Esparta

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Mark Cartwright
por , traduzido por Rogério Cardoso
publicado em 28 maio 2013
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, italiano, espanhol, Turco
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Spartan Warriors (by The Creative Assembly, Copyright)
Guerreiros Espartanos
The Creative Assembly (Copyright)

Esparta foi uma das mais importantes cidades-estados da Grécia Antiga, famosa por sua bravura militar. Os profissionais e bem treinados hoplitas espartanos, com as suas características capas vermelhas e cabelos longos, foram provavelmente os melhores e mais temidos combatentes da Grécia, lutando com distinção em batalhas-chave contra o exército persa nas Termópilas e em Plateias, no século V a.C.

A cidade de Esparta tinha também uma rivalidade constante com outras grandes cidades gregas, como Atenas e Corinto, motivo pelo qual se envolveu em dois conflitos prolongados e altamente danosos: a Guerra do Peloponeso, da metade para o fim do século V a.C., e a Guerra de Corinto, no início do século IV a.C.

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Esparta na Mitologia

Na mitologia grega, o fundador da antiga cidade foi Lacedemão, filho de Zeus, que deu seu nome à região (Lacedemônia) e o nome de sua esposa à cidade. Esparta foi também um importante membro do exército grego que participou da Guerra de Troia. De fato, o rei espartano Menelau instigou a guerra depois que o príncipe troiano Páris sequestrou a sua esposa Helena, que foi oferecida ao próprio Páris pela deusa Afrodite como prêmio por tê-la escolhido num concurso de beleza contra as colegas deusas Atena e Hera. Dizia-se que Helena era a mulher mais bonita da Grécia, e que a mulher espartana, em geral, gozava de boa reputação não só pela aparência, como também por uma vigorosa independência.

Estabelecendo um domínio regional

Esparta estava localizada no fértil vale do rio Eurotas, na Lacônia (ou Lacedemônia), no sudeste do Peloponeso. A área foi inicialmente habitada no Período Neolítico, onde mais tarde se desenvolveu um importante assentamento na Era do Bronze. As evidências arqueológicas, porém, sugerem que Esparta em si vem de um assentamento mais recente, criado a partir do século X a.C.

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No fim do século VIII a.C., Esparta subjugou boa parte da vizinha Messênia, cuja população foi forçada a servir aos interesses espartanos. Assim, Esparta veio a controlar algo em torno de 8.500 km² de território, tornando-se a maior πόλις (pólis) ou cidade-estado da Grécia e um agente de peso na política grega. Os povos conquistados na Messênia e na Lacônia, conhecidos como περίοικοι (períoikoi) ou periecos, não tinham direitos políticos em Esparta e eram frequentemente forçados a servir no exército espartano. Um segundo grupo social mais abaixo eram os εἱλῶται (heilōtai) ou hilotas, que trabalhavam como agricultores semiescravizados e viviam nos estados pertencentes a Esparta. Ocupando uma posição intermediária entre os hilotas e os periecos, estavam os hilotas libertos, ou νεοδαμώδεις (neodamōdeis), ou ainda neodamodes. Os cidadãos espartanos em si não se envolviam com atividades agrícolas, já que dedicavam seu tempo ao treinamento militar, à caça, à guerra e à política. Os hilotas poderiam manter consigo uma percentagem dos produtos por eles cultivados, mas sofriam expurgos regulares para que se mantivessem firmemente nesse mesmo lugar social; além disso, eles poderiam ser recrutados para o serviço militar em tempos de guerra.

[Esparta era] admirada em todo lugar, mas não era imitada em lugar nenhum. (Xenofonte)

A relação entre os cidadãos e os hilotas era tensa, gerando algumas revoltas, em especial no século VII a.C., as quais contribuíram para a derrota de Esparta contra Argos em Hísias, em 669 a.C. Esparta conseguiu vingar-se de Argos por volta de 545 a.C., mas perdeu uma batalha contra Tegeia pouco tempo depois. Essa instabilidade regional fez surgir a Liga do Peloponeso (c. 505-365 a.C.), da qual participaram Corinto, Élis, Tegeia e outros estados (mas nunca a cidade de Argos), e na qual cada membro jurou ter os mesmos inimigos e os mesmos aliados de Esparta. Para aderir à liga, não era necessário pagar tributos a Esparta, mas prover-lhe tropas. A liga possibilitaria aos espartanos estabelecer hegemonia e domínio sobre o Peloponeso até o século IV a.C. Para além da política local, Esparta, a partir do século VI a.C., começou a expandir os seus horizontes de várias maneiras, por exemplo, criando uma aliança com Creso da Lídia e enviando uma expedição contra Polícrates de Samos, por volta de 525 a.C.

