Claude Monet (1840-1926) foi um pintor impressionista francês que transformou a arte moderna com suas pinturas de pinceladas leves, cores vibrantes e natureza ao ar livre. Ele ficou famoso por suas pinturas que retratam a natureza e as series de pinturas que capturam a mesma cena sob luminosidades diferentes e condições atmosféricas diversas. Monet é considerado um dos mais influentes pintores de todos os tempos.
Início da vida
Oscar-Claude Monet nasceu em Paris, em 14 de novembro de 1840. O trabalho de seu pai, Claude-Adolphe, não é conhecido, exceto que era humilde e que a família passava frequentemente por problemas financeiros. Em 1845, a família Monet se mudou para Le Havre, na costa norte da França, onde Claude- Adolphe passou a trabalhar no próspero mercado atacadista de seu cunhado. A matéria favorita de Oscar-Claude na escola era Artes e ele, fascinado pelos barcos do movimentado porto, frequentemente os desenhava. A partir dos 15 anos, ele começou a ganhar dinheiro vendendo caricaturas, algumas das quais eram expostas todos os domingos na vitrine de uma loja local e se tornaram uma atração. A tia de Monet, Marie-Jeanne Lecadre, era uma pintora amadora e incentivadora de Oscar-Claude. Ela o apresentou ao artista Amand Gautier (1825-1894).
Outra influência artística foi o paisagista Eugène Boudin (1824-1898) e os dois pintavam juntos en plein air (ao ar livre), ao contrário do método utilizado na época de pintura em estúdio. Com apenas 17 anos, Monet produziu sua primeira pintura ao ar livre, Vista de Rouelles, em 1858. Monet posteriormente descreveu a experiência:
Boudin ergueu seu cavalete e começou a trabalhar...para mim foi como uma porta se abrindo; eu entendi; compreendi o que pintar significa...meu destino como pintor se abriu diante de mim. Se eu realmente me tornei um pintor; devo isso a Eugène Boudin.... Aos poucos meus olhos foram se abrindo e compreendi a natureza. (Hodge,15)
Em abril de 1859, Monet foi estudar artes em Paris com o dinheiro que juntou das vendas das caricaturas. Ele se matriculou na pouco convencional Acadèmie Suisse e fez amizade com Camille Pissarro (1830-1903) e Paul Cézanne (1839-1906). Ele continuou ganhando dinheiro com a venda de caricaturas.
Em junho de 1861, os estudos de Monet foram abruptamente interrompidos pelo recrutamento feito pelo exército francês. Ele ingressou na Cavalaria africana leve e foi transferido para Argélia. As cores vibrantes do norte da África deixaram uma profunda impressão no jovem artista que continuou a desenhar em seu tempo livre. Depois de contrair febre tifoide em 1862, Monet ficou doente em casa. Seis meses depois, sua tia, Marie-Jeanne, o tirou do exército. Com 22 anos de idade, ele tirou o Oscar de seu nome e começou a pintar novamente. Foi em Le Havre que Monet conheceu o artista holandês John Barthold Jongkind (1819-1891), cujo trabalho já admirava por suas pinceladas largas e ousadas que capturava os feitos do clima em paisagens marinhas. Como observou Monet, Jongkind “ tornou-se a partir desse momento meu verdadeiro mestre e é a ele que devo o desenvolvimento final de meu olho de pintor. “ (Hodge, 19).
Os Impressionistas
No final de 1862, Monet retornou a Paris, sua tia o tirou do exército com a condição de que ele estudasse na capital com um artista conceituado. O escolhido foi o primo de Jeanne por casamento, Auguste Toulmouche (1829-1890). Toulmouche incentivou Monet a estudar na academia de Charles Gleyre (1806-1874) pelos próximos dois anos. Monet ampliou ainda mais seus conhecidos no meio artístico, conhecendo Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Frédéric Bazille (1841-1870) e Alfred Sisley (1839- 1899). O grupo de artistas que mais tarde seria conhecido como impressionistas estava se formando. Monet tinha um cuidado especial com sua aparência, talvez para compensar o fato de sua origem humilde. Ele se vestia com camisas com babados de renda e foi apelidado por seus colegas de “ dândi”.
Monet começou a aprender seu ofício fazendo inúmeros exercícios de desenhos e produzindo natureza morta que mostravam que dominava a arte da pintura como os outros artistas. Havia dicas do que estava por vir. Ele pintou na floresta de Fontainebleau, no Sul de Paris, cenas de floresta, capturando a mudança das estações e experimentando cor e luz. Em 1864, ele dividia um estúdio com Bazille em Paris e também pintava na costa da Normandia. Outra área que ele estava empenhado em desenvolver era o retrato. Para isso, Monet contratou um modelo, Camille-Léonie Doncieux (1847-1879) e eles se tornaram amantes. Outro tema explorado por Edouard Manet (1832-1883) e que causaram rebuliço foram as pinturas da vida parisiense contemporânea.
