O catafracto parto era a unidade de cavalaria pesada militar da Pártia, que se caracterizava pelos cavalos enormes e rápidos, inteiramente coberto por uma blindagem de metal e conduzidos por cavaleiros igualmente protegidos com armaduras e equipados com longas lanças e espadas. Tal como os tanques modernos, projetados para irromper através das defesas do inimigo, o uso tático integrado do catafracto pelos partos elevou as batalhas a um novo nível.
Táticas
Trabalhando em conjunto com a cavalaria leve, quando não estavam varrendo os combatentes em fuga, os catafractos, como relata Cássio Dio (40.22), corriam em grande velocidade, com seus cavalos blindados, em direção à formação inimiga. Um animal tão massivo, numa corrida desenfreada, atiraria soldados para todos os lados, como pinos atingidos por uma bola de boliche, até sobre seus companheiros. Vários catafractos, atacando uma formação de forma simultânea, teriam um efeito devastador na linha de defesa. Além dos mortos ou pisoteados diretamente, os corpos voando, combatentes fugindo e escudos abaixados criariam lacunas de vulnerabilidade nas quais os arqueiros a cavalo disparavam flechas com seus "poderosos arcos" (Plutarco, Crasso, 24.4.5).
Assim, os partos colocaram em campo uma formidável máquina militar que consistia principalmente na cavalaria, já que "seus catafractos derrotaram os selêucidas no oeste do Irã e na Mesopotâmia no século II a.C." (Farrokh, 4). Além disso, mostrando-se um adversário à altura para a máquina de guerra romana, eles derrotaram Marco Antônio em 36 a.C. Embora pouco se saiba sobre o papel que os catafractos desempenharam nessa e em outras batalhas, seu uso e aparência são mais conhecidos a partir da descrição de Plutarco da Batalha de Carras, em 53 a.C., do grafite catafracto de Dura Europos, numa época posterior, e do relevo rochoso de Firuzabad, que retrata a derrota final para os sassânidas, em 224 d.C.
Armadura
Embora haja algum debate sobre a distinção entre os catafractos e a cavalaria pesada, que consistia em vários graus de blindagem para os cavaleiros e seus cavalos maiores enquanto empregavam uma variedade de armas, muito pode ser aprendido sobre o uso mais específico e a aparência distinta destes cavaleiros no combate ocorrido em Carras, na Turquia moderna. Ali, o general parto Surena comandou 1.000 catafractos e 9.000 arqueiros a cavalo contra os 30.000 soldados de infantaria e 4.000 cavaleiros do general romano Marco Licínio Crasso.
Antes mesmo da batalha se desenrolar, Surena promoveu uma surpreendente guerra psicológica. Plutarco observa que, antes da aproximação dos romanos, Surena ocultou a maior parte de sua força atrás da guarda avançada para que seu exército parecesse pequeno. Então, "para confundir a alma e desnortear o julgamento", os partos encheram a planície com o ensurdecedor som dos tambores - um ruído "como a mistura do rugido de animais selvagens com o som assustador do trovão” (23:7). Antes de avançar contra os já enervados romanos, Surena mandou cobrir a armadura da cavalaria com peles e mantos. Quando os romanos chegaram mais perto, os partos entraram em formação e descobriram as armaduras, “reluzentes em elmos e couraças; seu aço margiano cintilando, aguçado e brilhante” (23.6-24.1).
O apelido de "aço margiano", como "espadas de Damasco" ou "capacetes coríntios", sugere um produto de maior qualidade. Como o aço de alta qualidade é mais forte e menos propenso à corrosão, ele mantém e exibe um brilho mais intenso. Embora tais produtos fossem caros e os cavaleiros catafractos pagassem pelo seu equipamento, com Surena - o mais rico dos partos (quase tanto quanto o rei) - à frente, eles aparentemente podiam pagar e escolher o "aço margiano". Além disso, o fato de seus capacetes e couraças brilharem tão intensamente sugere uma superfície mais reflexiva, o que ocorreria com capacetes inteiriços e armaduras peitorais completas.
