A Conspiração da Pólvora de 1605 foi uma tentativa fracassada de conspiradores pró-catolicismo de explodir o Parlamento Inglês em 5 de novembro e assassinar o rei James I da Inglaterra (governante de 1603 a 1625) e toda a nobreza presente. A trama foi descoberta quando um dos conspiradores enviou uma carta anônima, alertando um parente que estaria presente no parlamento.
À meia-noite de 4 de novembro, Guy Fawkes foi detido sob o Palácio de Westminster antes de ter a chance de acender os 35 barris de pólvora armazenados nas adegas do palácio. Sob tortura brutal na Torre de Londres, Fawkes revelou os nomes de seus companheiros conspiradores e seus planos de causar tamanho caos a ponto de um golpe de estado por forças favoráveis à causa católica ser possível. Todos os envolvidos foram capturados, submetidos à tortura (incluindo Guy Fawkes) e executados pelo método de enforcamento e esquartejamento: uma punição reservada para aqueles culpados de traição contra a Coroa. Fogueiras foram acesas na noite de 5 de novembro para celebrar o fracasso da conspiração, e essa tradição continua hoje em uma ocasião nessa data conhecida de várias maneiras, como 'Noite das Fogueiras', 'Noite de Guy Fawkes' ou 'Noite dos Fogos de Artifício'.
Catolicismo na Inglaterra
Elizabeth I da Inglaterra (governante de 1558 a 1603) havia promovido a religião protestante em seu reino, e essa política foi continuada por seu sucessor, James I da Inglaterra, que também era James VI da Escócia (governante de 1567 a 1625). James havia sido criado como protestante, mas um golpe a mais para a esperança dos católicos radicais que esperavam restaurar sua fé como a religião oficial na Inglaterra ocorreu em 18 de agosto de 1604. Nessa data, um tratado de paz foi assinado em Londres, encerrando finalmente a guerra entre a Inglaterra e a Espanha católica. A gota d'água foi uma nova onda de leis contra os católicos praticantes, ou melhor, a retomada de tais leis que estavam em vigor durante o reinado de Elizabeth. As restrições aos católicos incluíam a proibição de realizar missas e a obrigação de participar dos serviços de comunhão anglicanos sob pena de enfrentar pesadas multas.
Um grupo de extremistas decidiu fazer uma última tentativa para trazer a Inglaterra de volta à religião católica. Seu plano não era nada menos do que um evento de assassinato em massa que eliminaria a monarquia e o governo, criando um vácuo político para que as forças pró-católicas pudessem então explorar para tomar o controle do estado. O líder da conspiração era Sir Robert Catesby, um nobre ferozmente católico. Um grupo foi cuidadosamente montado, composto por Catesby, Christopher e John Wright, Robert e Thomas Winter (também conhecido como Wintour), Thomas Percy e Thomas Bates. Todos esses homens eram parentes de Catesby, exceto por seu servo Bates. Dois padres jesuítas zelotas, o Padre Garnet e o Padre Greenaway, foram agregados a fim de deixar a entender um aparente apoio da Igreja.
O plano era simples: explodir todo o Parlamento Inglês quando o rei abrisse a sessão em 5 de novembro de 1605. Estariam presentes os membros do parlamento, os lordes, juízes, o conselho do rei e o próprio monarca. O que era necessário, então, era uma grande quantidade de pólvora e um membro adicional para o grupo: um mercenário católico obstinado e endurecido pela batalha para acender o pavio. Guy Fawkes, cujo nome real era Guido Fawkes, foi o homem escolhido, ele poderia ter entrado para a história como um homem passageiro, mas sua infâmia perdura há quatro séculos.
As adegas do Parlamento
Os conspiradores precisavam de alguma forma entrar sob o prédio do parlamento e plantar sua pólvora para obter o máximo efeito explosivo. No início, uma pequena casa foi ocupada e, a partir dela, foi cavado um túnel em direção ao Palácio de Westminster, mas os conspiradores logo perceberam que na verdade era muito mais fácil passar por baixo do Palácio de Westminster do que imaginavam. Foi possível alugar um depósito de carvão vazio nas profundezas do edifício, e eles fizeram isso, obtendo um logo abaixo da Câmara dos Lordes. Dentro desta adega foram depositados 35 (ou 36) barris de pólvora escondidos com extra precaução sob uma enorme pilha de lenha cortada.