Em 1866, o reconhecimento veio quando Monet teve duas obras expostas no prestigiado Salão de Paris. Uma obra era Mulher com o vestido verde, sendo Camille a modelo, foi bem recebida pela crítica ao misturar os tradicionais tons escuros do retrato com a modernidade da roupa feminina. E assim, Monet conseguiu vender algumas obras. Em agosto de 1867, Monet e Camille tiveram um filho, Jean. Monet escondia do pai seu relacionamento com Camille e a família passava dificuldades para sobreviver.
Em 1868, outra obra foi exposta no Salão e Monet participou da Exposição Internacional Marítima de Le Havre e ganhou a medalha de prata. Após uma breve estadia em Étrat à beira –mar, Monet voltou a Paris em 1869, mas as coisas não estavam indo bem no âmbito artístico nem no familiar. Além de seu pai, sua tia, Marie-Jeanne, também retirou o apoio financeiro pois ele ainda não havia casado com Camille. Em 1869, suas propostas foram rejeitadas pelo Salão. Felizmente, Renoir interveio e resgatou Monet convidando-o para ir a La Grenouillère, um elegante resort no Sena. Monet e Renoir trabalharam juntos e desenvolveram seu novo estilo de pintura com ênfase na luminosidade.
Exílio
Em 28 de junho de 1870, Monet e Camille se casaram. Eles se mudaram para Trouville, na costa norte da Normandia, onde Monet pintou doze obras e aperfeiçoou seu estilo. E então a Guerra Franco-Prussiana eclodiu e eles buscaram segurança em terras estrangeiras e se mudaram para Londres em 1870.
As coisas começaram a melhorar quando Monet conheceu Paul Durand-Ruel (1831-1922), um negociante de arte parisiense que estava prestes a abrir uma nova galeria em Londres. Ele selecionou uma das pinturas de Monet para sua exposição inaugural. Monet visitou galerias e ficou impressionado com as obras de Constable e Turner. Este último era um visionário que pintava ao ar livre e captava os efeitos da luz na natureza muito antes de os impressionistas aparecerem.
Monet estava ansioso para voltar a Paris, mas uma guerra civil eclodiu e ele foi para Zaandam, próximo a Amsterdã, em maio. Lá ele pintou 24 telas, capturando os efeitos da luz nas águas agitadas do canal. Nessa época, tanto Monet e Camille perderam um dos pais e herdaram uma pensão. Camille ensinava francês e foram realizadas as primeiras vendas de Monet na galeria de Durand-Ruel. Por fim, parecia que Monet poderia pelo menos ganhar a vida com sua arte, mas já havia perdido a esperança de alcançar a fama.
Claude Monet: A Gallery of 30 Paintings
Monet regressou a Paris no outono de 1871 e encontrou uma cidade profundamente transformada. Ele montou seu estúdio e se dedicou a terminar as pinturas que fez na Holanda. Com essas pinturas, atraiu o interesse de outro negociador de arte, Latouche. As experiências de Monet fizeram com que estivesse pronto para iniciar seus trabalhos mais célebres, com longos pincéis e as características pinceladas curtas.
A conquista da crítica
Monet trabalhou em Argenteuil, a noroeste de Paris, onde trabalho e lazer se encontram nas margens do Sena. O artista ficou fascinado com o encontro da natureza com a arquitetura da indústria pesada. Um gênero novo de pintura parecia possível. Para capturar melhor essas cenas, ele converteu um pequeno barco a remo em um estúdio flutuante, levando Edouard Manet (1832-1883), a descrever Monet como “o Rafael da água” (Hodge, 43). Ele visitou novamente a Normandia em busca da mesma curiosa justaposição de humanidade e natureza. Foi então que ele produziu sua primeira obra-prima de tirar o fôlego.
Para acabar com o monopólio que o Salão exercia sobre exposições de arte, os pintores impressionistas se reuniram e organizaram, em abril de 1874, a Primeira Exposição Impressionista. Nela foram expostas cinco pinturas e sete obras em pastel de Monet. A exposição não teve sucesso nem com as vendas e nem com a crítica, mas pelo menos fez as pessoas falarem sobre a mostra. Uma obra, em particular, causou alvoroço. A impressão, nascer do sol, de 1872, retratava a vista do porto industrial de Le Havre com um forte sol alaranjado refletido nas águas em tons de roxo. Essa obra causou uma forte reação dos críticos de arte conservadores que protestaram contra as formas vagas, pinceladas grossas e aparente falta de execução e acabamento. Um crítico observou: “ um papel de parede parece melhor acabado que isso” (Roe, 129). Outro crítico usou o título da pintura para cunhar o termo “ impressionismo”, então um rótulo depreciativo para esse novo e desconcertante tipo de arte.
