Zelotas

Definição

Rebecca Denova
por , traduzido por Pedro Lerbach
publicado em 10 fevereiro 2022
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol, Turco
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St. Simon the Zealot's cave in Abkhazia, Georgia (by SKas, CC BY-NC-SA)
Caverna de São Simão o Zelota em Abecásia, Geórgia
SKas (CC BY-NC-SA)

Os zelotas eram um grupo de judeus que começou a emergir como movimento político-religioso no início do primeiro século da era cristã. Eles se opunham fortemente ao domínio romano e se voltavam contra todos que cooperavam com Roma, incluindo outros judeus. Um subgrupo de zelotas, conhecido como sicários, frequentemente atacavam romanos e outros que eram vistos como cooperadores deles.

O termo "zelota" vem do hebraico kanai/kana’im (aqueles que são "zelosos em nome de Deus"). O termo grego era zelotes ("emulador", "admirador" ou "seguidor"). Nos tempos modernos, "zelo" é aplicado a uma pessoa que às vezes é considerada fanática ou radical pela causa de uma ideia ou movimento.

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Origens

O movimento zelota começou com Judas, O Galileu, que junto com Zadoque, o Fariseu, fundou a quarta seita.

A Revolta dos Macabeus, feita pelos judeus em 167 a.C., expulsou os ocupantes gregos e estabeleceu um reino independente de Israel. A família dos Asmoneus, que liderou a revolta, uniu o ofício de rei com o do sumo-sacerdote no Templo de Jerusalém. Nem todos se contentaram com o domínio Asmoneu. Os reis de Israel deveriam vir da tribo de Davi, Judá, enquanto o sumo-sacerdote deveria descender de Zadoque, primeiro sumo-sacerdote no reinado de Salomão, mas os Asmoneus não eram capazes de reivindicar nenhuma dessas descendências. É então que diversos grupos de judeus formaram seitas dentro do corpo religioso. Todos concordavam com o básico da lei de Moisés e dos livros dos Profetas. A principal diferença era a habilidade de viver nesta cultura grega cosmopolita, mantendo os marcadores de identidade e tradições típicas dos judeus. Um desses grupos eram os zelotas.

Domínio Romano

Roma enviou o general Pompeu Magno (106 a.C. a 48 a.C.) para o Oriente contra o reino de Mitrídates VI do Ponto (r. 120-63 a.C.) no Mar Negro, que tinha conquistado a Província da Ásia e a Grécia. Após destruir as ambições de Mitrídates, Pompeu reorganizou a região como reinos clientes de Roma. Ele ia deixar Jerusalém em paz, mas dois irmãos Asmoneus brigavam pela posição de sumo-sacerdote. Quando percebeu que não conseguiria estabelecer um acordo entre os irmãos, Pompeu cercou Jerusalém e a conquistou em 63 a.C.

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Roma não tinha interesse em Israel, exceto em tê-lo como um estado tampão contra o Império Parta no Oriente (herdeiros da Pérsia). Enquanto Pompeu esteve lá, ele usou os serviços de uma família tribal da Idumeia, Antípatro e seu filho, Herodes. Eles estavam decididos a manter a região em ordem. Os herodianos (termo guarda-chuva para essa família no Novo Testamento) ficaram envolvidos nas guerras civis que eclodiram nos últimos dias da República Romana. Após o assassinato de Júlio César em 44 a.C., Herodes foi chamado a Roma com outras pessoas para relatar a situação no Oriente. Como prêmio por seu serviço, Augusto (r. 27 a.C. a 14 d.C.) e Marco Antônio (83-30 a.C.) lhe garantiram o título de Rei dos Judeus. Herodes, o Grande, se tornou um dos mais odiados reis na história judaica, sendo frequentemente acusado de não ser judeu de verdade, pelo fato de trabalhar para Roma.

