Hipólita

Definição

Harrison W. Mark
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 11 janeiro 2022
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Mosaic of Amazon Warrior Fighting Greek Rider (by Jacques Mossot, CC BY-SA)
Mosaico de Guerreira Amazona Enfrentando Cavaleiro Grego
Jacques Mossot (CC BY-SA)

Hipólita era a rainha das Amazonas na mitologia grega. Filha de Ares, o deus grego da guerra, e Otrera, rainha das Amazonas, ela aparece de forma destacada nas lendas de Hércules e Teseu. Na atualidade, ficou mais conhecida pelo papel na série da DC Comics Mulher Maravilha.

As Amazonas formavam uma nação de mulheres guerreiras que viviam na cidade de Temiscira, no Mar Negro. Além da raça das amazonas como um todo, Hipólita era a filha de Ares, que a presenteou como um magnífico cinturão usado por ela como um símbolo de autoridade. Em diferentes variações dos mitos gregos, Hipólita é vista interpretando papéis diferentes e por vezes conflitantes. Algumas histórias, que citam sua morte nas mãos de Hércules, durante o nono trabalho do herói, creditam sua participação nos mitos posteriores de Teseu a uma de suas irmãs, Antíope ou Melanipe. Ela é frequentemente retratada na arte, desde o período clássico até o presente, como uma líder feminina poderosa.

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As Amazonas e suas Rainhas

A raça de guerreiras conhecidas como Amazonas descenderia de Ares e da ninfa Harmonia. Vivendo no Mar Negro, que, para os gregos, encontrava-se no limite do mundo conhecido, tinham a reputação de independência feroz e de incríveis habilidades na caça, equitação, tiro com arco e guerra em geral. De acordo com algumas fontes, eram vizinhas da tribo dos Gárgaros, composta somente por homens, e os dois grupos encontravam-se anualmente para procriar.

Hipólita foi a segunda entre as rainhas das Amazonas citadas na mitologia, mulheres ferozes que lideravam seu povo em campanhas militares e combates.

Outras fontes retratam as duas tribos como inimigas, constantemente em guerra. Se uma menina nascesse de uma amazona, os antigos gregos acreditavam que a criança seria criada e ensinada nos costumes guerreiros da cultura das amazonas, enquanto um menino seria morto ou mutilado e descartado. Os gregos também acreditavam que as amazonas removiam voluntariamente seu seio direito, seja queimando ou cortando-o fora, para que pudessem atirar suas flechas mais facilmente, e mantinham o seio esquerdo para a amamentação. Isso levou à crença de que a palavra amazona seja uma derivação do termo grego para “sem seios”, embora alguns estudiosos discordem desta interpretação.

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Hipólita foi a segunda entre as rainhas amazonas conhecidas, mulheres ferozes que lideravam seu povo em campanhas militares e combates. As mais importantes destas rainhas incluem:

  1. Otrera, a filha de um romance entre Ares e Harmonia. Ela foi a primeira das amazonas, mãe de Hipólita e suas irmãs, e a suposta fundadora do templo de Ártemis, em Éfeso.
  2. Hipólita, a filha de Ares e Otrera, que recebeu um cinturão de seu pai. Ela teria um papel proeminente nos mitos de Hércules e Teseu.
  3. Pentesileia, irmã de Hipólita. Uma das muitas variações da morte de Hipólita conta que ela teria sido morta por Pentesileia num acidente. Pentesileia liderou as amazonas para ajudar os troianos durante a Guerra de Troia, onde teria sido morta por Aquiles, que, segundo um boato, estaria apaixonado por ela. Aquiles ficou tão irritado pelos rumores que matou o companheiro responsável por espalhá-los.
  4. Mirina, que liderou as amazonas em campanhas na Líbia e Egito, derrotando os atlantes e conquistando vários territórios antes de ser eventualmente derrotada e morta em batalha.
  5. Talestre, a última das rainhas conhecidas. De acordo com o mito, Talestre liderou 300 amazonas para se encontrar com Alexandre, o Grande (v. 356-323 a.C.), com a intenção de criar uma raça de guerreiros que possuíssem a força e o brilhantismo militar do rei macedônio. Ela ficou com Alexandre por 13 dias e noites, esperando que pudesse conceber uma filha.

Amazon Preparing for Battle
Amazona Preparando-se para a Batalha
Pierre-Eugène-Emile Hébert (Public Domain)

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O Nono Trabalho de Hércules

De todas estas rainhas, porém, Hipólita é a mais conhecida, o que se deve à participação em mitos famosos. Uma das histórias pela qual é mais conhecida é seu papel nos Doze Trabalhos de Hércules. Filho de Zeus e da mulher mortal Alcmena, Hércules foi o maior de todos os heróis gregos. Porém, o fato de ter nascido de um caso ilícito despertou o ciúme e ira de Hera, esposa de Zeus, que constantemente buscava meios para matar Hércules ou, pelo menos, atormentá-lo. O momento da vingança viria quando o herói se casou.