A pólvora ainda era uma arma relativamente nova na Europa na época, e era necessário um especialista que pudesse preparar fusíveis adequados para desencadear efeitos devastadores. Guy Fawkes era um homem assim, com sua longa experiência lutando pelo exército espanhol como mercenário na Holanda. Para garantir que a explosão fosse ainda mais mortal do que usar apenas pólvora, centenas de barras de metal foram adicionadas aos barris, que rasgariam a estrutura do edifício. Fawkes foi designado para guardar a pólvora até o grande momento.
A carta
Tudo estava indo conforme o planejado para os conspiradores, até que um deles, um certo Francis Tresham, e talvez um ou dois outros, começou a se perguntar se era moralmente aceitável explodir colegas católicos junto com todos os outros. É quase certo que foi Tresham quem decidiu escrever uma carta anônima ao seu cunhado, o lorde católico Mounteagle. Esta foi a ação que fez com que todo o esquema ruísse. A carta, entregue a um dos servos de Mounteagle para a atenção de seu mestre, era uma advertência enigmática: "Eles receberão um golpe terrível neste Parlamento, e ainda assim não verão quem os machucará" (Jones, 280).
Em vez de atender ao aviso e salvar a própria pele, Mounteagle mostrou a carta ao lorde Robert Cecil, que por sua vez a mostrou ao rei Jaime. Mounteagle receberia mais tarde uma pensão generosa por suas ações. O rei, depois de uma infância conturbada de regentes, conspirações e um sequestro, estava sempre atento a atentados contra sua vida - muitas vezes ele usava roupas especialmente acolchoadas como proteção contra ataques de faca - e por isso não precisou de muito convencimento de que o o enredo era real e exigia investigação imediata.
Ainda faltavam dez dias para os conspiradores explodir a pólvora, mas, desejosas de não deixar os líderes escaparem da justiça, as autoridades agiram com calma e esperaram até 4 de novembro para revistar as adegas e porões do palácio. Os conspiradores souberam da carta, mas Tresham tentou convencer seus companheiros de que não a enviara. À medida que os dias avançavam, ainda não houvera reação das autoridades e, portanto, os conspiradores acreditaram que a carta havia sido considerada uma farsa. Os conspiradores então deixaram Tresham e Fawkes com a pólvora e partiram de Londres para se preparar para a revolta que planejavam na região de Midlands uma vez que o Parlamento fosse destruído.
A descoberta
Na tarde de 4 de novembro, o rei autorizou o início da busca nos compartimentos do palácio. Aproximando-se do depósito de carvão, depararam-se com um homem com uma lâmpada, Guy Fawkes (sua lâmpada está hoje no Museu Ashmolean de Oxford). Questionado sobre o que fazia lá, Fawkes disse que seu nome era John Johnson (na verdade, servo do conspirador Thomas Percy). Fawkes destrancou o porão e permitiu que os investigadores entrassem. Vendo a pilha de madeira e sem se preocupar em verificá-la minuciosamente, os homens patiram para outro lugar.
Não tendo descoberto nada, o grupo de busca reportou ao rei. Foi feita menção a John Johnson e sua pilha de madeira e, pressionado por uma descrição, Fawkes foi descrito como "um sujeito muito mau e desesperado... tramando algo ruim" (Jones, 280). James não gostou de como isso soava e ordenou que outra busca fosse realizada mais tarde naquela noite, desta vez com vários soldados presentes. Quando o depósito de carvão foi investigado pela segunda vez, por volta da meia-noite do dia 4 de novembro, Guy Fawkes ainda estava por perto. Mais uma vez solicitado a destrancar o porão, o grupo de busca desta vez cavou fundo na pilha de lenha e encontrou os barris de pólvora. O próprio Fawkes foi revistado e em seus bolsos havia um relógio, uma corda de queima para servir de fusível e uma lenha para criar a chama; era realmente uma prova incriminatória.
Tortura e Morte
Fawkes foi levado a uma audiência com o rei em Whitehall, onde ele admitiu por que estava nos porões com sua pólvora, embora se recusasse a nomear seus colegas conspiradores. Fawkes foi então levado para a Torre de Londres e mantido em uma pequena sala para aguardar novos interrogatórios. Ele logo conheceria o temível tenente da Torre, Sir William Wade, um homem com longa experiência em obter informações de seus cativos por qualquer meio que considerasse adequado. Neste caso, o rei deu permissão especificamente a Wade para usar métodos de tortura, começando pelos mais brandos e terminando com o cavalete.
