Johannes Hevelius

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Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 06 outubro 2023
Disponível noutras línguas: Inglês, francês
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Johannes Hevelius by Schultz (by Daniel Schultz, Public Domain)
Johannes Hevelius por Schultz
Daniel Schultz (Public Domain)

Johannes Hevelius (1611-1687) foi um astrônomo polonês que viveu em Danzig (Gdansk). Ele trabalhou em seu observatório financiado por particulares, criando mapas da superfície da Lua, descobrindo a primeira estrela variável e avistando vários novos cometas. Sua obra Prodromus Astronomiae, publicada postumamente, com muitas de suas próprias gravações, foi na época o mais amplo e preciso catálogo estelar já compilado.

Vida Pregressa

Johannes Hevel, conhecido como Hevelius (ou Heweliusz ou Howelcke) nasceu em Danzig (moderna Gdansk), na Polônia, em 28 de Janeiro de 1611. Vinha de uma família bem-sucedida nos ramos mercantil e cervejeiro, numa cidade que abrigava um dos quatro principais portos da Liga Hanseática. Johannes estudou Direito na Universidade de Leiden a partir de 1630, embora nunca tenha se formado. Também visitou a França e a Inglaterra em sua juventude. Por volta de 1634, retornou a Danzig, um lugar do qual raramente saiu pelo resto da vida.

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Hevelius se casou, mas sua primeira esposa morreu jovem. Ele contraiu matrimônio novamente, desta vez com Catherina Elisabeth (1647-1693). Filha de outro bem-sucedido mercador da cidade, ela tinha apenas 16 anos quando se casou, enquanto o marido contava 51. A jovem esposa tornou-se sua assistente no trabalho astronômico a partir de 1662.

Stellaeburg

Em 1641, Hevelius instalou seu observatório em Danzig e financiou o projeto por conta própria, algo raro na época: um astrônomo do século XVII independente de governantes e governos. Sua perícia como astrônomo, no entanto, fez com que atraísse investimentos de vários reis poloneses e até de Luís XIV da França (r. 1643-1715). O ministro das Finanças de Luís, Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), era um entusiástico apoiador da ciência e enviou recursos para a montagem do observatório; em troca, os dados coletados seriam fornecidos ao estado francês, ansioso para aperfeiçoar os mapas de navegação usados pela marinha. Mais tarde, três livros de Hevelius seriam dedicados a Luís XIV ou a Colbert, mas o astrônomo permaneceu como um operador independente. Quando não estava observando as estrelas, ele participava do governo local, como conselheiro municipal e cônsul.

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Hevelius' Astronomical Telescope
Telescópio Astronômico de Hevelius
Unknown Artist (Public Domain)

Hevelius chamou seu observatório de Stellaeburg e a fama do local atraiu visitantes como o rei João II da Polônia (r. 1648-1668). Várias descobertas importantes foram feitas ali na longa carreira do astrônomo. No decorrer dos anos, Hevelius teve muitos assistentes, principalmente sua segunda esposa, mas também figuras talentosas, como Gottfried Krisch (1639-1710), um aprendiz no observatório que veio a se tornar o mais respeitado astrônomo da Alemanha.

Hevelius não confiava em artistas e gravadores para capturar o que ele próprio via com seus instrumentos.

A partir de Stellaeburg, Hevelius observou a primeira estrela variável – ou seja, cujo brilho sofre alterações ao longo do tempo – e a denominou Mira. Ele estudou o ainda pouco familiar fenômeno das manchas solares. Foi o primeiro a avistar quatro cometas (1652, 1661, 1672 e 1677). Também registrou trânsitos raros, como os de Vênus e Mercúrio movendo-se através do Sol. Mais importante, talvez, tenha sido a observação sistemática da superfície da Lua, mapeada por mais de quatro anos. Este mapa detalhado representou um grande desenvolvimento, possivelmente melhor do que o elaborado algumas décadas antes por Galileu Galilei (1564-1642). O astrônomo polonês descobriu que a Lua oscila, um fenômeno que denominou “libração”. Estas observações foram feitas com o uso de um telescópio planejado especificamente para estas finalidades e fabricado pelo próprio Hevelius, incluindo lentes com polimento especial. O telescópio gigante, fabricado em 1647, media 46 metros de comprimento.