Hércules casou-se com a princesa Mégara e eles tiveram três filhos. Nunca esquecendo um insulto, Hera provocou um ataque de loucura em Hércules, durante o qual ele matou a esposa e os filhos. Após os assassinatos, Hera suspendeu os efeitos da loucura, de forma que o herói, agora em seu juízo perfeito, pudesse verificar o que havia feito com seus próprios olhos. Desesperado, Hércules buscou uma maneira de encontrar reparação para seu crime, o que o levou a Euristeu, rei de Micenas. Este o encarregou de realizar doze trabalhos para que pudesse expiar seus pecados. Entre estas tarefas estavam matar a Hidra com nove cabeças, uma serpente sagrada para Hera; ou limpar os estábulos do rei Augias num único dia, o que conseguiu desviando o curso de um rio. Alguns foram mais longos do que outros e, assim, Hércules concluiu oito trabalhos antes de encontrar as amazonas.

O nono trabalho consistia em recuperar o cinturão de Ares, pois a filha do Rei Euristeu o desejava. Após muitas aventuras, Hércules eventualmente chegou a Temiscira, sozinho ou com companheiros, dependendo da versão da história, para buscar uma audiência com Hipólita. Ela o encontrou em seu navio e pediu-lhe para explicar por que tinha vindo e qual a razão de querer seu cinturão. Ele respondeu, contando-lhe a história de seus trabalhos e o ciúme da deusa Hera que o atormentava. Hipólita, penalizada, concordou em lhe dar o cinturão.

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Hercules Battling Hippolyte
Hércules Combatendo Hipólita
Metropolitan Museum of Art (Copyright)

Porém, Hera, cuja ira implacável não diminuíra com o passar dos anos, não o deixaria completar aquela tarefa tão facilmente. Disfarçando-se como amazona, Hera caminhou entre as guerreiras, espalhando rumores de que Hércules não tinha realmente vindo para obter o cinturão, como alegava, mas em vez disso pretendia sequestrar a própria Hipólita. Alarmadas, as amazonas pegaram suas armas e cavalgaram para o navio de Hércules para libertar a rainha. Hércules, pensando que isso fazia parte de uma trama traiçoeira por parte de Hipólita, matou a rainha e roubou o cinturão do cadáver, antes de lutar contra as amazonas e fugir pelo mar. Apolodoro descreve o encontro:

Quando ele [Hércules] atracou no porto de Temiscira, Hipólita veio vê-lo, perguntou-lhe por que tinha vindo e prometeu dar-lhe o cinturão. Mas Hera assumiu a aparência de uma amazona e vagueou pela multidão, dizendo que os estrangeiros que haviam chegado estavam abduzindo a rainha. Apanhando suas armas, as amazonas apressaram-se a cavalgar rumo aos navios; e quanto Hércules as viu, completamente armadas, pensou que seria uma trama, matou Hipólita e roubou seu cinturão. E então, após lutar contra o restante das amazonas, fugiu pelo mar e foi para Troia. (Apolodoro, II.5)

Esposa de Teseu

Em algumas versões da lenda, Teseu viajou com Hércules para recuperar o cinturão e, ou abduziu Antíope, a irmã de Hipólita, ou a deu a Hércules como espólio de guerra. Outras versões retratam Teseu e Antíope apaixonando-se um pelo outro, o que a fez deixar as amazonas para viver com ele em Atenas. Mas muitos relatos não mencionam esta mulher como Antíope, mas sim como a própria Hipólita. Independente de qual irmã Teseu tomou como esposa, seja por vontade própria ou contra a vontade desta, a maior parte das versões da lenda concordam que ela foi trazida para Atenas, onde lhe deu um filho, chamado Hipólito. Algum tempo depois do nascimento do filho, Teseu deixou de lado sua esposa amazona para se casar com Fedra, filha do Rei Minos.

Nesta época as amazonas atacaram Atenas, num conflito mítico chamado Guerra Ática. A causa desta invasão também difere dependendo da versão adotada. Algumas afirmam que foi uma resposta à abdução de uma das amazonas, enquanto outras a relacionam como uma reação enfurecida à rejeição de Hipólita por Teseu, para que ele pudesse se casar com Fedra. Seja qual for o caso, a maioria dos relatos não descreve a morte de Hipólita nas mãos de Hércules e sim durante o conflito entre os atenienses e as amazonas.