Seguiram-se dez dias de tortura. Fawkes permaneceu impenitente, afirmando que a propagação do protestantismo exigia um "remédio desesperado para uma doença desesperada" (Jones, 279). É provável que Fawkes primeiro tenha tido que suportar algemas que restringiam seus movimentos, depois fraturas nas pernas. Presumivelmente ainda resistindo, Fawkes foi então deitado no cavalete onde seus membros foram lentamente esticados e seus ligamentos arrancados dos ossos.
Enquanto isso, o rei organizou uma comissão para investigar a conspiração, descobrir quem estava por trás dela e organizar a sua apreensão. Felizmente para o monarca, os conspiradores revelaram falta de inteligência em termos práticos quando se tratava de uma insurreição armada. Catesby viajou para Holbeche House em Staffordshire, onde entregou pólvora a Sir Everard Digby, que prometeu reunir 50 homens armados para a missão de assumir o governo. A pólvora ficou úmida e, para secá-la, Catesby espalhou-a diante do fogo. Por isso, o fogo detonou a pólvora e queimou gravemente os conspiradores; no final das contas, os Conspiradores da Pólvora conseguiram sua explosão.
Alguns dos conspiradores fugiram do local, enquanto os que permaneceram, incluindo Catesby, foram cercados pelas forças governamentais em 8 de novembro. Num tiroteio selvagem, muitos dos inconfidentes foram mortos, incluindo Catesby, enquanto outros ficaram gravemente feridos. À luz do que estava por vir, aqueles que foram baleados tiveram sorte.
Na Torre de Londres, Fawkes não pôde mais resistir e revelou os nomes dos conspiradores. Todos esses foram presos, incluindo os dois padres jesuítas; e apenas um, Hugh Owen, escapou da Inglaterra e da justiça. Todos os demais foram levados para a Torre e torturados, tal qual Fawkes. Tresham morreu durante a sessão. Os que sobreviveram foram levados a julgamento em janeiro de 1606 no Westminster Hall. Nenhum se arrependeu, exceto Bates. E assim foi dada sentença reservada aos julgados por traição: enforcamento e esquartejamento.
As sentenças de morte foram executadas durante dois dias, 30 de novembro e 1º de dezembro. Cada um foi arrastado pelos calcanhares atrás de um cavalo pelas ruas de Londres. Um por um, eram então enforcados até chegarem perto da morte. Retirados do cadafalso e ainda vivos, cada homem foi castrado, suas entranhas foram retiradas e decapitados logo depois. O ato final foi cortar o corpo em quatro. Alguns tentaram evitar a última parte da execução saltando do cadafalso na tentativa de quebrar o próprio pescoço. Guy Fawkes conseguiu fazer exatamente isso, mas mesmo assim seu corpo sem vida recebeu o tratamento completo.
Legado
A Conspiração da Pólvora falhou e alimentou o sentimento anticatólico e antipapado na Inglaterra. Tal como o sentimento anticomunista nos EUA após a Segunda Guerra Mundial, a conspiração garantiu que os protestantes se tornassem paranoicos em relação aos católicos e fez com que os líderes da Igreja Anglicana estivessem determinados a reprimir essa fé. Pinturas do evento conspiratório, juntamente com a derrota da Armada Espanhola, eram exibidas em igrejas.
Para celebrar o fracasso da conspiração, as autoridades incentivaram o povo a acender fogueiras na noite de 5 de novembro. Essa tradição, conhecida atualmente como a 'Noite da Fogueira', 'Noite de Guy Fawkes' ou 'Noite dos Fogos de Artifício', continua viva na Inglaterra e em diversos outros países. Há muito tempo atrás, era costume confeccionar uma efígie de Guy Fawkes, frequentemente chamada de 'cara', e as crianças costumavam fazer o possível para angariar doações, exibindo sua efígie nas ruas ou visitando casas e pedindo "um centavo para o cara". Mais tarde, essa efígie era lançada na fogueira à noite.
Embora a tradição de criar um "cara" tenha se tornado menos comum nos dias de hoje, Guy Fawkes ainda perdura de diversas maneiras, principalmente através de expressões como "um cara durão", em referência à sua resistência à tortura na Torre de Londres. Nos últimos anos, uma máscara semelhante à de Guy Fawkes se tornou popular, sendo usada por membros de certos grupos de protesto e movimentos antissistemas.