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A Rivalidade com Atenas, Tebas e Corinto

Esparta, sob liderança de Cleômenes (c. 520-490 a.C.), depôs os tiranos de Atenas, mas a subsequente democracia ateniense pôs fim a quaisquer ambições espartanas na cidade. Não obstante, Esparta aliou-se a Atenas na defesa da Grécia contra a invasão do rei persa Xerxes, lutando com distinção nas Termópilas em 480 a.C. e em Plateias, no ano seguinte. De 480 a 460 a.C., as rivalidades regionais e as revoltas dos hilotas trouxeram danos a Esparta, mas o pior estava por vir, já que a rivalidade com Atenas resultou na Guerra do Peloponeso, de 460 a 446 a.C. e novamente de 431 a 404 a.C. As prolongadas guerras foram danosas a ambos os lados, mas Esparta, com alguma ajuda dos persas, finalmente venceu o conflito quando Lisandro destruiu a frota ateniense no rio Egospótamo, em 405 a.C. Todavia, a posição de Esparta como a cidade-estado número um da Grécia não duraria muito.

Spartan Territory
Território Espartano
Marsyas (CC BY-SA)

As contínuas ambições espartanas no centro e no norte da Grécia, na Ásia Menor e na Sicília outra vez arrastaram a cidade para mais um prolongado conflito, a Guerra de Corinto, de que participaram Atenas, Tebas, Corinto e a Pérsia, de 396 a 387 a.C. O conflito culminou na "Paz do Rei", segundo a qual Esparta cederia seu império (que, de todo modo, a cidade sequer conseguiria administrar devido à falta de um aparato burocrático necessário) ao controle persa, porém os espartanos estariam livres para dominar a Grécia. No entanto, ao tentarem esmagar Tebas, os espartanos perderam a crucial Batalha de Leuctra, em 371 a.C., para o brilhante general tebano Epaminondas. Tebas anexou partes da Messênia, de modo que Esparta se tornasse depois disso apenas uma potência de segunda categoria.

As mulheres espartanas poderiam possuir propriedades, que eram frequentemente obtidas por meio de dotes e heranças.

Depois de desafiar, por pouco tempo, o controle macedônico no século III a.C. e de ser sitiada por Pirro em 272 a.C., Esparta jamais recuperou a sua antiga glória e acabou obrigada a juntar-se à Confederação Aqueia (ou Acaia), em 195 a.C. Sob controle romano, foi permitido a Esparta deixar a confederação, em 147 a.C., o que provocou a Guerra Aqueia. No entanto, embora fosse uma cidade livre no mundo romano e tivesse uma boa relação com os seus conquistadores, as coisas não melhoraram para Esparta, cujo fim chegou em 396 d.C., quando o rei visigodo Alarico a saqueou.

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Governo

O sistema político espartano era incomum pelo fato de que havia dois reis hereditários, oriundos de duas famílias distintas. Esses monarcas tornavam-se particularmente poderosos quando um deles conduzia o exército em campanha (isto é: na ausência do outro monarca). Os reis eram também sacerdotes de Zeus e tinham um assento no conselho de anciãos conhecido como γερουσία (gerousía) ou gerúsia. Tal órgão era formado por 28 indivíduos do sexo masculino com mais de 60 anos de idade, os quais tinham cargo vitalício. A gerúsia estava acima da assembleia dos cidadãos, provavelmente propondo questões a serem votadas, e era também a mais alta corte em Esparta. A assembleia, chamada de ἐκκλησία (ekklēsía) ou eclésia, reunia-se uma vez por mês e era aberta a todos os cidadãos, que votavam pelo simples método de berrar. Havia também um comitê executivo de cinco ἔφοροι (éphoroi) ou éforos, escolhidos por sorteio dentre os cidadãos e aptos para servirem por no máximo um ano, ficando inelegíveis para cargos futuros. Dois dos éforos inclusive acompanhavam um dos reis durante uma campanha. Não se sabe ao certo como esses diferentes elementos políticos interagiam uns com os outros, mas decerto algum grau de consenso era necessário para que o aparato estatal funcionasse. Isso também pode explicar a reputação de Esparta como um estado conservador que demorava a tomar decisões sobre política externa.

Spartan Silver Tetradrachm
Tetradracma de prata espartano
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Sociedade

Assim como todas as sociedades gregas, Esparta era dominada por cidadãos masculinos, cujos representantes mais poderosos vinham de um seleto grupo de famílias que compunham a aristocracia fundiária. Após as reformas creditadas a Licurgo no século VI a.C. (ou talvez antes), os cidadãos não poderiam envolver-se em atividades agrícolas - afinal, isso era papel dos hilotas -, mas deveriam dedicar-se a treinamentos atléticos e militares e à política. Os hilotas não poderiam ter propriedades, logo não tinham condições de ascenderem e de se tornarem cidadãos plenos. Essa falta de mobilidade social voltaria um dia para assombrar Esparta em séculos posteriores. Reduzido por causa das constantes guerras nos séculos IV e V a.C., o número de hoplitas espartanos, chamados de ὅμοιοι (hómoioi), ficou perigosamente pequeno (de 8.000 em 490 a.C. para 700 em 371 a.C.), de modo que soldados não espartanos tivessem que ser alistados, porém a lealdade e o interesse deles para com as ambições de Esparta eram questionáveis.

