Os saduceus eram parte da alta classe de aristocratas e cuidavam de grande parte do sacerdócio, categorizado pela linhagem de casas sacerdotais. Serviam no Sinédrio, conselho da cidade que organizava tribunais e regulações, que era estabelecido em todo o Israel. Os saduceus eram uma distinta seita do judaísmo entre aproximadamente 200-150 a.C. até 70 d.C., quando o complexo do Templo de Jerusalém foi destruído por Roma.
O nome "saduceu" provavelmente deriva de Zadoque, primeiro sumo sacerdote a servir no Templo de Salomão antes de sua destruição pelos babilônios em 587/586 a.C. A raiz significa "ser correto, justo". Quando Ciro II (r. c. 550-530 a.C.), fundador do Império Persa Aquemênida, conquistou os babilônios, permitiu que os cativos judeus retornassem a Jerusalém para reconstruir o Templo (539 a.C.). Ciro, o Grande, governou sobre centenas de cultos nativos e os permitiu praticar suas tradições ancestrais. No entanto, seu domínio foi exercido através de governadores regionais persas, os sátrapas. Não havia um rei em Israel. Na ausência do rei, este período viu a dominância do sumo sacerdote e dos sacerdotes do Templo no comando da organização cívica das vilas e cidades. Essa teocracia se tornou o centro da liderança religiosa e política.
As responsabilidades dos saduceus
Os saduceus eram responsáveis pela manutenção do culto do Templo, e por todos os elementos da adoração no Templo. Sua principal função era dirigir os sacrifícios, que eram conduzidos a um grande altar dentro do complexo do Templo. Havia também aposentos para os sacerdotes no complexo. Eles organizavam as três maiores peregrinações festivas judaicas: Páscoa, Shavuot (Festa das Primícias) e Sucot (Festa dos Tabernáculos). Os sacerdotes se revezavam no serviço do Templo.
A posição do sumo sacerdote era realçada por ser ele o único autorizado a entrar no Santo dos Santos, santuário interno do Templo, no Iom Quipur (Dia da Expiação). Naquele dia, ele dirigia a cerimônia dos dois bodes. Um era sacrificado e o outro era enviado ao deserto e entregue a Azazel. O significado de Azazel permanece incerto, mas pode indicar tanto um demônio ou simplesmente uma região do deserto. O propósito desta cerimônia era alcançar uma expiação coletiva (cobertura dos pecados) para o povo, uma vez que "o bode levará consigo todas as iniquidades deles para um lugar solitário. E o homem soltará o bode no deserto" (Levítico 16:22).
No que se refere às suas responsabilidades civis, os saduceus representavam o Estado em negociações internacionais, coletavam impostos, equipavam e dirigiam exércitos e serviam como juízes em tribunais locais. Com a conquista romana de Jerusalém por Pompeu Magno (106-48 a.C.) em 63 a.C., os saduceus trabalharam em conjunto tanto com os magistrados do governo romano quanto com os reis clientes de Roma, os Herodianos. O que mais preocupava os saduceus era nunca dar a Roma uma desculpa para fechar o Templo. Isso gerou críticas por parte de outras seitas judaicas, de que os saduceus colaboravam com o inimigo.
A teologia dos saduceus
As fontes sobre os saduceus são algumas referências nos Manuscritos do Mar Morto (dos essênios), os escritos do historiador do primeiro século da era cristã, Flávio Josefo (36-100 d.C.), o Novo Testamento e os escritos rabínicos do segundo século da era cristã. Todas essas fontes são historicamente problemáticas, porque nenhuma literatura dos próprios saduceus sobreviveu à destruição do Segundo Templo por Roma. É difícil obter uma imagem clara porque todas as fontes foram escritas por oponentes que eram críticos dos saduceus e da forma com a qual conduziam o Templo.
Os saduceus aderiram a um conceito mais tradicional e antropomórfico de Deus, rejeitando a influência helenística de uma essência abstrata, pura. Se opunham à afirmação dos fariseus de que uma lei oral também havia sido transmitida por Moisés. Para os saduceus, o que estava contido apenas nas escrituras da Lei de Moisés era viável. Os humanos haviam sido criados com livre-arbítrio para escolher entre o bem e o mal. Segundo Atos dos Apóstolos, os saduceus negavam a existência ou influência de anjos. No que concerne à salvação, apenas os rituais do Templo eram necessários. Negavam a ressurreição dos mortos. Não criam na imortalidade da alma: não havia pós-morte. Em vez de recompensas ou punições após a morte, todos os mortos ficavam no Sheol, lugar dos mortos, para os judeus.
