Macau situa-se numa península no estuário delta do Rio Pérola no sudeste da China e foi uma colónia portuguesa desde 1557 até 1999. Macau era um centro comercial importante do Império Português e com o seu acesso único ao mercado chinês, foi capaz de fornecer aos chineses prata, pimenta e sândalo.
Crucialmente, os comerciantes de Macau tiveram acesso às principais feiras de seda chinesas e assim levaram consigo seda e outros bens com elevada procura na Ásia e na Europa, como porcelana Ming, almíscar e ouro. A colónia estava no seu auge em meados do século XVI a meados do século XVII, após o qual enfrentou forte concorrência de outros comerciantes europeus, principalmente holandeses e britânicos. Tal como a vizinha Hong Kong, Macau foi devolvida aos chineses em 1999 e tornou-se uma região administrativa especial da República Popular da China.
O Império Português
Desde 1497-9, quando Vasco da Gama (1469-1524) contornava o Cabo da Boa Esperança e mostrava as possibilidades de uma rota marítima entre a Europa e a Ásia, os portugueses estavam ocupados a construir um império. A Cochim Portuguesa foi fundada em 1503 e a Goa Portuguesa foi fundada em 1510. Malaca na Malásia foi tomada em 1511. Os portugueses navegaram incansavelmente para o leste e em 1517 uma frota partiu de Malaca para chegar à cidade chinesa de Guangzhou, mais familiar aos europeus pelo nome que os portugueses lhe deram: Cantão. Esta incursão nos assuntos chineses teve um início desfavorável quando dois dos navios portugueses foram afundados e os enviados foram executados. Os chineses, então governados pela isolacionista Dinastia Ming (1368 a 1644), consideravam estes estranhos visitantes canibais e desconfiavam muito de deixá-los entrar na sua rede comercial do leste asiático. Os chineses também não ficaram impressionados com os portugueses a disparar canhões, a construir um forte sem permissão e a cometer inúmeros outros erros diplomáticos.
Estabelecimento de Macau
Os portugueses não se intimidaram e acabaram por negociar um acordo com os chineses. Precisamente como isso foi feito não é consensual entre os estudiosos, uma vez que existem várias versões dos eventos. Entre 1555 e 1557, de acordo com uma versão, navios portugueses armados com canhões livraram a região de piratas problemáticos e, em agradecimento, as autoridades chinesas deram aos portugueses o direito de estabelecer um centro comercial no continente. Esta área era Macau, localizada na península do delta do Rio Pérola, a cerca de 100 quilómetros (62 milhas) de Cantão, no continente chinês. Hong Kong está localizada do outro lado do mesmo estuário.
Uma visão alternativa dos eventos é que o governo chinês estava ansioso para negociar com comerciantes que tinham acesso aos bens da África Oriental e da Índia. Consequentemente, os portugueses foram convidados a estabelecer uma colónia na península de Macau desde que não construíssem quaisquer fortificações. Por outro lado, ao investir numa colónia permanente, os portugueses poderiam ter acesso a bens locais e fornecer aos seus navios comerciais um porto útil que poderia ser usado como um trampolim para navegar para o norte até o Japão ou para o sul até a Indonésia. Um comerciante português chamado Lionel de Sousa é frequentemente creditado por obter permissão de oficiais cantoneses para estabelecer o primeiro posto comercial privado em Macau. Fundamentalmente, vários dos primeiros comerciantes europeus foram autorizados a passar várias semanas seguidas em Cantão para participar nas suas famosas feiras de seda, realizadas todos os meses de janeiro e junho.
Quaisquer que sejam os eventos precisos que levaram ao seu estabelecimento, ao contrário de outras colónias portuguesas, a fundação da colónia de Macau foi em grande parte graças a comerciantes e missionários e não a frotas patrocinadas diretamente pela Coroa. É por causa deste último facto que Macau não se tornou uma colónia oficial portuguesa até o início do século XVII. A partir do grupo inicial de comerciantes com ideias semelhantes, desenvolveu-se uma comunidade autónoma de chefes de família ou moradores. As autoridades chinesas deixaram em grande parte esta comunidade florescente ao domínio português, desde que os europeus não causassem qualquer perturbação nos assuntos internos ou no comércio chinês. Em troca, os chineses ganharam acesso fácil a mercadorias altamente desejáveis como pimenta da Índia, prata das Américas e do Japão e sândalo da Indonésia.
