Thomas Cavendish

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Pedro Lerbach
publicado em 03 agosto 2020
Disponível : Inglês, francês
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Thomas Cavendish (by Unknown Artist, Public Domain)
Thomas Cavendish
Unknown Artist (Public Domain)

Thomas Cavendish (1560-1592) foi um marinheiro e corsário do período elizabetano, famoso por circunavegar o globo em 1586-88, apenas a terceira viagem a realizar tal feito e a primeira a partir com essa intenção específica. Retornando rico com tesouro espanhol e desfrutando da glória do seu feito, Cavendish zarpou para repetir a viagem e também para encontrar a Passagem Noroeste em 1591. Impedido por tempestades e incapaz de circundar a ponta da América do Sul, o navio de Cavendish viu-se obrigado a retornar, e ele morreu no mar, em maio de 1592.

Início da carreira

Thomas Cavendish nasceu em Suffolk, 1560, em uma família rica, e ao receber sua herança, parecia estar pronto para uma vida tranquila. No entanto, o estilo de vida perdulário de Cavendish logo exauriu seus recursos. A vida de marinheiro e corsário em alto mar o atraiu, então, e Cavendish hipotecou a propriedade que tinha sobrado para entrar em uma expedição organizada por Walter Raleigh (que viveu em torno de 1552 e 1618), ocorrida em 1585. Cavendish foi o capitão de um dos navios da frota, o Elizabeth, na segunda viagem para estabelecer uma colônia na América do Norte, na região que Raleigh depois nomeou de "Virgínia", por causa de sua rainha, Elizabeth I da Inglaterra (que reinou entre 1558 e 1603). Retornando à Inglaterra, Cavendish, com apenas uma viagem no currículo, buscava agora liderar sua própria expedição.

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Circunavegação

Após as viagens lideradas pelo explorador português Fernão de Magalhães (que viveu por volta de 1480 a 1521), ocorrida em 1522, e pelo inglês Sir Francis Drake (que viveu por volta de 1540 a 1596), Thomas Cavendish se tornaria o terceiro a circunavegar o globo. Diferente de seus antecessores, no entanto, Cavendish partiu com esse objetivo em específico e preparou-se bem para o desafio, aprendendo sobre as mais recentes teorias da navegação de figuras como o notório astrônomo e matemárico Thomas Harriot (que viveu por volta de 1560 a 1621). Ele também reuniu tantos mapas quanto pudesse achar e recrutou alguns homens que haviam navegado com Drake em sua circunavegação.

Um navio, o Hugh Gallant, foi deliberadamente afundado em 5 de junho, pois agora havia poucos homens para conduzi-lo.

A frota de Cavendish, de três navios, era composta pelo navio-almirante Desire (140 toneladas), o Content (60 toneladas) e o Hugh Gallant (40 toneladas). O trio zarpou do porto de Plymouth em 21 de julho de 1586. Seguindo uma das rotas estabelecidas para o Novo Mundo, Cavendish navegou pela costa da África, passou pelas Ilhas Canárias e seguiu pela costa ocidental da África ao que hoje é Serra Leoa. Tendo atacado uma vila indígena e pausando para recarregar nas Ilhas de Cabo Verde, Cavendish cruzou o Oceano Atlântico para alcançar a costa do Brasil no final de outubro. Aqui, a expedição recarregou e se refrescou por três semanas na ilha costeira de São Sebastião. Cavendish até mesmo construiu uma pinaça, pequeno navio usado para exploração em águas rasas costeiras.

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Map of Drake's and Cavendish's Circumnavigations of the Globe
Mapa das Circunavegações de Drake e Cavendish
Jodocus Hondius (Public Domain)

Seguindo viagem pela costa da América do Sul, o explorador descobriu um porto amplo e favorável na costa da Patagonia, nomeado Port Desire em 17 de dezembro. Ele então navegou para a ponta sul do continente e, em 6 de janeiro de 1587, iniciou a passagem pelo perigoso Estreito de Magalhães, o que durou tediosos 46 dias. A duração desse estágio forçou a tripulação a se alimentar de qualquer coisa que encontrassem na costa rochosa, como mexilhões, lapas e pássaros selvagens.