Mais tarde, na mesma batalha, Plutarco menciona proteções peitorais novamente, incluindo as de couro. Como muitos exércitos da antiguidade, havia um padrão variável de equipamentos. Talvez os nobres menos abastados só pudessem pagar os peitorais de couro mais baratos, ainda que eficazes. Aliás, a etimologia da palavra "couraça" está relacionada a couro. A ideia e a vantagem de uma peça que proteja áreas vitais mais críticas - a cabeça e o coração - foi percebida muito cedo. As couraças podem ser rastreadas até a Antiguidade clássica e as gregas que chegaram até nós datam de 620 a.C. Como vassalos e depois conquistadores do Império Selêucida, tais produtos teriam sido familiares e provavelmente usados pelos partos. Mesmo os que os conquistaram os usavam. Esculpido para celebrar a vitória sassânida sobre os partos, em 224 d.C., o relevo de Firuzabad, no Irã, mostra proteções peitorais completas nos cavaleiros sassânidas e partos.
Junto com os elmos e couraças, Plutarco também menciona o uso da cota de malha. Provavelmente inventada pelos celtas e uma das formas mais populares de armadura pessoal, a cota de malha consistia em minúsculos anéis de metal unidos para formar um tecido de metal. Usado como uma roupa, este equipamento fornecia ao usuário maior liberdade de movimentos do que as armaduras lamelares e laminares. Um dos momentos cruciais da batalha de Carras ocorreu quando Públio Crasso, filho do comandante romano, partiu com sua cavalaria em perseguição aos catafractos partos, após o ataque inicial às forças principais romanas, duramente castigadas pelos arqueiros a cavalo. Os partos levaram Públio a se distanciar do restante do exército com "seus cavaleiros com armaduras", que subitamente deram meia-volta para confrontar os romanos. Os arqueiros a cavalo levantaram uma enorme nuvem de areia, fazendo com que o destacamento romano cerrasse fileiras em meio à confusão, tornando-os alvos fáceis. Desesperado para escapar daquela situação, Públio novamente liderou uma carga contra os catafractos, mas os "cavaleiros com armaduras", com seus longos piques, derrotaram facilmente os romanos (25.6-7, 27.1).
O relevo de Firuzabad mostra claramente o uso de cota de malha com proteções peitorais. Assim, é provável que a aparência dos cavaleiros catafractos em Carras incluíssem elmos inteiriços e o uso combinado de cota de malha e couraças peitorais. Inicialmente, eles vestiriam sua túnica e calças habituais. Então, eles se cobririam da cabeça aos pés com cota de malha e, acima dela, as couraças peitorais e o elmo. Finalmente, levando em conta que os legionários romanos iriam golpear e retalhar o que pudessem, haveria proteções extras para as canelas, braços, mãos e pés.
Plutarco descreve os cavalos partos "cobertos com placas de bronze e aço" (24.1), Heródoto menciona o uso anterior de armadura em escamas pelos soldados persas (Histórias, 7.61) e imagens como o desenho de Dura Europos de um cavalo parto e os cavalos sármatas na Coluna de Trajano sugerem que as escamas eram uma escolha popular. Consistindo em placas de metal sobrepostas e costurada num forro de tecido ou couro, o cavalo pesado parta era, exceto por pernas e cauda, envolto em escamas metálicas.
Selas
Embora os estribos apareçam numa época posterior e nenhum artefato do período os mostre disponíveis para os partos, as selas são outra história. Algumas imagens antigas parecem mostrar cavaleiros partos sem elas, mas há evidências arqueológicas definitivas sobre sua disponibilidade. Uma inovação importante, anterior aos estribos foi a integração do cabeçote e da patilha no assento do condutor. Estes itens auxiliam o cavaleiro a se manter no lugar quando atirado à frente, oferecem estabilidade quando o cavalo se detém e contribuem para a capacidade de manobra quando o animal muda de direção. De acordo com a recriação detalhada de Elena Stepanova, com base em achados datados do século IV a.C., os citas criaram uma engenhosa sela de quatro partes com cabeçotes e patilhas divididos. O próprio desenho da sela revela o propósito para o condutor: mudanças de direção, bem como rapidez na aceleração. Elas também são encontradas nos relevos do Estreito de Bósforo, no Mar Negro, que retratam arqueiros a cavalo cimérios e datam dos séculos II e I a.C.
