Francis Bacon (1561-1626) foi um filósofo, estadista e autor inglês. Ele é frequentemente considerado um dos fundadores da investigação científica moderna e do método científico ou até mesmo "o pai da ciência moderna", pois ele propôs um método que combinava experimentação empírica e coleta de dados que, uma vez compartilhados, permitiriam à humanidade descobrir, finalmente, todos os segredos da natureza e melhorá-la.
Carreira política
Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561 em Londres. Sua família tinha conexões poderosas. Seu tio, por exemplo, era William Cecil, lorde Burghley (1520-1598), que foi conselheiro especial e secretário pessoal de Elizabeth I da Inglaterra (rein. 1558-1603) de 1558 a 1572. Além disso, ele serviu como lorde tesoureiro de 1572 a 1598. Bacon ingressou na Universidade de Cambridge em 1573 e, após concluir seus estudos em Direito no Inns of Court de Londres, ingressou na embaixada inglesa na França, cargo que ocupou até 1584.
De volta à Inglaterra, Bacon começou sua carreira política que o faria chegar ao topo do que poderia ser uma árvore altamente perigosa, suscetível a podas brutais por monarcas absolutistas imprevisíveis. O papa Alexandre, conhecido por seu humor afiado, certa vez descreveu Bacon como "o mais sábio, o mais brilhante e o mais malvado da humanidade" (Rundle, 31). Bacon foi eleito membro do parlamento pela primeira vez em 1581. Mesmo com o apoio de seu tio, Bacon não garantiu o cargo de procurador-geral em 1594 e 1596. Talvez Burghley tenha pressionado demais a favor de seu sobrinho, já que no final, a rainha afirmou que nomearia qualquer pessoa, exceto Bacon, para o cargo.
Em 1596, a rainha Elizabeth nomeou Bacon para o Conselho da Rainha. Ele também rompeu relações com o seu famoso tio e se alinhou a Robert Devereux, Conde de Essex (1566-1601), o grande inimigo de Burghley. No entanto, essa decisão revelou-se infeliz, uma vez que Essex logo se viu em desgraça. Bacon, porém, se redimiu parcialmente ao ajudar a garantir a execução de Essex em 1601. Em seguida, ele justificou suas manobras políticas em Apology de 1604, explicando que sua lealdade final não pertencia nem a Burghley, nem a Essex, mas sim ao seu monarca.
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Em 1603, Bacon foi nomeado cavaleiro pelo novo monarca, Jaime I da Inglaterra (rein. 1603-1625). Ele recebeu outros títulos extravagantes, como o de 1º Barão Verulam em 1618 e o de Visconde de St. Albans em 1621. Em 1618, o mesmo rei o nomeou lorde Chancellor, cargo que não ocupou por muito tempo, pois logo surgiram alegações de corrupção. Bacon admitiu sua culpa, ficou detido na Torre de Londres durante quatro noites e recebeu uma enorme multa de £40.000, equivalente a cerca de £8 milhões atualmente, que foi anulada pelo rei Jaime. Com sua carreira política em frangalhos, Bacon se voltou para suas atividades acadêmicas, área em que seria notavelmente bem-sucedido e influente apesar de nunca ter praticado com seriedade nenhum ramo científico.
Novo método científico de Bacon
Bacon expôs o que considerava ser o método científico adequado em O Progresso do Conhecimento, livro publicado pela primeira vez em 1605. Em Novum Organum (Novo Órganon), publicado em 1620, ele delineou ainda mais sobre o que pensava ser a abordagem correta para a compreensão das ciências naturais. Nesses dois trabalhos, Bacon defendeu a necessidade de estudos empíricos detalhados, pois essa era a única maneira de aumentar a compreensão da humanidade e, mais importante ainda, controlar a natureza. Atualmente, essa abordagem parece bastante óbvia, mas na época de Bacon, a sombra de Aristóteles (l. 384-322 AEC), o grande filósofo grego da antiguidade, ainda pairava sobre as mentes modernas. A abordagem aristotélica de investigação científica, que Bacon chamou de organum tradicional, se tornou altamente teórica, com os argumentos verbais subjetivos prevalecendo sobre a experimentação prática. Além disso, tais argumentos verbais se tornaram inúteis porque utilizavam uma terminologia imprecisa com a qual poucos podiam concordar. Além disso, os filósofos naturalistas estavam preocupados com o porque as coisas aconteciam, em vez de primeiro investigar o que estava acontecendo na natureza, disse Bacon. Francis Bacon às vezes é considerado um defensor da alquimia, mas apesar de admirar a paixão dos alquimistas pela experimentação, ele não se envolvia com esses pseudoquímicos. Ele compôs esta desqualificação pitoresca de filósofos e alquimistas:
