Monte Sinai

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Rebecca Denova
por , traduzido por Elmer Marques
publicado em 13 abril 2023
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol, Turco
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Mount Sinai (by Studio31, CC BY-SA)
Monte Sinai
Studio31 (CC BY-SA)

O Monte Sinai (em hebraico: Har Sinay, em árabe: Jabal Musa, “montanha de Moisés”) é um lugar sagrado para as três religiões abraâmicas: judaísmo, islamismo e cristianismo. Ele tem sido tradicionalmente localizado no centro da Península do Sinai, entre a África e o Oriente Médio. Uma montanha com 2.200 metros de altitude, o Monte Sinai é o ponto mais alto da região conhecida como Escudo Árabe-Núbio, que consiste em uma formação geográfica com rochas de granito, cristais e elementos vulcânicos.

Nome e localização

A origem do nome permanece aberta ao debate. Teorias consideram que a raiz sin tem sua origem no deus mesopotâmico da lua Sin, que, por sua vez, está associado com o deus egípcio da lua Thoth. Textos rabínicos citam a raiz seneh, os quais, em dois momentos, referem-se ao local da “sarça ardente”.

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Desde os primórdios, essa região era importante devido à sua localização e à mineração de vários metais: ouro, prata, cobre, zinco, estanho e chumbo. O Egito dos faraós possuía muitas minas na região, bem como uma série de fortalezas defensivas ao longo de sua fronteira a nordeste. Segundo a tradição bíblica do Rei Salomão (900s a.C.), sua riqueza era fruto das minas que Salomão possuía naquela área. Centros de mineração ancestrais foram escavados na Península do Sinai.

O Monte Sinai na Bíblia

A Península do Sinai era uma ponte entre o Oriente Médio e a região do Delta do Nilo no Egito. Sempre que havia fome, “asiáticos” (um termo egípcio pejorativo para nômades) cruzavam a Península do Sinai em direção ao Delta do Nilo. Devido ao Rio Nilo, o Egito sempre tinha comida. O Livro do Gênesis relata que os filhos de Jacó venderam seu próprio irmão José para traficantes de escravos. José viria a prosperar no Egito e se transformou em um vizir egípcio. Durante a época de fome, Jacó enviou seus filhos para o Egito em busca de comida. Eles finalmente se reconciliaram com José e prosperaram no Egito, trazendo o resto de seu clã para lá se estabelecerem.

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O Livro do Êxodo (do grego “saída”, “partida”) começa afirmando que os hebreus (outra palavra para israelitas naquele livro) viveram 450 anos no Egito e prosperaram no Delta do Nilo. Mas surgiu um faraó “que não conhecera a José” (Êxodo, 1:8), significando que ele nada sabia acerca do antigo relacionamento do povo egípcio com os hebreus. De fato, um faraó competente não queria estrangeiros estabelecidos na fronteira nordeste do Egito em uma época na qual vários impérios na região estavam se expandindo. É importante esclarecer que os hebreus não construíram as pirâmides.

Moisés viu uma sarça pegando fogo em uma montanha e foi quando ele recebeu sua primeira revelação de Deus. Na tradição judaica, aquele era o Monte Sinai.

Esse novo faraó decidiu escravizar os hebreus e os enviou para trabalhar em duas cidades produtoras de grãos. O Livro do Êxodo não mencionou o nome daquele faraó, mas citou o nome das duas cidades: Pitom e Ramessés (Pi-Ramessés). A citação a essas cidades é importante, na medida em que faz uma ligação expressa entre a tradição bíblica ao reinado de Ramsés II (r. 1279-1213 a.C.), um dos mais famosos faraós do Império Novo do Egito. Para controlar a quantidade de hebreus vivendo no Egito, o Faraó ordenou que as parteiras matassem todos os meninos que nascessem. As parteiras descumpriram a ordem. Um dos bebês foi escondido por sua mãe em um pequeno barco e o enviou navegando pelo Nilo. O bebê foi resgatado pela filha do Faraó (ela era uma mulher com infertilidade) e criado na corte real egípcia. Esse bebê era Moisés. Quando Moisés era adulto, ele viu um capataz egípcio espancando um escravo hebreu. Moisés matou o capataz e teve de fugir do Egito, acabando por encontrar um oásis no Sinai. Moisés resgatou algumas pastoras que eram atacadas por nômades em uma fonte e acabou casando-se com uma delas: Séfora (em algumas tradições conhecida como Zípora). Moisés instalou-se na região e tornou-se pastor.