Tais selas provavelmente estavam destinadas à cavalaria ligeira, pois os pesados catafractos da Pártia precisavam de um design mais simples. Em vista de seus objetivos de impacto frontal e penetração, um projeto mais robusto, em duas partes, torna-se mais provável. Ainda que a patilha e o cabeçote ajudassem a manter o cavaleiro na sela durante os impactos, o segundo item evitaria que fosse desmontado à medida que se retirava. Um cabeçote substancial e uma possível patilha aparecem evidentes nos rápidos condutores sassânidas que podem ser vistos nos relevos de Firuzabad. As relações parta-cita e o fato de que os sassânidas usassem selas torna provável que os partos também o fizessem.
Mudanças
Embora a cavalaria pesada tivesse vários objetivos durante as batalhas, o catafracto parto, definido como uma espécie de tanque, devia romper as linhas inimigas. Como é a natureza da guerra, as táticas de combate, combinadas com a inovação intelectual e material, costumam se alterar constantemente no que se refere aos ativos militares, defensivos ou ofensivos, e assim o catafracto parto também evoluiu. Mesmo na Batalha de Carras, as coisas rapidamente mudaram. Como Crasso aumentou inteligentemente a profundidade de suas linhas de frente numa formação de coluna, em antecipação ao impacto dos catafractos, Surena optou por deixar seus "tanques" na reserva e, em vez disso, desencadeou uma série punitiva de ataques com arqueiros. Antecipando o deslocamento da cavalaria pesada de Crasso, os catafractos, fingindo uma retirada, conduziram os romanos a uma emboscada de arqueiros a cavalo e combate individual entre as respectivas cavalarias pesadas.
No que se refere à armadura pessoal, existem desenvolvimentos interessantes, se comparadas as imagens de Dura Europos e de Firuzabad com o relato de Plutarco. A desvantagem da cota de malha reside no peso nos ombros, além de permitir danos físicos ocasionados por golpes contundentes. Parece que os partos resolveram esta questão, conforme a imagem de Dura Europos, com a proteção laminar nos braços, pernas e pés. Ao usar a cota de malha para proteger a cabeça e o pescoço, a parte superior do tronco também fica protegida com o mesmo material, cujo peso é transferido através de um cinto de placas lamelares que protegem a parte inferior do tronco. No entanto, o relevo de Firuzabad mostra claramente os cavaleiros partos e sassânidas usando couraças. Além disso, em Firuzabad, os cavaleiros sassânidas usam cota de malha para proteção de braços e pernas e apenas faixas na cabeça, enquanto os partos utilizam armadura laminar e vestem um capacete completo, com proteção em escamas para o pescoço. Ostentando seus diademas da moda, o rei sassânida Ardashir I e seu filho Shapur I não parecem estar preocupados com golpes na cabeça ou no pescoço.
Em termos táticos, tem-se a impressão de que o relevo de Firuzabad quer mostrar a agilidade de seus cavaleiros e corcéis. Com seus cavalos em pleno ar, a galope, as caudas horizontais e os cabelos e cachecóis do condutor puxados para trás, fica aparente a rapidez da cavalaria. Assim, parece que os sassânidas adotaram mudanças no emprego dos seus cavaleiros. De maneira geral, parece haver um redução do peso para privilegiar a velocidade. A imagem Taq-e Bostan, do século IV d.C., mostra um cavalo catafracto sassânida somente com armadura frontal, no que parece ser uma coura de tecido acolchoado. Isso não apenas revela menos peso, mas também o fim da tática de penetração total nas fileiras inimigas e do combate corpo a corpo decorrente. Parece que o catafracto pesado, utilizado como um tanque para romper linhas inimigas, passaria a ter uso seletivo a pouco útil até a Idade Média, com implementação comparável na arte da guerra bizantina.