Assim como Drake havia sido deixado sozinho com o Golden Hind, Cavendish agora comandava somente o Desire.

Em 24 de fevereiro, ele finalmente estava no Oceano Pacífico onde, assim como Drake havia feito anos atrás, ele saqueou assentamentos coloniais espanhóis, como Arica, e capturou toda a carga que podia de navios espanhóis. A expedição ancorou na Ilha de Puma, no Golfo de Guayaquil (costa do Equador e do Peru) para fazer reparos essenciais. Embora Cavendish tivesse regularmente carregado seus navios com riquezas mês após mês, destruindo cerca de 19 navios, o preço pago nas vidas de seus homens foi alto. Um ataque por tribos indígenas em Gayaquil matou 12 de seus homens. Um navio, o Hugh Gallant, foi deliberadamente afundado em 5 de junho, pois agora havia poucos homens para conduzi-lo.

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Seguindo pela costa da América do Norte, Cavendish chegou à maior captura da expedição. A carraca Grande Santa Anna vinha de Manila e estava carregada com 22 mil pesos de ouro e 600 toneladas de seda e pimentas preciosas. Ela foi vista pelos homens de Cavendish em 14 de novembro pela costa da Califórnia e foi atacada por cerca de seis horas. O navio era de propriedade pessoal de Filipe II da Espanha (que reinou entre 1556 e 1598), e então foi uma vitória dupla para o corsário inglês contra o maior inimigo de seu país. Outra aquisição útil foi o conhecimento de um português capturado, Nicolás Rodrigo, que era pessoalmente familiarizado com as águas chinesas e possuía um mapa daquela região. Havia ainda outro cativo, dessa vez um espanhol, Tomás de Ersola, que conhecia as Filipinas. Essa boa sorte foi contraposta com a divisão da expedição. O segundo navio de Cavendish rumou para casa, pois a população se amotinou, em razão do que consideravam uma divisão injusta dos espólios do Grande Santa Anna. esse navio era o Content, o que não fazia justiça ao seu nome. Não vendo sentido em continuar a viagem no Pacífico, o navio navegou para casa, mas nunca se ouviu mais falar dele. Assim como Drake havia sido deixado sozinho com o Golden Hind, Cavendish agora comandava somente o Desire.

A Carrack Ship by Bruegel
Uma carraca, por Bruegel
Pieter Bruegel (Public Domain)

Cavendish cruzou o Pacífico em uma memorável volta de 56 dias, graças ao tempo bom e à ajuda da corrente equatorial que varre o oceano de leste a oeste. Ele atracou nas Ilhas Ladrones (hoje Ilhas Mariana) em 4 de janeiro de 1588. e então rumou para as Filipinas em meados do mesmo mês. Tomás de Ersola pretendia apresentar uma carta ao governador de Manila revelando que Cavendish era um corsário que havia assaltado o melhor navio do tesouro do Rei da Espanha, mas seu plano foi descoberto e ele foi enforcado. Manejando pelos perigosos recifes, o Desire passou pelas Ilhas Molucas, depois Java, e estava no Oceano Índico em meados de março. Cavendish navegou pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, em maio de 1588. O corsário então tornou-se explorados e parou para investigar a remota ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, o primeiro inglês a realizar esse feito. Santa Helena se tornaria uma importante base para corsários ingleses nos anos seguintes. Cavendish recarregou o navio e tomou o trecho de volta para casa na viagem de 20 de junho.

Onze semanas depois de deixar Santa Helena, e depois de ter saído de uma última terrível tempestade ao largo da costa inglesa, Cavendish chegou a Plymouth em 9 de setembro e 1588. Corsários ingleses não eram do tipo que perdiam a oportunidade de uma perseguição. Cavendish tinha o navio enfeitado com velas de damasco e tecido dourado, e toda a tripulação usava seda quando o Desire chegou ao porto de origem, para demonstrar as riquezas capturadas na viagem.