O exército espartano mostrou ao resto da Grécia o caminho rumo ao mais alto profissionalismo militar.

Na cidade-estado de Esparta, as mulheres tinham condições de vida melhores que noutras cidades gregas, já que poderiam possuir propriedades, frequentemente obtidas por meio de dotes ou heranças. De fato, as mulheres espartanas passaram a figurar entre os membros mais ricos da sociedade, visto que os seus maridos eram mortos em várias guerras, e, posteriormente, passaram a controlar 2/5 do território espartano. Além disso, as mulheres espartanas poderiam se deslocar com razoável liberdade, fazer exercícios atléticos (nuas, assim como os homens) e inclusive beber vinho. Todas essas liberdades teriam sido consideradas inaceitáveis noutras póleis gregas.

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Havia estrangeiros na sociedade espartana, os chamados ξένοι (xénoi), mas estes não eram tão bem recebidos quanto noutras cidades-estados. Aqueles que realmente viviam em Esparta eram, às vezes, expulsos à força pelos seus demasiadamente desconfiados (e, por vezes, certamente paranoicos) anfitriões.

Leonidas
Leônidas
Marie-Lan Nguyen (CC BY-SA)

O Exército Espartano

Para todos os cidadãos espartanos, havia uma forte ênfase no treinamento militar e numa vida frugal em refeitórios comunais onde comidas simples como farinha de cevada, queijo, figos e vinho eram a norma. A partir dos sete anos de idade, os indivíduos machos eram submetidos a uma formação militarista conhecida como ἀγωγή (agōgē) ou agogê, durante a qual eram separados em diferentes grupos etários e obrigados a viver em quartéis. Esses jovens seguiam um rigoroso treinamento físico e militar, que se tornava cada vez mais rígido a partir dos 20 anos, quando ingressavam nos refeitórios comunais, chamados de συσσίτια (syssítia) ou sissítias, nos quais eles frequentemente tinham relações homoeróticas com cidadãos mais velhos e mais experientes. Esse duro treinamento resultava num exército hoplita profissional, capaz de realizar manobras de batalha relativamente sofisticadas, tornando-o temido por toda a Grécia - um fato talvez evidenciado pela notória falta de fortificações em Esparta em boa parte de sua história.

Uma característica peculiar dos espartanos e do seu exército era a grande importância dada às questões religiosas. Conforme o indica Heródoto, eles davam mais valor às coisas divinas do que às coisas humanas. Os sacrifícios realizados antes e depois das batalhas eram uma característica comum do modo de guerrear grego em geral, mas o exército espartano o levava ainda mais a sério, realizando sacrifícios antes de atravessar rios, por exemplo, e recusando-se inclusive a mobilizar as tropas se um importante festival religioso estivesse em andamento. Tornaram-se famosos os episódios em que os espartanos puseram a religião acima da guerra e, até mesmo, da crise nacional, como na Batalha de Maratona e na Batalha das Termópilas, durante as Guerras Greco-Persas. Naquela, os soldados espartanos chegaram muito tarde para prestar assistência às outras cidades gregas e, nesta, mobilizaram apenas uma força simbólica, já que se viam obrigados, primeiro, a celebrar o Festival da Carneia em honra de Apolo.

No entanto, o exército hoplita espartano mostrou ao resto da Grécia o caminho rumo ao mais alto profissionalismo militar. Por fim, rememorando-se a icônica imagem de destemidos e disciplinados hoplitas com capas vermelhas e escudos adornados com um lambda (Λ), para os gregos, para os admiradores romanos e inclusive para os cinéfilos no século XXI, ficam estas palavras: This is Sparta (Isto é Esparta).

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Rogério Cardoso
Rogério Cardoso nasceu em Manaus, Brasil, onde inicialmente obteve um grau em Letras Portuguesas, e mais tarde se mudou para São Paulo, onde obteve um grau de mestre em Filologia Portuguesa. Ele é um entusiasta da História.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2013, maio 28). Esparta [Sparta]. (R. Cardoso, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-197/esparta/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Esparta." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. Última modificação maio 28, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-197/esparta/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Esparta." Traduzido por Rogério Cardoso. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 28 mai 2013. Web. 18 dez 2024.