A renda de Monet foi impulsionada quando ele foi apresentado a Victor Chocquet (1821-1869), um funcionário da alfândega que se interessava pelo trabalho dos impressionistas. Chocquet adquiriu várias pinturas de Monet para adicionar à sua coleção. A Segunda Exposição dos Impressionistas, em fevereiro de 1876, foi novamente mal recebida, mas pelo menos dessa vez havia um certo interesse dos críticos de que talvez esses artistas de vanguarda tivessem algo a dizer. Monet novamente causou alvoroço com sua pintura La Japonaise, na qual Camille aparece modelando um quimono vermelho. Isso foi uma tentativa óbvia de fazer um trabalho comercialmente aceito e que agradasse aos críticos, o que foi considerado uma concessão desnecessária por parte de colegas de Monet. O próprio Monet mais tarde criticou a pintura, mas ela foi vendida por necessários 2.000 francos.
Em 1877, Monet pintou uma nova série de pinturas de trens e estações ferroviárias, especialmente da Gare Saint-Lazare de Paris. Dessa vez, o uso do elemento água foi um pouco diferente, sendo usado na forma de vapor dos motores. Já a mistura dos efeitos da luz na arquitetura industrial continuou sendo fascinante. Muitas dessas obras foram incluídas nas 30 propostas enviadas por Monet para a Terceira Exibição Impressionista, em abril de 1877. Esta exposição teve algumas críticas mais favoráveis do que anteriormente e o mundo artístico estava começando a perceber que não poderiam continuar ignorando os impressionistas. Um de seus apoiadores o romancista Émile Zola (1840-1902), descreveu as pinturas de estações ferroviárias de Monet como “ excelentes”. E, reconhecendo a mudança dos temas tradicionais nas artes plásticas, observou: “ Isso é pintar hoje, nessas molduras maravilhosamente amplas e modernas. Nossos artistas devem encontrar a poesia nas estações ferroviárias, assim como seus pais a encontraram e florestas e rios. “ (Hodge, 47).
De volta a Paris em 1878, Camille teve seu segundo filho, Michel, e ela estava com uma doença crônica. Monet então se mudou para o ar fresco de Vétheuil, ao norte de Paris. O inverno rigoroso não impediu o artista de pintar ao ar livre e capturar os efeitos da luz na neve e no gelo. Sua vida financeira estava complicada, forçando – o a escrever cartas implorando por dinheiro. Ele sofreu o maior golpe quando Camille morreu em 5 de setembro de 1879, com apenas 32 anos.
Monet estava enlutado e falido, mas se dedicou ao trabalho. Ele se recusou a participar da Quinta Exposição Impressionista e se dedicou a produzir pinturas mais comercialmente viáveis que lhe permitissem sustentar a si mesmo e a seus filhos. Em 1880, ele apresentou Sunset on the Seine at Lavancourt ao Salão e foi aceito. Em 1881, Monet estava mais confortável financeiramente e começou a construir uma clientela para seu trabalho. Monet dividia sua residência com Alice Hoschedé e seus filhos. Ernest Hoschedé era patrono do artista antes de ir à falência. Ernest morava em Paris e deixou que Alice e Monet administrassem o estranho arranjo doméstico em que viviam com seus filhos. O grupo foi alvo de fofocas locais e se mudou para Poissy em dezembro de 1881.
Os impressionistas continuaram com suas exposições independentes e, em 1882, a sétima edição foi realizada e exibiu 35 pinturas de Monet. A mostra foi a que teve a melhor recepção até então, com destaque para as pinturas de Monet das marinhas de Poissy em que cor e luz se destacaram em relação aos detalhes. Em março de 1883, Durand-Ruel organizou uma exposição individual de Monet. Não foi um sucesso enorme, mas foi um passo importante na consolidação do talento de Monet. Naquele mesmo ano, o artista se mudou para Giverny on the Seine, mas antes de se estabelecer completamente, o artista visitou o sul da França e a Itália em busca de luz e inspiração.
Em lugares como Bordighera, na Ligúria, Monet ficou fascinado pela luz do Mediterrâneo, seus tons pastéis e as folhagens e flores exuberantes. Em Bordighera ele produziu 50 pinturas, mesclando seu estilo impressionista com uma paleta de cores mais brilhantes. Em agosto de 1884, ele voltou a Giverny e quase nunca saía enquanto pintava cenas de paisagens e jardins.
