Bartholomew Roberts, ou "Black Bart" Roberts (c. 1682-1722) foi um pirata galês e um dos vilões mais bem-sucedidos da Era de Ouro da Pirataria. Roberts pilhou mais de 400 navios em ambos os lados do Atlântico durante sua infame carreira de três anos, bem mais do que qualquer outro pirata do período.
Conhecido por seu vistoso guarda-roupa, bandeiras piratas provocativas e pela disciplina severa, "Black Bart" Roberts comandou um das mais poderosos de todos os navios piratas, o Royal Fortune, que tinha pelo menos 40 canhões. Bem-sucedido ao evitar o laço do carrasco que tantos outros piratas sentiram em torno do pescoço, Roberts morreu com um tiro na garganta ao resistir à prisão pelas autoridades inglesas em 1722.
Carreira Inicial
Roberts nasceu no Condado de Pembroke, no País de Gales, em 1682, e seu nome de batismo real era John. Ele começou sua vida de marinheiro por volta dos 13 anos e cresceu para se tornar um sujeito alto, bronzeado e curtido pelos elementos que o levou a conquistar sua alcunha posterior, "Black Bart" Roberts (ou "Black Barty"). Uma origem alternativa para esta alcunha seria a de que Roberts com frequência torturava seus prisioneiros - especialmente os franceses - para descobrir onde mantinham seus objetos de valor. Num notório episódio ocorrido em outubro de 1720, Roberts ordenou a seus homens que cortassem as orelhas de um grupo de holandeses, alguns dos quais foram enforcados e seus corpos usados como alvo para treino de tiro. Seja como for, "Black Bart" Roberts certamente fazia jus ao apelido.
Na juventude, Roberts serviu como segundo imediato no Princess of London, um navio negreiro que percorria a rota entre a costa da África Ocidental e Londres. Então, em fevereiro de 1720, ele se juntou, seja pela força ou voluntariamente, à tripulação do pirata galês Howell Davis, que tinha capturado o Princess. Neste época Roberts mudou seu nome para Bartholomew, com o objetivo de dificultar a descoberta de sua real identidade pelas autoridades. Quando Davis morreu num combate com as autoridades portuguesas na ilha Príncipe (no arquipélago de São Tomé e Príncipe), ao largo da costa da África Ocidental, Roberts acabou eleito para ocupar seu lugar. O capitão Roberts rapidamente lançou um ataque de vingança ao forte de Príncipe e o destruiu completamente, junto com o povoado próximo.
Flagelo do Atlântico
Roberts começou a vaguear pelo Oceano Atlântico, pilhando navios na costa da África Ocidental, no Caribe, na costa do Brasil e ao longo da costa leste da América do Norte, até Terra Nova, onde levava pânico às frotas pesqueiras. Longe de se limitar a embarcações individuais, Roberts costumava capturar frotas inteiras, como os 11 navios dos quais se apoderou na costa da África Ocidental em janeiro de 1722. Os capitães destes navios negreiros precisavam pagar uma certa quantidade de ouro para terem seus navios de volta, o mesmo ouro com o qual pretendiam adquirir escravos. Um dos capitães se recusou a pagar e, assim, Roberts cobriu seu navio com piche e o incendiou até que afundasse. Ele não se importou com os 80 escravos que se encontravam na embarcação. O capitão pirata extraía informações de marinheiros capturados para obter pistas sobre determinadas frotas e utilizava vários ardis, como, por exemplo, hastear bandeiras nacionais para se aproximar de um alvo. Nem sempre ele estava interessado no simples saque. Nas Ilhas Leeward, em 1720, ele incendiou um grupo de navios no porto, como vingança pelo recente enforcamento de companheiros piratas em St. Kitts.