O porto de Macau era pequeno - cobria 5 km² (1,9 mil mihas ²), mas em expansão, e acabou por se tornar o mais populoso e bem sucedido de todos os portos portugueses na Ásia Oriental. Em 1601, Macau tinha cerca de 600 homens portugueses - mercadores, soldados e marinheiros, muitos dos quais estariam em trânsito. Em 1669 havia mais de 300 homens casados que eram colonos portugueses permanentes. Muitos desses colonos vieram de outras colónias, especialmente da Índia.
Os colonos estavam sujeitos a um governador que tinha autoridade sobre assuntos militares. O poder político estava nas mãos da Câmara Municipal, uma instituição que recebeu a carta de privilégios do Vice-Rei das Índias em Goa em 1586. Em 1623 foi nomeado o primeiro capitão permanente da colónia de Macau, representante oficial do rei português. Relembrando a história da colónia como povoação de mercadores, a Câmara tinha o controlo total das finanças de Macau e era independente nesta área dos funcionários da Coroa Portuguesa. Outra fonte de poder da câmara era a situação diplomática com representantes do imperador chinês que se ocuparia apenas dela e não do governador ou de qualquer outro funcionário nomeado.
Um bispo foi nomeado líder espiritual da comunidade. Em 1568, Dom Belchior Carneiro estabeleceu um hospital em Macau e uma Santa Casa da Misericórdia foi criada para ajudar os pobres, e realizar trabalhos de caridade. Havia um colégio jesuíta, catedral, mosteiro e pelo menos dois conventos, que ofereciam educação a órfãos, bem como cuidados a mulheres desfavorecidas.
Nos séculos XVII e XVIII, Macau serviu de base para missionários católicos na Ásia Oriental - especialmente a ordem jesuíta - mesmo que as autoridades chinesas tenham feito várias tentativas para limitar a conversão do povo chinês ao cristianismo dentro da colónia.
Comércio
À medida que o império de Portugal crescia, crescia também a sua rede comercial. Na Ásia, especiarias e outros bens eram trocados por ouro, prata, tecidos finos e arroz. Navios portugueses licenciados pela Coroa transferiam as suas mercadorias de Lisboa, Goa e Cochim para Macau. Para além deste comércio intercontinental, a sua presença em Macau permitiu aos portugueses participar no lucrativo comércio do Sudeste Asiático que se realizava entre a China, o Japão, a Malásia e a Indonésia.
Uma presença comercial portuguesa permanente foi estabelecida em Nagasaki, no Japão, e todos os anos, de 1555 a 1618, um único cargueiro grande, o "Grande Navio", navegava de Macau para o Japão (vindo de Goa). De 1619 a 1639 este único navio foi substituído por uma frota de navios menores. Os grandes cargueiros que faziam a rota entre Macau e Nagasaki tinham pilotos chineses, mas estavam carregados de mercadorias e comerciantes portugueses que aparecem nas telas japonesas da época.
Navios comerciais navegavam regularmente das Ilhas das Especiarias (Molucas) na Indonésia para Macau, de Goa para Macau e de Macau para a Indonésia, Sião e Timor. Macau criou laços comerciais fortes com Manila nas Filipinas, um comércio que atingiu o seu auge no século XVIII. Desta forma, mercadorias valiosas cruzaram os oceanos como seda crua e tecidos de seda (da China), noz-moscada e cravo (Ilhas das Especiarias), sândalo (Timor), laca (Pegu/Bago em Myanmar), prata, telas pintadas, quimonos e espadas (Japão), tecido de algodão, pimenta e marfim (Índia), canela (Ceilão) e diamantes (Bornéu). Macau detinha quase todo o monopólio de alguns bens como a pimenta para o mercado chinês e o transporte de sândalo de Timor. Na outra direção, Macau enviou para Goa e Lisboa mercadorias como porcelana Ming, madrepérola, pérolas, almíscar, ouro, chá e várias raízes e ervas da China que eram consideradas medicamentos úteis.
Sociedade de Macau
Os mercadores de Macau saíram-se muito bem no comércio. Tal como noutras colónias, os cidadãos nascidos na Europa formavam a aristocracia de Macau, e abaixo destes estavam os europeus nascidos no império, e abaixo destes estavam os mestiços. Muitos da elite europeia de Macau viviam em grandes casas mobiladas com os melhores móveis e peças de arte disponíveis na Ásia. Escravos, tanto africanos quanto chineses, serviam nessas casas.