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Um dia, Moisés viu uma sarça pegando fogo em uma montanha, mas a sarça não era consumida pelo fogo. Moisés subiu a montanha para ver o que estava acontecendo, e foi quando ele recebeu sua primeira revelação de Deus. Na tradição judaica, aquele era o Monte Sinai. Contudo, dependendo da data e da fonte das várias passagens do texto, a montanha também é referida como Monte Horebe (ou Montanha de Deus). Deus disse a Moisés para retornar ao Egito e dizer ao Faraó: “deixa ir o meu povo” (Êxodo 7:16). Desta passagem resultou a primeira história da Páscoa.

Os mandamentos

Depois deles fugirem do Egito, o que inclui a famosa história da miraculosa abertura do Mar Vermelho, Moisés levou seu povo até a base do Monte Sinai e subiu a montanha para receber instruções de Deus. Foi quando ele recebeu os mandamentos. Apesar da tradição, não eram apenas dez mandamentos: Moisés recebeu 613 mandamentos, mas eles se tornaram em apenas dez na iconografia de tribunais, sinagogas, igrejas e outras artes que retratam Moisés carregando duas tábuas de pedra. Isso se deve ao fato de que, posteriormente, o cristianismo reduziu a lista de mandamentos para apenas dez, como sendo os únicos que os cristãos devem seguir. Os primeiros dez mandamentos são destacados no começo não porque eles fossem universais, mas porque eles são diferentes dos demais. Os dez mandamentos, uma vez desobedecidos, não são expiáveis nem podem ser reparados. Mas se alguém violar qualquer um dos outros 603 mandamentos restantes, a violação pode ser expiada ou reparada. Esses mandamentos seguem uma regra casuística e, dependendo do caso, podem ser reparados por meio de um sacrifício ou ritual.

Moses on Mount Sinai
Moisés no Monte Sinai
Jean-Léon Gérôme (Public Domain)

Os mandamentos que Moisés trouxe de volta da montanha se transformou essencialmente na constituição de Israel. Os mandamentos delinearam como os israelitas deveriam se parecer, como eles deveriam comer, como eles deveriam solucionar os litígios e como eles deveriam realizar os cultos religiosos. Nesse sentido, eles deveriam se diferenciar e ser diferente de todas as outras nações. Eles deveriam ser o modelo de uma nação honrada que o restante do mundo, a seu tempo, deveria seguir. Essa foi a aliança com Moisés.

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Tudo o que Moisés trouxe da montanha foi incorporado nos livros bíblicos seguintes ao Êxodo: Levítico, Números e Deuteronômio. Por tradição, Moisés trouxe também a planta do Templo de Salomão que seria construído séculos mais tarde. As tábuas dos mandamentos foram colocadas em uma caixa: a Arca da Aliança. Ela se tornou uma relíquia sagrada que, posteriormente, foi guardada em uma sala do Templo em Jerusalém conhecida como “Santo dos Santos”. Os primeiros cinco livros das escrituras judaicas foram incorporadas à Lei de Moisés (também conhecida como Lei Mosaica) ou Torá (“ensinamentos”). Ao mesmo tempo, esse conjunto de fatos e eventos ocorridos no Monte Sinai foram abreviados para a expressão “as tradições do Sinai”.

Cades Barneia

Diversos textos bíblicos nas escrituras judaicas mencionam um lugar - Cardes Barneia (ou simplesmente Cardes) - associado com os anos que os hebreus vagaram pelo deserto como punição por terem cometido o pecado da idolatria aos pés do Monte Sinai. Localizado em algum lugar entre o Sinai e as fronteiras com Canaã, Cardes Barneia provavelmente se referia a um oásis capaz de sustentar um grande número de pessoas e seus rebanhos. Escavações arqueológicas continuam a explorar diversos locais, o que pode ajudar a determinar a rota entre o Egito e Canaã utilizada por Moisés e os israelitas. De acordo com o Livro de Números, Arão (irmão de Moisés) e Miriã (irmã de Moisés), morreram em Cardes Barneia (20:22-29; 20:1).

O Monte Sinai no cristianismo

Incorporando o judaísmo ao cristianismo, os cristãos mantiveram os mandamentos de Moisés, mas os reduziram a dez. Quando o imperador romano Constantino I legalizou o cristianismo em 313 d.C., sua mãe, Helena de Constantinopla, viajou para a Palestina e identificou os lugares sagrados relacionados à vida e ao ministério de Jesus de Nazaré. Aquela viagem começou a prática da peregrinação àqueles lugares.