Roberts deu sua própria justificativa para sua deplorável vida criminosa:
Num serviço honesto, há bens escassos, baixos salários e trabalho duro. Neste, plenitude e saciedade, prazer e facilidade, liberdade e poder; e quem não coloca o crédito neste lado, quando todo o risco que se corre, no pior dos casos, é somente um olhar azedo ou dois no enforcamento. Não, uma vida feliz e curta deve ser meu lema. (Cordingly & Falconer, Pirates, frontispício)
Roberts era um líder de homens carismático e, mais importante do que tudo, altamente bem-sucedido em obter pilhagens para compartilhar com eles. Apesar disso, ele enfrentou um motim em 1720, quando um de seus tenentes, um certo Walter Kennedy (enforcado em 1721), fugiu com dois navios que havia capturado. Curiosamente, Roberts nunca tocava em álcool e jamais consumia nada mais forte do que chá.
As Bandeiras Piratas de Roberts
O capitão apreciava se vestir de acordo com seu papel de pirata extraordinário e ganhou fama pelas roupas de sedas vermelhas brilhantes que usava durante as batalhas. Conforme a célebre coletânea sobre piratas intitulada História Geral dos Roubos e Assassinatos dos mais Notórios Piratas, compilada na década de 1720 por Charles Johnson/Daniel Defoe, Robertos participava dos combates com estilo:
Roberts vestia-se com um luxuoso colete e calças de damasco carmesins, uma pena vermelha no chapéu e uma corrente de ouro no pescoço contendo uma cruz de diamantes. Uma espada na mão e dois pares de pistolas penduradas na ponta de uma faixa de seda jogada sobre seus ombros, de acordo com a moda dos piratas. (243)
O amor de Roberts por peças de guarda-roupa escarlates chegou ao ponto dos franceses lhe darem o apelido de le jolie rouge [o belo vermelho]. Ele também ficou conhecido por hastear em sua frota a bandeira do crânio e ossos cruzados, entre outras, e, portanto, essa bandeira pode ter se tornado mais conhecida como Jolly Roger por sua associação com Roberts (embora existam várias outras teorias sobre a origem do nome Jolly Roger).
A bandeira pirata mais famosa de Black Bart mostrava-o bebendo uma xícara de vinho com um esqueleto ou um diabo segurando uma lança em chamas. Os piratas não desprezavam um pouco de autopromoção e a bandeira pessoal de Roberts o mostrava de pé, portando uma espada, em cima de dois crânios. Sob os crânios estavam as letras ABH e AMH, representando as cabeças decapitadas dos governadores de Barbados e Martinica, respectivamente ("A Barbadian Head" e "A Martiniquan Head", ou seja, "Uma Cabeça Barbadiana" e "Uma Cabeça Martinicana"), que tinham enviado navios em perseguição a Roberts.
O Royal Fortune
Ao contrário da maioria dos piratas, que preferiam embarcações pequenas, rápidas, com armamento leve e baixo calado, como as chalupas, Roberts comandava um grande navio repleto de 42 canhões (ou 52, conforme algumas fontes), o Royal Fortune. Roberts progredia ao longo de sua trajetória, capturando embarcações maiores e melhor armadas ao longo dos anos de pirataria e reutilizando o nome Royal Fortune várias vezes. O original e mais famoso Royal Fortune foi um navio de guerra francês construído por volta de 1697, em Bayonne. Roberts o capturou em águas caribenhas, próximo à ilha de Martinica, graças à frota que comandava. Como um bônus adicional, ele encontrou a bordo e levou prisioneiro nada menos do que o governador da Martinica. Roberts detestava todas as formas de autoridade e suas persistentes tentativas de levá-lo à justiça e, portanto, foi com grande satisfação que enforcou o governador no lais de verga do navio, pelo menos de acordo com o relato de Johnson/Defoe em História Geral.
O Royal Fortune, com suas velas quadradas e muito bem armado, permitia a Roberts enfrentar os ataques diretos laterais de quaisquer navios enviados contra ele. Uma vítima dinamarquesa de um ataque de Roberts deu a seguinte descrição do Royal Fortune e seus armamentos:
O referido navio de Roberts é tripulado por cerca de 180 homens brancos e cerca de 40 crioulos franceses e está equipado com 12 canhões de oito libras; 4 de doze libras; 12 de seis libras; 6 [bronze] de oito libras; e 8 de quatro libras; e em [abaixo] seu mastro principal e dianteiro tem 7 canhões, dois e três canhões e 2 canhões giratórios em sua mezena. (Konstam, The Pirate Ship, 24)
Roberts logo teve que abandonar o Royal Fortune francês, provavelmente porque o casco estava irreparável depois de uma década de danos causados por criaturas marinhas tropicais. A partir do início de 1721, comandou o Onslow, um navio da Royal Africa Company. Foi renomeado Royal Fortune (o quarto e último dos navios de Roberts com esse nome) e, após a remoção das anteparas internas que separavam a carga, criou-se espaço para 40 canhões. Os piratas também removeram as superestruturas da proa e popa para tornar o navio mais leve, rápido e manobrável. O espaço extra do convés também permitia o transporte de mais armamento.
