Homero (c. 750 a.C.) é talvez o maior de todos os poetas épicos e seu status lendário já estava muito bem estabelecido desde a Atenas Clássica. Ele compôs (não escreveu, uma vez que os poemas eras criados e transmitidos oralmente, estas obras não foram escritas senão muito tempo depois) duas grandes obras, a Ilíada e a Odisseia; outras obras são atribuídas a Homero, mas, mesmo durante a Antiguidade, a autoria destas já era motivo de debate. Juntamente com Hesíodo, Homero se mostra como a grande fonte de informação dos gregos sobre seus deuses. Homero é o mais antigo poeta da cultura ocidental cujas obras sobreviveram intactas.
A Ilíada
A Ilíada é composta de 15,693 hexâmetros (linhas de verso), e dividida em 24 livros correspondendo a cada uma das letras do alfabeto grego – do alfa até o ômega -, um sistema que já era utilizado desde os tempos de Heródoto. A Ilíada descreve a ira de Aquiles (“Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida”, Ilíada, 1.1; este e os outros dois excertos na tradução de Frederico Lourenço) e seu cenário são 51 dias durante o décimo e último ano da Guerra de Troia. O poema tem seu nome a partir da cidade de Troia, também conhecida por Ilium.
Pontos altos da narrativa: o extensivo catálogo de barcos das forças invasoras gregas, a morte de Pátroclo e a descrição deste sendo levado por Hipnos e Tânatos (Sono e Morte), a descrição do escudo de Aquiles, a reconciliação entre Aquiles e Príamo, talvez a mais comovente cena da literatura ocidental, e várias batalhas relevantes entre heróis gregos, a mais famoso entre Aquiles e Heitor. Em todos estes eventos, a intervenção dos deuses gregos, especialmente Atenas do lado dos Gregos e Apolo do lado dos troianos, é fundamental para o resultado de todas as ações humanas durante a guerra.
A Odisseia
A Odisseia é composta de 12.109 hexâmetros e também está dividida em 24 capítulos, do mesmo modo que a Ilíada. Enquanto que a guerra e a fúria eram os temas na Ilíada, a Odisseia se passa depois que a Guerra de Troia foi vencida pelos aqueus, como Homero se refere aos gregos. A Odisseia está voltada para o nostos (jornada) do herói grego Ulisses (o protagonista que dá nome ao poema, também conhecido por Odysses) e os problemas que ele enfrenta em seu caminho de Troia, atrapalhado por intervenções divinas, especialmente as de Poseidon. Pontos altos da narrativa incluem o famoso encontro de Ulisses com as sereias, com o ciclope Polifemo, e o assassinato dos pretendentes de Penélope em seu retorno para Ítaca.
Ao contrário de Hesíodo, que menciona sua genealogia e vida no decorrer de sua obra, Homero não tem esta prática, e desde que as versões escritas dos épicos devem ter começado por volta de 700 a.C., não há fonte contemporânea a ele, mas várias descrições helenísticas, e até mesmo romanas, sobre sua vida (e também a Disputa entre Homero e Hesíodo). Porque o dialeto das obras de Homero é composto de uma forma arcaica de grego jônico e é demonstrado familiaridade com a geografia da Ásia Menor, na Ilíada, pode haver alguma verdade na demanda de que o local de nascimento de Homero tenha sido Smyrna, ou Quios, ou Ios.
Um único Homero?
Sempre existiram debates sobre a “pessoa” de Homero: muitas localidades afirmam ser o local de seu nascimento. É também debate se as duas grandes obras foram escritas pela mesma pessoa ou não: os antigos nomeavam aqueles que acreditavam nisto de chorizontes, isto é, os separatistas. Alguns duvidam se uma única pessoa estava por trás destes trabalhos, o que leva à “Questão Homérica”, ou seja, a ideia de que os poemas são um compilado de camadas, enrolado em uma única narrativa; o que pode explicar as inconsistências da narrativa e a linguagem formulaica usada. De acordo com esta escola de pensamento, é mais plausível que os poemas tenham sido cantados por rapsodos. Esta ideia apareceu pela vez na obra Prolegomena ad Homerum, de F. A. Wolf, em 1795.
De todo modo, se Homero foi “ela”, “ele” ou “vários” não diminui a grandeza da Ilíada e Odisseia, e isto pode ser visto pelo fato de que os dois poemas chegaram até nós por meio de uma contínua tradição. Os poemas foram primeiramente compilados, organizados, e editados pelo tirano ateniense Písistrato, mas o texto grego sobreviveu por meio de pesquisadores alexandrinos como Zenódoto, Aristófanes de Bizâncio e Aristárco, e por meio dos comentários dos textos também. A primeira edição impressa de Homero foi na cidade de Florença, em 1488, pelo pesquisador Demétrio Calcondila. O trabalho de Homero foi extremamente influente na cultura grega, e cenas de suas obras apareceram na escultura, na cerâmica, tragédia e comédia gregas. Ele foi estudado como parte da educação grega, e as lendas dentro de seu trabalho influenciariam a cultura helenística, a cultura romana e tantas outras, de modo que o legado duradouro de Homero é que suas obras são estudadas ainda hoje.