As mulheres europeias eram de facto raras em Macau - apenas uma foi registada como habitante na década de 1630, por exemplo - e assim os homens portugueses casavam com mulheres asiáticas, geralmente escravas ou "compradas" para o efeito, e na maioria das vezes japonesas ou malaias. Muitas vezes, os descendentes mestiços desses casamentos recebiam nomes portugueses, eram batizados e criados como católicos. O português era a língua oficial, mas com os casamentos entre as raças rápido se desenvolveu uma grande população de cidadãos bilíngues. Assim, também, a cultura tornou-se uma mistura de elementos europeus e locais, um fenómeno particularmente evidente na dieta e no vestuário. Os cidadãos chineses também negociavam como comerciantes residentes permanentes na colónia, e a maioria das pequenas empresas, como lojas e oficinas de artesanato, que atendiam às necessidades dos residentes, eram administradas por chineses.
Rivais Europeus
A partir do século XVII, os britânicos e os holandeses interessaram-se ativamente pelo Leste Asiático e desafiaram a tentativa de Portugal de impor o monopólio comercial. Ambos os países formaram empresas comerciais altamente eficientes. Em 1601, os portugueses apreenderam navios holandeses em Tidore nas Ilhas das Especiarias e em Macau, executando as tripulações, mas isso não fez nada além de tornar seus rivais europeus mais determinados. Ambos os lados se consideravam em guerra. Os holandeses assumiram o controlo direto das Ilhas das Especiarias no final do século XVI e atacaram Macau em 1622 e 1626. Causando sérios problemas em todo o Império Português, os holandeses acabaram por conquistar Malaca (1641), Colombo (1656) e Cochim (1663), de modo a que apenas Macau e Timor permaneceram em mãos portuguesas no leste da Ásia.
As relações com o Japão também azedaram a partir de 1639, quando o Xogunato Tokugawa governou (1603-1868). À medida que os líderes militares do Japão começaram a desconfiar dos estrangeiros, todos os portugueses foram expulsos do país e o comércio parou com os de Macau. Macau enviou delegados ao xogum Tokugawa para negociar a reabertura do comércio, mas estes desafortunados embaixadores foram executados e o comércio nunca mais voltou.
Pelo menos as relações com a China foram fortalecidas nesse período. Macau enviou mercenários em pelo menos cinco expedições para ajudar a Dinastia Ming na sua luta contra os Manchus entre 1621 e 1647. No entanto, a luta entre os Ming e os Qing na China trouxe graves perturbações a Macau nas décadas de 1650 e 1660, quando as populações costeiras foram obrigadas a deslocar-se para o interior. Além disso, os comerciantes chineses eram uma presença crescente na Indonésia, invadindo mercados onde os portugueses desfrutavam de um quase monopólio. Outro golpe, em 1684, as autoridades chinesas permitiram que outras nações europeias - essencialmente holandeses, ingleses e franceses - negociassem diretamente com comerciantes chineses. Os europeus estavam particularmente interessados primeiro no chá e depois no comércio de ópio. Os chineses queriam controlar os comerciantes europeus e, em 1757, eles podiam residir em apenas um lugar em território chinês: Macau.
História Posterior
Macau continuou a prosperar como porto comercial, mesmo que os seus dias de glória fossem agora apenas uma memória distante. A colónia tinha uma população de cerca de 30.000 habitantes em meados do século XVIII, sendo a maioria chinesa, mas com um número significativo e cosmopolita de europeus e asiáticos orientais.
Em 1808, Macau foi brevemente ocupada pelos britânicos, embora fosse, pelo menos do ponto de vista de Pequim, território chinês. Quando o imperador chinês recebeu a notícia desta incursão, enviou ordens aos britânicos para que se retirassem de Macau. Não querendo iniciar uma guerra com um parceiro comercial valioso e com a China fornecendo a maior parte da comida da colónia, os britânicos - na verdade uma força da Companhia de Comércio das Índias Orientais - retiraram-se quatro meses após o desembarque.
À medida que o século XIX avançava, os navios mercantes britânicos paravam frequentemente em Macau a caminho de Cantão. Foi neste século que Macau entrou realmente em declínio e sofreu a negligência vista em muitos outros postos avançados do Império Português. As fortunas da colónia foram gravemente afetadas pelo assoreamento do porto e pela ascensão do seu vizinho poderoso Hong Kong.
Em 1951, Macau tornou-se formalmente uma província ultramarina de Portugal. Em 1987, o governo português concordou em entregar a colónia à soberania chinesa em 1999 - embora ninguém pudesse fornecer nenhum documento histórico mostrando que a China havia cedido Macau em primeiro lugar. Parte do acordo era que o sistema capitalista de Macau deveria continuar por 50 anos e assim, assim como Hong Kong, Macau tornou-se uma região administrativa especial da República Popular da China. Em 2005, a UNESCO classificou os edifícios históricos de Macau - catedrais, igrejas e casas - como Património Mundial.