Os Regulamentos Piratas de Roberts
Não era incomum que os capitães piratas elaborassem uma lista de regras para sua tripulação, conhecidas como artigos do navio. Cada homem era obrigado a assinar (deixando sua marca se não pudesse escrever) tal documento e jurar obediência às regras. Os artigos de Roberts, compilados por Johnson/Defoe a partir do testemunho de ex-membros da tripulação, foram publicados em sua obra sobre os piratas. As regras que a tripulação precisavam cumprir continham algumas orientações previsíveis em tal ambiente como, por exemplo:
Manter sua peça [mosquete etc], pistolas e alfanjes limpos e aptos para o serviço.
Meninos ou mulheres não são permitidos. Se qualquer homem for descoberto tendo seduzido alguém deste último sexo e a levado para o mar, disfarçada, deverá ser morto.
Abandonar o navio ou seus posto de batalha, é punível com a morte ou abandono [numa ilha deserta ou pequeno barco sem provisões].
Há itens que ilustram a relativa justiça e igualdade entre os membros da tripulação:
Cada homem tem um voto nas questões do momento, tem direito igual a provisões frescas ou bebidas fortes, tomadas em qualquer época, e pode usá-las como bem entender, a menos que a escassez torne necessário, para o bem de todos, votar um racionamento.
E existem alguns itens bastante surpreendentes num bando desta natureza, tais como:
Nenhuma pessoa jogará cartas ou dados por dinheiro.
Os músicos terão descanso aos sábados. (211-212)
Morte
Um pirata tão famoso, conforme ele próprio havia predito, desfrutaria de uma carreira criminosa muito curta. Em fevereiro de 1722, Roberts e sua tripulação estavam a bordo do Royal Fortune, ancorado ao largo do Cabo Lopez, no Gabão, tendo passado a noite anterior festejando sua mais recente série de capturas. Roberts foi morto no dia 10 de fevereiro, a bordo de seu navio, após um prolongado combate com a fragata da Marinha Real inglesa Swallow, comandada pelo capitão Challoner Ogle (1681-1750), que estava à sua procura há vários meses. Uma tempestade tropical os atingiu e os dois navios esforçavam-se para manobrar numa posição vantajosa em relação ao inimigo. Quando as duas embarcações passaram bem próxima uma da outra, Roberts acabou sendo atingido fatalmente na garganta por um tiro de metralha disparado pelos canhões do Swallow. O corpo do capitão foi jogado em alto-mar pelos seus homens, como havia instruído frequentemente para que o fizessem, a fim de que as autoridades não se apossassem dele para pendurá-lo em público.
Os homens de Ogle venceram após uma batalha de três horas, capturando 268 piratas. As tripulações de Roberts com frequência incluíam antigos escravos, fossem libertados de navios negreiros ou fugitivos de plantações coloniais que se apresentavam como voluntários para uma vida na pirataria. Os 77 escravos africanos que tinham lutado como piratas terminaram sendo devolvidos à escravidão após a captura pelo capitão Challoner. Julgados e condenados por pirataria e assassinato, 52 dos integrantes da tripulação acabaram enforcados nos muros do Castelo Cape Coast, na Guiné. Foi maior execução pública de piratas da chamada Era de Ouro da Pirataria. Outros 20 homens foram sentenciados a trabalhos forçados na África Ocidental, outra forma de sentença capital, pois poucos sobreviviam por muito tempo nestas colônias penais. O capitão Ogle recebeu um título de nobreza pelos seus esforços e terminou sua carreira com o posto de almirante.