Roman Empire under Augustus
Império Romano sob Augusto
Cristiano64 (CC BY-SA)

Após a morte de Herodes, o Grande (4 a.C.), sues territórios foram divididos entre seus filhos (os Tetrarcas). A cidade de Jerusalém foi deixada com Herodes Arquelau (22 a.C. a 18 d.C.), que foi um líder tão ruim ao ponto de os judeus enviarem delegação a Roma pedindo a Augusto que não nomeasse outro filho de Herodes quando esse morresse. No ano 6 d.C., a Judeia e Jerusalém se tornaram província senatorial de Roma, sendo governada diretamente por um procurador. De 6 a 66 d.C., os judeus passaram por uma série de magistrados romanos corruptos.

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O Partido Zelota

Os zelotas emergiram como movimento político-religioso no primeiro século da era comum. A maior parte das nossas informações sobre os zelotas vem do historiador judeu, Flávio Josefo (36-100 d.C.), que também foi uma testemunha ocular da Grande Revolta Judaica de 66 d.C. Tanto em Antiguidades Judaicas quanto em As Guerras dos Judeus, Josefo, descreveu as várias seitas judaicas das escolas de filosofia. Os zelotas foram chamados de "a quarta seita". De acordo com Josefo, o movimento começou com Judas, o Galileu, que, junto com Zadoque, o Fariseu, fundou a quarta seita. Quando um novo governante romano, Quirino, foi nomeado na Síria, que também supervisionava as atividades na Judeia, esses dois homens lideraram uma revolta fiscal no ano 6 d.C. Esse foi o censo mencionado na história do nascimento de Jesus em Lucas.

Judas the Zealot
Judas, o Zelota
Hispalois (CC BY-NC-SA)

Os zelotas não deixaram escritos, mas o mais provável é que a base teológica para suas crenças e atividades derive da história de Fineias e das experiências dos mártires macabeus. Durante os anos do deserto após os judeus deixarem o Egito, Fineias foi um sacerdote, neto de Arão. Acampando próximo a Peor, alguns israelitas interagiam com os inimigos midianitas e moabitas (que adoravam Baal-Peor). Deus os puniu com uma praga. Vendo um homem com uma mulher midianita juntos numa tenda, ele fincou uma lança nos dois, acabando com a praga (Números 25:10-13). Fineias se tornou um exemplo sobre ser "zeloso para com Deus" e "isso lhe foi creditado como um ato de justiça, de geração em geração, para sempre" (salmos 106:31).

Os sicários utilizavam suas táticas de guerrilha e ataques a comboios romanos e a qualquer um que tentasse coletar impostos, muitos dos quais eram judeus.

Os zelotas retornavam às histórias dos mártires macabeus (1ª e 2ª Macabeus) como uma inspiração para seu desejo de morrer pelos pecados da nação. Suas mortes eram vistas como expiação: sacrifício que Deus premiaria, trasladando-os instantaneamente para sua presença após suas mortes. Para os zelotas, apenas o Deus de Israel deveria governar sobre eles como rei. Assim como Deus havia ajudado os macabeus, ele estaria do lado deles contra Roma.

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Os zelotas foram notados por um subgrupo de sicários ou "homens do punhal". A "sica" era um punhal pequeno e de lâmina curta, que dava pra ser escondido facilmente. Os sicários, de novo copiando os métodos dos macabeus, utilizavam suas táticas de guerrilha e ataques a comboios romanos e a qualquer um que tentasse coletar impostos, muitos dos quais eram judeus.

A Revolta Judaica (66-73 d.C.)

Em nenhum outro lugar a polêmica negativa contra os zelotas é mais dramática que no relato de Josefo sobre a Revolta Judaica. A culpa da destruição de Jerusalém e do Segundo Templo foi colocada somente nos zelotas e em sua influência desnorteada sobre o resto do povo. Josefo foi colocado no comando como general da Galileia no irromper da Revolta. Nessa posição, ele tinha conflitos mais frequentes com os zelotas do que com as legiões do exército romano. Josefo, de modo infame, mudou de lado depois, tornando-se aliado de Roma.

Simão bar Giora tinha sua própria facção de zelotas e seu próprio exército. De acordo com Josefo, ele passou mais tempo atacando e pilhando vilas para alimentar suas tropas. Simão tinha recrutado idumeus em seu exército, que eram considerados bandidos pelo governo provisório em Jerusalém. Simão era conhecido por sua selvageria, pois cortava as mãos de prisioneiros.