Toda a filosofia da natureza que agora é aceita, ou é a filosofia dos gregos, ou aquela outra dos alquimistas... uma é extraída de algumas observações vulgares, e a outra de alguns poucos experimentos em fornalhas. A primeira nunca deixa de multiplicar palavras, e a segunda sempre falha em multiplicar ouro.(Gleick, 52)
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Bacon acreditava na ideia de progresso – o seu lema pessoal era plus ultra ou 'mais além' – e pensava que seus contemporâneos não estavam tão preocupados em melhorar a condição humana porque estavam enfeitiçados pelas conquistas do passado. Bacon observou que os limites tradicionais do antigo Mediterrâneo, os Pilares de Hércules, já haviam sido deixados para trás há muito tempo, à medida que navegantes como Cristóvão Colombo (1451-1506), Fernando de Magalhães (C. 1480-1521) e Vasco da Gama (C. 1469-1524) exploravam o globo. A bússola marinha e a pólvora, entre várias outras invenções importantes, revolucionaram as navegações e a guerra. Ele considerou que estes desenvolvimentos aconteceram por acaso e, por isso, ansiava por uma abordagem mais sistemática para adquirir conhecimentos. Ele então especulou sobre o que mais poderia ser alcançado se os pensadores se dedicassem a uma nova abordagem. Por fim, Bacon, que se comparou ao pioneiro Colombo, propôs um novo sistema de investigação chamado novum organum, daí o título do seu livro. Essa abordagem, argumentou Bacon, ajudaria a construir uma instituição inteiramente nova da ciência (na época, mais precisamente, chamada de filosofia natural). Ele chamou esse novo objetivo de Instauratio Scientiarum ou grande fundação científica. Isso tudo não era necessariamente uma novidade, pois outros pensadores já haviam expostos pensamentos semelhantes, mas a grande contribuição de Bacon foi a criação de um pacote razoavelmente coerente destas ideias (ele não teve tempo de ver o seu grande projeto ser concluído, porque ele morreu antes). A abordagem de Bacon tinha três passos essenciais.
1. Avaliação dos conhecimentos existentes
Não satisfeito em definir como os outros deveriam abordar a ciência, Bacon tinha a intenção de construir, ele próprio, esse novo edifício de conhecimento ou, pelo menos, fazer excelentes progressos nas suas fundações. Para começar, porém, Bacon estava mais interessado em descobrir todos os conhecimentos existentes do que propor novos conhecimentos. O fruto deste esforço inicial foi o seu livro O Progresso do Conhecimento . Ele não acreditava que as pesquisas, ideias e sabedorias passadas ainda eram válidas, portanto muitos galhos secos deveriam ser cortados da árvore do conhecimento da humanidade.
2. Experiências, testes e coleta de dados
Nesta etapa, Bacon expôs o seu novo método científico para que outros o adotassem como exemplo; assim, da árvore do conhecimento existente, devidamente podada, nasceriam novos e impressionantes ramos. Esta abordagem é explicada em Novum Organum em que ele resumiu a abordagem de como ir a campo e testar exaustivamente a natureza sem quaisquer ideias preconcebidas. A natureza tinha de ser colocada "sob coação e aflição, isto é, através da arte e da mão do homem, ela seria forçada a sair do seu estado natural, seria espremida e moldada" (Moran, 133). Neste método de experimentação, os fatos e os dados deveriam ser observados e coletados de modo a que houvesse "um casamento legítimo entre a faculdade empírica e a faculdade racional" (ibid)
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Bacon reconhece que testar a natureza não é fácil, portanto, um cientista sábio deveria primeiro aprimorar suas habilidades em problemas mais simples antes de abordar temas mais complexos. No entanto, ele também acreditava que os grandes pensadores não eram necessariamente essenciais para a expansão do conhecimento, uma vez que qualquer pessoa, com mãos e olhos, poderia realizar experimentos e coletar dados. Além disso, estes dados deveriam ser partilhados abertamente com outras pessoas que realizavam experiências semelhantes, e esses resultados coletados deveriam ser apresentados sistematicamente sob a forma de tabelas. Principalmente, e ao contrário dos aristotélicos, para Bacon – e talvez devêssemos lembrar que ele primeiro estudou direito em que os fatos são supremos – a observação e as medições deveriam vir em primeiro lugar seguidas, então, pelas teorias. Alguns criticaram esta posição, uma vez que o método Baconiano ou o Baconianismo (como esta abordagem do conhecimento é às vezes chamadas) minimiza o uso de hipóteses, que por si só podem ser muito úteis, particularmente quando se trata de matemática, uma área de estudo que Bacon lamentavelmente negligenciou.
