tudor e, por isso, pintavam um quadro muito mais negativo do período anterior do que a realidade. Já peças como Henrique V glorificavam o passado da Inglaterra e contribuíam para o crescente senso de nacionalismo. A rainha se divertia assistindo às apresentações e espetáculos ao ar livre e patrocinou ativamente artistas e dramaturgos. Outros escritores notáveis do período incluem Christopher Marlowe (1564-1593) e Ben Jonson (1572-1637).

Elizabeth I Ermine Portrait
Retrato do Arminho de Elizabeth I
William Segar (Public Domain)

A era Elizabetana viu o mundo abrir-se para a Europa, o que, se não trazia grandes benefícios para o mundo, certamente contribuiu para a riqueza dos poderes europeus. Em 1562-3, John Hawkins (1532-1595) explorou a Guiné, na África Ocidental, e as Índias Ocidentais espanholas, iniciando o envolvimento inglês no comércio de escravos. Elizabeth concedeu cartas régias de monopólio comercial para companhias em áreas específicas, com a contrapartida de pagamento à Coroa de um percentual dos lucros. A mais famosa delas seria a Companhia das Índicas Orientais, que recebeu uma carta régia para o comércio na Índia e no Oceano Índico em 1600. Em 1572, Francis Drake explorou o Panamá e, de 1577 a 1580, circum-navegou o mundo em seu navio, chamado Golden Hind (Corça Dourada). Martin Frobischer (c. 1535-1594) explorou Labrador em 1576-8, em busca de uma suposta passagem Noroeste para a China. Em 1595, Walter Raleigh percorreu o que atualmente é a Venezuela em busca de El Dorado, o lendário governante de uma cidade chamada Manoa, que se dizia ser pavimentada com ouro.

Um fenômeno cultural final do período foi a veneração da rainha como uma figura semidivina. A data da ascensão de Elizabeth ao trono, 17 de Novembro, passou a ser comemorada como um feriado nacional e celebrada anualmente com grandes festividades, serviços religiosos e toque de sinos. Ela ficou conhecida como a grande imperatriz "Gloriana", a partir da protagonista do poema de 1590 The Fairie Queen (A Rainha das Fadas), de Edmund Spenser (c. 1552-1599). Comparações eram feitas com Ártemis/Diana, a deusa caçadora virgem da Antiguidade. Um espetáculo encenado na corte em 1581 retratou a rainha como a "Fortaleza da Beleza Perfeita", suportando com sucesso o assédio de um canhão, representando o "Desejo", que no entanto só conseguia atirar doces em seu alvo. Walter Raleigh nomeou uma porção da América do Norte (a Ilha de Roanoke, atualmente na Carolina do Norte), a primeira colônia inglesa no além-mar, como Virginia, para homenagear a monarca.

Um elemento importante da lenda nascente que a própria rainha fazia questão de cultivar estava relacionado à aparência. Elizabeth passava duas horas diárias apertando-se em vestidos majestosos e ostentava golas extravagantes e adornos crivados de joias. Ela possuía uma impressionante quantidade de perucas, infelizmente necessárias depois que um ataque de sarampo, em Dezembro de 1562, a deixou com manchas de calvície. Outra consequência da mesma doença foram cicatrizes faciais, o que explica o uso posterior de espessa maquiagem branca no rosto. A rainha conhecia perfeitamente bem o valor da imagem e, a partir de 1563, a produção de retratos não-oficiais foi banida. O sucesso de Elizabeth em administrar a própria imagem é talvez melhor ilustrado pelo fato de que o seu culto pessoal jamais desapareceu, a despeito das melhores tentativas de historiadores revisionistas.

Elizabeth I & Death
Elizabeth I e a Morte
Unknown Artist (Public Domain)

Morte e Sucessão

É verdade que a realidade dos anos finais do reinado de Elizabeth foi bem menos romântica do que sua imagem lendária. Uma série de colheitas pobres, inflação e impostos elevados, necessários para pagar a luta contra a Espanha, além de um desemprego crescente e uma onda de criminalidade cobravam seu preço junto a uma população que havia crescido de 3 milhões no início do reinado para 4 milhões no início do século XVII. A pobreza crescia numa tal proporção que leis de assistência social foram aprovadas em 1597 e 1601 para tentar aliviar o problema, fornecendo casas de correção para os sem-teto e aprendizagem para crianças. Houve motins por comida em Londres e East Anglia durante os anos de 1595-7, mas, significativamente, nenhum dos levantes populares que haviam desafiado os monarcas anteriores da dinastia Tudor.

Elizabeth morreu, provavelmente de um misto de bronquite e pneumonia, em 24 de Março de 1603, no Palácio Richmond. Tinha 69 anos e sobrevivera a todos os seus amigos e favoritos; foi sepultada na Abadia de Westminster. Como a rainha dissera certa vez no Parlamento, e através dele, a todo seu povo:

E embora tivésseis tido, e podereis ter, muitos príncipes mais poderosos e sábios [...], nunca tivestes, nem tereis, nenhum que os ame mais.

(Cavendish, 299)

O reinado da Rainha da Inglaterra vem sendo avaliado menos favoravelmente em tempos recentes, particularmente o período final, mas ela ainda leva vantagem na comparação com seus predecessores e sucessores imediatos. Seu grande fracasso foi talvez não ter filhos e nunca ter nomeado um herdeiro. Em consequência, foi sucedida pelo seu parente mais próximo, Jaime I da Inglaterra (anteriormente Jaime VI da Escócia), o filho de Maria, Rainha dos Escoceses. Jaime reinaria até 1625 e seria o primeiro Stuart a governar o país. Os Stuarts sobreviveriam à breve república de Oliver Cromwell (1649-1660) e assim permaneceriam no poder até 1714.

Remover publicidades
Publicidade

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2020, maio 26). Elizabeth I da Inglaterra [Elizabeth I of England]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18888/elizabeth-i-da-inglaterra/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Elizabeth I da Inglaterra." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação maio 26, 2020. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18888/elizabeth-i-da-inglaterra/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Elizabeth I da Inglaterra." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 26 mai 2020. Web. 21 dez 2024.