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Detail of Lekythos with Amazonomachy
Detalhe de Vaso Antigo Grego com Amazonas em Batalha
Metropolitan Museum of Art (Copyright)

Ainda assim, os relatos divergem se Hipólita estava lutando junto ou contra Teseu. Por exemplo, em sua Biblioteca de Mitologia Grega, Apolodoro afirma que Hipólita, menosprezada pelo casamento de Teseu com Fedra, liderou as amazonas em sua invasão, chegando ao ponto de irromper, furiosa, nas celebrações do casamento. Quando estava pronta para matar os convidados do casamento, as portas foram rapidamente fechadas, prendendo-a longe de seu exército, e nesse momento então acabou sendo morta. Apolodoro oferece uma alternativa, segundo a qual Teseu a matou em meio ao combate. Apolodoro resume todo o casamento de Teseu com a amazona da seguinte forma:

Teseu acompanhou Hércules em sua expedição contra as amazonas, e ele abduziu Antíope, ou, segundo alguns, Melanipe ou mesmo Hipólita. Por esta razão, as amazonas marcharam contra Atenas e, após terem instalado seu acampamento próximo ao Areópago, foram derrotadas por Teseu e os atenienses. Embora ele tivesse um filho, Hipólito, com a amazona, posteriormente aceitou como esposa Fedra, filha de Minos, colocando um fim às hostilidades anteriores com Deucalião [rei de Creta]. Durante as celebrações do casamento, a amazona que havia sido casada com ele chegou, armada, com suas companheiras, e estava a ponto de matar os convidados; mas eles fecharam as portas rapidamente, e a mataram. Ou, conforme alguns, ela foi morta em combate por Teseu.

(Apolodoro, Epítome 1)

Plutarco, em sua Vida de Teseu, duvida desta versão dos eventos, sugerindo que Teseu só se casou com Fedra após a morte de Hipólita/Antíope. O historiador nos conta como, durante o combate, Hipólita foi morta por uma lança atirada por Molpadia enquanto lutava ao lado de Teseu. Outras versões afirmam que ela foi morta acidentalmente pela sua irmã, Pentesileia. De um modo ou de outro, ela não está mais presente na lenda de Teseu após a batalha com as amazonas.

Na Arte, Literatura e Cultura Popular

Devido à sua presença nos Trabalhos de Hércules e na Guerra Ática, Hipólita aparece em numerosas obras de arte gregas retratando Amazonomachies, ou batalhas com amazonas.

Amazonomachy Detail
Detalhe da Batalha com as Amazonas
Daderot (Public Domain)

Também digna de nota é sua aparição na comédia Sonhos de Uma Noite de Verão, de William Shakespeare, na qual planeja as cerimônias de casamento com Teseu, duque de Atenas. Na versão de Shakespeare, Teseu abduziu Hipólita do campo de batalha e, quando a peça começa, ele aguarda ansiosamente o dia do casamento com ela. Ele diz na cena de abertura: "Hipólita, cortejei-te com minha espada, e conquistei teu amor causando-lhe ferimentos; Mas casar-me-ei contigo em outro tom, com pompa, com triunfo, com celebração" (Ato I, Cena I). Como em outras peças, a inspiração de Shakespeare nesta versão de Hipólita vem de Plutarco.

Hipólita é talvez melhor conhecida nos dias atuais como protagonista da série da DC Comics Mulher Maravilha, como Rainha das Amazonas e mãe da Mulher Maravilha. Na história em quadrinhos, ela tem 3.000 anos de idade e mora em Temiscira, que é isolada do resto da humanidade. A rainha protege sua filha, Diana, proibindo-a de tomar parte do torneio que decidirá qual amazona pode deixar a ilha e se tornar a Mulher Maravilha. Diana participa do torneio disfarçada e vence. Relutantemente, Hipólita aceita deixá-la partir e assumir o papel. Ela permanece em Temiscira a maior parte do tempo na série de quadrinhos, embora em certo ponto assuma o papel de Mulher Maravilha por um curto período.

Seu personagem foi introduzido nas publicações originais em quadrinhos da série Mulher Maravilha no início da década de 1940. Quando a popular série de televisão Mulher Maravilha estreou em 1975, a rainha foi interpretada inicialmente por Cloris Leachman, que trouxe uma Hipólita amorosa, autoritária e crítica em relação ao mundo masculino. Leachman atuou somente no primeiro episódio e a personagem foi interpretada depois por Carolyn Jones e Beatrice Straight, respectivamente. Mais recentemente, a Rainha Hipólita foi interpretada por Connie Nielsen no universo cinemático DC. Tanto as versões de Hipólita nos quadrinhos quanto nos desenhos animados ou séries de TV a mostram como uma líder forte e carinhosa, mas sempre determinada.

Conclusão

A Rainha Hipólita, embora desempenhando papéis relativamente menores nos mitos de grandes heróis gregos, ainda conseguiu deixar sua marca. A lendária rainha amazona aparece na arte grega, como personagem de Shakespeare e, na cultura popular moderna, como a mãe da Mulher Maravilha. Seja nos mitos originais ou nos tempos modernos, Hipólita é vista como uma líder poderosa que, embora morrendo várias vezes em muitas diferentes histórias, recusa-se a ser esquecida.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Harrison W. Mark
Harrison Mark é graduado pela SUNY Oswego, onde estudou história e ciência política.

Citar este trabalho

Estilo APA

Mark, H. W. (2022, janeiro 11). Hipólita [Hippolyta]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20415/hipolita/

Estilo Chicago

Mark, Harrison W.. "Hipólita." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação janeiro 11, 2022. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20415/hipolita/.

Estilo MLA

Mark, Harrison W.. "Hipólita." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 11 jan 2022. Web. 20 nov 2024.