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Hevelius' Map of the Moon
Mapa da Lua de Hevelius
Bodleian Library (Public Domain)

O trabalho de Hevelius foi particularmente útil e impressionante para o público em geral porque, diferente de muitos outros cientistas, ele não confiava em artistas e gravadores para capturar o que ele avistara com seus instrumentos. Como um talentoso e preciso artista, o próprio astrônomo foi capaz de gravar suas próprias placas de cobre, com as quais produziu suas ilustrações. Tratava-se de uma vantagem crucial, conforme explica o historiador A. van Helden:

Hevelius, assim, produzia um caminho inconsútil, no qual a informação ia dos seus olhos perspicazes através de sua mente, equipada com imaginação e memória excelentes, para sua habilidosa mão e daí diretamente para os olhos dos leitores, sem a intervenção de ninguém mais cuja interpretação ou erro pudesse lançar dúvidas sobre a confiabilidade da ilustração. Era como se o próprio leitor [...] estivesse observando os céus através dos olhos de Hevelius [...]. Este método de apresentar observações ao público foi o melhor que se podia esperar antes da fotografia. (18)

Em 1664, Hevelius recebeu a distinção de ser um dos primeiros membros estrangeiros da Sociedade Real, em Londres. Também contribuiu regularmente com a revista oficiosa da sociedade, Philosophical Transactions. Ele foi, portanto, um destacado integrante da rede internacional de astrônomos europeus que se correspondiam regularmente, enviavam uns aos outros os dados que coletavam e publicavam seus trabalhos em outros países. Por exemplo, quando ocorria um evento importante mas raro, como o movimento de um planeta através da superfície do Sol, astrônomos como Hevelius comparavam as leituras do mesmo fenômeno com outros colegas em vários locais diferentes, com o objetivo de maximizar a precisão dos dados astronômicos registrados.

Hevelius & Elisabeth Using a Sextant
Hevelius e Elisabeth Usando um Sextante
Unknown Artist (Public Domain)

Visita de Halley

Curiosamente, ainda que disposto a utilizar telescópios para mapeamento e observação geral, o astrônomo não os usava para medir o movimento preciso de estrelas e planetas ao longo do tempo. Hevelius também se mostrou relutante em incorporar desenvolvimentos tecnológicos a seus telescópios, especialmente a mira telescópica equipada com micrômetro ocular, que ajudava a medir mudanças de posição muito pequenas dos corpos celestes. Ainda que tais observações e equipamentos tivessem defensores vigorosos, como Robert Hooke (1635-1703) na Inglaterra, o astrônomo polonês ainda confiava em seus instrumentos testados e aprovados para tais medições: seu olho nu, um quadrante e um sextante gigantes e dois relógios de pêndulo. Hevelius havia desenhado e fabricado todos estes equipamentos por conta própria. Ele afirmava que podia distinguir um corpo se movendo em até cinco segundo de arco, algo que um astrônomo como Hooke achava inacreditável. De fato, uma desagradável discussão estourou entre Hooke e Hevelius sobre o uso ou não de miras telescópicas.

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Um incêndio destruiu Stellaeburg, incluindo a residência de Hevelius e todos os seus instrumentos.

Em 1679, o astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742) visitou Stellaeburg e ambos compartilharam suas notas. Halley tinha sido enviado oficiosamente pela Sociedade Real de Londres para descobrir o quão precisas seriam as leituras sem o uso de telescópio feitas por Hevelius. Sem dúvida, o emissário inglês, como Hooke, tinha poucas expectativas a respeito. A sociedade também o enviara a Danzig para tentar convencer Hevelius a usar equipamentos mais modernos. Halley deve ter sido agradavelmente surpreendido quando descobriu que, quando comparadas às observações feitas com seu próprio telescópio em Stellaeburg, as leituras de Hevelius, com o uso do sextante, quadrante e relógios, estavam todas incrivelmente precisas. De maneira interessante, então, “o trabalho astronômico de Hevelius tornou-se uma espécie de parâmetro para outros astrônomos europeus medirem sua própria precisão” (Jardine, 30). Em acréscimo, “os instrumentos de Hevelius passaram a ser considerados por muitos os melhores da Europa, e sua visão aguçada, perícia e paciência como observador ficaram famosas” (van Helden, 18). Não é para menos que o polonês se tornou conhecido como a “Lince Prussiana” (Vertesi, 213).