3. Um novo mundo
No terceiro passo, Bacon expõe sua crença de que a ciência deveria oferecer melhorias práticas à vida diária e dar à humanidade poder sobre a natureza. As abordagens mais tradicionais, disse ele, negligenciaram este aspecto crucial do conhecimento: tornar os resultados da pesquisa relevantes para a vida cotidiana. Ele expôs o que a sua nova abordagem poderia alcançar, ou seja, como seria a nossa árvore expandida do conhecimento no livro em New Atlantis, publicado postumamente em 1626. Neste livro ele descreve uma comunidade utópica baseada em uma ilha chamada Bensalem. Nela, há uma grande instituição de ensino patrocinada pelo estado, a Casa de Salomão (em homenagem ao sábio rei Salomão da Bíblia). Os investigadores científicos coletavam dados e os filósofos analisavam os resultados para que "a vida humana fosse dotada de novas descobertas e poderes" (citado em Burns, 27). Assim, na mítica Bensalem, a ciência era capaz de fornecer muitas novas tecnologias, incluindo, por exemplo, uma forma de telefone. Quando morreu, Bacon ainda estava trabalhando em Instauratio Scientiarum e escrevendo um tratado de história natural intitulado Sylva Sylvarum, que não foi concluído.
Principais obras de Bacon
As obras mais famosas de Sir Francis Bacon são:
Ensaios (1597, revisão em 1612 e novamente em 1625)
O progresso do conhecimento (1605)
A sabedoria dos antigos (1609)
Novum Organum (1620)
De Dignitate et Augmentis Scientiarum (uma expansão de O progresso do conhecimento, 1623)
Nova Atlântida (1626)
Sylva Sylvarum (1627)
Morte e legado
Bacon parece não ter desfrutado de uma saúde robusta. Ele foi o famoso paciente de William Harvey (1578-1657), que descobriu a circulação do sangue em humanos. Bacon provavelmente procurou o conselho de Harvey para curar sua gota crônica, mas não obtiveram resultado. Harvey certa vez descreveu os olhos de Bacon como sendo como os de uma víbora e considerou sua filosofia como um absurdo. Bacon estava bastante disposto a aceitar conselhos não especializados quando se tratava de sua saúde, na verdade, ele enfatizou em O progresso do conhecimento que os médicos profissionais eram particularmente suscetíveis a aceitar cegamente a sabedoria popular em relação aos remédios, em vez de verificar se eles realmente funcionavam em seus pacientes. Ele frequentemente tomava remédios à base de ópio e, todas as semanas, ele se entregava a uma purga de ruibarbo. Talvez ele tenha cultivado seu próprio ruibarbo, já que Bacon era um jardineiro afiado, deliciando-se com ervas e flores de forte aroma e cultivando seus próprios frutos exóticos, como abacaxis.
Bacon, sempre um cientista prático, morreu de uma maneira um tanto bizarra em 9 de abril de 1626. No inverno, o grande homem estava no campo enchendo um ganso de neve, presumivelmente para determinar a eficácia de um novo método de refrigeração. Ali, ele contraiu o que acabou por ser um forte e fatal resfriado. Sua filosofia demorou um pouco para se destacar, mas, em meados do século 17, seu trabalho subitamente se tornou influente.
Bacon possuía uma mente tão iluminada e era tão reverenciado como um dos grandes pensadores do século 17 que, nos séculos subsequentes, surgiram todo tipo de teorias estranhas e maravilhosas sobre ele. A mais infame delas, a teoria baconiana, que começou a circular em 1785, é que Bacon era, na verdade, William Shakespeare, uma alegação rejeitada por historiadores sérios.
Foi a sua abordagem em relação à ciência que realmente garantiu que o trabalho de Bacon continuasse vivo. O ideal de Bacon de uma instituição que reunisse grandes mentes e promovesse a investigação científica, a Casa de Salomão em Nova Atlântida, tornou-se uma realidade com a fundação da Royal Society em Londres em 1662. Os membros fundadores desta sociedade atribuíram certamente a ideia a Bacon, e fizeram questão de seguir os seus princípios de método científico e a sua ênfase na partilha e na comunicação de dados e resultados científicos. No meio dessa sociedade erudita surgiu Isaac Newton (1642-1727), que acabou se tornando seu presidente por um longo tempo. Newton foi talvez o maior de todos os cientistas. Ele tomou a abordagem de Bacon, aplicou a matemática e criou leis da natureza como a lei universal da gravidade. Bacon teria admirado as leis de Newton, uma vez que procuravam explicar fenômenos observáveis e não especulando sobre o desconhecido, como por que elas estavam lá em primeiro lugar. Leis não são causas; são descrições que podem ser usadas para explicar e prever fenômenos. Com o trabalho de Newton, a ciência, como Bacon havia previsto meio século antes, finalmente nasceu.