Em 1886, uma exposição em Nova Iorque organizada por Durand-Ruel foi mais um passo à frente na carreira do artista. Os americanos foram mais receptivos em relação aos impressionistas e Monet fez várias vendas. Mesmo reticente, em 1889, Monet teve confiança para se dedicar a uma série de pinturas que capturavam as mesmas cenas em diferentes condições de luz e clima ao longo das estações. O fruto desse projeto foi uma série sobre o Vale do Creuse e também com vistas de Antibes e Juan –les-Pins no sul e na Normandia e Bretanha no norte. Alguns colegas artistas acharam essa abordagem muito repetitiva, mas Monet persistiu e participou de uma exposição com o escultor Auguste Rodin (1840-1917), em Paris. Em 1890-91, Monet pintou sua série de palheiros em um campo perto de Giverny. Reduzindo suas paisagens aos elementos essenciais, deixando apenas o clima, cores e formas de uma vista específica, em um momento específico e em condições climáticas específicas, Monet criou o que ele chamou de enveloppe. O artista trabalhou em várias telas ao mesmo tempo para tentar acompanhar a mudança do sol e da luz. Uma exposição de 15 obras de palheiros, novamente organizada por Durand-Ruel, foi um sucesso e quase todas as pinturas foram vendidas.
Em seguida, Monet escolheu os álamos como seu novo motivo, depois fez uma série de 30 pinturas da Catedral de Rouen, entre 1892 e 1894. Essa série também vendeu bem. Após a morte de Ernest Hoschedé em 1891, Monet finalmente se casou com Alice, em julho de 1892. Ele se instalou em Giverny e possuía uma renda tão segura quanto um artista poderia esperar. Ele conseguiu comprar sua casa e começar a transformar seu jardim japonês, com ponte ornamental, lago e flora oriental, exatamente como ele havia visto nas gravuras japonesas. Em 1895, Monet ainda encontrou tempo para fazer uma viagem à Noruega para capturar cenas de neve para suas pinturas. No ano seguinte, ele voltou à Normandia para produzir mais paisagens marinhas. Em 1897, voltou ao estúdio barco para completar uma série de pinturas no Sena, capturado principalmente as condições enevoadas do início da manhã. Enquanto isso, mais exposições nos Estados Unidos e na Europa consolidaram ainda mais a reputação de Monet como um dos principais pintores modernos.
Em 1899, Monet voltou a Londres e pintou o Tâmisa de sua varanda no novíssimo Hotel Savoy. Criou mais séries de pinturas com a Ponte de Waterloo, Ponte de Charing Cross e as Casas do Parlamento vistas sob a névoa característica da cidade. Ele voltou a Londres para continuar esse trabalho por mais dois períodos até 1901. Embora as pinturas pareçam ter sido concluídas rapidamente, Monet trabalhou nelas continuamente, en plein air (ao ar livre) ou em seu estúdio durante os três anos seguintes. Quando quase metade das telas pintadas com a temática de Londres foram colocadas à venda, elas atingiram o preço mais alto de Monet até o momento.
Em Giverny, o jardim japonês de Monet estava pronto para ser pintado, como ele planejara o tempo todo. Ele produziu uma nova série de pinturas com foco na ponte serena e no calmo lago de lírios. A partir de 1903, Monet criou 150 de seu jardim, mas como sempre buscava a perfeição, muitas não foram concluídas. As obras concluídas foram exibidas em Paris em 1909. Mesmo com mais de sessenta anos, Monet continuou a buscar novos desafios. Em outubro de 1908, ele visitou Veneza e capturou mais uma vez o encontro de luz, água e arquitetura. Essa foi a última viagem para pintar que o artista realizou.
Morte e legado
Em seus últimos anos, Monet viveu uma vida tranquila, desfrutando de seu jardim em Giverny. Alice morreu de leucemia em maio de 1911 e Jean, filho de Monet, morreu de sífilis em 1914. Monet começou a ficar debilitado e perdeu a visão de um olho. A Primeira Guerra Mundial eclodiu, mas o artista permaneceu isolado dos seus horrores. Ele continuou a pintar, concentrando-se em salgueiros-chorões e nenúfares em telas enormes com mais de quatro metros (14 pés) de comprimento. Telas tão grandes que ele teve que construir um novo estúdio para acomodá-las. Essas telas foram doadas ao governo francês e exibidas na Orangerie, em Paris, uma galeria curva projetada por Monet especialmente para isso.
Claude Monet morreu de esclerose pulmonar no dia 5 de dezembro de 1926. A obra de Monet influenciou seus contemporâneos e também os pós-impressionistas, como Vincent Van Gogh (1853-1890). Sua visão de pintura com telas sem bordas e execução rápida inspirou artistas como Jackson Pollock (1912-1956) e Roy Lichtenstein (1923-1997). A arte se transformou com o impressionismo mesmo quando Monet ainda pintava, mas em meados do século 20 seu papel foi reconhecido como um dos fundadores do impressionismo, movimento que mudou a arte para sempre. O artista André Masson (1896-1987) observou: “ O Orangerie é a Capela Sistina do Impressionismo” (Bouruet Aubertot, 257).