A visita de Halley resultou num curioso incidente. Tendo recebido dinheiro para comprar alguns livros que Hevelius encomendara, Halley gastou tudo num suntuoso vestido de seda para a esposa do colega. O vestido custou mais do que o dinheiro que havia recebido e, assim, ele escreveu para Catherina Elisabeth pedindo a complementação do montante. Revelando uma motivação um tanto dúbia por trás de seus atos, Halley disse a Catherina que, se ela enviasse uma cópia do livro do marido sobre a Lua e outra obra sobre cometas, ele consideraria o débito saldado.

Freitag Sculpting Hevelius
Freitag Esculpindo Hevelius
Wilhelm August Stryowski (Public Domain)

Infelizmente, apenas dois meses após a visita de Halley, em 26 de Setembro de 1679, um incêndio destruiu Stellaeburg, incluindo a residência de Hevelius e todos os seus instrumentos científicos. O fogo pode ter sido iniciado por um servo descontente. Hevelius descreveu o desastre numa obra apropriadamente intitulada Annus climactericus (1685) e, em seguida, reconstruiu tudo o que pôde, recomeçando seu trabalho astronômico tão logo fabricou por conta própria novos equipamentos.

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Obras Publicadas

Hevelius registrou seus achados astronômicos em fólios belamente ilustrados, que incluíam não somente imagens que tinha desenhado dos céus mas também descrições detalhadas e retratos de seus muitos instrumentos astronômicos. As obras mais famosas são Selenographia (1647) - que continha um mapa detalhado da Lua - e Cometographia (1668). Outros trabalhos incluem Prodromus cometicus (1665), Machina coelestis (em duas partes: 1673 e 1679) - que descreve em detalhes seus instrumentos astronômicos - e Firmamentum Sobiescianum (1690), que examina sete novas constelações recém-criadas. Sua maior obra, que exigiu 25 anos para compilar e que ele não conseguiu concluir, foi Prodromus Astronomiae, um catálogo abrangente e atlas celestial com 1.564 estrelas. Este catálogo foi finalmente publicado em 1690 por sua esposa, três anos após a morte do astrônomo. Ele contém, novamente, muitas ilustrações do próprio Hevelius, a maioria das quais impressa usando placas de bronze que ele próprio gravou.

Johannes Hevelius morreu no seu aniversário, em 28 de Janeiro de 1687, em Danzig. Na verdade, sua excelente reputação declinara nos últimos anos, à medida que telescópios maiores, melhores e mais precisos provaram que os equipamentos tradicionais que preferia estavam ultrapassados. Hevelius, no entanto, foi um pioneiro em sua época e permanece como uma das figuras fundamentais da astronomia durante a Revolução Científica. Alguns dos nomes que adotou para as características topográficas da Lua continuam usados atualmente, como "Os Alpes" para uma cadeia de montanhas. Além disso, uma cratera da Lua foi nomeada em homenagem ao astrônomo, assim como o satélite astronômico polonês colocado em órbita em 2014.

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Perguntas e respostas

Pelo que Johannes Hevelius ficou conhecido?

Johannes Hevelius ficou conhecido por ser um dos maiores astrônomos do século XVII. Ele mapeou a Lua, avistou novos cometas e foi o primeiro a observar uma estrela variável.

O que Johannes Hevelius descobriu?

Johannes Hevelius descobriu quatro cometas, a oscilação da Lua e avistou pela primeira vez uma estrela variável, que chamou Mira.

Johannes Hevelius usava um telescópio?

Johannes Hevelius usava telescópios, mas ficou famoso por não empregá-los para acompanhar o movimento dos corpos celestes, preferindo utilizar instrumentos mais tradicionais, sem miras telescópicas.

Bibliografia

A World History Encyclopedia é um associado da Amazon e recebe uma comissão sobre as compras de livros elegíveis.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

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Estilo APA

Cartwright, M. (2023, outubro 06). Johannes Hevelius [Johannes Hevelius]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Recuperado de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-22165/johannes-hevelius/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Johannes Hevelius." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 06, 2023. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-22165/johannes-hevelius/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Johannes Hevelius." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 06 out 2023. Web. 21 dez 2024.