Os saduceus no Novo Testamento
O entendimento moderno dos saduceus é derivado do retrato que o Novo Testamento mostra deles nos evangelhos. Como os fariseus, os saduceus desempenhavam um papel de oposição aos ensinos de Jesus de Nazaré. Eles geralmente são retratados em cenas em que desafiam Jesus com perguntas ardilosas para achar um motivo de acusá-lo de violar a Lei Mosaica.
A visão dos saduceus como oficiais corruptos do Templo vem da cena conhecida como O Incidente do Templo, no Evangelho de Marcos. Jesus expulsa os vendedores de animais e derruba as mesas dos cambistas, citando uma frase combinada de Isaías e Jeremias: "Não está escrito: A minha casa será chamada, por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões" (Marcos 11:17).
Todos os povos antigos cobravam uma taxa para o sacrifício de animais. O que era diferente entre este templo e os outros é à presença de cambistas. Os judeus baniram imagens, mas as moedas levadas nas bolsas tinham imagens do Imperador de Roma e às vezes de deuses. Uma taxa era cobrada pelo câmbio.
Fora de Marcos, não temos evidência de que tanto os vendedores de animais quanto os cambistas estivessem enganando as pessoas. Essa convicção vem da referência a um "covil de ladrões" ou "covil de salteadores", dependendo da tradução. No entanto, um "covil de ladrões" não significa roubar, mas ser um porto seguro onde eles distribuíam o saque. Tanto Isaías quanto Jeremias criticaram os judeus por suporem que o Templo era um porto seguro para que fizessem sacrifícios, pensando que estariam salvos do julgamento vindouro. Sem arrependimento verdadeiro, os sacrifícios não significavam nada, mas nem Isaías, nem Jeremias, sugeriram que os sacrifícios e rituais deveriam parar.
A palavra para "ladrões" em Marcos é lestes, grego para "bandidos". Essa pode ter sido uma referência aos zelotas que vagavam como bandidos, atacando os comboios romanos. Os zelotas eventualmente cercavam o Templo e assassinavam muitos dos sacerdotes, resultando na Grande Revolta Judaica de 66 d.C. contra Roma.
Marcos (seguindo por Mateus, Lucas e João) afirmou que este incidente foi o que levou ao julgamento e crucificação de Jesus de Nazaré. Ao mesmo tempo, a história foi apresentada como justificativa para Deus permitir a destruição do Templo em 70 d.C. por causa das práticas corruptas.
Saduceus proeminentes
As fontes para saduceus proeminentes no primeiro século se encontram nos trabalhos do historiador judeu Flávio Josefo e no Novo Testamento. José Caifás é notável por presidir o Sinédrio no julgamento de Jesus. Ele era genro de um sumo sacerdote anterior, Anás (no cargo entre 6 e 15 d.C.). Marcos, Mateus e Lucas tratam do julgamento perante Caifás, mas o Evangelho de João afirma que Jesus foi levado primeiro à casa de Anás e então a Caifás. Caifás tomou o papel central ao perguntar a Jesus:
"Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?"
"Sou", disse Jesus. "E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu". O sumo sacerdote, rasgando as próprias vestes, perguntou: "Por que precisamos de mais testemunhas?
Vocês ouviram a blasfêmia. Que acham? "Todos o julgaram digno de morte”. Marcos 14:61-64
Marcos apresentou Caifás como mentiroso, afirmar ser o messias no judaísmo não era uma blasfêmia. O evangelho de João relatou a história de que o Sinédrio estava preocupado com as multidões que seguiam Jesus após a ressuscitação de Lázaro:
"Que faremos? porquanto este homem faz muitos sinais. Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação. E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação"... Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem". João 11:47-53.
Em Atos dos Apóstolos, Pedro e João aparecem perante Anás e Caifás após terem curado um deficiente em nome de Jesus. Quando questionados sobre como os Apóstolos possuíam tal autoridade, Pedro (cheio do Espírito Santo), afirmou que Jesus era a fonte de seu poder. Pedro e João foram ordenados a parar de fazer isso, mas Pedro respondeu: "Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus;
Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido." Atos 4:19,20.
Em Antiguidades Judaicas (Livro 20, 9.1), Josefo conta a história do apedrejamento de Tiago, irmão de Jesus. O sumo sacerdote Ananus ben Ananus ordenou sua morte por violações à Lei Mosaica, mas sem entrar em detalhes. Ele perdeu sua posição por ter agido antes da chegada do novo procurador romano.
Em 1990, operários encontraram um ossuário de calcário (urna funerária) no bairro de Abu Tor, em Jerusalém. Uma inscrição em aramaico na lateral dizia "José, filho de Caifás". Os fragmentos de ossos são de um homem idoso do período. No entanto, alguns acadêmicos duvidam da relação, porque não há menção ao título do sumo sacerdote, porque ainda se debate sobre as letras escritas e porque não é a urna funerária de um aristocrata.