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A circunavegação, que durou 780 dias, foi um sucesso. Cavendish fez uma pequena fortuna para si e para seus apoiadores, a corte brindava a ele, e até mesmo baladas foram compostas em sua honra. Não lhe foi concedido o título de cavaleiro, como para Drake, mas, afinal, ele foi o segundo inglês a navegar ao redor do mundo. Entretanto, tendo ocorrido logo após a derrota da a Armada Espanhola, a viagem foi outro incremento na confiança nacional, e parecia que era o destino dos ingleses dominar as ondas. A épica viagem de Cavendish foi registrada por um de seus homens, Francis Petty, do qual extratos vieram a compor o celebrado As Principais Navegações, Viagens e Descobertas da Nação Inglesa, de Richad Hakluyt, publicado pela primeira vez em 1589.

Última Viagem

Cavendish então voltou seu olhar para a descoberta da elusiva Passagem Noroeste, aquele mítico curso de águas no norte congelado, que muitos esperavam que pudesse conectar as Américas à Ásia e prover um conveniente atalho para navios mercantes que carregassem cargas preciosas da Ásia à Europa. Muitas outras expedições, incluindo três que foram lideradas por Martin Frobisher (que viveu por volta de 1535 a 1594), ocorridas nos anos 1570, tinham explorado a costa oeste da América do Norte, e todas falharam em encontrar a passagem. Dessa vez, Cavendish se uniu a outro marinheiro, John Davis (que viveu por volta de 1550 a 1605), que tinha ele próprio tentado encontrar a passagem por três vezes em 1585-87. Naturalmente, navegar ao longo da costa oeste do continente americano necessitaria de um retorno via Pacífico e outra circunavegação. Esperava-se também que alguns poucos navios de Filipe pudessem ter sua carga aliviada pelo caminho.

Por consequência, Cavendish e Davis zarparam com sua frota de cinco navios para o fim da América do Sul. Cavendish comandava o Leicester Galleon, e Davis pegou o incansável Desire. Deixando a Inglaterra em agosto de 1591, a expedição alcançou a parte sul do continente americano suficientemente segura e desceu âncoras em Port Desire.

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Eles navegaram rumo à ponta da América do Sul, mas então, em março de 1592, uma série de tempestades dispersaram a frota no Estreito de Magalhães. O motim, algo comum em expedições nessas águas tempestuosas, estava no ar. Em certo ponto, Cavendish foi até mesmo obrigado a buscar refúgio temporário de sua tripulação, juntando-se a Davis no Desire. O líder da expedição parece ter estado sujeito a crises de alucinação nesse período, talvez causadas por pão de centeio mofado (causando ergotismo, também conhecido como fogo de Santo Antônio). Algumas semanas depois, os navios não conseguiam encontrar o caminho pelos estreitos e Davis e Cavendish se separaram. Enquanto Davis fez mais três tentativas pelos estreitos, Cavendish rumou para casa. Seus suprimentos estavam perigosamente baixos, e ele então correu para uma embarcação portuguesa no Atlântico que atacou seu navio. Cavendish foi ao Brasil, mas antes que pudesse retornar à Inglaterra, o circunavegador morreu no mar em maio de 1592, com apenas 32 anos. Davis, enquanto isso, também voltou para casa, primeiro descobrindo as Ilhas Falkland e depois fazendo uma parada na costa do Brasil. Davis finalmente retornou à Irlanda, mas, após muitas privações, apenas 16 dos 76 homens da tripulação original sobreviveram com ele.

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Sobre o tradutor

Pedro Lerbach
Bacharel em Ciência Política pela Universidade de Brasília, mestre em Políticas Públicas pela Universidade Católica de Brasília. Pedro Lerbach é um tradutor freelancer, brasileiro, poliglota e entusiasta da história.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é escritor, pesquisador, historiador e editor. Tem grande interesse por arte, arquitetura e pela busca das ideias que todas as civilizações compartilham. Possui mestrado em Filosofia Política e é Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2020, agosto 03). Thomas Cavendish [Thomas Cavendish]. (P. Lerbach, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-19021/thomas-cavendish/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Thomas Cavendish." Traduzido por Pedro Lerbach. World History Encyclopedia. Última modificação agosto 03, 2020. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-19021/thomas-cavendish/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Thomas Cavendish." Traduzido por Pedro Lerbach. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 03 ago 2020. Web. 25 mar 2025.