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João de Gush Halav liderava outra facção na Galileia. Tito (filho do Imperador Vespasiano e futuro imperador romano, r. 79-81 d.C.) marchou para Gush Halav e cercou a cidade, ordenando sua rendição. De acordo com Josefo, João pediu que Tito não entrasse na cidade naquele dia, pois era o Shabat. Tito concordou, mas isso deu tempo para que João escapasse fugisse para Jerusalém.

Simão e João forçaram passagem para Jerusalém, onde lutaram pelo controle do Monte do Templo. O resultado foi o assassinato do sumo-sacerdote, outros sacerdotes e qualquer um que se presumisse que fosse um traidor. Quando Tito conquistou Jerusalém, Simão e João foram capturados. Eles foram levados como cativos para marchar no triunfo de Tito. Ambos foram estrangulados.

Temple of Solomon Treasure, Arch of Titus
Tesouro do Templo de Salomão, Arca de Tito
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Com o colapso de Jerusalém, Josefo relatou que os remanescentes dos zelotas e dos sicários escaparam e tomaram o forte de Massada, no Mar Morto, onde sobreviveram por mais três anos. De acordo com a história, o líder zelota, Eleazar ben Yair, fez vários discursos dizendo que era melhor morrer do que ser escravo de Roma. Isso implicou num suicídio em massa, supostamente de 960 pessoas. "Massada não pode cair de novo" se tornou a forma pela qual algumas facções políticas do Israel contemporâneo se promovem como sendo zelosas pelo Estado.

O Novo Testamento

No Novo Testamento, os zelotas são chamados de lestes ("bandidos") como estigma negativo. Lestes significava ladrão, saqueador ou salteador, mas a tradução "ladrão" remove a conotação política da atividade. Os dois ladrões crucificados com Jesus eram revolucionários. A crucificação era a punição romana para traição.

Simon the Zealot
Simão, o Zelota
James Tissot (CC BY)

Um discípulo conhecido como Simão, o zelota, é listado em Lucas 6:15 e em Atos 1:13. Há confusão acerca desse indivíduo, uma vez que há muitos Simãos nos evangelhos, geralmente sem distinção. Em Marcos e Mateus, temos Simão, o cananeu (Marcos 3:18 e Mateus 10:4). A palavra grega kananaios significava "zeloso", mas na tradução latina de Jerônimo, se tornou "cananeu". Em debates modernos, alguns acadêmicos veem sua presença como um argumento de que Jesus de fato instou uma revolução política contra Roma.

O Apóstolo Paulo, como um dos fariseus, perseguiu os cristãos violentamente no início (mas sem dizer o porquê ou como), e por sua própria descrição, ele era mais zeloso pela Lei de Moisés do que todos os outros judeus. Após ter sua revelação e ter se tornado cristão, em suas cartas ele parece ter continuado o mesmo zelo na tentativa de converter os gentios de sua idolatria.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Pedro Lerbach
Pedro Lerbach é tradutor freelance. Estudou ciência política na Universidade de Brasília e fala português, inglês, espanhol e francês.

Sobre o autor

Rebecca Denova
Rebecca I. Denova, Ph.D. é Professora Emérita de Cristianismo Primitivo no Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Pittsburgh. Ela escreveu recentemente um livro didático, "The Origins of Christianity and the New Testament" [As Origens do Cristianismo e do Novo Testamento], publicado pela Wiley-Blackwell.

Citar este trabalho

Estilo APA

Denova, R. (2022, fevereiro 10). Zelotas [Zealots]. (P. Lerbach, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20513/zelotas/

Estilo Chicago

Denova, Rebecca. "Zelotas." Traduzido por Pedro Lerbach. World History Encyclopedia. Última modificação fevereiro 10, 2022. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20513/zelotas/.

Estilo MLA

Denova, Rebecca. "Zelotas." Traduzido por Pedro Lerbach. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 10 fev 2022. Web. 20 nov 2024.