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O Monastério de Santa Catarina, construído entre 548 a 565 da era cristã por ordem do imperador bizantino Justiniano I, está localizado em uma encosta do Monte Sinai, no lugar em que se afirma ter ocorrido o fenômeno da sarça ardente. Os ossos e as relíquias de Santa Catarina de Alexandria, uma mártir do século quatro da era cristã, foram, supostamente, transferidos para lá. Ele permanece um lugar de grande peregrinação tanto para cristãos ortodoxos quanto para cristãos católicos ocidentais. Ele é considerado um dos mais antigos monastérios em funcionamento, com uma grande coleção de ícones antigos.

St. Catherine's Monastery, Sinai
Mosteiro de Santa Catarina, Sinai
Marc!D (CC BY-NC-ND)

Além da peregrinação religiosa, o Monastério de Santa Catarina é renomado por sua famosa biblioteca, ainda em funcionamento. Descoberta em 1844 por Constantin von Tischendorf (1815-1874) em uma visita ao monastério, o Codex Sinaiticus é uma das mais importantes descobertas do mundo antigo. Ele contém tanto as escrituras judaicas quanto o novo testamento em grego, além de textos apócrifos que não fazem parte dos cânones oficiais do judaísmo e do cristianismo. Ele é incrivelmente importante para os estudiosos que investigam a evolução das ideias e as edições que a Bíblia sofreu durante vários séculos.

Islamismo

O islamismo incorporou as tradições do judaísmo, especialmente em honra aos profetas divinos, dos quais o profeta Maomé foi o último. No islamismo, Moisés é associado ao nome “Musa”, havendo inúmeras referências ao “Jabal Musa (a Montanha de Moisés) por todo o Alcorão. É o lugar abençoado, onde “Musa falou com seu senhor”. Uma mesquita foi construída no topo do Monte Sinai.

Mosque, Mount Sinai
Mesquita, Monte Sinai
Benjamin (CC BY-NC-ND)

A Península do Sinai hoje

Qualquer pessoa pode subir no topo do Monte Sinai a pé, o que leva em torno de duas horas e meia de caminhada, interpretado simbolicamente como os 3.750 passos de penitência. A mais popular expedição de peregrinação é feita de camelo da base ao cume do monte. Peregrinos podem contratar ônibus de turismo que saem do Cairo e de Alexandria no meio da noite e chegam ao Monte Sinai a tempo para o nascer do sol. Devido ao calor do deserto, o amanhecer é o melhor horário para se fazer o trajeto até o cume do Sinai.

A importância da Península do Sinai foi realçada no século 19 pela construção do Canal de Suez. Durante décadas, a Península do Sinai esteve envolvida em diversas guerras, incluindo a Guerra do Yom Kippur em 1973, quando Israel capturou a península do Egito. Com o Tratado de Paz entre Israel e Egito, este reconquistou o Sinai e administra a região até os dias de hoje. Contudo, recentemente a Península do Sinai se tornou um centro de integrantes do Estado Islâmico (conhecido internacionalmente pela sigla ISIS), contra o qual o Egito continua a lutar. Consequentemente, atividades turísticas e peregrinas periodicamente são restritas, a depender das condições no Sinai.

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Perguntas e respostas

Onde fica o bíblico Monte Sinai?

O Monte Sinai está tradicionalmente localizado no centro da Península do Sinai, entre a África e o Oriente Médio.

O Monte Sinai fica em Israel ou no Egito?

Durante a Guerra do Yom Kippur em 1973, Israel capturou o Monte Sinai do Egito. Com o Tratado de Paz entre Israel e Egito, este reconquistou o Sinai e administra a região até os dias de hoje.

Por que o Monte Sinai é famoso?

O Monte Sinai é um lugar sagrado para as três religiões abraâmicas: judaísmo, islamismo e cristianismo. Por tradição, é considerado o lugar onde Moisés recebeu os mandamentos.

Bibliografia

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Sobre o tradutor

Elmer Marques
Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Professor do curso de Direito da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, no Brasil.

Sobre o autor

Rebecca Denova
Rebecca I. Denova, Ph.D. é Professora Emérita de Cristianismo Primitivo no Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Pittsburgh. Ela escreveu recentemente um livro didático, "The Origins of Christianity and the New Testament" [As Origens do Cristianismo e do Novo Testamento], publicado pela Wiley-Blackwell.

Citar este trabalho

Estilo APA

Denova, R. (2023, abril 13). Monte Sinai [Mount Sinai]. (E. Marques, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-21769/monte-sinai/

Estilo Chicago

Denova, Rebecca. "Monte Sinai." Traduzido por Elmer Marques. World History Encyclopedia. Última modificação abril 13, 2023. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-21769/monte-sinai/.

Estilo MLA

Denova, Rebecca. "Monte Sinai." Traduzido por Elmer Marques. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 13 abr 2023. Web. 21 dez 2024.